Lara Erendira Almeida de Andrade (original) (raw)
Papers by Lara Erendira Almeida de Andrade
Anuário Antropológico, 2020
A ideia de áreas protegidas para a conservação, apesar dos avanços nas últimas décadas para inc... more A ideia de áreas protegidas para a conservação, apesar dos avanços nas últimas décadas para incluir a sociodiversidade, ainda possui forte influência do chamado “mito da natureza intocada”, reflexo da pretensa dicotomia natureza/cultura à qual também se associa a imagem dos indígenas. Esta noção reflete-se nas ações do Estado, que enfatiza políticas de proteção naquelas áreas mais próximas de seu pretenso estágio “prístino”. Não por acaso, a maioria das áreas protegidas situa-se na Amazônia, ícone desta “natureza intocada” e dos índios “puros”. Um exemplo é a efetivação dos direitos territoriais indígenas: 93% das Terras Indígenas situam-se na Amazônia Legal, apesar de 61% dos indígenas viverem em outras regiões. O Nordeste é exemplar neste sentido: a região convive com a escassez de iniciativas de apoio à conservação ou aos direitos indígenas. Não é de estranhar que a ela esteja associado o imaginário da seca, pobreza e do “índio misturado”. Neste trabalho propomos refletir sobre as práticas dos povos indígenas de convivência com o ambiente vis-a-vis à lógica de intervenções do Estado para conservação da biodiversidade. Partimos da experiência em processos de Gestão Territorial e Ambiental com os Xokó, Pankararu e Kapinawá.
Revista Anthropológicas , 2020
Nicole O’Bomsawin tem formação em antropologia e museologia e, em 2011, recebeu o título de douto... more Nicole O’Bomsawin tem formação em antropologia e museologia e, em 2011, recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade de Montreal. Durante mais de vinte anos (1984 – 2005) foi diretora do museu criado na terra indígena de seu povo: o Museu dos Abénakis (Musée des Abénakis). Fundado em 1965 na comunidade Odanak, o Museu dos Abénakis é a primeira instituição museal indígena do Quebec, Canadá. Hoje ele conta com uma coleção de mais de 25 mil objetos e é gerido pela Sociedade Histórica de Odanak (Societé historique d’Odanak). Nesta entrevista conversamos com O’Bomsawin sobre como sua história de vida está entrelaçada com a concepção museu ao longo das décadas e com a construção da ideia de uma museologia abénakis.
Vivência: Revista de Antropologia, v. 1, n. 52, 31 maio 2019., 2019
RESUMO Esse artigo tem como fundamental ponto de exposição destacar as diferentes relações de pod... more RESUMO Esse artigo tem como fundamental ponto de exposição destacar as diferentes relações de poder que permeiam a percepção do território através da elaboração de mapas oficiais organizados para manter o controle territorial pelo Estado; e mapas construindo a partir da relação de pertencimento e conhecimento territorial em territórios pertencentes a povos e comunidades tradicionais destacados em cartografias sociais. Tais cartografias sociais refletem formas de apropriação do conhecimento sobre o território que povos e comunidades tradicionais carregam, colocando em evidência a realidade que desejam destacar. A maneira como expressam suas realidades simbólicas ou territoriais em suas autocartografias, garantem por intermédio desta, um mecanismo de confrontação e de controle de seus próprios territórios em oposição às informações divulgadas por órgãos oficiais.
Revista de Estudos e Investigações Antropológicas. Volume Especial II (2017), 2017
Introdução Ao fazer uma breve busca na internet pela etimologia da palavra mapa, vamos encontrá-l... more Introdução Ao fazer uma breve busca na internet pela etimologia da palavra mapa, vamos encontrá-la relacionada ao termo mappa, do latim, usado para designar lenços, pedaços de tecidos e toalhas de mesa, material sobre o qual os mapas eram desenhados. De lá para cá, esses mapas foram ganhando uma lógica cartesiana, com coordenadas, latitudes, longitudes, etc. Com o tempo, os fazedores de mapa autoproclamaram seu status de representação da realidade, isentando-o de parcialidades e interesses políticos. Entretanto, o pretenso status de representação imparcial da realidade vem sendo contestado ao longo das últimas décadas. As críticas descortinam os interesses que estão por trás da cartografia e como a mesma foi utilizada como instrumento de dominação e colonização. É no sentido dessas críticas que ganha força, a partir dos anos 1980, um fazer cartográfico que busca dar um outro destino aos mapas, transformando-os em ferramentas a favor das minorias e por elas incorporado na busca da efetivação de seus direitos. No Brasil, essa prática vem sendo chamada de mapeamento participativo (ACSELRAD e COLI, 2008).
