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11h25 10/01/2006

"Parado", Pinheiro guarda m�goa do Flu

Ex-zagueiro do Fluminense da d�cada de 1950 lamenta n�o trabalhar mais em Xer�m e aguarda convites.

Cau� Rademaker, especial para o Pel�.Net

RIO DE JANEIRO - Um �dolo amargurado. Assim est� Jo�o Carlos Batista Pinheiro, o Pinheiro, �dolo da torcida do Fluminense na d�cada de 1950. Jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube - 605 jogos -, o ex-zagueiro, afastado h� seis anos do trabalho que exercia com as categorias de base do Tricolor, ainda espera uma explica��o.

"At� hoje n�o me disseram nada. � melhor perguntar para eles [dirigentes]. Eu era treinador de casa, era mais f�cil a garotada lidar comigo do que trazer algu�m de fora. Eu merecia um melhor aproveitamento, sendo olheiro, qualquer coisa. Mas me chamaram para rescindir o contrato e pronto", disse o ex-xerife da zaga tricolor.

F� DE ROGER
Quando ainda trabalhava em Xer�m, Pinheiro travou uma briga dura com alguns diretores tricolores. O motivo da discuss�o foi o meia Roger, atualmente no Corinthians. Considerado indisciplinado pelos dirigentes, o jogador, ainda j�nior, estava em uma lista de dispensa. Entretanto, Pinheiro bateu o p� e bancou a perman�ncia do meia."Os dirigentes queriam dispensar ele. Diziam que n�o jogava nada e era indisciplinado. Eu sei da qualidade dele e banquei ele. Ent�o tive uma conversa com ele e disse: 'Olha, voc� vai continuar, vai jogar muito e calar a boca dessa gente, porque um dia voc� vai para a sele��o'. N�o deu outra e hoje ele est� arrebentando", disse Pinheiro.

"Mas deixa para l�. � dif�cil, mas tento n�o guardar m�goa de ningu�m. O clube � o Fluminense Footbal Club e � isso o que eu sou", completou.

Entretanto, apesar de esbanjar bom-humor durante a entrevista, Pinheiro, 74 anos, n�o consegue esconder a frustra��o de n�o estar mais trabalhando com a garotada do Fluminense, no Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras, em Xer�m.

Com grande parte da vida dedicada ao clube, pelo qual jogou de 1948 a 1961 e depois trabalhou durante anos como treinador e coordenador das divis�es de base, o ex-zagueiro admite que sente falta.
"Eu gostava muito de estar no campo, trabalhando. Minha mulher dizia que eu tinha de morar l�. Eu ficava em Xer�m o dia todo trabalhando. Nossa, como sinto falta disso. Gostava de ver um monte de garoto treinando. � gostoso conversar com eles, dar conselhos. Agora estou parado", disse Pinheiro.

Contudo, o desejo de voltar a trabalhar ainda existe, mesmo que seja por outro clube. Enquanto passa os dias entre as caminhadas na praia do Recreio dos Bandeirantes, bairro onde mora no Rio de Janeiro, e as partidas de futebol que assiste pela tv, o ex-defensor aguarda um convite. Por�m, reconhece que ser� dif�cil um contato.

"Nunca mais falei com ningu�m do Fluminense e de nenhum outro clube. N�o gosto de ir aos lugares e ficar ouvindo as pessoas falarem que estou cavando uma vaga, que vou para tomar o lugar dos outros. S� apare�o se for convidado", disse Pinheiro, que declarou n�o ter empres�rio: "Assim � mais dif�cil ainda, n�?", brincou.

Zagueiro artilheiro
Como jogador Pinheiro fez parte de uma gera��o vitoriosa dentro do P�-de-Arroz na d�cada de 1950. Zagueiro de muita ra�a e lideran�a, formou, ao lado do goleiro Castilho e do tamb�m zagueiro Pindaro, a "Sant�ssima Trindade", alcunha que receberam por raramente deixarem os advers�rios vencerem a meta tricolor.

Campe�o estadual em 1951 e 1959, do torneio Rio-S�o Paulo de 1957 e 1960 e da Copa Rio de 1952, Pinheiro tamb�m atuou ao lado de outro �dolo da hist�ria do Fluminense: Tel� Santana, que assim como o zagueiro e o goleiro Castilho, dedicou sua carreira de jogador ao clube das Laranjeiras.

CARRASCO URUGUAIO
Na conquista da Copa Rio de 1952, que o Fluminense tenta junto a Fifa reconhecer como Mundial de clubes, o Tricolor derrotou o Pe�arol-URU. Na �poca, o time uruguaio era base da sele��o de seu pa�s, que dois anos antes vencera o Brasil na final da Copa do Mundo.Na �poca, muitos classificaram o triunfo p�-de-arroz como uma vingan�a brasileira. Entretanto, segundo Pinheiro, eram os uruguaios que entraram em campo com esp�rito de revanche."Foi revanche deles. A gente viajou pela Am�rica do Sul uns 15 dias antes da Copa de 1950 e fizemos dois amistosos contra a sele��o do Uruguai. Empatamos por 1 a 1 e vencemos de 3 a 1. Eles que tentaram dar o troco no Fluminense e n�o conseguiram", disse Pinheiro, que lembra com carinho do t�tulo da Copa Rio."Foi maravilhoso, uma emo��o muito grande. Nunca senti nada igual. Jogamos contra os melhores times do mundo e vencemos", completou o zagueiro, que disputou a Copa do Mundo de 1954.

"N�s t�nhamos amor � camisa, gost�vamos de botar a camisa do Fluminense no corpo, vibr�vamos, torc�amos. A gente cansou de jogar sem contrato assinado, pois quer�amos estar no Fluminense e acredit�vamos nos dirigentes, era tudo na palavra", disse Pinheiro, que criticou as posi��es de Tor� e Diego Souza, que, revelados pelo Flu, foram para o Flamengo no ano passado:

"N�o sei o motivo que levou eles a fazerem isso, � dif�cil opinar aqui de fora, mas eu n�o admitiria uma coisa dessas comigo. Estava no Fluminense e queria marcar meu nome na hist�ria do clube".

E o ex-zagueiro conseguiu marcar. Al�m dos t�tulos, Pinheiro �, at� hoje, o defensor que mais vezes marcou gols com a camisa tricolor: 51. Fruto principalmente das boas cobran�as de p�nalti e falta, que aterrorizavam os goleiros rivais.

"Eu batia bem na bola. Quer dizer, batia muito forte. Nem queria saber se o goleiro era feio, era bonito. Dava um bico que entrava goleiro, bola, tudo", disse Pinheiro, para depois lembrar que uma vez o feiti�o voltou contra o feiticeiro.

"Uma vez contra o Flamengo eu fui l� bater o p�nalti. Bati forte na bola, mas para o meu azar ela pegou na trave e foi parar l� na intermedi�ria. Dei o contra-ataque para os caras. Eles foram l� e marcaram o gol na seq��ncia. Acabou 1 a 0 Flamengo o jogo, � mole?", terminou em meio as gargalhadas Pinheiro.