Ana Carla Marinato - Academia.edu (original) (raw)

Papers by Ana Carla Marinato

Research paper thumbnail of Círculo biográfico e ficcional: o conselheiro Aires e as sutilezados do discurso machadiano

Literatura e Sociedade: Perspectivas, 2020

Investindo nas relações bastante intricadas entre o diário e a narrativa, Machado de Assis public... more Investindo nas relações bastante intricadas entre o diário e a narrativa, Machado de Assis publicou, no fim de sua vida, dois romances que, quando lidos em conjunto, instigam uma reflexão profunda sobre os limites do próprio texto literário e sua potencialidade enquanto matéria investigativa sobre as relações humanas. A constituição de si sob o olhar do outro é o tema principal tanto do Esaú e Jacó (1904) quanto do Memorial de Aires (1908), textos que encontram na figura de Aires uma ponte sempre aberta aos mais variados trânsitos ficcionais. Personagem múltiplo, que ocupa um lugar de destaque nas várias instâncias narrativas (ele é personagem, narrador e autor suposto de ambos os romances), a análise dessa figura, feita a partir da relação entre os dois romances, permite multiplicar as possibilidades reflexivas propostas nesses textos. Sob essa perspectiva, o que salta aos olhos é uma compreensão singular sobre o indivíduo em seu processo de autocriação e afirmação de sua autonomia, algo que faz lembrar o ambiente intelectual e político da época, recheado de figuras polêmicas. Embora diga respeito a uma problemática que é antes tema de toda a filosofia e literatura ocidentais – e com isso concordam os críticos mais proeminentes do nosso escritor carioca – esses textos inspiram uma reflexão especial sobre as relações entre linguagem, literatura e personalismo crítico. Assim, o caminho que se percorrerá aqui contemplará não apenas um estudo das estratégias narrativas presentes nos textos machadianos em questão: trata-se de utilizar a análise dessas estratégias para pensar o modo Machado, enquanto escritor de literatura, respondia às batalhas intelectuais do seu tempo.

Research paper thumbnail of Patchwork: Machado, Melville e os retalhos narrativos

Confluenze. Rivista di studi iberoamericani, 2019

This paper aims to analyse the characters of Bartleby, from the story "Bartleby, the scrivener" b... more This paper aims to analyse the characters of Bartleby, from the story "Bartleby, the scrivener" by Herman Melville, and Aires, from the novel Conselour Aires's Memoirs by Machado de Assis, through a philosophical perspective that multiplies the possibilities of fiction conceived traditionally as the opposite of reality. By investigating those literary figures, along with a Deleuzian vocabulary, this paper will think about the limits of a traditional conception of reality and fiction, as well as the self, in order to assert its dynamic and unstable aspect which consequently involves language itself. Keywords: Brazilian literature, pre-modernist narrative, Machado de Assis, Herman Melville, self. As figuras de Bartleby, presente no conto "Bartleby, the scrivener" de Herman Melville, e Aires, presente no romance Memorial de Aires, de Machado de Assis, são pensadas neste trabalho à luz de uma perspectiva filosófica que multiplica as possibilidades da ficção, concebida tradicionalmente como oposta ao real. Pela análise dessas figuras literárias em conjunto com o vocabulário deleuziano, pretende-se pensar os limites de uma concepção tradicional de sujeito, realidade e ficção, de modo a constatar o caráter sempre dinâmico e cambiante do sujeito e, consequentemente, de sua linguagem. Palavras-chave: Literatura brasileira, narrativa pré-modernista, Machado de Assis, Herman Melville, sujeito.

Research paper thumbnail of ROMANCE, INDIVIDUALIDADE E CRÍTICA: UMA REVISÃO DA TEORIA