RESUMO O trabalho apresentado nesta dissertação é fruto de pesquisa, desenvolvida nos últimos doi... more RESUMO
O trabalho apresentado nesta dissertação é fruto de pesquisa, desenvolvida nos últimos dois anos, como estudante de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba. Nela abordo a construção da identidade do povo indígena Kapinawá, que tem seu território situado entre três municípios pernambucanos: Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. Observo quais são as relações que configuram uma determinada organização social (filiação, alianças matrimoniais, localização das residências, etc.), e as dinâmicas de conformação do território, que vieram a possibilitar uma posterior reivindicação pela identidade étnica e território propriamente “kapinawá”. Para compreender como se constroem estas relações sociais e o território refleti sobre as relações de trabalho e produção e a relação com o ambiente em que as famílias estão inseridas, que possibilitaram perceber uma série de dinâmicas constitutivas de sentimentos de pertença e alianças políticas. A partir dai busquei identificar e analisar como se constrói uma tradição de conhecimento, que somada aos aspectos elencados acima, é um dos elementos que possibilitou a integração dos diversos agrupamentos familiares do entorno da Serra do Macaco que se organizaram pela reivindicação da identidade étnica Kapinawá, se diferenciando dos demais agrupamentos de seus arredores. Na pesquisa fiz um recorte de análise mais detido na parte do território que ainda não está regularizada, e encontra-se em processo de reivindicação para tal, chamada pelos indígenas de “Área Nova”
Palavras-chave: identidade kapinawá; organização social; território.
Sumário: O aspecto religioso, e suas respectivas manifestações são de grande importância para o e... more Sumário: O aspecto religioso, e suas respectivas manifestações são de grande importância para o entendimento de como a identidade está inserida na organização social, uma vez que é entendida, muitas vezes, pelos índios, como um elemento principal de união e de identidade.
Books by Lara Erendira Almeida de Andrade
MULHERES INDÍGENAS DA TRADIÇÃO é um livro fotográfico, fruto da pesquisa sobre as mulheres indíge... more MULHERES INDÍGENAS DA TRADIÇÃO é um livro fotográfico, fruto da pesquisa sobre as mulheres indígenas em Pernambuco, realizada por pesquisadoras de onze povos no estado de Pernambuco. Cada povo indicou uma mulher para se dedicar à escuta, à observação e ao registro das trajetórias de guerreiras que fazem parte da resistência indígena no Nordeste. O livro tem como objetivo apresentar uma breve trajetória de vida das mulheres que são reconhecidas pelo saber tradicional em seus povos e possuem significativa contribuição nas mais diversas áreas da
vida coletiva. Homenageá-las e dar visibilidade as suas trajetórias de luta, muitas vezes silenciadas, ou pouco referenciadas nas narrativas e registros sobre as lutas indígenas no Nordeste brasileiro, é a intencionalidade política da pesquisa.
Esta ação foi apoiada pela Secretaria de Cultura de Pernambuco com o projeto Funcultura n° 1069/12 intitulado “Mulheres Indígenas da Tradição”. Este projeto foi realizado entre os anos de 2013
e 2015 e propiciou a articulação e mobilização do movimento de mulheres em volta da ideia de homenagear as “guerreiras indígenas”, bem como garantiu a realização de encontros e formações direcionadas
às mulheres indígenas que se tornaram pesquisadoras de seus próprios povos.
