FERNANDO DANNER - Academia.edu (original) (raw)
Papers by FERNANDO DANNER
Philósophos - Revista de Filosofia, 2021
Desenvolveremos dois argumentos. Primeiro: a utilização do dualismo antropológico – modernidade e... more Desenvolveremos dois argumentos. Primeiro: a utilização do dualismo antropológico – modernidade e pré-modernidade, pós-tradicional e tradicional – por parte de filosofias europeias como base da constituição do discurso filosófico-sociológico-antropológico da modernidade-modernização ocidental implica na consolidação de uma compreensão exclusivista da modernidade ocidental como europeização, demarcada pela ideia de que ela é um processo basicamente autônomo, independente, endógeno, autorreferencial, autossubsistente e autossuficiente, sem qualquer relacionalidade com o outro da modernidade, completamente separada dele, bem como na anulação e na deslegitimação dos outros da modernidade como passado antropológico e déficit de modernização ou de racionalização, com a consequente colocação da modernidade europeia como presente autoconsciente, atualidade substantiva e abertura ao futuro. Segundo: a descolonização africana e o pensamento indígena brasileiro, ao desconstruírem esse dualismo...
Espaço Ameríndio, 2020
defendemos que a literatura, por causa de sua estrutura anti-paradigmática, possibilita a express... more defendemos que a literatura, por causa de sua estrutura anti-paradigmática, possibilita a expressão da voz-práxis das diferenças como diferenças enquanto a condição fundante da crítica social e do ativismo político. Ela permite a recusa em bloco do paradigma normativo da modernidade – formalismo, neutralidade, imparcialidade e impessoalidade – enquanto o método e a práxis por excelência da justificação normativa e, com isso, ela também nega que a realização da crítica social e do ativismo político se dê exclusivamente desde o cientificismo e em termos de institucionalismo. No caso da literatura indígena, o que percebemos é exatamente a retomada do xamanismo como correlação de auto-afirmação e auto-reconstrução antropológico-ontológicas e, a partir disso, como crítica social e ativismo político das minorias por elas mesmas – ele é tanto uma forma de vida quanto uma práxis política. Nesse sentido, argumentaremos, a partir do exemplo da literatura indígena brasileira hodierna, que as a...
Espaço Ameríndio, 2018
Tendo por base a postura de ativismo, militância e engajamento da literatura indígena, procurarem... more Tendo por base a postura de ativismo, militância e engajamento da literatura indígena, procuraremos refletir sobre a correlação de literatura indígena brasileira, movimento indígena brasileiro e a questão da Ditadura Militar, haja vista que a emergência e a consolidação público-políticas desse movimento indígena ocorreram exatamente no contexto da Ditadura Militar e como reação aos processos de expansão socioeconômica rumo ao centro-oeste e ao norte do Brasil, promovidos e viabilizados por ela, situação que intensificou o etnocídio indígena. Nosso argumento central consiste em que podemos, a partir do estudo da literatura indígena, tomar conhecimento, pelo próprio relato autobiográfico, testemunhal e mnemônico dos indígenas, acerca de como sua situação social, que já era precária, foi piorada por tais projetos de expansão. Da mesma forma, esse estudo da literatura indígena também nos permite, em consequência, perceber o sentido e o direcionamento assumidos pelo movimento indígena no...
Griot : Revista de Filosofia, 2021
O texto procura esclarecer o sentido do fascismo contemporâneo, em particular a partir do exemplo... more O texto procura esclarecer o sentido do fascismo contemporâneo, em particular a partir do exemplo do bolsonarismo, definindo-o como uma perspectiva antissistêmica, anti-institucional, antijurídica e infralegal com caráter personalista, vocacionado, voluntarista, espontaneísta e militante que começa dentro do judiciário e sob a forma de subversão da relação direito, política e moral e que, por meio da politização e da partidarização do direito, se ramifica ao sistema político, servindo de instrumento para a guerra político-partidária fratricida, dali se vinculando à sociedade civil em termos de produção de uma massa-milícia digital-social de aclamação com caráter e orientação antissistêmicos. Nesse diapasão, o fascismo possui dois núcleos constitutivos e dinamizadores: por um lado, subverte a correlação entre direitos humanos e direito, deslegitimando e, na verdade, destruindo a primazia ontogenética, a separação, a diferenciação, a autorreferencialidade e a sobreposição do direito e...