A crítica literária e seu lugar no debate público de ideias, 2018

RESUMO: O propósito destas reflexões é discutir a problemática da concepção do sujeito tanto no r... more RESUMO: O propósito destas reflexões é discutir a problemática da concepção do sujeito tanto no romance moderno quanto na crítica literária contemporânea. Pretende-se, assim, pensar sobre os aspectos histórico-filosóficos que possibilitaram o surgimento da forma romanesca no ocidente, comparando as abordagens de Georg Lukács e Ian Watt, e destacando, nesses teóricos, seus pressupostos fundamentais e a noção de individualidade por eles explorada. Explorando o caso de Machado de Assis, trata-se de mostrar as reais demandas do romance para, por fim, apontar um caminho possível para a crítica literária contemporânea a partir de uma releitura da tradição humanista do pensamento filosófico ocidental. ABSTRACT: The purpose of these reflections is to discuss the conception of the self in the modern literary production-more especifically, in the novel-as well as in the contemporary literary criticism. It is intended, thus, to think about the historical and philosophical aspects that made possible the rise of the novel in the West, comparing approaches by Georg Lukács and Ian Watt, and highlighting, in both thinkers, the main theoretical assumptions and the notion of individuality they explore. Then, by analysing the especific case of Machado de Assis, we seek to demonstrate the novel's real demands in order to, finally, indicate a possible path for contemporary literary criticism through a rereading of the western philosophical humanist tradition. KEYWORDS: Modern novel; Machado de Assis; literary theory; literary criticism. Saindo do mundo das ideias e da ética previamente estabelecida, os escritores ocidentais, em tempos modernos, têm buscado no campo da 1 * Doutoranda em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Research paper thumbnail of O Alencar na sombra de Machado: aspectos da crítica de Roberto Schwarz

Resumo: A partir de um paralelo feito entre as leituras de Roberto Schwarz sobre Machado de Assis... more Resumo: A partir de um paralelo feito entre as leituras de Roberto Schwarz sobre Machado de Assis e José de Alencar, pretende-se, com este estudo, investigar os pressupostos sobre os quais o crítico se embasa para emitir seu juízopositivo em relação a Machado e negativo em relação a Alencar. Como consequência, tendo em conta o pensamento de uma crítica marxista, colocam-se em questionamento os parâmetros similares de que Schwarz dispõe para analisar os dois autores.

Conference Presentations by Ana Carla Marinato

Research paper thumbnail of Sujeitos históricos e ficcionais: Machado de Assis e a interioridade no discurso filosófico

IV Colóquio Filosofia e Literatura: Poética - anais, 2017

Pela leitura de Esaú e Jacó (1904), de Machado de Assis, percebemos que se encontra em jogo a tra... more Pela leitura de Esaú e Jacó (1904), de Machado de Assis, percebemos que se encontra em jogo a tradição do descentramento do sujeito moderno, que se vê a si mesmo de maneira objetiva, pela perspectiva de uma ter-ceira pessoa. Construindo personagens que se constituem por meio de um entrelaçamento de suas experiências públicas e privadas, o texto ma-chadiano questiona a visão do sujeito como possuindo um self dentro de si. Assim, é possível entrever uma constituição do sujeito que ultrapasse a ideia do self como algo interior, oposto ao real externo. Palavras-chave: Literatura brasileira; Machado de Assis; Subjetividade moderna. Publicado em 1904, nos primeiros anos da novíssima república brasileira, o romance Esaú e Jacó de Machado de Assis se mostra intrigante pela forma como articula a construção dos personagens e o jogo autoral inscrito nas relações entre as várias instâncias narrativas. O Conselheiro Aires aparece já no início desse jogo por meio de uma advertência assinada pelo editor do texto: "M. de A.". A rede ficcional, desde o início, envolve esse escritor/autor/editor, Machado de Assis, figura que, naquele momento, já ocupava um lugar de destaque na inte-lectualidade tropical, a despeito do desconforto que sua literatura suscitava em críticos como Sílvio Romero. A narrativa em questão possui um "autor suposto", o Conselheiro Aires, dono dos cadernos que deram origem ao romance, o qual também aparece no texto pintado como um persona-gem bastante singular aos olhos do narrador, que diz ser um gosto "ouvi-lo e vê-lo" (ASSIS, 2001, p. 38). É bem evidente, desde o início, que esse narrador em "terceira pessoa" em nada se assemelha à pretensão da onisciência realista. O texto caminha, do início ao fim, por uma estrada interminável, cheia de meandros, de modo que a composição dos sujeitos ficcionais-autor, personagens, narrador-chama a atenção pela forma como desvela indivíduos pecu-liares, com papéis em constante mutação, acompanhando o ritmo narrativo sempre envol-vido na ironia fina que é a marca do texto machadiano. Por outro lado, vemos em evidência questões relevantes naquele momento: a passagem, no Brasil, do século XIX para o século XX

Research paper thumbnail of A DESCONSTRUÇÃO DERRIDIANA: ANTIHUMANISMO CONSTRUTIVISTA

