Odebrecht usou caixa 2 para pagar campanha de Chávez, diz mulher de marqueteiro (original) (raw)

Ela disse que foi orientada a procurar funcionário da construtora para efetuar pagamentos

25/02/2016 - 17:23 / Atualizado em 25/02/2016 - 20:46


Mônica Moura e João Santana são levados pela PF ao IML de Curitiba
Foto: Geraldo Bubniak/22-2-2016

Mônica Moura e João Santana são levados pela PF ao IML de Curitiba Foto: Geraldo Bubniak/22-2-2016

SÃO PAULO — A publicitária Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, disse à Polícia Federal que a Odebrecht usou caixa dois para pagar parte da campanha do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Os pagamentos foram feitos através da mesma offshore que os investigadores da Lava-Jato dizem ter sido usada pela empresa para pagar propina aos ex-diretores da Petrobras. Os pagamentos não foram declarados Brasil e na Venezuela.

Mônica Moura e João Santana são suspeitos de receber US$ 7,5 milhões em propina desviada da Petrobras através de contas não declaradas na Suíça. Em depoimento à PF na quarta-feira, Mônica negou que o dinheiro tenha origem em contratos no Brasil. A publicitária informou que todos os valores depositados na conta da offshore Shellbill, usada pela Odebrecht para pagar parte da campanha de Chaves em 2011, vieram de trabalhos do casal no exterior. Além da Venezuela, eles teriam recebidos na conta depósitos relativos à campanha do presidente da Angola, José Eduardo Santos, e do presidente da República Dominicana, Danilo Medina.

A campanha de Chávez, segundo Mônica Moura, teria custado US$ 35 milhões e grande parte foi paga através de caixa dois. De acordo com ela, as dificuldades de recebimentos levaram a “várias doações de forma não contabilizada”. A publicitária confirmou que os pagamentos saíram da Odebrecht através da offshore Klienfeld. Os investigadores da Lava-Jato já sabem que a Klienfeld foi usada pela empreiteira para pagar os ex-diretores da estatal Renato Duque e Paulo Roberto Costa.

De acordo com Mônica Moura, em 2011, ela precisava receber cerca de US$ 4 milhões devidos pela campanha de Chaves. Ela teria sido orientada por uma pessoa não identificada a procurar Fernando Migliaccio para resolver os pagamentos relativos da Odebrecht. Segundo as investigações da Lava-Jato, Migliaccio é o operador de propinas da Odebrecht no exterior.

OPERADOR DA PETROBRAS PAGOU CAMPANHA EM ANGOLA

A publicitária afirmou ainda aos policiais que os pagamentos feitos por Zwi Skornicki, apontado pela Lava-Jato como um dos operadores de propina da Lava-Jato, foram relativos a serviços prestados na campanha do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. De acordo com Mônica Moura, o casal recebeu cerca de US$ 50 milhões para fazer a campanha. Desses, US$ 30 milhões foram por meio da empresa Polis Brasil e outros US$ 20 milhões através de um “contrato de gaveta”.

A publicitária afirmou que estava tentando regularizar a situação financeira dela no exterior desde 2014, mas que aguardava a promulgação da lei da repatriação para declarar os depósitos na Suíça. A mulher de João Santana admitiu que encaminhou o bilhete encontrado pela Polícia Federal na casa do Zwi Skornicki. Ela admitiu ainda que recebeu dinheiro para campanha na República Dominicana através de uma offshore, mas disse não se recordar dos valores e nem da conta.

A defesa de Mônica Moura disse que ela e o publicitário João Santana vão autorizar as autoridades brasileiras a terem acesso aos extratos das offshores do casal no exterior.