Clareira: Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017
No artigo, defenderemos que a voz-praxis estetica permite aos movimentos sociais, as iniciativas ... more No artigo, defenderemos que a voz-praxis estetica permite aos movimentos sociais, as iniciativas cidadas e as minorias politico-culturais a auto-expressao e a auto-afirmacao desde si mesmas e por si mesmas, em termos de eu-nos lirico-politico, de modo a enquadrar e a superar a correlacao de institucionalismo forte, cientificismo e tecnicalidade que caracteriza a constituicao, a legitimacao, a evolucao e a vinculacao sociopolitica das instituicoes modernas, tais como a ciencia, o direito, a politica partidaria e a economia. Essas instituicoes ou sistemas sociais modernos sao estruturas-sujeitos logico-tecnicos, nao-politicos e nao-normativos, marcados e definidos por uma dinâmica autorreferencial e auto-subsistente, eminentemente endogena, autonoma e sobreposta em relacao a espontaneidade e a informalidade dos sujeitos epistemologico-politicos, dos valores e das praticas proprios a sociedade civil, centralizando e monopolizando a constituicao, a programacao e o funcionamento de seus ...
Griot : Revista de Filosofia, 2021
No artigo, estudaremos o pensamento filosófico de Olavo de Carvalho, especialmente no que concern... more No artigo, estudaremos o pensamento filosófico de Olavo de Carvalho, especialmente no que concerne à sua posição frente ao movimento negro brasileiro e norte-americano em sua luta por reparação pelo colonialismo-escravismo-racismo. Argumentaremos que sua recusa de qualquer práxis reparatória para com as minorias político-culturais e sua posição de um não-lugar das tradições negro-africanas no contexto da cultura/civilização ocidental, incluindo-se sua defesa da inferioridade da cultura/civilização negro-africana quando comparada com a tradição judaico-cristã, greco-latina e medieval-renascentista, são fundadas por uma metafísica dualista com caráter altamente antimoderno e antimodernizante, em que a dinâmica específica que perpassa o “drama humano frente ao universo e à eternidade” se caracteriza (a) pela luta entre necessidade natural (Behemot) e consciência individual (Leviatã), a qual só pode ser vencida pela correlação de graça divina por Jesus Cristo e interiorização e intuição...
Diagnóstico do tempo: implicações éticas, políticas e sociais da pandemia, 2020
Griot : Revista de Filosofia, 2020
Argumentamos, no artigo, a partir de uma análise sistemática da produção literária de escritores/... more Argumentamos, no artigo, a partir de uma análise sistemática da produção literária de escritores/as indígenas brasileiros/as, que, desde a segunda metade do século XX, os povos indígenas passaram a afirmar a e a utilizar-se da esfera pública, sob a forma de ativismo, de militância e de engajamento, enquanto a estratégia e o lugar por excelência para a tematização da questão indígena no país, como forma de reação a processos de expansão socioeconômica e de negação político-cultural que punham em xeque a sua própria existência, bem como em termos de recusa seja do paternalismo tecnocrático, seja da ideia de responsabilidade relativa a eles impostos. Com o objetivo de consolidarem-se como sujeitos público-políticos atuantes, eles optaram pela educação escolar e pela apropriação de ferramentas epistemológicas e técnicas digitais que lhes permitissem inserir-se na socialização nacional, modernizar-se política, cultural e epistemologicamente para, com isso, dinamizar uma perspectiva de cr...
Griot : Revista de Filosofia, 2020
This paper criticizes the emphasis placed by contemporary social theory and political philosophy ... more This paper criticizes the emphasis placed by contemporary social theory and political philosophy on institutionalism as the basis for the understanding, legitimation and changing of institutions, or social systems, and society as a whole. The more impactful characteristic of institutionalism is its technical-logical structuring, based on an impartial, neutral and formal proceduralism that autonomizes social systems in relation to political praxis and social normativity, depoliticizing these social systems. Here, they are no longer depoliticized, but assume political centrality as the fundamental social subjects of the legitimation and evolution of institutions and society. The paper’s central argument is that it is necessary to re-politicize the institutions and the social subjects or social classes in order to ground and streamline a direct political praxis and the civil society’s social-political subjects as the basis for framing and legitimizing the current process of Western mod...
