Guilherme Coca de Figueiredo Cavalheri (original) (raw)
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Papers by Guilherme Coca de Figueiredo Cavalheri
Caminhando, 2022
Neste artigo, discuto aspectos relacionados à origem, transmissão e relações culturais em torno d... more Neste artigo, discuto aspectos relacionados à origem, transmissão e relações culturais em torno da figura de São Cristóvão. O santo, cujo culto é conhecido desde o final da Antiguidade Tardia no cristianismo oriental, é representado em sua hagiografia grega como um soldado cinocéfalo, que se converte ao cristianismo e é martirizado. Para compreender a importância de um santo com tais características, é preciso analisar dois elementos importantes da cultura tardo antiga e medieval: o lugar que monstros e seres estranhos possuem na religião, e em como o imaginário cristão se vale de tradições religiosas já sedimentadas na cultura para compor sua própria percepção e modos de uso daquilo que é identificado como estranho e bizarro. O estudo, portanto, se divide em três pontos. No primeiro apresento o papel dos monstros na cultura. Em seguida, analiso a cinocefalia como fenômeno cultural da Antiguidade Tardia e o modo como as narrativas cristãs abordaram o assunto. Por fim, realizo uma an...
Caminhando, 2020
Perceptions about animality and nature in early Christian apocryphal narratives Percepciones sobr... more Perceptions about animality and nature in early Christian apocryphal narratives Percepciones sobre la animalidade y la naturaleza en las narrativas apócrifas del cristianismo primitivo Guilherme de Figueiredo Cavalheri* RESUMO O presente artigo tem por objetivo analisar o papel dos animais na literatura apócrifa do cristianismo primitivo. Apesar de significativa parte da tradição cristã relegar aos animais um papel meramente simbólico e alegórico, sugerimos que, nas fontes apócrifas, marcadas pela presença de temas e tradições folclóricas, os animais possuem lugar destacado como agentes religiosos. Para isso, serão analisados episódios presentes nos chamados Evangelhos Apócrifos da Infância e nos Atos Apócrifos dos Apóstolos, tomando como ponto de partida intuições da antropologia perspectivista. Nossa hipótese é que, em tais materiais, é possível acessar elementos de uma percepção de mundo na qual as fronteiras entre o humano e o extra-humano são maleáveis e circunstanciais.
Teologia & Sociedade, 2019
O presente artigo tem como objetivo explorar aspectos do pensamento histórico e escatológico do r... more O presente artigo tem como objetivo explorar aspectos do pensamento histórico e escatológico do reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546). A motivação para o texto se encontra em uma lacuna perceptível nas obras que tratam da vida e obra do teólogo. A tradição protestante, ao longo dos séculos, tendeu a compor seu imaginário dos reformadores a partir de suas contribuições à criação do pensamento intelectual e político modernos. De modo especial, Lutero é apontado como o portador de uma mentalidade religiosa renovada, contraponto ao "obscurantismo papista" que marcou o período medieval. Contudo, a proposta de nosso breve ensaio é apontar algumas concepções do imaginário a respeito do sentido da História e do fim dos tempos, presente em teólogos como Santo Agostinho, Isidoro de Sevilha, Joaquim de Fiore e também na hagiografia medieval. A hipótese é a de que, a despeito das aparentes rupturas de Lutero com a teologia do final da Idade Média, seu imaginário a respeito do fim dos tempos se ampara em uma visão profundamente pessimista da História, fruto da recepção desse imaginário em circulação ao longo de todo o medievo.
Reflexus: Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, 2018
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de estudo do cristianismo primitivo t... more O presente artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de estudo do cristianismo primitivo tomando o folclore como uma categoria cultural e semiótica, a partir das propostas de Eleazar M. Mieletinski e Vladímir I. Propp. Discutimos, na primeira parte do texto, o conceito de folclore como expressão da cultura popular do Mediterrâneo antigo, destacando o conto maravilhoso como seu gênero narrativo privilegiado. Na segunda parte, realizamos um exercício de análise, a partir teoria morfológica de Propp, buscando relações estruturais entre os Atos de Paulo e Tecla e o Martírio de Paulo, a partir da hipótese de que ambos se constituem como variantes de e, de modo especial, como a presença de animais ajudadores funcionam como articuladores de identidade em meio a essas disputas de memória.
