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Papers by ANTONIO VACAO

Research paper thumbnail of UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO UNIDADE DE VIZINHANÇA: NOTAS SOBRE SUA ORIGEM, DESENVOLVIMENTO E INTRODUÇÃO NO BRASIL

INTRODUÇÃO Unidade de Vizinhança é segundo a formulação original do início do século 20 uma área ... more INTRODUÇÃO Unidade de Vizinhança é segundo a formulação original do início do século 20 uma área residencial que dispõe de relativa autonomia com relação às necessidades quotidianas de consumo de bens e serviços urbanos. Os equipamentos de consumo coletivo teriam assim sua área de atendimento coincidindo com os limites da área residencial. As concepções mais clássicas de Unidade de Vizinhança apresentam duas preocupações básicas. A primeira, com a distribuição dos equipamentos de consumo na escala da cidade – e aí a escola aparece como foco das atenções, inclusive por ser um dos motivos geradores da concepção. A segunda preocupação, refere-se ao anseio de recuperação de valores de uma vida social a nível local (relações de vizinhança), considerados enfraquecidos ou mesmo perdidos com as transformações por que passou a vida urbana em decorrência dos processos espaciais e sócio-econômicos ocasionados pela Revolução Industrial. A distribuição e localização dos equipamentos de consumo coletivo é uma questão recorrente e central nas diversas concepções de Unidade de Vizinhança. Na grande parte das concepções, a escola é o parâmetro que dimensiona a área habitacional, que em extensão coincidiria com sua área de atendimento, de modo a resultar, entre outros aspectos, uma unidade espacial mais ou menos fechada e autônoma, onde as condições de acesso estariam otimizadas. Para os agentes de planejamento e autoridades preocupadas com o equacionamento da questão habitação / equipamentos, o sentido prático da concepção representou um grande apelo, contribuindo para que as idéias de Unidade de Vizinhança fossem difundidas e aplicadas em diferentes contextos sociais e econômicos ao redor do mundo. São também recorrentes no desenvolvimento da idéia de Unidade de Vizinhança os anseios de recuperação da vida social local. Mas desde sua formulação inicial essas retenções têm sido muito criticadas. E com o passar do tempo, essas críticas parecem ter minado a força desses anseios no contexto das idéias de Unidade de Vizinhança. Mas de modo algum esses anseios foram abandonados pelos urbanistas, apenas ganharam certa autonomia com relação às idéias de Unidade de Vizinhança, que para muitos tornou-se obsoleta. De certa forma, pode-se considerar que esses anseios ainda permanecem nos debates dos urbanistas, subjacente no que se tem chamado de ideologia do lugar. No Brasil, a introdução e difusão das idéias de Unidade de Vizinhança se dá a partir do eixo Rio – São Paulo, no início da década de 50, quando são feitas as primeiras aplicações das idéias. Mas, a mais expressiva aplicação entre nós ocorre durante a construção de Brasília. No âmbito do presente trabalho, consideramos a aplicação em Brasília como limite de nossa análise, seja pelas proporções dessa aplicação seja pelo arrefecimento das idéias de Unidade de Vizinhança, junto com o que poderíamos chamar de crise do paradigma modernista. Ao buscarmos as idéias de Unidade de Vizinhança em suas origens e seu posterior desenvolvimento tentamos entender as características dessas concepções introduzidas no Brasil. No mesmo sentido analisamos algumas aplicações mais significativas no contexto internacional, de modo a traçar um breve quadro que evidencie as peculiaridades e inflexões que essas idéias sofreram ao serem introduzidas entre nós. Assim, na primeira parte, exploramos as origens e o desenvolvimento das idéias de Unidade de Vizinhança no exterior. Aí mencionamos algumas das aplicações iniciais mais significativas. Na segunda parte, tratamos da sua introdução no Brasil, mencionando experiências de profissionais estrangeiros e nacionais, que fazem a divulgação das idéias entre nós. Na terceira parte abordamos a aplicação das idéias feita por Lúcio Costa em Brasília, cidade-manifesto que coloca em prática concepções que vinham a muito sendo gestadas, idéias essas entre as quais destacamos a de Unidade de Vizinhança. A IDÉIA DE UNIDADE DE VIZINHANÇA E SUAS ORIGENS Considera-se que o conceito de Unidade de Vizinhança (UV) foi formulado originalmente por Clarence Arthur Perry no contexto do plano de Nova York de 1929. Em uma das monografias que integra o plano (The Neighborhood Unit), Perry assim define a UV: 1. "Tamanho. Uma unidade de vizinhança deve prover habitações para aquela população a qual a escola elementar é comumente requerida, sua área depende da densidade populacional. 2. Limites. A unidade de vizinhança deve ser limitada por todos os lados por ruas suficientemente largas para facilitar o tráfego, ao invés de ser penetrada pelo tráfego de passagem. 3. Espaços Públicos. Um sistema de pequenos parques e espaços de recreação, planejados para o encontro e para as necessidades