Aufklärung: journal of philosophy, 2020
Alea: Estudos Neolatinos, 2020
Resumo Argumentaremos, por meio da análise da literatura produzida por intelectuais indígenas bra... more Resumo Argumentaremos, por meio da análise da literatura produzida por intelectuais indígenas brasileiros/as hodiernos/as, acerca da centralidade do lugar de fala das minorias em termos de crítica, reconhecimento e resistência. Enfatizaremos a imbricação e o sustento entre epistemologia e política que convergem e aparecem diretamente no sujeito-grupo menor. Sua singularidade antropológica e sua condição de marginalização, exclusão e violência, uma vez publicizadas política e culturalmente, implicam na desnaturalização e na politização da sociedade, pluralizando histórias, experiências, sujeitos, práticas e valores. Assim, no sujeito-grupo de minorias, converge o próprio processo histórico-político de formação da sociedade, em suas potencialidades e contradições. É aqui que a voz-práxis estético-literária das minorias adquire toda a sua pungência e, por meio da abertura paradigmática possibilitada pela arte, leva a uma perspectiva de descolonização da cultura e de descatequização da ...
Revista Opinião Filosófica, 2017
A partir da reconstrução do modelo normativo de modernidade cultural europeia idealizado por Habe... more A partir da reconstrução do modelo normativo de modernidade cultural europeia idealizado por Habermas como base de sua teoria da modernidade, criticamos sua proposta de colocar esse modelo normativo de modernidade cultural europeia como paradigma epistemológico-moral universalista e como projeto integrativo cosmopolita, que serviria como guarda-chuva normativo dos contextos culturais particulares. A partir do desenvolvimento do conceito de condição pós-universalista, procuraremos defender que a modernidade cultural europeia não tem condições de sustentarse como paradigma da crítica, do enquadramento e da integração válido para todos os contextos, posto que não se pode separar esse modelo idealizado de modernidade em relação à colonização travestida de racionalização cultural e levada a efeito via globalização econômico-cultural. Nosso argumento consiste em que a racionalização cultural enquanto possibilitando o universalismo, cerne do modelo normativo de modernidade cultural europei...
Revista Opinião Filosófica, 2019
No texto, argumentamos que as jornadas de junho de 2013 não podem ser compreendidas como um movim... more No texto, argumentamos que as jornadas de junho de 2013 não podem ser compreendidas como um movimento da sociedade civil em bloco contra o Estado, as instituições públicas e os partidos políticos, da mesma forma como os fenômenos do pemedebismo e do lulismo não podem ser compreendidos apenas como movimentos partidário-institucionais puros, sem ligação com e hegemonia em termos de sociedade civil. Por meio da utilização do conceito de modernização conservadora como definindo o Brasil republicano hodierno, nós argumentaremos que, no caso do período pós-redemocratização e, aqui, com os fenômenos do pemedebismo e do lulismo, há uma ligação direta entre esses sujeitos partidário-institucionais e as classes sociopolíticas próprias à sociedade civil, em uma dinâmica de sustento e de hegemonia mútuos. Assim, no que diz respeito às jornadas de junho de 2013, uma de suas tendências mais centrais consistiu na contraposição entre, de um lado, pemedebismo, modernização conservadora e meritocraci...
Revista Pistis Praxis, 2019
HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 2019
O artigo tem por objetivo desenvolver uma crítica à noção de modernidade ou racionalismo moderno ... more O artigo tem por objetivo desenvolver uma crítica à noção de modernidade ou racionalismo moderno apresentada em teorias da modernidade contemporâneas, marcada pela ideia de uma autonomia e de uma autossuficiência da razão no que tange à fundamentação de uma noção vinculante de universalismo epistemológico-moral, criticando-se a percepção, própria a essas teorias, de que o racionalismo profano e secularizado, concebido como uma perspectiva imparcial, neutra, formal e impessoal em termos axiológico-metodológicos, seja suficiente para garanti-lo, sem necessidade da religião e da metafísica. Com isso, seu segundo objetivo consiste em argumentar em favor de um universalismo político-religioso que aponta para a incapacidade dessa noção purista e independente de razão em gerar e sustentar, sem o próprio trabalho de fundamentação e de aplicação metafísico-religioso, um conteúdo universal de direitos humanos. O trabalho escora-se em revisão bibliográfica de teorias da modernidade contemporân...