A publicação é resultado do projeto “Mulheres Indígenas em Pernambuco: afirmando tradições, ident... more A publicação é resultado do projeto “Mulheres Indígenas em Pernambuco: afirmando tradições, identidades e protagonismos”, financiado pela ONU Mulheres. Nela levamos ao público a sistematização do diagnóstico realizado junto às mulheres indígenas no estado de Pernambuco. Ela é resultado dos encontros de formação que tiveram como temática os direitos indígenas, direitos humanos, as “grandes obras” que impactam as TIs, violência, alcoolismo, sustentabilidade e meio ambiente. Os textos são de autoria da equido do CCLF e de mulheres indígenas lideranças do movimento.
O livreto “Kapinawá: pensando sobre o cuidado com o território”, organiza os indicativos para a g... more O livreto “Kapinawá: pensando sobre o cuidado com o território”, organiza os indicativos para a gestão territorial e ambiental daquele contexto. É parte integrante do livro O tempo e a terra: Mapeando o Território Indígena Kapinawá
Esta publicação é resultado da sistematização das atividades desenvolvidas pelo projeto Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kapinawá, realizado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) que ocorreu em 2015 e 2016. As ações envolveram mais de 200 indígenas, entre eles agentes de saúde e saneamento, professores, lideranças, anciãos e anciãs, jovens e mulheres. O objetivo era realizar diagnósticos participativos focados no mapeamento territorial.
O projeto PGTA Kapinawá estava inserido no âmbito das ações do Projeto de Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, nos contextos dos biomas da caatinga e do cerrado. Fruto de uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e acompanhado em sua execução pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Na sua realização também contou apoio da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ).
Esta publicação é resultado da sistematização das atividades desenvolvidas pelo projeto Plano de ... more Esta publicação é resultado da sistematização das atividades desenvolvidas pelo projeto Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kapinawá, realizado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) que ocorreu em 2015 e 2016. As ações envolveram mais de 200 indígenas, entre eles agentes de saúde e saneamento, professores, lideranças, anciãos e anciãs, jovens e mulheres. O objetivo era realizar diagnósticos participativos focados no mapeamento territorial.
O projeto PGTA Kapinawá estava inserido no âmbito das ações do Projeto de Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, nos contextos dos biomas da caatinga e do cerrado. Fruto de uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e acompanhado em sua execução pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Na sua realização também contou apoio da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ).
A publicação ainda acompanha o livreto “Kapinawá: pensando sobre o cuidado com o território”, que organiza os indicativos para a gestão territorial e ambiental daquele contexto.
Escrito por professoras e professores indígenas Kapinawá, o livro é fruto de um longo processo de... more Escrito por professoras e professores indígenas Kapinawá, o livro é fruto de um longo processo de formação que teve início em 2013 e objetivou a pesquisa sobre o território, as memórias e os saberes do povo Kapinawá. Com o apoio de instituições como o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) e a Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), os/as educadores/as puderam produzir, de forma inédita, instrumentos didáticos próprios com registros de sua história, com o intuito de repassar para as novas gerações.
Mais de 150 professores (as) participaram de oficinas apoiadas pela Fundarpe através do Funcultura. Além desses encontros, para a construção deste livro foi importante a participação deles e delas no processo de elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kapinawá (CCLF/Fundo Clima/MMA/Funai apoiado pelo PNUD), com ações desenvolvidas 2015 e 2016.
O livro foi constituído com o objetivo de apresentar a situação atual da Terra Indígena Entre Ser... more O livro foi constituído com o objetivo de apresentar a situação atual da Terra Indígena Entre Serras de Pankararu e os planos de futuro desse povo em relação à gestão ambiental e territorial. Para isso foi construído um etnomapeamento de maneira participativa em 2014 pelos representantes indígenas de Entre Serras e a equipe técnica da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí). Os Pankararu realizaram o seu etnomapeamento motivados pelo desejo de que ele contribua para a garantia dos direitos territoriais e para o enfrentamento de desafios no âmbito das questões e conflitos ambientais. O livro também conta com texto de autoria dos próprios indígenas construídos em oficinas que refletiram sobre a temática.