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INTRODUÇÃO Unidade de Vizinhança é segundo a formulação original do início do século 20 uma área ... more INTRODUÇÃO Unidade de Vizinhança é segundo a formulação original do início do século 20 uma área residencial que dispõe de relativa autonomia com relação às necessidades quotidianas de consumo de bens e serviços urbanos. Os equipamentos de consumo coletivo teriam assim sua área de atendimento coincidindo com os limites da área residencial. As concepções mais clássicas de Unidade de Vizinhança apresentam duas preocupações básicas. A primeira, com a distribuição dos equipamentos de consumo na escala da cidade – e aí a escola aparece como foco das atenções, inclusive por ser um dos motivos geradores da concepção. A segunda preocupação, refere-se ao anseio de recuperação de valores de uma vida social a nível local (relações de vizinhança), considerados enfraquecidos ou mesmo perdidos com as transformações por que passou a vida urbana em decorrência dos processos espaciais e sócio-econômicos ocasionados pela Revolução Industrial. A distribuição e localização dos equipamentos de consumo coletivo é uma questão recorrente e central nas diversas concepções de Unidade de Vizinhança. Na grande parte das concepções, a escola é o parâmetro que dimensiona a área habitacional, que em extensão coincidiria com sua área de atendimento, de modo a resultar, entre outros aspectos, uma unidade espacial mais ou menos fechada e autônoma, onde as condições de acesso estariam otimizadas. Para os agentes de planejamento e autoridades preocupadas com o equacionamento da questão habitação / equipamentos, o sentido prático da concepção representou um grande apelo, contribuindo para que as idéias de Unidade de Vizinhança fossem difundidas e aplicadas em diferentes contextos sociais e econômicos ao redor do mundo. São também recorrentes no desenvolvimento da idéia de Unidade de Vizinhança os anseios de recuperação da vida social local. Mas desde sua formulação inicial essas retenções têm sido muito criticadas. E com o passar do tempo, essas críticas parecem ter minado a força desses anseios no contexto das idéias de Unidade de Vizinhança. Mas de modo algum esses anseios foram abandonados pelos urbanistas, apenas ganharam certa autonomia com relação às idéias de Unidade de Vizinhança, que para muitos tornou-se obsoleta. De certa forma, pode-se considerar que esses anseios ainda permanecem nos debates dos urbanistas, subjacente no que se tem chamado de ideologia do lugar. No Brasil, a introdução e difusão das idéias de Unidade de Vizinhança se dá a partir do eixo Rio – São Paulo, no início da década de 50, quando são feitas as primeiras aplicações das idéias. Mas, a mais expressiva aplicação entre nós ocorre durante a construção de Brasília. No âmbito do presente trabalho, consideramos a aplicação em Brasília como limite de nossa análise, seja pelas proporções dessa aplicação seja pelo arrefecimento das idéias de Unidade de Vizinhança, junto com o que poderíamos chamar de crise do paradigma modernista. Ao buscarmos as idéias de Unidade de Vizinhança em suas origens e seu posterior desenvolvimento tentamos entender as características dessas concepções introduzidas no Brasil. No mesmo sentido analisamos algumas aplicações mais significativas no contexto internacional, de modo a traçar um breve quadro que evidencie as peculiaridades e inflexões que essas idéias sofreram ao serem introduzidas entre nós. Assim, na primeira parte, exploramos as origens e o desenvolvimento das idéias de Unidade de Vizinhança no exterior. Aí mencionamos algumas das aplicações iniciais mais significativas. Na segunda parte, tratamos da sua introdução no Brasil, mencionando experiências de profissionais estrangeiros e nacionais, que fazem a divulgação das idéias entre nós. Na terceira parte abordamos a aplicação das idéias feita por Lúcio Costa em Brasília, cidade-manifesto que coloca em prática concepções que vinham a muito sendo gestadas, idéias essas entre as quais destacamos a de Unidade de Vizinhança. A IDÉIA DE UNIDADE DE VIZINHANÇA E SUAS ORIGENS Considera-se que o conceito de Unidade de Vizinhança (UV) foi formulado originalmente por Clarence Arthur Perry no contexto do plano de Nova York de 1929. Em uma das monografias que integra o plano (The Neighborhood Unit), Perry assim define a UV: 1. "Tamanho. Uma unidade de vizinhança deve prover habitações para aquela população a qual a escola elementar é comumente requerida, sua área depende da densidade populacional. 2. Limites. A unidade de vizinhança deve ser limitada por todos os lados por ruas suficientemente largas para facilitar o tráfego, ao invés de ser penetrada pelo tráfego de passagem. 3. Espaços Públicos. Um sistema de pequenos parques e espaços de recreação, planejados para o encontro e para as necessidades