Revista Letras, 2018
Defendemos, nesse artigo, que a literatura indígena brasileira contemporânea possui como núcleo e... more Defendemos, nesse artigo, que a literatura indígena brasileira contemporânea possui como núcleo epistemológico-político e como estilo estético-literário o ativismo e a militância público-políticos diretos e pungentes, em sua ligação umbilical e em sua dependência profunda relativamente ao Movimento Indígena. Nesse sentido, a literatura indígena brasileira apresenta três marcas distintivas e constitutivas que lhe dinamizam nessa sua vinculação seja ao Movimento Indígena, seja em termos de esfera público-política e como práxis estética, política e normativa, a saber: (a) parte da afirmação da memória ancestral e comunitária, da autoexpressão desde a singularidade antropológica do próprio indígena; (b) com base nisso, explicita, denuncia e enfrenta pública e politicamente a condição de exclusão, de marginalização e de violência vividas e sofridas; e (c), como síntese de tudo isso, assume um sentido político-politizante, carnal e vinculado que se expressa por meio de uma voz-práxis esté...
Letrônica, 2018
Defendemos que a voz-práxis estético-literária das minorias e, no caso, do/as intelectuais ou esc... more Defendemos que a voz-práxis estético-literária das minorias e, no caso, do/as intelectuais ou escritores/as indígenas é marcada por quatro características fundamentais que lhe definem a constituição, o sentido e a vinculação epistemológico-políticos: parte da condição política e politizante, carnal e vinculada das e como minorias, que são uma construção política, tanto em termos de singularidade antropológica quanto sob a forma de exclusão, silenciamento, marginalização e violência que sofrem; possui uma ligação e uma dependência inextricáveis entre comunidade grupo-tradição e indivíduo, fundando e dinamizando um eu-nós lírico-político que não dissocia pertença à comunidade e ao grupo relativamente à experiência individual, recusando, com isso, a perspectiva de uma subjetividade absoluta-desvinculada e voyeurista-apolítica; vai da afirmação da tradição comunitária e da singularidade antropológica à crítica do presente, a tradição e a pertença comunitárias e a singularidade antropoló...
HORIZONTE, 2017
Neste artigo, estabelecemos a categoria das diferenças como o <em>ethos </em>e a <... more Neste artigo, estabelecemos a categoria das diferenças como o <em>ethos </em>e a <em>práxis</em> antropológico-ontológicos e epistemológico-políticos efetivamente contemporâneos, que desafiam-dinamizam as religiões institucionalizadas e universalistas, ao estilo da Igreja Católica, em seu uso de fundamentações essencialistas e naturalizadas como base normativo-paradigmática para o enquadramento, legitimação e orientação dessas mesmas diferenças, como embasamento da dialética entre pluralidade e unidade acerca dessas mesmas diferenças. A partir disso, defenderemos que o desafio central para as religiões institucionalizadas e universalistas neste século XXI – e, no nosso caso, novamente para a Igreja Católica – consiste na desconstrução da correlação entre institucionalismo forte, objetividade antropológico-ontológica e epistemológico-moral estritas e fundamentalismo político-normativo. Nesse sentido, na medida em que também as instituições religiosas trouxerem...
Numen, 2021
This article argues that the association between institutionalization and strong epistemological,... more This article argues that the association between institutionalization and strong epistemological, political, anthropological and ontological objectivity leads to institutional fundamentalism in three basic and problematic aspects for societal-cultural-institutional current dynamics: first, the institution’s centralization and monopolization of the constitution, legitimation and public foment of the creed, so that the institution becomes self-referential, self-subsisting and autonomous regarding common sense and common people, as opposed to other religious institutions; second, the institution’s vertical and direct affirmation and imposition on believers and non-believers of essentialist and naturalized foundations which do not seriously consider the differences as epistemological-political subjects, practices and codes; third, the institution’s self-affirmation of its special core-role in terms of linking Earth and Heaven, people and God, so that it becomes the one and supreme insti...
