Otaciel de Oliveira Melo: Brasil: O p�ssimo servi�o das companhias a�reas (original) (raw)

Brasil

O p�ssimo servi�o das companhias a�reas

Otaciel de Oliveira Melo
La Insignia. Brasil, julho de 2007.

A m�dia verde-amarela, na �nsia de vender os seus produtos (informa��es e an�ncios) a qualquer pre�o e de politizar a trag�dia ocorrida com o avi�o da TAM em S�o Paulo para desgastar a imagem do presidente Lula, est� perdendo uma �tima oportunidade de fomentar uma discuss�o s�ria a respeito de todos os fatores que concorrem para a inseguran�a das aeronaves brasileiras nos v�os dom�sticos. Mesmo as pessoas que viajam de avi�o esporadicamente, como � o meu caso e o do meu filho, t�m notado uma s�rie de mudan�as na qualidade dos servi�os prestados por essas empresas nestes �ltimos anos.

Com a fal�ncia da Varig, Transbrasil e Vasp -e deixando de lado as pequenas companhias que operam regionalmente-, o espa�o a�reo brasileiro passou a ser ocupado basicamente por avi�es de outras tr�s grandes empresas: GOL, TAM e BRA. A primeira introduziu no Brasil uma competi��o feroz cujo objetivo foi o de concorrer at� mesmo com o transporte rodovi�rio de passageiros. E conseguiu. S� para se ter uma id�ia da redu��o de pre�os das passagens a�reas, a tarifa promocional de uma passagem entre Fortaleza-Recife (cinq�enta minutos de v�o) pode custar R$ 50,00 (U$ 27,00), um pouco mais da metade do pre�o de uma passagem de �nibus semi-leito para o mesmo percurso. Por�m, para conseguir esta fa�anha in�dita na avia��o comercial brasileira, a GOL e depois as concorrentes tiveram que optar por uma deteriora��o nos servi�os prestados, no que diz respeito � qualidade e quantidade da alimenta��o servida a bordo e � supress�o de revistas e jornais no interior de suas aeronaves. Aparentemente, isto n�o tem muita import�ncia quando o usu�rio faz uma viagem relativamente curta. Por�m podemos citar como outro desconforto o fato de que as aeronaves passaram a circular com um n�mero muito maior de passageiros, pois as principais companhias a�reas resolveram diminuir o espa�o entre as poltronas dos avi�es, aumentando em cerca de 25% a disponibilidade de assentos. O espa�o ficou t�o irris�rio que, quando viajo de avi�o, eu me sinto como se estivesse dentro de uma lata de sardinhas. Resta saber se este novo arranjo das poltronas foi feito durante a constru��o dos avi�es ou nos hangares das pr�prias empresas, aqui no Brasil. O fato � que as aeronaves aumentaram de peso (quando explodiu, o Airbus A-320 pesava 62,7 toneladas), sem um aumento correspondente nas suas dimens�es. E eu gostaria que me explicassem como o impacto dessa sobrecarga interfere no desempenho dessas aeronaves durante as decolagens e aterrissagens nas dezenas de aeroportos brasileiros, principalmente num aeroporto de pistas relativamente curtas como o de Congonhas, cuja pista principal tem apenas 1900 m e a auxiliar 1500 m.

Por�m a conseq��ncia mais aterrorizante dessa competi��o desenfreada em busca de passageiros a qualquer custo � a seguinte: independente das causas que motivaram a queda do Airbus A-320 pr�ximo ao aeroporto de Congonhas na semana passada (estamos aguardando a abertura da caixa-preta), os respons�veis pelo gerenciamento da TAM est�o colocando a manuten��o das aeronaves daquela empresa em segundo plano e menosprezando a intelig�ncia dos brasileiros n�o envolvidos na politiza��o do acidente. Pela primeira vez em toda minha vida de usu�rio eu ouvi falar que um avi�o poderia voar com defeito, por at� dez dias. � estarrecedor! Informou um porta-voz da TAM, pela televis�o, que o reversor da direita da aeronave que explodiu em Congonhas estava desativado, ou seja, estava sem funcionar parte do sistema de freios daquela aeronave. Ele tentou explicar dizendo que este fato absurdo (o uso de um avi�o defeituoso por at� 10 dias) est� justificado nos manuais da Airbus. Diante de t�o inusitada explica��o, eu gostaria de fazer mais duas perguntas aos leitores deste artigo: j� dirigiram um simples carro com defeito no freio da roda dianteira direita? O que acontecia todas as vezes em que voc�s tentavam frei�-lo?

Das duas uma: ou a dire��o da TAM � de um cinismo atroz, ou o fabricante do Airbus precisa imediatamente retificar todos os manuais de seus avi�es da s�rie A-320 espalhados pelo mundo.

Para concluir, eu quero me solidarizar com os familiares e amigos das v�timas da terr�vel trag�dia. Eu sei a dor que voc�s est�o sentindo, pois eu perdi um irm�o no acidente envolvendo a aeronave da GOL, em 29 de setembro de 2006. O nome dele? Osman de Oliveira Melo.