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Netvasco - 23/01 - 20:11 -Confira entrevista com Tia Aida, uma das fundadoras da TOV

Aida de Almeida, Aidinha para os colegas, filha de pais portugueses, nasceu na Rua do Senado, no Rio de Janeiro, na mesma �poca em que o Vasco despontava para a pr�tica do futebol, e poucos torcedores t�m um passado t�o rico de hist�rias do Vasco quanto o seu. Aos sete anos de idade j� freq�entava S�o Janu�rio levada pelas m�os de seu pai e, sentada na pista de atletismo que na �poca margeava o campo, assistia aos jogos junto �s esposas dos jogadores, e vem dessa �poca sua paix�o pelo clube.

Fundadora da Torcida Organizada do Vasco, que, poucos sabem, teve sua origem nas sociais de S�o Janu�rio no ano de 1944, tia Aida, como � chamada por v�rios atletas, recorda com carinho aqueles que a ajudaram a fundar nossa primeira torcida, e que hoje infelizmente est�o torcendo por nosso clube em outra dimens�o: Madame Bart�s, estilista de moda da �poca, Toni, os irm�os Mario e Margarida, as tr�s irm�s Norma, Neide e Vilma, a amiga Idalina e suas filhas, e Ti�o, um grupo seleto de grandes vasca�nos.

A id�ia surgiu dos encontros que todos mantinham aos domingos quando n�o havia jogos. Eles se reuniam na casa de algum deles e das conversas surgiu o primeiro nome da torcida, que se chamava: "Torcida Uniformizada do Vasco", posteriormente passando a se chamar "Torcida Organizada do Vasco", a famosa "TOV".

Nessa �poca, lembra tia Aida, t�nhamos uma faixa que acompanhava a equipe que dizia: "Felicidade teu nome � Vasco", que representava todo o orgulho que sent�amos por nosso clube. Quando da inaugura��o do est�dio do Maracan�, em 1950, muitos n�o sabem porque nossa torcida sempre se situa do lado direito das tribunas. � tia Aida, uma das respons�veis por isso, quem explica:

- Foi no primeiro cl�ssico contra o Flamengo, quando nosso grupo chegou ao final da rampa de acesso as arquibancadas e nos deslocamos para o lado direito e ouvimos a charanga do Flamengo tocando do lado oposto, mas como os torcedores n�o sabiam para que lado se dirigir, come�ou a misturar as torcidas, ent�o combinamos, eu, Margarida, Idalina e Norma, de irmos at� a subida da rampa, e nos reunimos com o Jaime de Carvalho respons�vel pela charanga pedindo que ele assumisse o lado esquerdo e levasse sua torcida, e n�s ficar�amos com nossos torcedores do lado direito, como ocorre at� hoje.

E parece que o lado escolhido trouxe sorte ao Vasco, pois nesse mesmo ano o clube se sagrou campe�o estadual ao vencer o Am�rica de virada por 2 a 1, �poca em que Ti�o surgiu com a m�sica que se tornou um s�mbolo da conquista e que a torcida saiu cantando do Maracan�.

�Zum, Zum, Zum, Vasco dois a um, Ademir pegou a bola E desapareceu, Osni t� procurando, Onde a bola se meteu�.

Bastava trocar o nome do goleiro do Am�rica e a m�sica, que virou canto da torcida, servia para embalar nossas vit�rias.

Da rivalidade com o Flamengo surgiu o apelido de urubu, que at� hoje inferniza os rivais, mas o que tamb�m poucos sabem, � que ele nasceu num jogo Vasco e Flamengo disputado � noite no Maracan�, onde as agress�es verbais se limitavam a cham�-los de cachorrada, e foi nesse momento que surgiu a figura criativa de nosso Ti�o e profetizou:

�De hoje em diante vamos cham�-los de Urubu�.

E o apelido logo pegou, tanto que no jogo seguinte, um torcedor na geral levou um urubu e soltou-o no gramado para del�rio da torcida vasca�na.

Outra torcedora que tia Aida n�o esquece e representa um marco na hist�ria do Vasco, foi Dulce Rosalina, que ningu�m tem conhecimento, mas foi trazida para a TOV por interm�dio de tia Aida, que nos conta como tudo aconteceu:

- Est�vamos em Teixeira de Castro, campo do Bosucesso, e uma jovem sentou-se ao meu lado e vibrava muito com os gols do Vasco, foi quando eu a convidei para que fizesse parte da nossa torcida, e de tal maneira ela se dedicou e se apaixonou que tempos depois entregamos a ela a chefia da torcida. Ela era uma pessoa muito querida e educada, amava o Vasco acima de tudo, pelo clube ela se doou, deu a sua vida, deixou de cuidar de sua sa�de, mas deixou o legado para todas as futuras gera��es de vasca�nos, de sua imensa paix�o pelo Vasco.

Qual vasca�no n�o se lembra, ou pelo menos j� n�o ouviu falar de Ramalho e seu talo de mamona, que levantava a torcida toda vez que adentrava as arquibancadas de S�o Janu�rio, ou outro qualquer est�dio, pois estava sempre presente em todos, e foi pela paix�o pelo Vasco, que surgiu essa amizade que permanece por todos esses anos e que se solidificou atrav�s de um fato marcante ligado ao Vasco e suas conquistas, conforme relata tia Aida.