Philósophos - Revista de Filosofia, 2021
Desenvolveremos dois argumentos. Primeiro: a utilização do dualismo antropológico – modernidade e... more Desenvolveremos dois argumentos. Primeiro: a utilização do dualismo antropológico – modernidade e pré-modernidade, pós-tradicional e tradicional – por parte de filosofias europeias como base da constituição do discurso filosófico-sociológico-antropológico da modernidade-modernização ocidental implica na consolidação de uma compreensão exclusivista da modernidade ocidental como europeização, demarcada pela ideia de que ela é um processo basicamente autônomo, independente, endógeno, autorreferencial, autossubsistente e autossuficiente, sem qualquer relacionalidade com o outro da modernidade, completamente separada dele, bem como na anulação e na deslegitimação dos outros da modernidade como passado antropológico e déficit de modernização ou de racionalização, com a consequente colocação da modernidade europeia como presente autoconsciente, atualidade substantiva e abertura ao futuro. Segundo: a descolonização africana e o pensamento indígena brasileiro, ao desconstruírem esse dualismo...
Espaço Ameríndio, 2020
defendemos que a literatura, por causa de sua estrutura anti-paradigmática, possibilita a express... more defendemos que a literatura, por causa de sua estrutura anti-paradigmática, possibilita a expressão da voz-práxis das diferenças como diferenças enquanto a condição fundante da crítica social e do ativismo político. Ela permite a recusa em bloco do paradigma normativo da modernidade – formalismo, neutralidade, imparcialidade e impessoalidade – enquanto o método e a práxis por excelência da justificação normativa e, com isso, ela também nega que a realização da crítica social e do ativismo político se dê exclusivamente desde o cientificismo e em termos de institucionalismo. No caso da literatura indígena, o que percebemos é exatamente a retomada do xamanismo como correlação de auto-afirmação e auto-reconstrução antropológico-ontológicas e, a partir disso, como crítica social e ativismo político das minorias por elas mesmas – ele é tanto uma forma de vida quanto uma práxis política. Nesse sentido, argumentaremos, a partir do exemplo da literatura indígena brasileira hodierna, que as a...
Espaço Ameríndio, 2018
Tendo por base a postura de ativismo, militância e engajamento da literatura indígena, procurarem... more Tendo por base a postura de ativismo, militância e engajamento da literatura indígena, procuraremos refletir sobre a correlação de literatura indígena brasileira, movimento indígena brasileiro e a questão da Ditadura Militar, haja vista que a emergência e a consolidação público-políticas desse movimento indígena ocorreram exatamente no contexto da Ditadura Militar e como reação aos processos de expansão socioeconômica rumo ao centro-oeste e ao norte do Brasil, promovidos e viabilizados por ela, situação que intensificou o etnocídio indígena. Nosso argumento central consiste em que podemos, a partir do estudo da literatura indígena, tomar conhecimento, pelo próprio relato autobiográfico, testemunhal e mnemônico dos indígenas, acerca de como sua situação social, que já era precária, foi piorada por tais projetos de expansão. Da mesma forma, esse estudo da literatura indígena também nos permite, em consequência, perceber o sentido e o direcionamento assumidos pelo movimento indígena no...
Griot : Revista de Filosofia, 2021
O texto procura esclarecer o sentido do fascismo contemporâneo, em particular a partir do exemplo... more O texto procura esclarecer o sentido do fascismo contemporâneo, em particular a partir do exemplo do bolsonarismo, definindo-o como uma perspectiva antissistêmica, anti-institucional, antijurídica e infralegal com caráter personalista, vocacionado, voluntarista, espontaneísta e militante que começa dentro do judiciário e sob a forma de subversão da relação direito, política e moral e que, por meio da politização e da partidarização do direito, se ramifica ao sistema político, servindo de instrumento para a guerra político-partidária fratricida, dali se vinculando à sociedade civil em termos de produção de uma massa-milícia digital-social de aclamação com caráter e orientação antissistêmicos. Nesse diapasão, o fascismo possui dois núcleos constitutivos e dinamizadores: por um lado, subverte a correlação entre direitos humanos e direito, deslegitimando e, na verdade, destruindo a primazia ontogenética, a separação, a diferenciação, a autorreferencialidade e a sobreposição do direito e...
