Margarida Rendeiro - Academia.edu (original) (raw)

Papers by Margarida Rendeiro

Research paper thumbnail of Do resgate das vozes silenciadas ao cosmopolitismo decolonial

Gragoatá, 2024

O surgimento da literatura portuguesa de autoria afrodescendente na segunda década do século XX c... more O surgimento da literatura portuguesa de autoria afrodescendente na segunda década do século XX constitui um marco na literatura portuguesa pós-colonial e a sua receção indica que tem ganho cada vez mais reconhecimento público. Mais recente é a visibilidade da literatura produzida pela diáspora brasileira indígena em Portugal. Tanto uma como a outra tem sido, na sua esmagadora maioria, de autoria de mulheres. Partindo de teorias decoloniais, o presente artigo explora Memórias Aparições Arritmias (2021), de Yara Nakahanda Monteiro, e Ixé Ygara voltando pra'Y'Kûá (2021), de Ellen Lima, para argumentar que: (1) em ambas as escritas, encontramos sentimentos semelhantes de (des)pertença; (2) e que a escrita se enquadra numa práxis decolonial que desconstrói os assombramentos do imaginário colonial e imperial que ainda persistem. A autoria brasileira indígena confere densidade temporal a uma modernidade colonial em língua portuguesa e expande as discussões que têm sido desenvolvidas em torno das implicações da escrita portuguesa afrodescendente. Sugere-se a possibilidade de pensar um cosmopolitismo decolonial que permita maneiras pluriversais de pensar o mundo em língua portuguesa e defendese que, em última análise, a escrita portuguesa afrodescendente e brasileira indígena produzida em Portugal permitem pensar até que ponto a literatura pode contribuir para uma discussão sobre reparações.

Research paper thumbnail of Deus-dará e As doenças do Brasil ou quando o desconforto na memória coletiva não pode ser bestseller

Journal of Lusophone Studies, 2024

Resumo: O presente artigo analisa a receção a Deus-dará, de Alexandra Lucas Coelho, e a As doença... more Resumo: O presente artigo analisa a receção a Deus-dará, de Alexandra Lucas Coelho, e a As doenças do Brasil, de Valter Hugo Mãe, à luz do conceito "sujeito implicado" de Michael Rothberg. Ao expor os laços genealógicos que unem Portugal e o Brasil no tempo longo da história colonial portuguesa, Deus-dará constrói um olhar implicado sobre as narrativas de memória coletiva. Argumentase que, ao contrário da receção académica, a receção não-académica portuguesa reverbera o desconforto coletivo perante a necessidade de nos reconhecermos enquanto sujeitos implicados na história e o estado de negação generalizado em Portugal perante rasuras seletivas nas narrativas de memória. Pelo contrário, a análise da receção não-académica a As doenças do Brasil reflete o acolhimento a uma narrativa que nem compromete o silêncio coletivo face aquelas rasuras seletivas nem o facto de as narrativas de memória colonial estarem assentes em percursos honrados de heróis masculinos.

Research paper thumbnail of Coloquio: Libros de viajes: entre el conocimiento del mundo, la creación y la dominación

Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, Nov 29, 2023

• NOTAS Y NOTICIAS Núm. 112 • Diciembre • 2023 • e60827 www.investigacionesgeograficas.unam.mx Co... more • NOTAS Y NOTICIAS Núm. 112 • Diciembre • 2023 • e60827 www.investigacionesgeograficas.unam.mx Coloquio: Libros de viajes: entre el conocimiento del mundo, la creación y la dominación.

Research paper thumbnail of Não mais Marias invisíveis: uma leitura decolonial em “Eu empresto-te a Mariá” (2020), de Luísa Semedo, e Um Fado Atlântico (2022), de Manuella Bezerra de Melo

ex aequo - Revista da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres

Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, est... more Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, este traço foi construído à custa de mão-de-obra barata amiúde considerada como facilmente assimilável e integrável (Jerónimo & Monteiro 2020). Porém, como defende Víctor Pereira (2015) sobre o caso português, os emigrantes nunca foram ouvidos. O artigo discute "Eu empresto-te a Mariá" e Um Fado Atlântico, protagonizados por subalternas imigradas, argumentando que estas narrativas questionam o pensamento classista e patriarcal subjacente ao poder neocolonial sobre o Outro, neste caso, a mulher imigrante. A representação narrativa humanizada da imigrante é uma forma de resistência que desconstrói o mito pós-colonial e capitalista sobre integração.

