LUIZ CÉSAR MACHADO DE MACEDO (original) (raw)

Uploads

Papers by LUIZ CÉSAR MACHADO DE MACEDO

Research paper thumbnail of Antes de Auschwitz: Um Ensaio sobre memória e narrativa em Walter Benjamin e Erich Maria Remarque

Reumo O objetivo deste ensaio consiste em questionar como os conceitos benjaminianos de narrati-v... more Reumo O objetivo deste ensaio consiste em questionar como os conceitos benjaminianos de narrati-va e memória podem ser compreendidos se lidos em comparação com um dos principais docu-mentos da República de Weimar, a saber: Nada de novo no front (Im Westen Nichts Neues), de Erich Maria Remarque. Este ensaio propõe que muito do que Benjamin concebe em ensaios como Expe-riência e pobreza e O Narrador pode ser encontrado no livro de Remarque. As semelhanças, po-rém, não nos levam a crer que há uma identidade perfeita entre os autores. O ensaio conclui com uma reflexão sobre a questão da representação e sua relação com a memória. Palavras chave Narrativa memória Primeira Guerra Mundial República de Weimar. Abstract The aim of this essay is to ask how Walter Benjamin´s concepts of narrative and memory can be understood in comparison to one of the main documents of the Weimar Republic, namely Erich Maria Remarque´s All Quiet on the Western Front (Im Westen Nichts Neues). This essay proposes that much of what Benjamin conceives in essays like Erfahrung und Armut und Der Erzähler can be actually found in Remarque´s book. The similarities, although, doesn t lead to a perfect identity among the two authors. This essay concludes that with a reflection on the question of representation and its relationship with memory. Keywords Narrative Memory First World War Weimar Republic. Introdução É possível haver uma fé sem dogma, um mundo sem deuses, um saber sem máximas e uma pátria que não pode ser ocupada por nenhum poder do mundo? Ernst Jünger É bastante conhecida a antipatia que Bertolt Brecht sentia por Thomas Mann 1. Por conta da divergência ideológica entre estes dois titãs da literatura alemã do século XX, uma vez que o soci-alista Brecht dificilmente aceitaria as definidas e claras posições ideológicas do burguês Thomas Mann (Brecht sempre preferiu Heinrich Mann, irmão de Thomas Mann, autor de O Anjo azul e O Súdito), encontrar semelhanças entre os autores não deixa de soar como uma ironia. Uma destas irônicas semelhanças reside na técnica de distanciamento narrativo 2 , recurso poético elaborado e pensado por Brecht e que se vê utilizada por Thomas Mann em A Montanha Mágica: neste romance, para além de fazer uma sofisticada colagem de vozes narrativas, na qual se alternam narradores filosóficos, dramáticos, realistas, oniscientes, irônicos e descritivos até o de-talhe mais enervante, Thomas Mann compõe seu Hans Castorp, protagonista do monumental romance, como uma personagem oca, sem qualquer característica definida. E isto de maneira muito pensada. Hans Castorp torna-se muito menino órfão de pai e mãe, e é criado por um avô extremamente conservador; Hans Castorp não escolhe a própria profissão, tarefa que acaba dele-gando ao seu tio, que lhe serve de tutor após a morte do avô pateticamente ultrapassado. Ou seja: Castorp não faz escolhas, Castorp tem um contato muito superficial com a própria história, pois escapou-lhe muito precocemente a vivência com a geração que lhe antecedeu, cujos valores pode

Research paper thumbnail of Antes de Auschwitz: Um Ensaio sobre memória e narrativa em Walter Benjamin e Erich Maria Remarque

Reumo O objetivo deste ensaio consiste em questionar como os conceitos benjaminianos de narrati-v... more Reumo O objetivo deste ensaio consiste em questionar como os conceitos benjaminianos de narrati-va e memória podem ser compreendidos se lidos em comparação com um dos principais docu-mentos da República de Weimar, a saber: Nada de novo no front (Im Westen Nichts Neues), de Erich Maria Remarque. Este ensaio propõe que muito do que Benjamin concebe em ensaios como Expe-riência e pobreza e O Narrador pode ser encontrado no livro de Remarque. As semelhanças, po-rém, não nos levam a crer que há uma identidade perfeita entre os autores. O ensaio conclui com uma reflexão sobre a questão da representação e sua relação com a memória. Palavras chave Narrativa memória Primeira Guerra Mundial República de Weimar. Abstract The aim of this essay is to ask how Walter Benjamin´s concepts of narrative and memory can be understood in comparison to one of the main documents of the Weimar Republic, namely Erich Maria Remarque´s All Quiet on the Western Front (Im Westen Nichts Neues). This essay proposes that much of what Benjamin conceives in essays like Erfahrung und Armut und Der Erzähler can be actually found in Remarque´s book. The similarities, although, doesn t lead to a perfect identity among the two authors. This essay concludes that with a reflection on the question of representation and its relationship with memory. Keywords Narrative Memory First World War Weimar Republic. Introdução É possível haver uma fé sem dogma, um mundo sem deuses, um saber sem máximas e uma pátria que não pode ser ocupada por nenhum poder do mundo? Ernst Jünger É bastante conhecida a antipatia que Bertolt Brecht sentia por Thomas Mann 1. Por conta da divergência ideológica entre estes dois titãs da literatura alemã do século XX, uma vez que o soci-alista Brecht dificilmente aceitaria as definidas e claras posições ideológicas do burguês Thomas Mann (Brecht sempre preferiu Heinrich Mann, irmão de Thomas Mann, autor de O Anjo azul e O Súdito), encontrar semelhanças entre os autores não deixa de soar como uma ironia. Uma destas irônicas semelhanças reside na técnica de distanciamento narrativo 2 , recurso poético elaborado e pensado por Brecht e que se vê utilizada por Thomas Mann em A Montanha Mágica: neste romance, para além de fazer uma sofisticada colagem de vozes narrativas, na qual se alternam narradores filosóficos, dramáticos, realistas, oniscientes, irônicos e descritivos até o de-talhe mais enervante, Thomas Mann compõe seu Hans Castorp, protagonista do monumental romance, como uma personagem oca, sem qualquer característica definida. E isto de maneira muito pensada. Hans Castorp torna-se muito menino órfão de pai e mãe, e é criado por um avô extremamente conservador; Hans Castorp não escolhe a própria profissão, tarefa que acaba dele-gando ao seu tio, que lhe serve de tutor após a morte do avô pateticamente ultrapassado. Ou seja: Castorp não faz escolhas, Castorp tem um contato muito superficial com a própria história, pois escapou-lhe muito precocemente a vivência com a geração que lhe antecedeu, cujos valores pode