Clareira: Revista de Filosofia da Região Amazônica, 2017
No artigo, defenderemos que a voz-praxis estetica permite aos movimentos sociais, as iniciativas ... more No artigo, defenderemos que a voz-praxis estetica permite aos movimentos sociais, as iniciativas cidadas e as minorias politico-culturais a auto-expressao e a auto-afirmacao desde si mesmas e por si mesmas, em termos de eu-nos lirico-politico, de modo a enquadrar e a superar a correlacao de institucionalismo forte, cientificismo e tecnicalidade que caracteriza a constituicao, a legitimacao, a evolucao e a vinculacao sociopolitica das instituicoes modernas, tais como a ciencia, o direito, a politica partidaria e a economia. Essas instituicoes ou sistemas sociais modernos sao estruturas-sujeitos logico-tecnicos, nao-politicos e nao-normativos, marcados e definidos por uma dinâmica autorreferencial e auto-subsistente, eminentemente endogena, autonoma e sobreposta em relacao a espontaneidade e a informalidade dos sujeitos epistemologico-politicos, dos valores e das praticas proprios a sociedade civil, centralizando e monopolizando a constituicao, a programacao e o funcionamento de seus ...
Griot : Revista de Filosofia, 2021
No artigo, estudaremos o pensamento filosófico de Olavo de Carvalho, especialmente no que concern... more No artigo, estudaremos o pensamento filosófico de Olavo de Carvalho, especialmente no que concerne à sua posição frente ao movimento negro brasileiro e norte-americano em sua luta por reparação pelo colonialismo-escravismo-racismo. Argumentaremos que sua recusa de qualquer práxis reparatória para com as minorias político-culturais e sua posição de um não-lugar das tradições negro-africanas no contexto da cultura/civilização ocidental, incluindo-se sua defesa da inferioridade da cultura/civilização negro-africana quando comparada com a tradição judaico-cristã, greco-latina e medieval-renascentista, são fundadas por uma metafísica dualista com caráter altamente antimoderno e antimodernizante, em que a dinâmica específica que perpassa o “drama humano frente ao universo e à eternidade” se caracteriza (a) pela luta entre necessidade natural (Behemot) e consciência individual (Leviatã), a qual só pode ser vencida pela correlação de graça divina por Jesus Cristo e interiorização e intuição...
Diagnóstico do tempo: implicações éticas, políticas e sociais da pandemia, 2020
Griot : Revista de Filosofia, 2020
Argumentamos, no artigo, a partir de uma análise sistemática da produção literária de escritores/... more Argumentamos, no artigo, a partir de uma análise sistemática da produção literária de escritores/as indígenas brasileiros/as, que, desde a segunda metade do século XX, os povos indígenas passaram a afirmar a e a utilizar-se da esfera pública, sob a forma de ativismo, de militância e de engajamento, enquanto a estratégia e o lugar por excelência para a tematização da questão indígena no país, como forma de reação a processos de expansão socioeconômica e de negação político-cultural que punham em xeque a sua própria existência, bem como em termos de recusa seja do paternalismo tecnocrático, seja da ideia de responsabilidade relativa a eles impostos. Com o objetivo de consolidarem-se como sujeitos público-políticos atuantes, eles optaram pela educação escolar e pela apropriação de ferramentas epistemológicas e técnicas digitais que lhes permitissem inserir-se na socialização nacional, modernizar-se política, cultural e epistemologicamente para, com isso, dinamizar uma perspectiva de cr...
Griot : Revista de Filosofia, 2020
This paper criticizes the emphasis placed by contemporary social theory and political philosophy ... more This paper criticizes the emphasis placed by contemporary social theory and political philosophy on institutionalism as the basis for the understanding, legitimation and changing of institutions, or social systems, and society as a whole. The more impactful characteristic of institutionalism is its technical-logical structuring, based on an impartial, neutral and formal proceduralism that autonomizes social systems in relation to political praxis and social normativity, depoliticizing these social systems. Here, they are no longer depoliticized, but assume political centrality as the fundamental social subjects of the legitimation and evolution of institutions and society. The paper’s central argument is that it is necessary to re-politicize the institutions and the social subjects or social classes in order to ground and streamline a direct political praxis and the civil society’s social-political subjects as the basis for framing and legitimizing the current process of Western mod...