Research paper thumbnail of Vidas de Mulheres e o Dever Ético de Hospitalidade em Alexandra Lucas Coelho

Mundos de língua portuguesa - olhares cruzados, Vol. III, Da Literatura em Portugal: ficção, poesia, teatro, crítica, 2024

O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta autora, bem como E a noite roda e O m... more O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta
autora, bem como E a noite roda e O meu amante de domingo para
argumentar que nelas se mostra o tanto que a razão e a curiosidade
cosmopolitas (Santos, 2002; Appiah, 2006) desconstroem o olhar e
o conhecimento eurocêntricos para assumir o dever ético de hospitalidade
absoluta e incondicional perante o Outro (Derrida, 2003).
A viagem é o esforço decolonial de desaprendizagem; esta, através da
escuta, cria espaço para que outras histórias possam ser narradas em
nome próprio, desafiando a simplificação do olhar e conhecimento
eurocêntricos, os últimos redutos coloniais europeus. Por um lado,
o olhar eurocêntrico exotiza as vidas não europeias, em particular
as das mulheres, enquanto a sua desconstrução decolonial abre-se
como espaço de hospitalidade à subjetividade e individualidade. Por outro lado, refletindo o campo de poder do mundo, o cânone literário
ocidental tem representado demasiadas vezes vidas das mulheres a
partir da perspetiva e da experiência patriarcal. Assim, as narrativas de
ficção de Coelho resgatam a densidade subjetiva das mulheres, porque
os cânones são, antes de mais, reflexos da hospitalidade condicional
a estas vozes. Contrariar representações literárias das vidas das mulheres
condicionadas a uma perspetiva hegemónica é um imperativo
ético de consciência que aumenta o mundo.

Research paper thumbnail of Vidas de Mulheres e o Dever Ético de Hospitalidade em Alexandra Lucas Coelho

Mundos de língua portuguesa - olhares cruzados, Vol. III, Da Literatura em Portugal: ficção, poesia, teatro, crítica, 2024

O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta autora, bem como E a noite roda e O m... more O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta
autora, bem como E a noite roda e O meu amante de domingo para
argumentar que nelas se mostra o tanto que a razão e a curiosidade
cosmopolitas (Santos, 2002; Appiah, 2006) desconstroem o olhar e
o conhecimento eurocêntricos para assumir o dever ético de hospitalidade
absoluta e incondicional perante o Outro (Derrida, 2003).
A viagem é o esforço decolonial de desaprendizagem; esta, através da
escuta, cria espaço para que outras histórias possam ser narradas em
nome próprio, desafiando a simplificação do olhar e conhecimento
eurocêntricos, os últimos redutos coloniais europeus. Por um lado,
o olhar eurocêntrico exotiza as vidas não europeias, em particular
as das mulheres, enquanto a sua desconstrução decolonial abre-se
como espaço de hospitalidade à subjetividade e individualidade. Por outro lado, refletindo o campo de poder do mundo, o cânone literário
ocidental tem representado demasiadas vezes vidas das mulheres a
partir da perspetiva e da experiência patriarcal. Assim, as narrativas de
ficção de Coelho resgatam a densidade subjetiva das mulheres, porque
os cânones são, antes de mais, reflexos da hospitalidade condicional
a estas vozes. Contrariar representações literárias das vidas das mulheres
condicionadas a uma perspetiva hegemónica é um imperativo
ético de consciência que aumenta o mundo.