A publicação é fruto da parceria entre o povo Pankararu, da Terra Indígena Entre Serras, a Anaí, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Projeto Gestão Ambiental e Territorial Indígena (GATI)
O livro é resultado de oficinas de formação com professores/as e lideranças dos povos Atikum, Pan... more O livro é resultado de oficinas de formação com professores/as e lideranças dos povos Atikum, Pankará e com o quilombo indígena da Tiririca dos Crioulos. Os processos de formação tiveram seus resultados sistematizados no livro "Nossa Serra, Nossa Terra: identidade e território tradicional Atikum e Pankará", de autoria dos indígenas e organização da equipe.
Disponível em: http://cclf.org.br/documento/arte-viva-producao-artistica-do-povo-truka/ “Arte Vi... more Disponível em: http://cclf.org.br/documento/arte-viva-producao-artistica-do-povo-truka/
“Arte Viva”: produção artística do povo Truká
Fruto do projeto “Arte, Saberes e Memórias do Povo Truká”, o livro “Arte Viva” foi escrito coletivamente por artistas, lideranças, educadoras e educadores indígenas dos municípios de Cabrobó e Orocó, no Sertão de Pernambuco. A obra registra aspectos da cultura Truká, com destaque para a arte produzida a partir de materiais como sementes, barro e fibras naturais, que serve de suporte para a expressão dos saberes de sua religiosidade e da história de seus antepassados.
A publicação tem organização e edição da educadora Eliene Amorim de Almeida e das antropólogas Caroline Mendonça e Lara Erendira de Andrade. O conteúdo foi produzido durante oficinas realizadas com a população Truká durante os anos de 2014 e 2015 em projeto coordenado com a parceria da Organização de Professoras Indígenas Truká (OPIT) e apoio financeiro do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Thesis Chapters by Lara Erendira Almeida de Andrade
Esta tese se propõe a fazer uma etnografia com uma abordagem temporal de longa duração sobre a pr... more Esta tese se propõe a fazer uma etnografia com uma abordagem temporal de longa duração sobre a presença indígena na região entre os rios Ipanema e Moxotó, tendo como locus ainda mais detido o platô central entre ambos, a Serra do Catimbau, atual território do povo indígena Kapinawá (Pernambuco – Brasil). No final do século XVII, essa região era ocupada pelos povos denominados Paraquêo e Ogoê Goé. No século XVIII, com a política das missões, foi implementado nesse território o Aldeamento do Macaco, e esses povos se juntaram a outros tantos grupos indígenas. A ação do governo colonial alterou significativamente o modo de vida, antes marcado pela mobilidade em busca dos recursos da caatinga, depois restritos pelas cercas e pela substituição das matas pelo pasto. No século XX, no mesmo local, esses povos reivindicaram a identidade indígena kapinawá e o direito às terras que lhes foram doadas no século XIX. O meu argumento é que tais áreas se mantiveram, ao longo de todos esses séculos, sob um certo domínio das famílias indígenas, senão totalmente sob seu controle e, embora muitas vezes tenham sido invadidas por fazendeiros, conservaram-se nas memórias como áreas pertencentes ao seu território. Saio de uma leitura regional para um foco micro. Procuro demonstrar a continuidade da resistência nas formas de ocupação do território pelas famílias kapinawá, que possibilitaram ao atual território indígena ser uma região de relevância na preservação do bioma caatinga. Esse é um elemento importante do conflito no século XXI, principalmente a partir da criação do Parque Nacional do Catimbau em parte do território kapinawá que ainda não foi regularizado. No estudo sobre a presença indígena, parti do que foi dito sobre eles nos documentos oficiais para chegar ao que eles dizem sobre si mesmos, ou seja, o momento de ser denominado e o de se autodenominar. A categoria guerra de conquista foi utilizada para demonstrar a ação dos agentes coloniais sobre os povos indígenas. As reações indígenas contra essas empreitadas nomeei de pelejas indígenas. Uma categoria construída a partir das noções de resistência, repertório de confronto e tradição de conhecimento. Ela busca evidenciar as formas de resistência ao processo colonial nas suas tentativas de dominação dos corpos e territórios dos povos indígenas. Essa foi a base para a análise de longa duração, considerando eventos e processos históricos.
