Francismary Silva - Academia.edu (original) (raw)
Papers by Francismary Silva
Revista Maracanan, 2021
O presente artigo se propõe analisar as inter-relações históricas entre a produção do discurso mé... more O presente artigo se propõe analisar as inter-relações históricas entre a produção do discurso médico-científico, a maconha, seus usos e usuários, e o racismo científico durante a primeira metade do século XX, com um enfoque especial dirigido a atuação do médico e político José Rodrigues da Costa Dória, a partir do qual se investiga, ainda, o surgimento do “problema” da maconha por meio do referido discurso científico legitimador. A partir de revisão da bibliografia sobre o tema, e com suporte teórico da história das ciências, entre outras chaves de leitura, o presente artigo discute a influência do pensamento de Rodrigues Dória na formação das gerações seguintes de médicos, as afinidades de seu pensamento com a eugenia e, por fim, a emergência da ideologia proibicionista na formação social brasileira no pós-abolição, responsável por classificar as substâncias psicoativas enquanto drogas ou fármacos, institucionalizando o controle sobre os usuários.
Esta dissertacao realiza uma analise historiografica das obras deAlexandre Koyre (1892-1964), Tho... more Esta dissertacao realiza uma analise historiografica das obras deAlexandre Koyre (1892-1964), Thomas Kuhn (1922-1996) e StevenShapin (1943-) que abordaram a Revolucao Cientifica. Nas obras deKoyre, buscamos identificar o modo como esse autor descreve aRevolucao Cientifica ocorrida no seculo XVII e analisamos a maneiracomo propoe um novo entendimento do desenvolvimento cientifico.Nas obras de Kuhn, procuramos demonstrar em que medida ostrabalhos desse autor ampliaram a nocao koyreniana de revolucaocientifica. Nas obras de Shapin, analisamos a critica que esse autorendereca a vertente historica da revolucao cientifica fundada porKoyre e ampliada por Kuhn. Por fim, concluimos que o desenvolvimentocientifico descrito por meio da nocao de revolucao, tal como e possivelencontrar na fortuna literaria de Koyre e de Kuhn, a despeito dascriticas de Shapin, traz ganhos reais a analise historica das ciencias.
O longo processo pos-revolucao cientifica produziu sistemas educacionais especializados, profissi... more O longo processo pos-revolucao cientifica produziu sistemas educacionais especializados, profissionalizantes, voltados para o trabalho, para o pensamento economico, liberal, industrial. O conhecimento historico, que se profissionalizou no seculo XIX, tambem buscou sua legitimacao cientifica pela demarcacao de suas especificidades. Assim, o ensino de historia desse periodo, tomado como um dos tipicos produtos de cunho liberal e iluminista, foi marcado por esse processo disciplinarizante da historia cientifica do seculo XIX, algo que so comecaria a ser questionado a partir de 1930, com ajuda do conceito de interdisciplinaridade. Um movimento mais amplo em prol da nocao de interdisciplinaridade aplicada ao ensino, ganhou destaque a partir de meados de 1960. Nesse contexto, a nocao de interdisciplinaridade propunha discutir justamente um novo estatuto para as universidades e escolas. Diante dessa problematica, o presente texto busca discutir o ensino de historia frente as alteracoes edu...
O presente trabalho tem como proposta uma revisao da producao historica e historiografica de Alex... more O presente trabalho tem como proposta uma revisao da producao historica e historiografica de Alexandre Koyre (1892-1964), a partir de duas tradicoes que pouco dialogam entre si: a Historia das ciencias e a Historia propriamente dita. Com intuito de melhor compreender a obra do historiador franco-russo como sendo um marco para a Historiografia das ciencias, busquei reavaliar a complexa relacao dos trabalhos de Koyre com os historiadores das ciencias, tanto internalistas quanto externalistas. Por essa via, problematizei a nocao koyreana de estrutura ou estilo ou unidade de pensamento, o que possibilitou uma reavaliacao do estigma internalista, atribuido, ainda hoje, de forma equivocada e redutora aos trabalhos, e ao legado, de Alexandre Koyre. Essa reflexao tambem possibilitou a retomada do problematico distanciamento entre a Historia e a Historia das ciencias. Desse modo, a partir do pressuposto de que a periodizacao da Historia das ciencias coincide com a periodizacao da Historia da...