Research paper thumbnail of Time of the gypsies and space for the voice of a Roma woman; reading Olga Mariano's Pedaços de Mim (2021)

Time and Space

The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice ... more The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice that has systematically been absent from the Portuguese literary field: that of the Portuguese Roma. Within the European context, the almost non-existence of Portuguese Roma literature contrasts significantly with the constitution of substantial corpora of Roma authors published in Eastern European countries, in the former Soviet Union, and even in Western European countries, where these literary corpora have been less expressive but still present in their respective literary markets. The almost non-existence of Portuguese Roma literature strengthens the prevailing idea that Portuguese literature is the expression of a taintless Portuguese cultural homogeneity. This essay argues that the publication of Pedaços de Mim is opportune at a time when several Portuguese writers of African descent have also emerged and widened the scope of the discussion on the legacy of Portuguese colonialism as a history of Portuguese exclusion and segregation of ethnic minorities; segregation is also the history of the Roma in Portugal. Mariano's poetry deconstructs literary stereotypes associated with the Roma as explored by non-racialized Portuguese writers. The visibility and encouragement given to ethnic-minority authorship show the extent to which literature can be a privileged space for the acceptance of their humanity and take the shape of reparation of the historical wrongs of exclusion.

Research paper thumbnail of The Emergence of the Contemporary Transnational Ibero-American Market: Review of Edición y Circulación del libro en Iberoamerica desde el final de la Segunda Guerra Mundial. Daniel Melo e Isabel Araújo Branco (Org.). Ediciones Trea, 2020, 144pp, 18€, ISBN 978-84-17987-85-5

Research paper thumbnail of Não mais Marias invisíveis: uma leitura decolonial em “Eu empresto-te a Mariá” (2020), de Luísa Semedo, e Um Fado Atlântico (2022), de Manuella Bezerra de Melo

Ex aequo, Jun 15, 2023

Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, est... more Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, este traço foi construído à custa de mão-de-obra barata amiúde considerada como facilmente assimilável e integrável (Jerónimo & Monteiro 2020). Porém, como defende Víctor Pereira (2015) sobre o caso português, os emigrantes nunca foram ouvidos. O artigo discute "Eu empresto-te a Mariá" e Um Fado Atlântico, protagonizados por subalternas imigradas, argumentando que estas narrativas questionam o pensamento classista e patriarcal subjacente ao poder neocolonial sobre o Outro, neste caso, a mulher imigrante. A representação narrativa humanizada da imigrante é uma forma de resistência que desconstrói o mito pós-colonial e capitalista sobre integração.

Research paper thumbnail of We Are Not Your Negroes

Routledge eBooks, Dec 2, 2022

Research paper thumbnail of Translations of Portuguese Quotations 327

The Literary Institution in Portugal since the Thirties

Research paper thumbnail of A revolução está na rua: uma análise de representações do 25 de Abril 1974 na arte urbana portuguesa do século XXI

Research paper thumbnail of Appendix 6 The Nobel Prizewinners for Literature (1947-2004) 375

Research paper thumbnail of Innovating the city center from the margins in Lisboa no ano 2000

Tradition and Innovation, 2021

Research paper thumbnail of CHAPTER 8 International Acceptance of José Saramagoand José Luís Peixoto 205

The Literary Institution in Portugal since the Thirties

Research paper thumbnail of CHAPTER 1 Literature as an Institution: Systems Theory 21

The Literary Institution in Portugal since the Thirties

Research paper thumbnail of Memória Histórica, Literatura e Rasura: Escrita Reparativa em Três Histórias de Esquecimento

Djaimilia Pereira de Almeida. Tecelã de Mundos Passados e Presentes., 2023

Três Histórias de Esquecimento (2021) é uma coletânea de narrativas que reúne os já publicados A ... more Três Histórias de Esquecimento (2021) é uma coletânea de narrativas que reúne os já publicados A Visão das Plantas (2019) e Maremoto (2021) pela mesma editora, Relógio d’Água, e o inédito Bruma. Sendo uma coletânea que surge por iniciativa da sua autora, Djaimilia Pereira de Almeida, Três Histórias de Esquecimento centra-se nos percursos de vida de três homens que, conforme a apresentação da sua editora, são “encarnações do desespero perante perguntas a que a História não responde”: um antigo traficante de escravizados regressado a casa para morrer, um ex-combatente angolano das guerras de libertação na Guiné-Bissau que é arrumador de carros em Lisboa e um velho escudeiro negro que lia histórias à criança que foi Eça de Queiroz rememoram as suas vidas. Argumenta-se que esta coletânea se configura enquanto um projeto literário de Almeida que centraliza as vozes de figuras que fazem parte da importantes momentos que moldaram a história de Portugal e que a historiografia rasurou ou não relevou, atos que tiveram a cumplicidade da literatura portuguesa porque se esta nunca as explorou, muito menos as suas subjetividades foram consideradas. Partindo de frases breves de Os Pescadores, de Raul Brandão e da correspondência de Eça de Queiroz e da ainda não suficientemente explorada história da participação dos combatentes negros nos contingentes portugueses, Almeida inscreve-as num processo de historização contra-hegemónico, cabendo ao leitor questionar-se sobre os limites éticos do esquecimento no presente. Três Histórias de Esquecimento apresenta-se, deste modo, como uma escrita literária reparativa da memória rasurada em tempos pós-coloniais.