Anuário Antropológico, 2020
A ideia de áreas protegidas para a conservação, apesar dos avanços nas últimas décadas para inc... more A ideia de áreas protegidas para a conservação, apesar dos avanços nas últimas décadas para incluir a sociodiversidade, ainda possui forte influência do chamado “mito da natureza intocada”, reflexo da pretensa dicotomia natureza/cultura à qual também se associa a imagem dos indígenas. Esta noção reflete-se nas ações do Estado, que enfatiza políticas de proteção naquelas áreas mais próximas de seu pretenso estágio “prístino”. Não por acaso, a maioria das áreas protegidas situa-se na Amazônia, ícone desta “natureza intocada” e dos índios “puros”. Um exemplo é a efetivação dos direitos territoriais indígenas: 93% das Terras Indígenas situam-se na Amazônia Legal, apesar de 61% dos indígenas viverem em outras regiões. O Nordeste é exemplar neste sentido: a região convive com a escassez de iniciativas de apoio à conservação ou aos direitos indígenas. Não é de estranhar que a ela esteja associado o imaginário da seca, pobreza e do “índio misturado”. Neste trabalho propomos refletir sobre as práticas dos povos indígenas de convivência com o ambiente vis-a-vis à lógica de intervenções do Estado para conservação da biodiversidade. Partimos da experiência em processos de Gestão Territorial e Ambiental com os Xokó, Pankararu e Kapinawá.
Revista Anthropológicas , 2020
Nicole O’Bomsawin tem formação em antropologia e museologia e, em 2011, recebeu o título de douto... more Nicole O’Bomsawin tem formação em antropologia e museologia e, em 2011, recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade de Montreal. Durante mais de vinte anos (1984 – 2005) foi diretora do museu criado na terra indígena de seu povo: o Museu dos Abénakis (Musée des Abénakis). Fundado em 1965 na comunidade Odanak, o Museu dos Abénakis é a primeira instituição museal indígena do Quebec, Canadá. Hoje ele conta com uma coleção de mais de 25 mil objetos e é gerido pela Sociedade Histórica de Odanak (Societé historique d’Odanak). Nesta entrevista conversamos com O’Bomsawin sobre como sua história de vida está entrelaçada com a concepção museu ao longo das décadas e com a construção da ideia de uma museologia abénakis.
Vivência: Revista de Antropologia, v. 1, n. 52, 31 maio 2019., 2019
RESUMO Esse artigo tem como fundamental ponto de exposição destacar as diferentes relações de pod... more RESUMO Esse artigo tem como fundamental ponto de exposição destacar as diferentes relações de poder que permeiam a percepção do território através da elaboração de mapas oficiais organizados para manter o controle territorial pelo Estado; e mapas construindo a partir da relação de pertencimento e conhecimento territorial em territórios pertencentes a povos e comunidades tradicionais destacados em cartografias sociais. Tais cartografias sociais refletem formas de apropriação do conhecimento sobre o território que povos e comunidades tradicionais carregam, colocando em evidência a realidade que desejam destacar. A maneira como expressam suas realidades simbólicas ou territoriais em suas autocartografias, garantem por intermédio desta, um mecanismo de confrontação e de controle de seus próprios territórios em oposição às informações divulgadas por órgãos oficiais.
Revista de Estudos e Investigações Antropológicas. Volume Especial II (2017), 2017
Introdução Ao fazer uma breve busca na internet pela etimologia da palavra mapa, vamos encontrá-l... more Introdução Ao fazer uma breve busca na internet pela etimologia da palavra mapa, vamos encontrá-la relacionada ao termo mappa, do latim, usado para designar lenços, pedaços de tecidos e toalhas de mesa, material sobre o qual os mapas eram desenhados. De lá para cá, esses mapas foram ganhando uma lógica cartesiana, com coordenadas, latitudes, longitudes, etc. Com o tempo, os fazedores de mapa autoproclamaram seu status de representação da realidade, isentando-o de parcialidades e interesses políticos. Entretanto, o pretenso status de representação imparcial da realidade vem sendo contestado ao longo das últimas décadas. As críticas descortinam os interesses que estão por trás da cartografia e como a mesma foi utilizada como instrumento de dominação e colonização. É no sentido dessas críticas que ganha força, a partir dos anos 1980, um fazer cartográfico que busca dar um outro destino aos mapas, transformando-os em ferramentas a favor das minorias e por elas incorporado na busca da efetivação de seus direitos. No Brasil, essa prática vem sendo chamada de mapeamento participativo (ACSELRAD e COLI, 2008).