XV Encontro Abralic - anais, 2016

Resumo: Pretende-se, com este estudo, debater a respeito da crítica de Richard Friedman e Seumas ... more Resumo: Pretende-se, com este estudo, debater a respeito da crítica de Richard Friedman e Seumas Miller que, em seu Rethinking theory, publicado em 1992, atacam o pensamento do filósofo Jacques Derrida, qualificando-o como um "antihumanista construtivista", uma vez que verificam, nos textos do filósofo, as ideias da negação à referencialidade e à noção essencial de sujeito individual, além da dissolução do discurso de valoração estética. Partindo, então, de alguns textos de Derrida, o propósito é pensar sobre suas contribuições possíveis para a crítica literária contemporânea, relativizando o ataque dos americanos, sob o argumento de que eles não parecem compreender a forma como Derrida lida com as relações entre filosofia e literatura. Para tanto, é necessário focalizar o entendimento que Derrida demonstra ter sobre a linguagem, além de ressaltar os aspectos de seu procedimento desconstrutivista, dois alvos centrais da crítica operada por Friedman e Miller. Assim, poderemos pensar sobre a necessidade de se construir um debate profícuo a respeito da crítica literária contemporânea e sua relação com a teoria, de modo que esta ofereça ao crítico ferramentas teóricas efetivas, com vistas à produção de conhecimento pela análise literária. Palavras-chave: Crítica Literária; Humanismo; Sujeito; Desconstrução. Ao deparar-se com um texto literário sobre o qual se propõe tecer uma análise, o crítico comumente adota como primeiro passo: optar por um campo teórico. A palavra teoria, para ele, pode ter diferentes acepções, pode influenciar-lhe de diferentes maneiras. Quando falamos em "teoria literária contemporânea" recorremos com frequência a grandes pensadores, sobretudo aqueles provenientes do campo da filosofia, que procuram superar a extrema cientificidade que marcou o século XIX-uma invasão do evolucionismo e do método das ciências naturais em todas as formas de pensamento. Entretanto, essa superação não é pretendida por meio de um abandono da teoria: pelo contrário, a crítica literária atual está cada vez mais especializada, enchendo-se de jargões, inchando-se de teoria.

Book Reviews by Ana Carla Marinato

Research paper thumbnail of Diante de Moby-Dick

Folha de São Paulo, 2022

O texto é uma reflexão a respeito da possibilidade, levantada por leitores atuais, de haver racis... more O texto é uma reflexão a respeito da possibilidade, levantada por leitores atuais, de haver racismo em Moby-Dick, romance de Herman Melville publicado em 1851.

Research paper thumbnail of Círculo biográfico e ficcional: o conselheiro Aires e as sutilezados do discurso machadiano

Literatura e Sociedade: Perspectivas, 2020

Investindo nas relações bastante intricadas entre o diário e a narrativa, Machado de Assis public... more Investindo nas relações bastante intricadas entre o diário e a narrativa, Machado de Assis publicou, no fim de sua vida, dois romances que, quando lidos em conjunto, instigam uma reflexão profunda sobre os limites do próprio texto literário e sua potencialidade enquanto matéria investigativa sobre as relações humanas. A constituição de si sob o olhar do outro é o tema principal tanto do Esaú e Jacó (1904) quanto do Memorial de Aires (1908), textos que encontram na figura de Aires uma ponte sempre aberta aos mais variados trânsitos ficcionais. Personagem múltiplo, que ocupa um lugar de destaque nas várias instâncias narrativas (ele é personagem, narrador e autor suposto de ambos os romances), a análise dessa figura, feita a partir da relação entre os dois romances, permite multiplicar as possibilidades reflexivas propostas nesses textos. Sob essa perspectiva, o que salta aos olhos é uma compreensão singular sobre o indivíduo em seu processo de autocriação e afirmação de sua autonomia, algo que faz lembrar o ambiente intelectual e político da época, recheado de figuras polêmicas. Embora diga respeito a uma problemática que é antes tema de toda a filosofia e literatura ocidentais – e com isso concordam os críticos mais proeminentes do nosso escritor carioca – esses textos inspiram uma reflexão especial sobre as relações entre linguagem, literatura e personalismo crítico. Assim, o caminho que se percorrerá aqui contemplará não apenas um estudo das estratégias narrativas presentes nos textos machadianos em questão: trata-se de utilizar a análise dessas estratégias para pensar o modo Machado, enquanto escritor de literatura, respondia às batalhas intelectuais do seu tempo.