Research paper thumbnail of Time of the gypsies and space for the voice of a Roma woman; reading Olga Mariano's Pedaços de Mim (2021)

The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice that has... more The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice that has systematically been absent from the Portuguese literary field: that of the Portuguese Roma. Within the European context, the almost non-existence of Portuguese Roma literature contrasts significantly with the constitution of substantial corpora of Roma authors published in Eastern European countries, in the former Soviet Union, and even in Western European countries, where these literary corpora have been less expressive but still present in their respective literary markets. The almost non-existence of Portuguese Roma literature strengthens the prevailing idea that Portuguese literature is the expression of a taintless Portuguese cultural homogeneity. This essay argues that the publication of Pedaços de Mim is opportune at a time when several Portuguese writers of African descent have also emerged and widened the scope of the discussion on the legacy of Portuguese colonialism as a history of Portuguese exclusion and segregation of ethnic minorities; segregation is also the history of the Roma in Portugal. Mariano's poetry deconstructs literary stereotypes associated with the Roma as explored by non-racialized Portuguese writers. The visibility and encouragement given to ethnic-minority authorship show the extent to which literature can be a privileged space for the acceptance of their humanity and take the shape of reparation of the historical wrongs of exclusion.

Research paper thumbnail of Uma Leitura de O meu amante de domingo (2014) de Alexandra Lucas Coelho

UIDB/04666/2020 UIDP/04666/2020Defendo neste artigo que em O meu amante de domingo de Alexandra L... more UIDB/04666/2020 UIDP/04666/2020Defendo neste artigo que em O meu amante de domingo de Alexandra Lucas Coelho, o exercício social dos afetos é exercício de não conformismo perante a subalternização e invisibilização da mulher, conferindo-lhe existência particular. Por outro lado, defendo que esta escrita é um exercício antropofágico, partindo da escrita que a faz “outra” para criar uma voz própria e individual. A linguagem desta narradora, senhora da sua própria história, é dura e desbragada, mas é na afirmação da sua fala e no absoluto controlo da sexualidade do seu corpo que assegura a sua pulsão de vida. In this article, I will argue that in this novel the exercise of passion corresponds to the exercise of non-conformism against women’s subalternization and invisibility, empowering them. Furthermore, I will also argue that writing becomes an anthropophagic exercise that builds an individual voice upon the writing that domesticates women’s othering. The narrator is the master of he...

Research paper thumbnail of An approach to mural representations of the Carnation Revolution in Lisbon

UID/HIS/04666/2013In 2014, several Portuguese muralists painted murals about the Carnation Revolu... more UID/HIS/04666/2013In 2014, several Portuguese muralists painted murals about the Carnation Revolution to celebrate its 40th anniversary. The initiative aimed at reviving the memory of the murals and graffiti painted in Portugal during the 1970s. These murals represent the memory of struggles in which the figure of the hero lends substance to the narrativity of the popular revolution that overthrew the New State dictatorship in 1974. This article argues that when analyzing those murals, they show that the memory on the Revolution generated a discursiveness represented by hegemonic masculinity, which also conforms to the gendered discourse of the neoliberal agenda. Feminism and negritude were hardly ever empowered as alternative forms of masculinity to represent the revolutionaries and were relegated to (quasi-)invisibility. The figures represented in those male-authored murals located in the centre of Lisbon convey hegemonic masculinity and most have already been washed off. Those re...