RESUMO O trabalho apresentado nesta dissertação é fruto de pesquisa, desenvolvida nos últimos doi... more RESUMO
O trabalho apresentado nesta dissertação é fruto de pesquisa, desenvolvida nos últimos dois anos, como estudante de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba. Nela abordo a construção da identidade do povo indígena Kapinawá, que tem seu território situado entre três municípios pernambucanos: Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. Observo quais são as relações que configuram uma determinada organização social (filiação, alianças matrimoniais, localização das residências, etc.), e as dinâmicas de conformação do território, que vieram a possibilitar uma posterior reivindicação pela identidade étnica e território propriamente “kapinawá”. Para compreender como se constroem estas relações sociais e o território refleti sobre as relações de trabalho e produção e a relação com o ambiente em que as famílias estão inseridas, que possibilitaram perceber uma série de dinâmicas constitutivas de sentimentos de pertença e alianças políticas. A partir dai busquei identificar e analisar como se constrói uma tradição de conhecimento, que somada aos aspectos elencados acima, é um dos elementos que possibilitou a integração dos diversos agrupamentos familiares do entorno da Serra do Macaco que se organizaram pela reivindicação da identidade étnica Kapinawá, se diferenciando dos demais agrupamentos de seus arredores. Na pesquisa fiz um recorte de análise mais detido na parte do território que ainda não está regularizada, e encontra-se em processo de reivindicação para tal, chamada pelos indígenas de “Área Nova”
Palavras-chave: identidade kapinawá; organização social; território.
Sumário: O aspecto religioso, e suas respectivas manifestações são de grande importância para o e... more Sumário: O aspecto religioso, e suas respectivas manifestações são de grande importância para o entendimento de como a identidade está inserida na organização social, uma vez que é entendida, muitas vezes, pelos índios, como um elemento principal de união e de identidade.
MULHERES INDÍGENAS DA TRADIÇÃO é um livro fotográfico, fruto da pesquisa sobre as mulheres indíge... more MULHERES INDÍGENAS DA TRADIÇÃO é um livro fotográfico, fruto da pesquisa sobre as mulheres indígenas em Pernambuco, realizada por pesquisadoras de onze povos no estado de Pernambuco. Cada povo indicou uma mulher para se dedicar à escuta, à observação e ao registro das trajetórias de guerreiras que fazem parte da resistência indígena no Nordeste. O livro tem como objetivo apresentar uma breve trajetória de vida das mulheres que são reconhecidas pelo saber tradicional em seus povos e possuem significativa contribuição nas mais diversas áreas da
vida coletiva. Homenageá-las e dar visibilidade as suas trajetórias de luta, muitas vezes silenciadas, ou pouco referenciadas nas narrativas e registros sobre as lutas indígenas no Nordeste brasileiro, é a intencionalidade política da pesquisa.
Esta ação foi apoiada pela Secretaria de Cultura de Pernambuco com o projeto Funcultura n° 1069/12 intitulado “Mulheres Indígenas da Tradição”. Este projeto foi realizado entre os anos de 2013
e 2015 e propiciou a articulação e mobilização do movimento de mulheres em volta da ideia de homenagear as “guerreiras indígenas”, bem como garantiu a realização de encontros e formações direcionadas
às mulheres indígenas que se tornaram pesquisadoras de seus próprios povos.