- Quando a delega��o do Vasco viajou � Espanha para disputar o trof�u Teresa Herrera, o mais importante torneio da Europa, n�s torcedores n�o t�nhamos como acompanhar a performance do time, a n�o ser por raras informa��es das r�dios. Foi quando no dia da partida final do torneio, nos dirigimos � Radio Continental, onde o Grande Benem�rito Mario Figueiredo, comandante da r�dio, conseguiu entrar em contato com o Sr. Jo�o Silva, chefe da delega��o que nos informou que o Vasco acabara de conquistar a ta�a, e no meio das comemora��es, ainda na r�dio, chegou Ramalho com seu talo de mamona e euf�rico tocou-o para o Sr. Jo�o Silva ouvir na Espanha, junto ao nosso grito de guerra do CASACA!

Nesse momento, ele se aproxima de mim, colocando a m�o no meu ombro, e me chamando de comadre. Eu n�o entendi nada e perguntei o porque daquele tratamento, foi quando ele me explicou: �Hoje nasceu minha filha e voc� vai ser a madrinha�.

Era muita emo��o para um s� dia, e antes mesmo de agradecer, fiz um pedido para que ela se chamasse em homenagem a nossa conquista hist�rica Teresa Herrera, no que fui prontamente atendida, e ela � s� orgulho para todos n�s, gra�as a Deus.

J� que falamos em Ramalho, nesse momento tia Aida se emociona, ao contar o que aconteceu h� meses atr�s com nosso amigo:

- O Ramalho passou mal e teve que ser socorrido �s pressas, pois seu estado de sa�de era cr�tico e precisava de tratamento urgente, e teria que ser internado, quando o desespero tomava conta de todos, se fez presente o cora��o bondoso de nosso Presidente Eurico Miranda, que mandou intern�-lo imediatamente na Cl�nica Doutor Aloan, custeando todas as despesas, num gesto que engrandece o ser humano, e contribuiu para sua pronta recupera��o, trazendo al�vio para seus familiares, para mim e todos n�s vasca�nos. Somos todos gratos ao nosso Presidente, por esse gesto de solidariedade humana.

Outra paix�o de nossa ilustre torcedora � o remo, que ela sempre acompanhava e onde nos �ureos tempos do deca-hexa campeonato estadual, a vontade era de se jogar nas �guas da Lagoa para comemorar junto aos atletas, as conquistas sempre em cima do rival. Saudade dos bailes de gala na Sede N�utica, dos carnavais no gin�sio de S�o Janu�rio, da alegria das conquistas, do Sul Americano de 1948, quando em f�rias com sua m�e em Minas Gerais, saiu gritando pelo hotel: �Meu Vasco � campe�o sul-americano! Viva o Vasco!�

O tempo passa, e na mem�ria ficaram aqueles jogadores que tanto a fizeram feliz: Pascoal, Oitenta e Quatro, Nestor, Belini, Rubens, Orlando, Vav�, o maior time do Vasco de todos os tempos, Barbosa, Augusto, Rafanelli, Eli, Danilo e Jorge, Fria�a, Ipojucan, Ademir, Maneca e Chico.

Dos jogadores atuais, Rom�rio tem um lugar de destaque em seu cora��o, por seus gols e sua conduta em ajudar o clube nos momentos mais dif�ceis, sem fazer alarde e por nunca ter falado abertamente dos problemas, que s�o normais em qualquer clube.

- Quando ele foi para o rival, me senti muito triste, como na �poca em que Ademir foi jogar no Fluminense, mas eles voltaram para minha alegria.

� importante que as novas gera��es de vasca�nos saibam que esse grandioso clube, tem uma hist�ria de luta, amor e dedica��o, no meu caso, s�o quase oitenta anos torcendo pelo meu Vasco em S�o Janu�rio, Maracan�, e j� fui por esse Brasil todo acompanhando meu time, e pe�o a esse jovens torcedores, chefes de torcidas, que evitem brigas e confus�es, pois n�s que vivemos numa �poca onde havia mais respeito pelos advers�rios, t�nhamos neles, n�o inimigos mas apenas advers�rios moment�neos, pois ao terminar os jogos era comum sairmos dos est�dios todos juntos, havia muita goza��o mas de forma sadia, sem agress�es ou palavr�es, e enquanto os vencedores bebiam para comemorar, outros bebiam para esquecer, mas todos juntos, comentando lances da partida.

Que saudades da Tia Helena (Fluminense), Tarzan (Botafogo), Jaime de Carvalho (Flamengo), Juarez (Bangu), chefes de torcidas que muito contribu�ram para a beleza dos espet�culos com suas faixas e bandeiras.

- A viol�ncia afasta o p�blico dos est�dios, e � esta mensagem que eu gostaria de deixar para os torcedores.

Muito mais ter�amos para registrar e deixar guardado em nossas mentes. � com satisfa��o que tia Aida diz que foi madrinha de v�rias torcidas do Vasco, muitas j� n�o existem mais, mas se lembra orgulhosa que a Vasgua�u da amiga Sandra, ainda est� presente aos jogos do Vasco. Mas orgulho maior � o nosso de termos uma torcedora como Aida de Almeida, um nome eterno no universo vasca�no.

Fonte: Jornal do Casaca