Research paper thumbnail of Do resgate das vozes silenciadas ao cosmopolitismo decolonial

Gragoatá, 2024

O surgimento da literatura portuguesa de autoria afrodescendente na segunda década do século XX c... more O surgimento da literatura portuguesa de autoria afrodescendente na segunda década do século XX constitui um marco na literatura portuguesa pós-colonial e a sua receção indica que tem ganho cada vez mais reconhecimento público. Mais recente é a visibilidade da literatura produzida pela diáspora brasileira indígena em Portugal. Tanto uma como a outra tem sido, na sua esmagadora maioria, de autoria de mulheres. Partindo de teorias decoloniais, o presente artigo explora Memórias Aparições Arritmias (2021), de Yara Nakahanda Monteiro, e Ixé Ygara voltando pra'Y'Kûá (2021), de Ellen Lima, para argumentar que: (1) em ambas as escritas, encontramos sentimentos semelhantes de (des)pertença; (2) e que a escrita se enquadra numa práxis decolonial que desconstrói os assombramentos do imaginário colonial e imperial que ainda persistem. A autoria brasileira indígena confere densidade temporal a uma modernidade colonial em língua portuguesa e expande as discussões que têm sido desenvolvidas em torno das implicações da escrita portuguesa afrodescendente. Sugere-se a possibilidade de pensar um cosmopolitismo decolonial que permita maneiras pluriversais de pensar o mundo em língua portuguesa e defendese que, em última análise, a escrita portuguesa afrodescendente e brasileira indígena produzida em Portugal permitem pensar até que ponto a literatura pode contribuir para uma discussão sobre reparações.

Research paper thumbnail of Deus-dará e As doenças do Brasil ou quando o desconforto na memória coletiva não pode ser bestseller

Journal of Lusophone Studies, 2024

Resumo: O presente artigo analisa a receção a Deus-dará, de Alexandra Lucas Coelho, e a As doença... more Resumo: O presente artigo analisa a receção a Deus-dará, de Alexandra Lucas Coelho, e a As doenças do Brasil, de Valter Hugo Mãe, à luz do conceito "sujeito implicado" de Michael Rothberg. Ao expor os laços genealógicos que unem Portugal e o Brasil no tempo longo da história colonial portuguesa, Deus-dará constrói um olhar implicado sobre as narrativas de memória coletiva. Argumentase que, ao contrário da receção académica, a receção não-académica portuguesa reverbera o desconforto coletivo perante a necessidade de nos reconhecermos enquanto sujeitos implicados na história e o estado de negação generalizado em Portugal perante rasuras seletivas nas narrativas de memória. Pelo contrário, a análise da receção não-académica a As doenças do Brasil reflete o acolhimento a uma narrativa que nem compromete o silêncio coletivo face aquelas rasuras seletivas nem o facto de as narrativas de memória colonial estarem assentes em percursos honrados de heróis masculinos.

Research paper thumbnail of Coloquio: Libros de viajes: entre el conocimiento del mundo, la creación y la dominación

Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, Nov 29, 2023

• NOTAS Y NOTICIAS Núm. 112 • Diciembre • 2023 • e60827 www.investigacionesgeograficas.unam.mx Co... more • NOTAS Y NOTICIAS Núm. 112 • Diciembre • 2023 • e60827 www.investigacionesgeograficas.unam.mx Coloquio: Libros de viajes: entre el conocimiento del mundo, la creación y la dominación.

Research paper thumbnail of Não mais Marias invisíveis: uma leitura decolonial em “Eu empresto-te a Mariá” (2020), de Luísa Semedo, e Um Fado Atlântico (2022), de Manuella Bezerra de Melo

ex aequo - Revista da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres

Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, est... more Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, este traço foi construído à custa de mão-de-obra barata amiúde considerada como facilmente assimilável e integrável (Jerónimo & Monteiro 2020). Porém, como defende Víctor Pereira (2015) sobre o caso português, os emigrantes nunca foram ouvidos. O artigo discute "Eu empresto-te a Mariá" e Um Fado Atlântico, protagonizados por subalternas imigradas, argumentando que estas narrativas questionam o pensamento classista e patriarcal subjacente ao poder neocolonial sobre o Outro, neste caso, a mulher imigrante. A representação narrativa humanizada da imigrante é uma forma de resistência que desconstrói o mito pós-colonial e capitalista sobre integração.