Ensaios Teológicos, 2015
Quando se pensa na ideia de revelação, não é possível dissociá-la de outros conceitos, como histó... more Quando se pensa na ideia de revelação, não é possível dissociá-la de outros conceitos, como história, passado, tempo, entre outros. Ao tratar-se da revelação de Deus ao ser humano, tem-se em mente um determinado conceito de tempo, espaço e meios para se interpretar essa revelação. Durante séculos a teologia cristã pensou a revelação a partir de conceitos históricos e temporais específicos, que se perpetuaram no pensamento ocidental mesmo com o advento do racionalismo moderno. No entanto, tais conceitos se modificaram no decorrer do desenvolvimento da filosofia. A ideia de uma revelação de Deus na história humana também foi alvo de mudanças e conflitos. Devido à impossibilidade de se pensar a teologia fora desse contexto de mudanças, o presente artigo busca analisar como a revelação de Deus na história e no tempo foi e tem sido pensada, a partir das transformações do pensamento histórico. Para isso o artigo segue por dois caminhos: o primeiro trata a relação da ciência histórica com a teologia, desde suas origens até o início de seus conflitos a partir da Modernidade. O segundo caminho procura, a partir da teologia contemporânea, apontar para uma teologia da revelação preocupada em retomar o diálogo com o pensamento histórico, seus problemas, desafios e possibilidades.
Book Chapters by Guilherme Coca de Figueiredo Cavalheri
Livro "Protestantismo em Perspectiva", (Org.) Francisco Benedito Leite e Reinaldo Olécio, 2019
Clamar que Deus é uma exclusividade dos cristãos é torná-lo muito pequeno e, em verdade, seria um... more Clamar que Deus é uma exclusividade dos cristãos é torná-lo muito pequeno e, em verdade, seria uma blasfémia. Deus é maior do que o Cristianismo e cuida de mais do que apenas dos cristãos. Essa é uma necessidade, ainda que pelo simples motivo de que os cristãos entraram muito tardiamente no cenário mundial. Deus está aqui desde antes da criação, e isso é bastante tempo (TUTU, 2012. p. 34) l. (lm)possibilidades a uma Teologia Protestante das Religiões no Brasil Certas figuras se destacam historicamente pelo poder de dizerem coisas simples e óbvias. Coisas essas que, a despeito de sua simplicidade, são fundamentais para que novos pontos de vista se abram diante de velhas concepções de mundo, sobre verdades insubjugáveis desde sempre, como quem afirma a plenos pulmões que "as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2Co 5.17). A frase do Apóstolo Paulo é pertinente pois quem a declara afirma aos ouvintes que estes ainda vivem nas tais "coisas antigas". São, assim, chamados a perceber que seus olhos estão viciados, incapacitados de enxergar o que já não é mais, e que novas paisagens e cores já estão no horizonte.
Dissertation by Guilherme Coca de Figueiredo Cavalheri
Thesis Chapters by Guilherme Coca de Figueiredo Cavalheri
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a recepção e as transformações do motivo do “Mest... more A presente pesquisa tem como objetivo analisar a recepção e as transformações do motivo do “Mestre de Animais” nas tradições narrativas ligadas à Paulo, Tecla e São Gerásimo. Para isso, dois conjuntos de fontes são colocadas em perspectiva: os Atos de Paulo, compostos em meados do século II, a reelaboração de seus enredos na hagiografia bizantina de Tecla e na Epístola de Pelágia, e a vida de São Gerásimo, que integra o Pratum Spirituale, coleção hagiográfica escrita
por João Mosco no século VII. Um elemento comum entre esses materiais é a ocorrência de cenas em que leões ferozes apresentam comportamentos incomuns diante dos protagonistas, em formas de reconhecimento de sua autoridade e disposição para submissão. A história da pesquisa relacionou essas cenas à recepção cristã da lenda sobre a amizade de Ândrocles, escravo fugitivo, e um leão selvagem, mencionada por Sêneca e Plínio, o Velho, e registrada integralmente em duas versões nas obras de Aulo Gélio e Claudio Eliano. Apesar de correta, essa associação não esgota as possibilidades de interpretação e relação entre materiais de uma rede bem mais ampla de tradições populares. Portanto, parto do pressuposto de que entre essas
narrativas se ancoram no motivo do Mestre de Animais, uma forma de representação narrativa e visual na qual deuses, heróis míticos e reis são representados interagindo com animais ferozes ou domésticos, em relações de domínio e cuidado. A ocorrência do motivo nas fontes
apresentadas é analisada a partir da lógica de produção e circulação de tradições folclóricas, cujos modelos narrativos se perpetuam no longo tempo, se adaptando às circunstâncias de cada grupo que delas se valem para a construção de sua identidade e de suas estratégias e
compreensão de mundo, sobretudo, nos modos em que articulam experiência religiosa e percepções sobre o mundo natural. Como produto do folclore, o Mestre de Animais é analisado a partir do repertório cultural e literário que plasmou o imaginário religioso de grupos cristãos dos primeiros séculos, bem como suas permanências, incidentes na literatura e na cultura visual do monasticismo antigo.