Research paper thumbnail of Patchwork: Machado, Melville e os retalhos narrativos

Confluenze. Rivista di studi iberoamericani, 2019

This paper aims to analyse the characters of Bartleby, from the story "Bartleby, the scrivener" b... more This paper aims to analyse the characters of Bartleby, from the story "Bartleby, the scrivener" by Herman Melville, and Aires, from the novel Conselour Aires's Memoirs by Machado de Assis, through a philosophical perspective that multiplies the possibilities of fiction conceived traditionally as the opposite of reality. By investigating those literary figures, along with a Deleuzian vocabulary, this paper will think about the limits of a traditional conception of reality and fiction, as well as the self, in order to assert its dynamic and unstable aspect which consequently involves language itself. Keywords: Brazilian literature, pre-modernist narrative, Machado de Assis, Herman Melville, self. As figuras de Bartleby, presente no conto "Bartleby, the scrivener" de Herman Melville, e Aires, presente no romance Memorial de Aires, de Machado de Assis, são pensadas neste trabalho à luz de uma perspectiva filosófica que multiplica as possibilidades da ficção, concebida tradicionalmente como oposta ao real. Pela análise dessas figuras literárias em conjunto com o vocabulário deleuziano, pretende-se pensar os limites de uma concepção tradicional de sujeito, realidade e ficção, de modo a constatar o caráter sempre dinâmico e cambiante do sujeito e, consequentemente, de sua linguagem. Palavras-chave: Literatura brasileira, narrativa pré-modernista, Machado de Assis, Herman Melville, sujeito.

Research paper thumbnail of ROMANCE, INDIVIDUALIDADE E CRÍTICA: UMA REVISÃO DA TEORIA

A crítica literária e seu lugar no debate público de ideias, 2018

RESUMO: O propósito destas reflexões é discutir a problemática da concepção do sujeito tanto no r... more RESUMO: O propósito destas reflexões é discutir a problemática da concepção do sujeito tanto no romance moderno quanto na crítica literária contemporânea. Pretende-se, assim, pensar sobre os aspectos histórico-filosóficos que possibilitaram o surgimento da forma romanesca no ocidente, comparando as abordagens de Georg Lukács e Ian Watt, e destacando, nesses teóricos, seus pressupostos fundamentais e a noção de individualidade por eles explorada. Explorando o caso de Machado de Assis, trata-se de mostrar as reais demandas do romance para, por fim, apontar um caminho possível para a crítica literária contemporânea a partir de uma releitura da tradição humanista do pensamento filosófico ocidental. ABSTRACT: The purpose of these reflections is to discuss the conception of the self in the modern literary production-more especifically, in the novel-as well as in the contemporary literary criticism. It is intended, thus, to think about the historical and philosophical aspects that made possible the rise of the novel in the West, comparing approaches by Georg Lukács and Ian Watt, and highlighting, in both thinkers, the main theoretical assumptions and the notion of individuality they explore. Then, by analysing the especific case of Machado de Assis, we seek to demonstrate the novel's real demands in order to, finally, indicate a possible path for contemporary literary criticism through a rereading of the western philosophical humanist tradition. KEYWORDS: Modern novel; Machado de Assis; literary theory; literary criticism. Saindo do mundo das ideias e da ética previamente estabelecida, os escritores ocidentais, em tempos modernos, têm buscado no campo da 1 * Doutoranda em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Research paper thumbnail of O Alencar na sombra de Machado: aspectos da crítica de Roberto Schwarz

Resumo: A partir de um paralelo feito entre as leituras de Roberto Schwarz sobre Machado de Assis... more Resumo: A partir de um paralelo feito entre as leituras de Roberto Schwarz sobre Machado de Assis e José de Alencar, pretende-se, com este estudo, investigar os pressupostos sobre os quais o crítico se embasa para emitir seu juízopositivo em relação a Machado e negativo em relação a Alencar. Como consequência, tendo em conta o pensamento de uma crítica marxista, colocam-se em questionamento os parâmetros similares de que Schwarz dispõe para analisar os dois autores.

Research paper thumbnail of Sujeitos históricos e ficcionais: Machado de Assis e a interioridade no discurso filosófico