Research paper thumbnail of Vidas de Mulheres e o Dever Ético de Hospitalidade em Alexandra Lucas Coelho

Mundos de língua portuguesa - olhares cruzados, Vol. III, Da Literatura em Portugal: ficção, poesia, teatro, crítica, 2024

O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta autora, bem como E a noite roda e O m... more O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta
autora, bem como E a noite roda e O meu amante de domingo para
argumentar que nelas se mostra o tanto que a razão e a curiosidade
cosmopolitas (Santos, 2002; Appiah, 2006) desconstroem o olhar e
o conhecimento eurocêntricos para assumir o dever ético de hospitalidade
absoluta e incondicional perante o Outro (Derrida, 2003).
A viagem é o esforço decolonial de desaprendizagem; esta, através da
escuta, cria espaço para que outras histórias possam ser narradas em
nome próprio, desafiando a simplificação do olhar e conhecimento
eurocêntricos, os últimos redutos coloniais europeus. Por um lado,
o olhar eurocêntrico exotiza as vidas não europeias, em particular
as das mulheres, enquanto a sua desconstrução decolonial abre-se
como espaço de hospitalidade à subjetividade e individualidade. Por outro lado, refletindo o campo de poder do mundo, o cânone literário
ocidental tem representado demasiadas vezes vidas das mulheres a
partir da perspetiva e da experiência patriarcal. Assim, as narrativas de
ficção de Coelho resgatam a densidade subjetiva das mulheres, porque
os cânones são, antes de mais, reflexos da hospitalidade condicional
a estas vozes. Contrariar representações literárias das vidas das mulheres
condicionadas a uma perspetiva hegemónica é um imperativo
ético de consciência que aumenta o mundo.

Research paper thumbnail of Vidas de Mulheres e o Dever Ético de Hospitalidade em Alexandra Lucas Coelho

Mundos de língua portuguesa - olhares cruzados, Vol. III, Da Literatura em Portugal: ficção, poesia, teatro, crítica, 2024

O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta autora, bem como E a noite roda e O m... more O presente artigo discute várias narrativas de viagem desta
autora, bem como E a noite roda e O meu amante de domingo para
argumentar que nelas se mostra o tanto que a razão e a curiosidade
cosmopolitas (Santos, 2002; Appiah, 2006) desconstroem o olhar e
o conhecimento eurocêntricos para assumir o dever ético de hospitalidade
absoluta e incondicional perante o Outro (Derrida, 2003).
A viagem é o esforço decolonial de desaprendizagem; esta, através da
escuta, cria espaço para que outras histórias possam ser narradas em
nome próprio, desafiando a simplificação do olhar e conhecimento
eurocêntricos, os últimos redutos coloniais europeus. Por um lado,
o olhar eurocêntrico exotiza as vidas não europeias, em particular
as das mulheres, enquanto a sua desconstrução decolonial abre-se
como espaço de hospitalidade à subjetividade e individualidade. Por outro lado, refletindo o campo de poder do mundo, o cânone literário
ocidental tem representado demasiadas vezes vidas das mulheres a
partir da perspetiva e da experiência patriarcal. Assim, as narrativas de
ficção de Coelho resgatam a densidade subjetiva das mulheres, porque
os cânones são, antes de mais, reflexos da hospitalidade condicional
a estas vozes. Contrariar representações literárias das vidas das mulheres
condicionadas a uma perspetiva hegemónica é um imperativo
ético de consciência que aumenta o mundo.

