mélancolie Digestiva (original) (raw)

Das insônias idas.

anjoinverso:

Eu ainda tinha medo do dinamismo cruel - e demasiado rápido - da vida durante as noites em que, na tentativa de adormecer, compunha poemas e aforismos breves somente na cabeça; esperava que, numa destas surpresas percebidas com sutiliza, abrisse os olhos e já houvesse uma luz clara a se espreitar pelas frestas da janela. Como se um detalhe não permitido acabasse por se tornar belo demais. Que, sem dar-me conta, a noite se fosse e restasse a sobrevivência - a manhã suave.

Quando Pablo despertou às 2h e perguntou a razão para que eu ocultasse todos os meus segredos como quem guarda conchas nos bolsos - sempre com receio de um movimento brusco e veloz que as partisse - eu lhe disse que o problema era termos um coração só, sendo que parecemos sempre trazer na memória a história de várias gerações e vidas - e nada disso era piedoso.

Pablo então dizia esqueça os poemas, o céu está limpo, você pode contar estrelas… Você se lembra? Eu respondia sim, e o pedia que voltasse a dormir. Restava-me o escuro e o canto de uma coruja na barreira.

O sonho distante de uma aurora inocente.

Apenas meses depois eu lhe confessei que tinha me tornado incapaz de reconhecer constelações, que tudo se tornara parábolas. E que isso era triste demais. Foi quando Pablo pareceu entender de quase tudo que eu temia.

C.

A vontade de me matar..aumenta…aumenta..

oras, por acaso!

vago-eu:

por acaso,
falta-te;
por acaso,
sinto-te;
e, por um belíssimo acaso,
amo-te.