IV Colóquio Filosofia e Literatura: Poética - anais, 2017

Pela leitura de Esaú e Jacó (1904), de Machado de Assis, percebemos que se encontra em jogo a tra... more Pela leitura de Esaú e Jacó (1904), de Machado de Assis, percebemos que se encontra em jogo a tradição do descentramento do sujeito moderno, que se vê a si mesmo de maneira objetiva, pela perspectiva de uma ter-ceira pessoa. Construindo personagens que se constituem por meio de um entrelaçamento de suas experiências públicas e privadas, o texto ma-chadiano questiona a visão do sujeito como possuindo um self dentro de si. Assim, é possível entrever uma constituição do sujeito que ultrapasse a ideia do self como algo interior, oposto ao real externo. Palavras-chave: Literatura brasileira; Machado de Assis; Subjetividade moderna. Publicado em 1904, nos primeiros anos da novíssima república brasileira, o romance Esaú e Jacó de Machado de Assis se mostra intrigante pela forma como articula a construção dos personagens e o jogo autoral inscrito nas relações entre as várias instâncias narrativas. O Conselheiro Aires aparece já no início desse jogo por meio de uma advertência assinada pelo editor do texto: "M. de A.". A rede ficcional, desde o início, envolve esse escritor/autor/editor, Machado de Assis, figura que, naquele momento, já ocupava um lugar de destaque na inte-lectualidade tropical, a despeito do desconforto que sua literatura suscitava em críticos como Sílvio Romero. A narrativa em questão possui um "autor suposto", o Conselheiro Aires, dono dos cadernos que deram origem ao romance, o qual também aparece no texto pintado como um persona-gem bastante singular aos olhos do narrador, que diz ser um gosto "ouvi-lo e vê-lo" (ASSIS, 2001, p. 38). É bem evidente, desde o início, que esse narrador em "terceira pessoa" em nada se assemelha à pretensão da onisciência realista. O texto caminha, do início ao fim, por uma estrada interminável, cheia de meandros, de modo que a composição dos sujeitos ficcionais-autor, personagens, narrador-chama a atenção pela forma como desvela indivíduos pecu-liares, com papéis em constante mutação, acompanhando o ritmo narrativo sempre envol-vido na ironia fina que é a marca do texto machadiano. Por outro lado, vemos em evidência questões relevantes naquele momento: a passagem, no Brasil, do século XIX para o século XX

Research paper thumbnail of A DESCONSTRUÇÃO DERRIDIANA: ANTIHUMANISMO CONSTRUTIVISTA

XV Encontro Abralic - anais, 2016

Resumo: Pretende-se, com este estudo, debater a respeito da crítica de Richard Friedman e Seumas ... more Resumo: Pretende-se, com este estudo, debater a respeito da crítica de Richard Friedman e Seumas Miller que, em seu Rethinking theory, publicado em 1992, atacam o pensamento do filósofo Jacques Derrida, qualificando-o como um "antihumanista construtivista", uma vez que verificam, nos textos do filósofo, as ideias da negação à referencialidade e à noção essencial de sujeito individual, além da dissolução do discurso de valoração estética. Partindo, então, de alguns textos de Derrida, o propósito é pensar sobre suas contribuições possíveis para a crítica literária contemporânea, relativizando o ataque dos americanos, sob o argumento de que eles não parecem compreender a forma como Derrida lida com as relações entre filosofia e literatura. Para tanto, é necessário focalizar o entendimento que Derrida demonstra ter sobre a linguagem, além de ressaltar os aspectos de seu procedimento desconstrutivista, dois alvos centrais da crítica operada por Friedman e Miller. Assim, poderemos pensar sobre a necessidade de se construir um debate profícuo a respeito da crítica literária contemporânea e sua relação com a teoria, de modo que esta ofereça ao crítico ferramentas teóricas efetivas, com vistas à produção de conhecimento pela análise literária. Palavras-chave: Crítica Literária; Humanismo; Sujeito; Desconstrução. Ao deparar-se com um texto literário sobre o qual se propõe tecer uma análise, o crítico comumente adota como primeiro passo: optar por um campo teórico. A palavra teoria, para ele, pode ter diferentes acepções, pode influenciar-lhe de diferentes maneiras. Quando falamos em "teoria literária contemporânea" recorremos com frequência a grandes pensadores, sobretudo aqueles provenientes do campo da filosofia, que procuram superar a extrema cientificidade que marcou o século XIX-uma invasão do evolucionismo e do método das ciências naturais em todas as formas de pensamento. Entretanto, essa superação não é pretendida por meio de um abandono da teoria: pelo contrário, a crítica literária atual está cada vez mais especializada, enchendo-se de jargões, inchando-se de teoria.

Research paper thumbnail of Diante de Moby-Dick

Folha de São Paulo, 2022

O texto é uma reflexão a respeito da possibilidade, levantada por leitores atuais, de haver racis... more O texto é uma reflexão a respeito da possibilidade, levantada por leitores atuais, de haver racismo em Moby-Dick, romance de Herman Melville publicado em 1851.