A publicação é resultado do projeto “Mulheres Indígenas em Pernambuco: afirmando tradições, ident... more A publicação é resultado do projeto “Mulheres Indígenas em Pernambuco: afirmando tradições, identidades e protagonismos”, financiado pela ONU Mulheres. Nela levamos ao público a sistematização do diagnóstico realizado junto às mulheres indígenas no estado de Pernambuco. Ela é resultado dos encontros de formação que tiveram como temática os direitos indígenas, direitos humanos, as “grandes obras” que impactam as TIs, violência, alcoolismo, sustentabilidade e meio ambiente. Os textos são de autoria da equido do CCLF e de mulheres indígenas lideranças do movimento.
O livreto “Kapinawá: pensando sobre o cuidado com o território”, organiza os indicativos para a g... more O livreto “Kapinawá: pensando sobre o cuidado com o território”, organiza os indicativos para a gestão territorial e ambiental daquele contexto. É parte integrante do livro O tempo e a terra: Mapeando o Território Indígena Kapinawá
Esta publicação é resultado da sistematização das atividades desenvolvidas pelo projeto Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kapinawá, realizado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) que ocorreu em 2015 e 2016. As ações envolveram mais de 200 indígenas, entre eles agentes de saúde e saneamento, professores, lideranças, anciãos e anciãs, jovens e mulheres. O objetivo era realizar diagnósticos participativos focados no mapeamento territorial.
O projeto PGTA Kapinawá estava inserido no âmbito das ações do Projeto de Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, nos contextos dos biomas da caatinga e do cerrado. Fruto de uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e acompanhado em sua execução pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Na sua realização também contou apoio da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ).
Esta publicação é resultado da sistematização das atividades desenvolvidas pelo projeto Plano de ... more Esta publicação é resultado da sistematização das atividades desenvolvidas pelo projeto Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kapinawá, realizado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) que ocorreu em 2015 e 2016. As ações envolveram mais de 200 indígenas, entre eles agentes de saúde e saneamento, professores, lideranças, anciãos e anciãs, jovens e mulheres. O objetivo era realizar diagnósticos participativos focados no mapeamento territorial.
O projeto PGTA Kapinawá estava inserido no âmbito das ações do Projeto de Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, nos contextos dos biomas da caatinga e do cerrado. Fruto de uma parceria entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e acompanhado em sua execução pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Na sua realização também contou apoio da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ).
A publicação ainda acompanha o livreto “Kapinawá: pensando sobre o cuidado com o território”, que organiza os indicativos para a gestão territorial e ambiental daquele contexto.
Escrito por professoras e professores indígenas Kapinawá, o livro é fruto de um longo processo de... more Escrito por professoras e professores indígenas Kapinawá, o livro é fruto de um longo processo de formação que teve início em 2013 e objetivou a pesquisa sobre o território, as memórias e os saberes do povo Kapinawá. Com o apoio de instituições como o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) e a Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), os/as educadores/as puderam produzir, de forma inédita, instrumentos didáticos próprios com registros de sua história, com o intuito de repassar para as novas gerações.
Mais de 150 professores (as) participaram de oficinas apoiadas pela Fundarpe através do Funcultura. Além desses encontros, para a construção deste livro foi importante a participação deles e delas no processo de elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena Kapinawá (CCLF/Fundo Clima/MMA/Funai apoiado pelo PNUD), com ações desenvolvidas 2015 e 2016.
O livro foi constituído com o objetivo de apresentar a situação atual da Terra Indígena Entre Ser... more O livro foi constituído com o objetivo de apresentar a situação atual da Terra Indígena Entre Serras de Pankararu e os planos de futuro desse povo em relação à gestão ambiental e territorial. Para isso foi construído um etnomapeamento de maneira participativa em 2014 pelos representantes indígenas de Entre Serras e a equipe técnica da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí). Os Pankararu realizaram o seu etnomapeamento motivados pelo desejo de que ele contribua para a garantia dos direitos territoriais e para o enfrentamento de desafios no âmbito das questões e conflitos ambientais. O livro também conta com texto de autoria dos próprios indígenas construídos em oficinas que refletiram sobre a temática.