Em Tempo de Histórias, 2011
O presente artigo visa fazer um breve apanhado da produção bibliográfica do sociólogo Norbert Eli... more O presente artigo visa fazer um breve apanhado da produção bibliográfica do sociólogo Norbert Elias voltada para a sociologia do conhecimento e ciência, aindadesconhecida do público brasileiro. Em um segundo momento, procuraremos vislumbrar de que maneira ferramentas conceituais como redes de interdependência e figuraçõesestabelecidos-outsiders podem nos auxiliar na análise do desenvolvimento das ciências. Ao discutirmos a relação cientista-comunidade científica, daremos ênfase à própria trajetória de Elias, uma vez que nossa hipótese é de que a sua visão sobre sua posição na comunidade de sociólogos pode nos possibilitar a compreensão de como suas principais ferramentasmetodológicas podem nos ajudar a compreender a lógica da relação entre indivíduos dentro dessa figuração.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2017
O livro A história das ciências e os saberes da Amazônia: séculos XIX e XX, da historiadora brasi... more O livro A história das ciências e os saberes da Amazônia: séculos XIX e XX, da historiadora brasileira Heloisa Maria Bertol Domingues, faz parte da "Coleção Aulas Inaugurais" do Programa de Pós-graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia, da Universidade Estadual do Maranhão, coleção que conta com outros dois volumes já publicados. 1 Com o objeto em mãos, o leitor verá que o livro se divide em duas partes: a aula inaugural em si e uma espécie de memorial da autora-palestrante. No início da aula inaugural, encontramos as falas de duas quebradeiras de coco-babaçu do Maranhão: Maria Nice Machado Aires e Querubina Silva Neta. A presença das falas das duas anfitriãs possivelmente causa estranheza ao leitor acadêmico acostumado com estrutura científico-universitária típica. O lugar de recepção da convidada foi ocupado por representantes de um saber tradicional que em muitos aspectos é silenciado pelo chamado "conhecimento ocidental". É necessário destacar que a transcrição das falas, apesar de aplicar a norma culta da língua portuguesa, conservou traços de oralidades tão ricos e característicos, para não dizer essenciais, dos povos tradicionais. Povos que utilizam a oralidade não apenas como meio de transmissão de seus conhecimentos, mas como lugar de produção dos mesmos. Assim, as falas das quebradeiras de coco ressaltam, de partida, a importância do lugar dos saberes tradicionais em contraste com o conhecimento científico-acadêmico. Na sequência, Heloisa Domingues inicia sua aula inaugural que leva o nome do livro. Como historiadora do conhecimento dito ocidental, a palestrante inicia sua fala se questionando "o que apresentar na aula inaugural de um mestrado em Cartografia Social e Política da Amazônia"? Apesar de seus trabalhos sobre ciências naturais e a sociedade desenvolvidos desde o mestrado (discurso sobre o índio na Revista IHGB) e o doutorado (sobre agricultura no Brasil Império), apesar de seus trabalhos sobre os saberes tradicionais no Museu de Astronomia e Ciências Afins, a historiadora não apenas entendeu a responsabilidade do convite para proferir a aula inaugural, como viu aí um verdadeiro desafio. O desafio de
Revista Agora, May 5, 2010
Revista de Teoria da História, 2009
Até meados da primeira metade do século XX, as narrativas históricas sobre o desenvolvimento cien... more Até meados da primeira metade do século XX, as narrativas históricas sobre o desenvolvimento científico dividiram-se conforme as distintas ênfases dadas aos seus objetos. De acordo com essa divisão, poder-se-ia denominar as narrativas de "internas" (I) ou de "externas" (E). Nesse trabalho, procuro demonstrar como essa divisão (I/E) relaciona-se diretamente com as análises filosóficas e sociológicas desenvolvidas no mesmo período. Por meio da elucidação do posicionamento teórico dos principais membros do Círculo de Viena, do posicionamento de Karl Popper, de Karl Mannheim e de Robert Merton, proponho entender como se deu, primordialmente, a divisão entre Internalismo e Externalismo. Por essa via, a presente análise pretende expor o debate entre a Filosofia e a Sociologia, produzido na primeira metade do Século XX, tendo por base a divisão entre o contexto da descoberta e o contexto da justificativa.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2020
Resumo Este trabalho analisou um artefato (um livro de saúde) concebido pelo povo maxakali, denom... more Resumo Este trabalho analisou um artefato (um livro de saúde) concebido pelo povo maxakali, denominado Hitupmã’ax: curar (2008). Tangenciado o projeto de produção do livro, o objetivo foi entender o processo de negociação da saúde pública no Brasil, dentro de uma perspectiva histórica e intercultural das epistemologias não ocidentais. Constatamos que a construção da obra maxakali representa um esforço para diminuir a distância da percepção e dos cuidados de saúde entre indígenas e não indígenas, e por essa via demonstramos a importância desse projeto intercultural para a efetivação de políticas públicas voltadas para o público indígena em geral e, especificamenete, para a promoção da história, dos saberes e da cultura maxakali.