Caminhando, 2022
Neste artigo, discuto aspectos relacionados à origem, transmissão e relações culturais em torno d... more Neste artigo, discuto aspectos relacionados à origem, transmissão e relações culturais em torno da figura de São Cristóvão. O santo, cujo culto é conhecido desde o final da Antiguidade Tardia no cristianismo oriental, é representado em sua hagiografia grega como um soldado cinocéfalo, que se converte ao cristianismo e é martirizado. Para compreender a importância de um santo com tais características, é preciso analisar dois elementos importantes da cultura tardo antiga e medieval: o lugar que monstros e seres estranhos possuem na religião, e em como o imaginário cristão se vale de tradições religiosas já sedimentadas na cultura para compor sua própria percepção e modos de uso daquilo que é identificado como estranho e bizarro. O estudo, portanto, se divide em três pontos. No primeiro apresento o papel dos monstros na cultura. Em seguida, analiso a cinocefalia como fenômeno cultural da Antiguidade Tardia e o modo como as narrativas cristãs abordaram o assunto. Por fim, realizo uma an...
Caminhando, 2020
Perceptions about animality and nature in early Christian apocryphal narratives Percepciones sobr... more Perceptions about animality and nature in early Christian apocryphal narratives Percepciones sobre la animalidade y la naturaleza en las narrativas apócrifas del cristianismo primitivo Guilherme de Figueiredo Cavalheri* RESUMO O presente artigo tem por objetivo analisar o papel dos animais na literatura apócrifa do cristianismo primitivo. Apesar de significativa parte da tradição cristã relegar aos animais um papel meramente simbólico e alegórico, sugerimos que, nas fontes apócrifas, marcadas pela presença de temas e tradições folclóricas, os animais possuem lugar destacado como agentes religiosos. Para isso, serão analisados episódios presentes nos chamados Evangelhos Apócrifos da Infância e nos Atos Apócrifos dos Apóstolos, tomando como ponto de partida intuições da antropologia perspectivista. Nossa hipótese é que, em tais materiais, é possível acessar elementos de uma percepção de mundo na qual as fronteiras entre o humano e o extra-humano são maleáveis e circunstanciais.
Teologia & Sociedade, 2019
O presente artigo tem como objetivo explorar aspectos do pensamento histórico e escatológico do r... more O presente artigo tem como objetivo explorar aspectos do pensamento histórico e escatológico do reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546). A motivação para o texto se encontra em uma lacuna perceptível nas obras que tratam da vida e obra do teólogo. A tradição protestante, ao longo dos séculos, tendeu a compor seu imaginário dos reformadores a partir de suas contribuições à criação do pensamento intelectual e político modernos. De modo especial, Lutero é apontado como o portador de uma mentalidade religiosa renovada, contraponto ao "obscurantismo papista" que marcou o período medieval. Contudo, a proposta de nosso breve ensaio é apontar algumas concepções do imaginário a respeito do sentido da História e do fim dos tempos, presente em teólogos como Santo Agostinho, Isidoro de Sevilha, Joaquim de Fiore e também na hagiografia medieval. A hipótese é a de que, a despeito das aparentes rupturas de Lutero com a teologia do final da Idade Média, seu imaginário a respeito do fim dos tempos se ampara em uma visão profundamente pessimista da História, fruto da recepção desse imaginário em circulação ao longo de todo o medievo.
Reflexus: Revista Semestral de Teologia e Ciências das Religiões, 2018
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de estudo do cristianismo primitivo t... more O presente artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de estudo do cristianismo primitivo tomando o folclore como uma categoria cultural e semiótica, a partir das propostas de Eleazar M. Mieletinski e Vladímir I. Propp. Discutimos, na primeira parte do texto, o conceito de folclore como expressão da cultura popular do Mediterrâneo antigo, destacando o conto maravilhoso como seu gênero narrativo privilegiado. Na segunda parte, realizamos um exercício de análise, a partir teoria morfológica de Propp, buscando relações estruturais entre os Atos de Paulo e Tecla e o Martírio de Paulo, a partir da hipótese de que ambos se constituem como variantes de e, de modo especial, como a presença de animais ajudadores funcionam como articuladores de identidade em meio a essas disputas de memória.