Research paper thumbnail of Time of the gypsies and space for the voice of a Roma woman; reading Olga Mariano's Pedaços de Mim (2021)

Time and Space

The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice ... more The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice that has systematically been absent from the Portuguese literary field: that of the Portuguese Roma. Within the European context, the almost non-existence of Portuguese Roma literature contrasts significantly with the constitution of substantial corpora of Roma authors published in Eastern European countries, in the former Soviet Union, and even in Western European countries, where these literary corpora have been less expressive but still present in their respective literary markets. The almost non-existence of Portuguese Roma literature strengthens the prevailing idea that Portuguese literature is the expression of a taintless Portuguese cultural homogeneity. This essay argues that the publication of Pedaços de Mim is opportune at a time when several Portuguese writers of African descent have also emerged and widened the scope of the discussion on the legacy of Portuguese colonialism as a history of Portuguese exclusion and segregation of ethnic minorities; segregation is also the history of the Roma in Portugal. Mariano's poetry deconstructs literary stereotypes associated with the Roma as explored by non-racialized Portuguese writers. The visibility and encouragement given to ethnic-minority authorship show the extent to which literature can be a privileged space for the acceptance of their humanity and take the shape of reparation of the historical wrongs of exclusion.

Research paper thumbnail of The Emergence of the Contemporary Transnational Ibero-American Market: Review of Edición y Circulación del libro en Iberoamerica desde el final de la Segunda Guerra Mundial. Daniel Melo e Isabel Araújo Branco (Org.). Ediciones Trea, 2020, 144pp, 18€, ISBN 978-84-17987-85-5

Research paper thumbnail of Não mais Marias invisíveis: uma leitura decolonial em “Eu empresto-te a Mariá” (2020), de Luísa Semedo, e Um Fado Atlântico (2022), de Manuella Bezerra de Melo

Ex aequo, Jun 15, 2023

Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, est... more Resumo Embora o imaginário europeu pós-colonial descreva sociedades europeias multiculturais, este traço foi construído à custa de mão-de-obra barata amiúde considerada como facilmente assimilável e integrável (Jerónimo & Monteiro 2020). Porém, como defende Víctor Pereira (2015) sobre o caso português, os emigrantes nunca foram ouvidos. O artigo discute "Eu empresto-te a Mariá" e Um Fado Atlântico, protagonizados por subalternas imigradas, argumentando que estas narrativas questionam o pensamento classista e patriarcal subjacente ao poder neocolonial sobre o Outro, neste caso, a mulher imigrante. A representação narrativa humanizada da imigrante é uma forma de resistência que desconstrói o mito pós-colonial e capitalista sobre integração.

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Routledge eBooks, Dec 2, 2022

Research paper thumbnail of Translations of Portuguese Quotations 327

The Literary Institution in Portugal since the Thirties

Research paper thumbnail of A revolução está na rua: uma análise de representações do 25 de Abril 1974 na arte urbana portuguesa do século XXI

Research paper thumbnail of Appendix 6 The Nobel Prizewinners for Literature (1947-2004) 375

Research paper thumbnail of Innovating the city center from the margins in Lisboa no ano 2000

Tradition and Innovation, 2021

Research paper thumbnail of CHAPTER 8 International Acceptance of José Saramagoand José Luís Peixoto 205

The Literary Institution in Portugal since the Thirties

Research paper thumbnail of CHAPTER 1 Literature as an Institution: Systems Theory 21

The Literary Institution in Portugal since the Thirties

Research paper thumbnail of Memória Histórica, Literatura e Rasura: Escrita Reparativa em Três Histórias de Esquecimento

Djaimilia Pereira de Almeida. Tecelã de Mundos Passados e Presentes., 2023

Três Histórias de Esquecimento (2021) é uma coletânea de narrativas que reúne os já publicados A ... more Três Histórias de Esquecimento (2021) é uma coletânea de narrativas que reúne os já publicados A Visão das Plantas (2019) e Maremoto (2021) pela mesma editora, Relógio d’Água, e o inédito Bruma. Sendo uma coletânea que surge por iniciativa da sua autora, Djaimilia Pereira de Almeida, Três Histórias de Esquecimento centra-se nos percursos de vida de três homens que, conforme a apresentação da sua editora, são “encarnações do desespero perante perguntas a que a História não responde”: um antigo traficante de escravizados regressado a casa para morrer, um ex-combatente angolano das guerras de libertação na Guiné-Bissau que é arrumador de carros em Lisboa e um velho escudeiro negro que lia histórias à criança que foi Eça de Queiroz rememoram as suas vidas. Argumenta-se que esta coletânea se configura enquanto um projeto literário de Almeida que centraliza as vozes de figuras que fazem parte da importantes momentos que moldaram a história de Portugal e que a historiografia rasurou ou não relevou, atos que tiveram a cumplicidade da literatura portuguesa porque se esta nunca as explorou, muito menos as suas subjetividades foram consideradas. Partindo de frases breves de Os Pescadores, de Raul Brandão e da correspondência de Eça de Queiroz e da ainda não suficientemente explorada história da participação dos combatentes negros nos contingentes portugueses, Almeida inscreve-as num processo de historização contra-hegemónico, cabendo ao leitor questionar-se sobre os limites éticos do esquecimento no presente. Três Histórias de Esquecimento apresenta-se, deste modo, como uma escrita literária reparativa da memória rasurada em tempos pós-coloniais.