Revista Maracanan, 2021
O presente artigo se propõe analisar as inter-relações históricas entre a produção do discurso mé... more O presente artigo se propõe analisar as inter-relações históricas entre a produção do discurso médico-científico, a maconha, seus usos e usuários, e o racismo científico durante a primeira metade do século XX, com um enfoque especial dirigido a atuação do médico e político José Rodrigues da Costa Dória, a partir do qual se investiga, ainda, o surgimento do “problema” da maconha por meio do referido discurso científico legitimador. A partir de revisão da bibliografia sobre o tema, e com suporte teórico da história das ciências, entre outras chaves de leitura, o presente artigo discute a influência do pensamento de Rodrigues Dória na formação das gerações seguintes de médicos, as afinidades de seu pensamento com a eugenia e, por fim, a emergência da ideologia proibicionista na formação social brasileira no pós-abolição, responsável por classificar as substâncias psicoativas enquanto drogas ou fármacos, institucionalizando o controle sobre os usuários.
Esta dissertacao realiza uma analise historiografica das obras deAlexandre Koyre (1892-1964), Tho... more Esta dissertacao realiza uma analise historiografica das obras deAlexandre Koyre (1892-1964), Thomas Kuhn (1922-1996) e StevenShapin (1943-) que abordaram a Revolucao Cientifica. Nas obras deKoyre, buscamos identificar o modo como esse autor descreve aRevolucao Cientifica ocorrida no seculo XVII e analisamos a maneiracomo propoe um novo entendimento do desenvolvimento cientifico.Nas obras de Kuhn, procuramos demonstrar em que medida ostrabalhos desse autor ampliaram a nocao koyreniana de revolucaocientifica. Nas obras de Shapin, analisamos a critica que esse autorendereca a vertente historica da revolucao cientifica fundada porKoyre e ampliada por Kuhn. Por fim, concluimos que o desenvolvimentocientifico descrito por meio da nocao de revolucao, tal como e possivelencontrar na fortuna literaria de Koyre e de Kuhn, a despeito dascriticas de Shapin, traz ganhos reais a analise historica das ciencias.
O longo processo pos-revolucao cientifica produziu sistemas educacionais especializados, profissi... more O longo processo pos-revolucao cientifica produziu sistemas educacionais especializados, profissionalizantes, voltados para o trabalho, para o pensamento economico, liberal, industrial. O conhecimento historico, que se profissionalizou no seculo XIX, tambem buscou sua legitimacao cientifica pela demarcacao de suas especificidades. Assim, o ensino de historia desse periodo, tomado como um dos tipicos produtos de cunho liberal e iluminista, foi marcado por esse processo disciplinarizante da historia cientifica do seculo XIX, algo que so comecaria a ser questionado a partir de 1930, com ajuda do conceito de interdisciplinaridade. Um movimento mais amplo em prol da nocao de interdisciplinaridade aplicada ao ensino, ganhou destaque a partir de meados de 1960. Nesse contexto, a nocao de interdisciplinaridade propunha discutir justamente um novo estatuto para as universidades e escolas. Diante dessa problematica, o presente texto busca discutir o ensino de historia frente as alteracoes edu...
O presente trabalho tem como proposta uma revisao da producao historica e historiografica de Alex... more O presente trabalho tem como proposta uma revisao da producao historica e historiografica de Alexandre Koyre (1892-1964), a partir de duas tradicoes que pouco dialogam entre si: a Historia das ciencias e a Historia propriamente dita. Com intuito de melhor compreender a obra do historiador franco-russo como sendo um marco para a Historiografia das ciencias, busquei reavaliar a complexa relacao dos trabalhos de Koyre com os historiadores das ciencias, tanto internalistas quanto externalistas. Por essa via, problematizei a nocao koyreana de estrutura ou estilo ou unidade de pensamento, o que possibilitou uma reavaliacao do estigma internalista, atribuido, ainda hoje, de forma equivocada e redutora aos trabalhos, e ao legado, de Alexandre Koyre. Essa reflexao tambem possibilitou a retomada do problematico distanciamento entre a Historia e a Historia das ciencias. Desse modo, a partir do pressuposto de que a periodizacao da Historia das ciencias coincide com a periodizacao da Historia da...