Aufklärung: journal of philosophy, 2020
Alea: Estudos Neolatinos, 2020
Resumo Argumentaremos, por meio da análise da literatura produzida por intelectuais indígenas bra... more Resumo Argumentaremos, por meio da análise da literatura produzida por intelectuais indígenas brasileiros/as hodiernos/as, acerca da centralidade do lugar de fala das minorias em termos de crítica, reconhecimento e resistência. Enfatizaremos a imbricação e o sustento entre epistemologia e política que convergem e aparecem diretamente no sujeito-grupo menor. Sua singularidade antropológica e sua condição de marginalização, exclusão e violência, uma vez publicizadas política e culturalmente, implicam na desnaturalização e na politização da sociedade, pluralizando histórias, experiências, sujeitos, práticas e valores. Assim, no sujeito-grupo de minorias, converge o próprio processo histórico-político de formação da sociedade, em suas potencialidades e contradições. É aqui que a voz-práxis estético-literária das minorias adquire toda a sua pungência e, por meio da abertura paradigmática possibilitada pela arte, leva a uma perspectiva de descolonização da cultura e de descatequização da ...
Revista Opinião Filosófica, 2017
A partir da reconstrução do modelo normativo de modernidade cultural europeia idealizado por Habe... more A partir da reconstrução do modelo normativo de modernidade cultural europeia idealizado por Habermas como base de sua teoria da modernidade, criticamos sua proposta de colocar esse modelo normativo de modernidade cultural europeia como paradigma epistemológico-moral universalista e como projeto integrativo cosmopolita, que serviria como guarda-chuva normativo dos contextos culturais particulares. A partir do desenvolvimento do conceito de condição pós-universalista, procuraremos defender que a modernidade cultural europeia não tem condições de sustentarse como paradigma da crítica, do enquadramento e da integração válido para todos os contextos, posto que não se pode separar esse modelo idealizado de modernidade em relação à colonização travestida de racionalização cultural e levada a efeito via globalização econômico-cultural. Nosso argumento consiste em que a racionalização cultural enquanto possibilitando o universalismo, cerne do modelo normativo de modernidade cultural europei...
Revista Opinião Filosófica, 2019
No texto, argumentamos que as jornadas de junho de 2013 não podem ser compreendidas como um movim... more No texto, argumentamos que as jornadas de junho de 2013 não podem ser compreendidas como um movimento da sociedade civil em bloco contra o Estado, as instituições públicas e os partidos políticos, da mesma forma como os fenômenos do pemedebismo e do lulismo não podem ser compreendidos apenas como movimentos partidário-institucionais puros, sem ligação com e hegemonia em termos de sociedade civil. Por meio da utilização do conceito de modernização conservadora como definindo o Brasil republicano hodierno, nós argumentaremos que, no caso do período pós-redemocratização e, aqui, com os fenômenos do pemedebismo e do lulismo, há uma ligação direta entre esses sujeitos partidário-institucionais e as classes sociopolíticas próprias à sociedade civil, em uma dinâmica de sustento e de hegemonia mútuos. Assim, no que diz respeito às jornadas de junho de 2013, uma de suas tendências mais centrais consistiu na contraposição entre, de um lado, pemedebismo, modernização conservadora e meritocraci...
Revista Pistis Praxis, 2019
HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 2019
O artigo tem por objetivo desenvolver uma crítica à noção de modernidade ou racionalismo moderno ... more O artigo tem por objetivo desenvolver uma crítica à noção de modernidade ou racionalismo moderno apresentada em teorias da modernidade contemporâneas, marcada pela ideia de uma autonomia e de uma autossuficiência da razão no que tange à fundamentação de uma noção vinculante de universalismo epistemológico-moral, criticando-se a percepção, própria a essas teorias, de que o racionalismo profano e secularizado, concebido como uma perspectiva imparcial, neutra, formal e impessoal em termos axiológico-metodológicos, seja suficiente para garanti-lo, sem necessidade da religião e da metafísica. Com isso, seu segundo objetivo consiste em argumentar em favor de um universalismo político-religioso que aponta para a incapacidade dessa noção purista e independente de razão em gerar e sustentar, sem o próprio trabalho de fundamentação e de aplicação metafísico-religioso, um conteúdo universal de direitos humanos. O trabalho escora-se em revisão bibliográfica de teorias da modernidade contemporân...