A publicação é fruto da parceria entre o povo Pankararu, da Terra Indígena Entre Serras, a Anaí, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Projeto Gestão Ambiental e Territorial Indígena (GATI)
O livro é resultado de oficinas de formação com professores/as e lideranças dos povos Atikum, Pan... more O livro é resultado de oficinas de formação com professores/as e lideranças dos povos Atikum, Pankará e com o quilombo indígena da Tiririca dos Crioulos. Os processos de formação tiveram seus resultados sistematizados no livro "Nossa Serra, Nossa Terra: identidade e território tradicional Atikum e Pankará", de autoria dos indígenas e organização da equipe.
Disponível em: http://cclf.org.br/documento/arte-viva-producao-artistica-do-povo-truka/ “Arte Vi... more Disponível em: http://cclf.org.br/documento/arte-viva-producao-artistica-do-povo-truka/
“Arte Viva”: produção artística do povo Truká
Fruto do projeto “Arte, Saberes e Memórias do Povo Truká”, o livro “Arte Viva” foi escrito coletivamente por artistas, lideranças, educadoras e educadores indígenas dos municípios de Cabrobó e Orocó, no Sertão de Pernambuco. A obra registra aspectos da cultura Truká, com destaque para a arte produzida a partir de materiais como sementes, barro e fibras naturais, que serve de suporte para a expressão dos saberes de sua religiosidade e da história de seus antepassados.
A publicação tem organização e edição da educadora Eliene Amorim de Almeida e das antropólogas Caroline Mendonça e Lara Erendira de Andrade. O conteúdo foi produzido durante oficinas realizadas com a população Truká durante os anos de 2014 e 2015 em projeto coordenado com a parceria da Organização de Professoras Indígenas Truká (OPIT) e apoio financeiro do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Esta tese se propõe a fazer uma etnografia com uma abordagem temporal de longa duração sobre a pr... more Esta tese se propõe a fazer uma etnografia com uma abordagem temporal de longa duração sobre a presença indígena na região entre os rios Ipanema e Moxotó, tendo como locus ainda mais detido o platô central entre ambos, a Serra do Catimbau, atual território do povo indígena Kapinawá (Pernambuco – Brasil). No final do século XVII, essa região era ocupada pelos povos denominados Paraquêo e Ogoê Goé. No século XVIII, com a política das missões, foi implementado nesse território o Aldeamento do Macaco, e esses povos se juntaram a outros tantos grupos indígenas. A ação do governo colonial alterou significativamente o modo de vida, antes marcado pela mobilidade em busca dos recursos da caatinga, depois restritos pelas cercas e pela substituição das matas pelo pasto. No século XX, no mesmo local, esses povos reivindicaram a identidade indígena kapinawá e o direito às terras que lhes foram doadas no século XIX. O meu argumento é que tais áreas se mantiveram, ao longo de todos esses séculos, sob um certo domínio das famílias indígenas, senão totalmente sob seu controle e, embora muitas vezes tenham sido invadidas por fazendeiros, conservaram-se nas memórias como áreas pertencentes ao seu território. Saio de uma leitura regional para um foco micro. Procuro demonstrar a continuidade da resistência nas formas de ocupação do território pelas famílias kapinawá, que possibilitaram ao atual território indígena ser uma região de relevância na preservação do bioma caatinga. Esse é um elemento importante do conflito no século XXI, principalmente a partir da criação do Parque Nacional do Catimbau em parte do território kapinawá que ainda não foi regularizado. No estudo sobre a presença indígena, parti do que foi dito sobre eles nos documentos oficiais para chegar ao que eles dizem sobre si mesmos, ou seja, o momento de ser denominado e o de se autodenominar. A categoria guerra de conquista foi utilizada para demonstrar a ação dos agentes coloniais sobre os povos indígenas. As reações indígenas contra essas empreitadas nomeei de pelejas indígenas. Uma categoria construída a partir das noções de resistência, repertório de confronto e tradição de conhecimento. Ela busca evidenciar as formas de resistência ao processo colonial nas suas tentativas de dominação dos corpos e territórios dos povos indígenas. Essa foi a base para a análise de longa duração, considerando eventos e processos históricos.