Ensaios Teológicos, 2015
Quando se pensa na ideia de revelação, não é possível dissociá-la de outros conceitos, como histó... more Quando se pensa na ideia de revelação, não é possível dissociá-la de outros conceitos, como história, passado, tempo, entre outros. Ao tratar-se da revelação de Deus ao ser humano, tem-se em mente um determinado conceito de tempo, espaço e meios para se interpretar essa revelação. Durante séculos a teologia cristã pensou a revelação a partir de conceitos históricos e temporais específicos, que se perpetuaram no pensamento ocidental mesmo com o advento do racionalismo moderno. No entanto, tais conceitos se modificaram no decorrer do desenvolvimento da filosofia. A ideia de uma revelação de Deus na história humana também foi alvo de mudanças e conflitos. Devido à impossibilidade de se pensar a teologia fora desse contexto de mudanças, o presente artigo busca analisar como a revelação de Deus na história e no tempo foi e tem sido pensada, a partir das transformações do pensamento histórico. Para isso o artigo segue por dois caminhos: o primeiro trata a relação da ciência histórica com a teologia, desde suas origens até o início de seus conflitos a partir da Modernidade. O segundo caminho procura, a partir da teologia contemporânea, apontar para uma teologia da revelação preocupada em retomar o diálogo com o pensamento histórico, seus problemas, desafios e possibilidades.
Livro "Protestantismo em Perspectiva", (Org.) Francisco Benedito Leite e Reinaldo Olécio, 2019
Clamar que Deus é uma exclusividade dos cristãos é torná-lo muito pequeno e, em verdade, seria um... more Clamar que Deus é uma exclusividade dos cristãos é torná-lo muito pequeno e, em verdade, seria uma blasfémia. Deus é maior do que o Cristianismo e cuida de mais do que apenas dos cristãos. Essa é uma necessidade, ainda que pelo simples motivo de que os cristãos entraram muito tardiamente no cenário mundial. Deus está aqui desde antes da criação, e isso é bastante tempo (TUTU, 2012. p. 34) l. (lm)possibilidades a uma Teologia Protestante das Religiões no Brasil Certas figuras se destacam historicamente pelo poder de dizerem coisas simples e óbvias. Coisas essas que, a despeito de sua simplicidade, são fundamentais para que novos pontos de vista se abram diante de velhas concepções de mundo, sobre verdades insubjugáveis desde sempre, como quem afirma a plenos pulmões que "as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2Co 5.17). A frase do Apóstolo Paulo é pertinente pois quem a declara afirma aos ouvintes que estes ainda vivem nas tais "coisas antigas". São, assim, chamados a perceber que seus olhos estão viciados, incapacitados de enxergar o que já não é mais, e que novas paisagens e cores já estão no horizonte.
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a recepção e as transformações do motivo do “Mest... more A presente pesquisa tem como objetivo analisar a recepção e as transformações do motivo do “Mestre de Animais” nas tradições narrativas ligadas à Paulo, Tecla e São Gerásimo. Para isso, dois conjuntos de fontes são colocadas em perspectiva: os Atos de Paulo, compostos em meados do século II, a reelaboração de seus enredos na hagiografia bizantina de Tecla e na Epístola de Pelágia, e a vida de São Gerásimo, que integra o Pratum Spirituale, coleção hagiográfica escrita
por João Mosco no século VII. Um elemento comum entre esses materiais é a ocorrência de cenas em que leões ferozes apresentam comportamentos incomuns diante dos protagonistas, em formas de reconhecimento de sua autoridade e disposição para submissão. A história da pesquisa relacionou essas cenas à recepção cristã da lenda sobre a amizade de Ândrocles, escravo fugitivo, e um leão selvagem, mencionada por Sêneca e Plínio, o Velho, e registrada integralmente em duas versões nas obras de Aulo Gélio e Claudio Eliano. Apesar de correta, essa associação não esgota as possibilidades de interpretação e relação entre materiais de uma rede bem mais ampla de tradições populares. Portanto, parto do pressuposto de que entre essas
narrativas se ancoram no motivo do Mestre de Animais, uma forma de representação narrativa e visual na qual deuses, heróis míticos e reis são representados interagindo com animais ferozes ou domésticos, em relações de domínio e cuidado. A ocorrência do motivo nas fontes
apresentadas é analisada a partir da lógica de produção e circulação de tradições folclóricas, cujos modelos narrativos se perpetuam no longo tempo, se adaptando às circunstâncias de cada grupo que delas se valem para a construção de sua identidade e de suas estratégias e
compreensão de mundo, sobretudo, nos modos em que articulam experiência religiosa e percepções sobre o mundo natural. Como produto do folclore, o Mestre de Animais é analisado a partir do repertório cultural e literário que plasmou o imaginário religioso de grupos cristãos dos primeiros séculos, bem como suas permanências, incidentes na literatura e na cultura visual do monasticismo antigo.