Revista Letras, 2018
Defendemos, nesse artigo, que a literatura indígena brasileira contemporânea possui como núcleo e... more Defendemos, nesse artigo, que a literatura indígena brasileira contemporânea possui como núcleo epistemológico-político e como estilo estético-literário o ativismo e a militância público-políticos diretos e pungentes, em sua ligação umbilical e em sua dependência profunda relativamente ao Movimento Indígena. Nesse sentido, a literatura indígena brasileira apresenta três marcas distintivas e constitutivas que lhe dinamizam nessa sua vinculação seja ao Movimento Indígena, seja em termos de esfera público-política e como práxis estética, política e normativa, a saber: (a) parte da afirmação da memória ancestral e comunitária, da autoexpressão desde a singularidade antropológica do próprio indígena; (b) com base nisso, explicita, denuncia e enfrenta pública e politicamente a condição de exclusão, de marginalização e de violência vividas e sofridas; e (c), como síntese de tudo isso, assume um sentido político-politizante, carnal e vinculado que se expressa por meio de uma voz-práxis esté...
Letrônica, 2018
Defendemos que a voz-práxis estético-literária das minorias e, no caso, do/as intelectuais ou esc... more Defendemos que a voz-práxis estético-literária das minorias e, no caso, do/as intelectuais ou escritores/as indígenas é marcada por quatro características fundamentais que lhe definem a constituição, o sentido e a vinculação epistemológico-políticos: parte da condição política e politizante, carnal e vinculada das e como minorias, que são uma construção política, tanto em termos de singularidade antropológica quanto sob a forma de exclusão, silenciamento, marginalização e violência que sofrem; possui uma ligação e uma dependência inextricáveis entre comunidade grupo-tradição e indivíduo, fundando e dinamizando um eu-nós lírico-político que não dissocia pertença à comunidade e ao grupo relativamente à experiência individual, recusando, com isso, a perspectiva de uma subjetividade absoluta-desvinculada e voyeurista-apolítica; vai da afirmação da tradição comunitária e da singularidade antropológica à crítica do presente, a tradição e a pertença comunitárias e a singularidade antropoló...
HORIZONTE, 2017
Neste artigo, estabelecemos a categoria das diferenças como o <em>ethos </em>e a <... more Neste artigo, estabelecemos a categoria das diferenças como o <em>ethos </em>e a <em>práxis</em> antropológico-ontológicos e epistemológico-políticos efetivamente contemporâneos, que desafiam-dinamizam as religiões institucionalizadas e universalistas, ao estilo da Igreja Católica, em seu uso de fundamentações essencialistas e naturalizadas como base normativo-paradigmática para o enquadramento, legitimação e orientação dessas mesmas diferenças, como embasamento da dialética entre pluralidade e unidade acerca dessas mesmas diferenças. A partir disso, defenderemos que o desafio central para as religiões institucionalizadas e universalistas neste século XXI – e, no nosso caso, novamente para a Igreja Católica – consiste na desconstrução da correlação entre institucionalismo forte, objetividade antropológico-ontológica e epistemológico-moral estritas e fundamentalismo político-normativo. Nesse sentido, na medida em que também as instituições religiosas trouxerem...
Numen, 2021
This article argues that the association between institutionalization and strong epistemological,... more This article argues that the association between institutionalization and strong epistemological, political, anthropological and ontological objectivity leads to institutional fundamentalism in three basic and problematic aspects for societal-cultural-institutional current dynamics: first, the institution’s centralization and monopolization of the constitution, legitimation and public foment of the creed, so that the institution becomes self-referential, self-subsisting and autonomous regarding common sense and common people, as opposed to other religious institutions; second, the institution’s vertical and direct affirmation and imposition on believers and non-believers of essentialist and naturalized foundations which do not seriously consider the differences as epistemological-political subjects, practices and codes; third, the institution’s self-affirmation of its special core-role in terms of linking Earth and Heaven, people and God, so that it becomes the one and supreme insti...