Mensagem do Santo Padre ao Ministro do Clima e Meio Ambiente da República da Polônia, Presidente da XLII Conferência da FAO (14 de junho de 2021) (original) (raw)
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AO MINISTRO DO CLIMA E DO MEIO AMBIENTE DA REPÚBLICA DA POLÔNIA, PRESIDENTE DA XLII CONFERÊNCIA DA FAO
A Sua Excelência o Senhor Michał Kurtyka Ministro do Clima e do Meio Ambiente da República da Polónia Presidente da XLII Conferência da FAO
O momento atual, ainda marcado pela crise sanitária, económica e social provocada pela Covid-19, põe em evidência que o trabalho que a Fao desempenha em busca de respostas adequadas para o problema da insegurança alimentar e da subalimentação, que continuam a ser os grandes desafios do nosso tempo, adquire particular importância. Não obstante os resultados alcançados nas décadas passadas, muitos dos nossos irmãos e irmãs ainda não têm acesso, nem em quantidade nem em qualidade, à alimentação necessária.
No ano passado, o número de pessoas que estavam expostas ao risco de insegurança alimentar aguda e que precisavam de ajuda imediata para sobreviver, atingiu o ponto mais alto dos últimos cinco anos. Esta situação poderia agravar-se no futuro. Os conflitos, os eventos meteorológicos extremos, as crises económicas, além da atual crise sanitária, constituem uma fonte de carestia e de fome para milhões de pessoas. Por conseguinte, a fim de abordar estas crescentes formas de vulnerabilidade, é fundamental adotar políticas que sejam capazes de enfrentar as causas estruturais que as provocam.
Para oferecer uma solução a estas necessidades é importante, sobretudo, garantir que os sistemas alimentares sejam resilientes, inclusivos, sustentáveis e capazes de proporcionar dietas saudáveis e acessíveis a todos. Nesta ótica, é profícuo o desenvolvimento de uma economia circular que assegure recursos para todos, também para as gerações vindouras, e que promova o uso de energias renováveis. O fator fundamental para a recuperação da crise que nos flagela é uma economia à medida do homem, não sujeita unicamente ao lucro, mas ancorada no bem comum, amiga da ética e respeitadora do meio ambiente.
A reconstrução das economias pós-pandémicas oferece-nos a oportunidade de inverter a rota seguida até agora e de investir num sistema alimentar global, capaz de resistir às crises futuras. Disto faz parte a promoção de uma agricultura sustentável e diversificada, que tenha em consideração o precioso papel da agricultura familiar e o das comunidades rurais. Com efeito, é paradoxal constatar que a falta ou a escassez de alimentos atinge exatamente as pessoas que os produzem. Três quartos dos pobres do mundo vivem em áreas rurais e para sobreviver dependem principalmente da agricultura. No entanto, por causa da falta de acesso aos mercados, à posse da terra, aos recursos financeiros, às infraestruturas e às tecnologias, estes nossos irmãos e irmãs são os mais expostos à insegurança alimentar.
Aprecio e encorajo os esforços da comunidade internacional, visando assegurar que cada país possa pôr em prática os mecanismos necessários para alcançar a própria autonomia alimentar, quer mediante novos modelos de desenvolvimento e consumo quer através de formas de organização comunitária que preservem os ecossistemas locais e a biodiversidade (cf. Encíclica Laudato si’, nn. 129, 180). Poderia ser de grande ajuda recorrer ao potencial da inovação para apoiar os pequenos produtores e ajudá-los a melhorar a sua capacidade e resiliência. Nesta perspetiva, o trabalho que desempenhais é de particular importância na atual época de crise.
Na presente conjuntura, para poder dar início à retomada, o passo fundamental é a promoção de uma cultura do cuidado, disposta a enfrentar a tendência individualista e agressiva do descarte, muito presente nas nossas sociedades. Enquanto poucos semeiam tensões, confrontos e falsidades, nós, ao contrário, somos convidados a construir, com paciência e decisão, uma cultura da paz visando iniciativas que incluam todos os aspetos da vida humana e nos ajudem a rejeitar o vírus da indiferença.
Caros amigos, não é suficiente simplesmente esboçar programas para dar impulso à ação da comunidade internacional; são necessários gestos tangíveis que tenham como ponto de referência a pertença comum à família humana e a promoção da fraternidade. Gestos que facilitem a criação de uma sociedade promotora de educação, diálogo e equidade.
A responsabilidade individual suscita a responsabilidade coletiva, que encoraja a família das nações a assumir compromissos concretos e eficazes. É pertinente que «não pensemos só nos nossos interesses, nos interesses parciais. Aproveitemos esta prova como uma oportunidade para preparar o amanhã de todos, sem descartar ninguém. De todos, pois sem uma visão de conjunto, não haverá futuro para ninguém» (Homilia na Missa da Divina Misericórdia, 19 de abril de 2020).
Com uma cordial saudação a Vossa Excelência, Senhor Presidente da Conferência, ao Diretor-Geral da Fao, aos Representantes das várias Nações e Organizações internacionais, e também aos demais participantes, desejo manifestar a minha gratidão pelos vossos esforços. A Santa Sé e a Igreja católica, com as suas estruturas e instituições, apoiam os trabalhos desta Conferência e acompanham-vos na vossa dedicação a favor de um mundo mais justo, ao serviço dos nossos irmãos e irmãs indefesos e necessitados.
Fraternalmente,
Francisco
Vaticano, 14 de junho de 2021.