Daiane Verzza - Academia.edu (original) (raw)
A história de Esparta e de suas instituições não são bem conhecidas, a maioria das informações pr... more A história de Esparta e de suas instituições não são bem conhecidas, a maioria das informações provém de autores que viveram séculos depois dos acontecimentos ou que não eram de Esparta. Entretanto, sabemos que a estrutura social era muito rígida e a educação das crianças tinha um papel fundamental na transformação dos homens em guerreiros ferozes. Conforme o costume espartano, o pai levava o recém-nascido para ser avaliado pelos anciãos. Se a criança fosse considerada forte e saudável, ao pai era permitido que a criasse, caso contrário, o bebê era jogado de um despenhadeiro. Aos sete anos, todos os garotos deixavam suas mães e eram reunidos e divididos em unidades, ou "tropas". Passavam então a viver em conjunto, nas mesmas condições. O mais veloz e mais valente nos exercícios militares tornava-se o comandante da unidade e os outros deviam obedecê-lo, assim como aceitar as punições que ele estabelecesse. Os rapazes aprendiam a ler e escrever apenas o necessário aos objetivos de se tornarem soldados disciplinados e cidadãos submissos, concentrando-se no aprendizado militar. Conforme cresciam, suas provações aumentavam: eram obrigados a andar descalços e nus, de modo que adquiriam uma pele grossa, só se banhavam com água fria e dormiam em camas de junco, feitas por eles mesmos. Aos vinte anos de idade, o [pág. 031] homem espartano adquiria uns poucos direitos políticos; aos trinta, casava-se, adquiria mais alguns outros e uma certa independência. Entretanto, apenas aos sessenta estaria liberado de suas obrigações para com o Estado e seu esquema de mobilização militar constante. As conseqüências desse sistema foram a disciplina, por um lado, mas a falta de criatividade, a dificuldade de desenvolver as artes e a indústria, a estagnação enfim, por outro lado, marcaram a cidade. Contudo, formou-se um exército espartano muito efetivo e poderoso, o que acabou por fazer de Esparta uma grande potência no contexto das cidades gregas. ATENAS A outra grande cidade grega, Atenas — muito mais dinâmica que Esparta — é bem mais conhecida por historiadores e arqueólogos. Atenas estava na Ática, a sudeste da península grega central; com solo pouco fértil, a produção de trigo e cevada nem sempre bastava para alimentar sua população. As colinas favoreciam o plantio de oliveiras e uvas, do que resultou uma indústria de azeite e vinho, desde o século viii a.C. Ao sul da península, os atenienses desenvolveram a mineração de prata e o excelente porto do Pireu favoreceu o destaque de Atenas no comércio marítimo. Enquanto a maioria das cidades era relativamente pequena, Atenas soube ampliar seus domínios e acabou por incorporar toda a península da Ática no século viii a.C. Atenas foi das poucas cidades micênicas que continuaram a ser ocupadas, sem interrupção, por todo o período posterior à decadência micênica. Os atenienses repeliram os dórios e preservaram sua independência e, no período homérico, passaram a dominar toda a Ática. Durante alguns séculos, antes que Atenas unificasse a Ática, esta região havia sido ocupada por aldeias e cidadezinhas. Durante muitos séculos (ix-vi a.C.), Atenas viveu sob o regime aristocrático, a terra estava nas mãos de poucos, os eupátridas ("bem nascidos") ou nobres. Houve a substituição dos reis pelos magistrados encarregados da guerra (denominados polemarcas) e de outros assuntos (os arcontes, em número de nove, eleitos a cada [pág. 032] ano). Havia, ainda, um conselho que se reunia em uma colina chamada Areópago e somente estes aplicavam a justiça e administravam de acordo com seus interesses. Os pobres em geral, pequenos camponeses e artesãos, passavam por grande penúria e, endividados, eram mesmo escravizados por dívida. Entretanto, conforme Atenas aumentava seus contatos com o mundo mediterrâneo, crescia o poder econômico de parte do povo ateniense, chamado de demos, em especial, os comerciantes, que se enriqueceram com o comércio nos séculos VII e VI a.C. Sendo assim, os aristocratas passaram a ser pressionados para fazer concessões políticas. Segundo a tradição, as lutas entre as classes populares descontentes e as oligarquias levaram a que Drácon, um personagem lendário, cujo nome significava "serpente", tivesse atuado como legislador, encarregado de redigir as leis e torná-las conhecidas por todos. (Nos dias de hoje, folheando o jornal, não é raro ler algo sobre uma medida "draconiana", como um racionamento rígido de água. A fama desta "cobra" ateniense chega até os dias de hoje!) O Código de Drácon teria sido feito por volta de 620 a.C., ainda que dele só tenha sido encontrada uma reprodução bem posterior. Representou um avanço pois tornou as leis públicas e aplicáveis a todos, mas não acabou com a hegemonia econômica dos aristocratas que continuaram a dominar a vida política mais significativa. Por isso nem os problemas nem a ameaça de guerra civil acabaram. Para acalmar os ânimos, Sólon, arconte ateniense, em 594 a.C., favoreceu o desenvolvimento econômico da indústria e do comércio, cancelou dívidas dos cidadãos pobres e acabou com o sistema de escravidão por endividamento, segundo o qual os atenienses pobres deviam pagar suas dívidas com o trabalho escravo. Sólon conferiu mais poderes à assembléia popular dos cidadãos (Eclésia) e vinculou os direitos políticos às fortunas e não mais aos privilégios de sangue ou às ligações familiares. Se, por um lado, somente os cidadãos mais ricos podiam se tornar arcontes, por outro, todos os cidadãos passaram a ter direito de participar da Eclésia. Sólon instituiu também um novo conselho, a Bulé, e um tribunal popular (mais tarde, no século v a.C., estas instituições, que