Em Tempo de Histórias, 2011
O presente artigo visa fazer um breve apanhado da produção bibliográfica do sociólogo Norbert Eli... more O presente artigo visa fazer um breve apanhado da produção bibliográfica do sociólogo Norbert Elias voltada para a sociologia do conhecimento e ciência, aindadesconhecida do público brasileiro. Em um segundo momento, procuraremos vislumbrar de que maneira ferramentas conceituais como redes de interdependência e figuraçõesestabelecidos-outsiders podem nos auxiliar na análise do desenvolvimento das ciências. Ao discutirmos a relação cientista-comunidade científica, daremos ênfase à própria trajetória de Elias, uma vez que nossa hipótese é de que a sua visão sobre sua posição na comunidade de sociólogos pode nos possibilitar a compreensão de como suas principais ferramentasmetodológicas podem nos ajudar a compreender a lógica da relação entre indivíduos dentro dessa figuração.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2017
O livro A história das ciências e os saberes da Amazônia: séculos XIX e XX, da historiadora brasi... more O livro A história das ciências e os saberes da Amazônia: séculos XIX e XX, da historiadora brasileira Heloisa Maria Bertol Domingues, faz parte da "Coleção Aulas Inaugurais" do Programa de Pós-graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia, da Universidade Estadual do Maranhão, coleção que conta com outros dois volumes já publicados. 1 Com o objeto em mãos, o leitor verá que o livro se divide em duas partes: a aula inaugural em si e uma espécie de memorial da autora-palestrante. No início da aula inaugural, encontramos as falas de duas quebradeiras de coco-babaçu do Maranhão: Maria Nice Machado Aires e Querubina Silva Neta. A presença das falas das duas anfitriãs possivelmente causa estranheza ao leitor acadêmico acostumado com estrutura científico-universitária típica. O lugar de recepção da convidada foi ocupado por representantes de um saber tradicional que em muitos aspectos é silenciado pelo chamado "conhecimento ocidental". É necessário destacar que a transcrição das falas, apesar de aplicar a norma culta da língua portuguesa, conservou traços de oralidades tão ricos e característicos, para não dizer essenciais, dos povos tradicionais. Povos que utilizam a oralidade não apenas como meio de transmissão de seus conhecimentos, mas como lugar de produção dos mesmos. Assim, as falas das quebradeiras de coco ressaltam, de partida, a importância do lugar dos saberes tradicionais em contraste com o conhecimento científico-acadêmico. Na sequência, Heloisa Domingues inicia sua aula inaugural que leva o nome do livro. Como historiadora do conhecimento dito ocidental, a palestrante inicia sua fala se questionando "o que apresentar na aula inaugural de um mestrado em Cartografia Social e Política da Amazônia"? Apesar de seus trabalhos sobre ciências naturais e a sociedade desenvolvidos desde o mestrado (discurso sobre o índio na Revista IHGB) e o doutorado (sobre agricultura no Brasil Império), apesar de seus trabalhos sobre os saberes tradicionais no Museu de Astronomia e Ciências Afins, a historiadora não apenas entendeu a responsabilidade do convite para proferir a aula inaugural, como viu aí um verdadeiro desafio. O desafio de
Revista Agora, May 5, 2010
Revista de Teoria da História, 2009
Até meados da primeira metade do século XX, as narrativas históricas sobre o desenvolvimento cien... more Até meados da primeira metade do século XX, as narrativas históricas sobre o desenvolvimento científico dividiram-se conforme as distintas ênfases dadas aos seus objetos. De acordo com essa divisão, poder-se-ia denominar as narrativas de "internas" (I) ou de "externas" (E). Nesse trabalho, procuro demonstrar como essa divisão (I/E) relaciona-se diretamente com as análises filosóficas e sociológicas desenvolvidas no mesmo período. Por meio da elucidação do posicionamento teórico dos principais membros do Círculo de Viena, do posicionamento de Karl Popper, de Karl Mannheim e de Robert Merton, proponho entender como se deu, primordialmente, a divisão entre Internalismo e Externalismo. Por essa via, a presente análise pretende expor o debate entre a Filosofia e a Sociologia, produzido na primeira metade do Século XX, tendo por base a divisão entre o contexto da descoberta e o contexto da justificativa.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2020
Resumo Este trabalho analisou um artefato (um livro de saúde) concebido pelo povo maxakali, denom... more Resumo Este trabalho analisou um artefato (um livro de saúde) concebido pelo povo maxakali, denominado Hitupmã’ax: curar (2008). Tangenciado o projeto de produção do livro, o objetivo foi entender o processo de negociação da saúde pública no Brasil, dentro de uma perspectiva histórica e intercultural das epistemologias não ocidentais. Constatamos que a construção da obra maxakali representa um esforço para diminuir a distância da percepção e dos cuidados de saúde entre indígenas e não indígenas, e por essa via demonstramos a importância desse projeto intercultural para a efetivação de políticas públicas voltadas para o público indígena em geral e, especificamenete, para a promoção da história, dos saberes e da cultura maxakali.