Research paper thumbnail of Time of the gypsies and space for the voice of a Roma woman; reading Olga Mariano's Pedaços de Mim (2021)

The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice that has... more The publication of Olga Mariano's Pedaços de Mim in 2021 signals the presence of a voice that has systematically been absent from the Portuguese literary field: that of the Portuguese Roma. Within the European context, the almost non-existence of Portuguese Roma literature contrasts significantly with the constitution of substantial corpora of Roma authors published in Eastern European countries, in the former Soviet Union, and even in Western European countries, where these literary corpora have been less expressive but still present in their respective literary markets. The almost non-existence of Portuguese Roma literature strengthens the prevailing idea that Portuguese literature is the expression of a taintless Portuguese cultural homogeneity. This essay argues that the publication of Pedaços de Mim is opportune at a time when several Portuguese writers of African descent have also emerged and widened the scope of the discussion on the legacy of Portuguese colonialism as a history of Portuguese exclusion and segregation of ethnic minorities; segregation is also the history of the Roma in Portugal. Mariano's poetry deconstructs literary stereotypes associated with the Roma as explored by non-racialized Portuguese writers. The visibility and encouragement given to ethnic-minority authorship show the extent to which literature can be a privileged space for the acceptance of their humanity and take the shape of reparation of the historical wrongs of exclusion.

Research paper thumbnail of Uma Leitura de O meu amante de domingo (2014) de Alexandra Lucas Coelho

UIDB/04666/2020 UIDP/04666/2020Defendo neste artigo que em O meu amante de domingo de Alexandra L... more UIDB/04666/2020 UIDP/04666/2020Defendo neste artigo que em O meu amante de domingo de Alexandra Lucas Coelho, o exercício social dos afetos é exercício de não conformismo perante a subalternização e invisibilização da mulher, conferindo-lhe existência particular. Por outro lado, defendo que esta escrita é um exercício antropofágico, partindo da escrita que a faz “outra” para criar uma voz própria e individual. A linguagem desta narradora, senhora da sua própria história, é dura e desbragada, mas é na afirmação da sua fala e no absoluto controlo da sexualidade do seu corpo que assegura a sua pulsão de vida. In this article, I will argue that in this novel the exercise of passion corresponds to the exercise of non-conformism against women’s subalternization and invisibility, empowering them. Furthermore, I will also argue that writing becomes an anthropophagic exercise that builds an individual voice upon the writing that domesticates women’s othering. The narrator is the master of he...

Research paper thumbnail of An approach to mural representations of the Carnation Revolution in Lisbon

UID/HIS/04666/2013In 2014, several Portuguese muralists painted murals about the Carnation Revolu... more UID/HIS/04666/2013In 2014, several Portuguese muralists painted murals about the Carnation Revolution to celebrate its 40th anniversary. The initiative aimed at reviving the memory of the murals and graffiti painted in Portugal during the 1970s. These murals represent the memory of struggles in which the figure of the hero lends substance to the narrativity of the popular revolution that overthrew the New State dictatorship in 1974. This article argues that when analyzing those murals, they show that the memory on the Revolution generated a discursiveness represented by hegemonic masculinity, which also conforms to the gendered discourse of the neoliberal agenda. Feminism and negritude were hardly ever empowered as alternative forms of masculinity to represent the revolutionaries and were relegated to (quasi-)invisibility. The figures represented in those male-authored murals located in the centre of Lisbon convey hegemonic masculinity and most have already been washed off. Those re...