Leonardo Leite - Academia.edu (original) (raw)
Papers by Leonardo Leite
Nosso objetivo neste suscinto trabalho é identificar como se deu o debate sobre a memória de Belo... more Nosso objetivo neste suscinto trabalho é identificar como se deu o debate sobre a memória de Belo Monte, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, a partir da publicação do romance A guerra do fim do mundo, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, e sua recepção no contexto baiano e nacional. Intentamos entender as causas e os fundamentos do debate que se travou entre o romancista peruano, com alguns estudiosos marxistas da década de 1970 e 1980, sobretudo, o jornalista e cientista social Edmundo Muniz, bem como, sua relevância para uma compreensão mais inteligível de como se configura a disputa de interpretações e memória de um fato histórico. Utilizaremos como fontes, obras literárias e historiográficas, jornais, entrevistas e artigos de revistas.
Ao longo destes mais de cem anos que se passaram desde o término da maior guerra civil da históri... more Ao longo destes mais de cem anos que se passaram desde o término da maior guerra civil da história do Brasil Republicano (1896-97), é interessante perceber como as interpretações de Antônio Conselheiro e Belo Monte, variaram logicamente, dependendo das intenções políticas e ideológicas de quem se propôs a rememorar esse acontecimento tão significativo da história do nosso país. No ano de 2009, completou-se o centenário da trágica morte de Euclides da Cunha, que foi um dos principais intérpretes da Guerra de Canudos, e que por muito tempo, devido à escrita de sua obra-prima Os sertões: campanha de Canudos (1902) foi considerado como escritor do livro definitivo sobre o assunto. Segundo o historiador José Calasans (1915-2001)-grande estudioso da Guerra de Canudos-a visão euclidiana prendeu a história de Belo Monte numa "gaiola de ouro". Contudo um fato inegável para muitos estudiosos deste fato, é que se não fosse Os sertões, talvez a história de Canudos seria apagada da memória coletiva nacional 2. No final da década de 1970, o escritor peruano Mario Vargas Llosa a partir de um roteiro de filme que não da certo, decide escrever um romance ficcional sobre a Guerra de Canudos. Desde modo, em 1981 é lançado A guerra do fim do mundo, um livro que se pretendia além de recontar uma história que já havia sido contada de várias maneiras e de variados pontos de vista, tentar reescrever um dos maiores clássicos da literatura nacional: 1 Graduando do 7º semestre do curso História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 2 Ver ZILLY, Berthold. A guerra como painel e espetáculo: a história encenada em Os sertões. Revista de História de Ciências Sociais.
Para tal intento, investigaremos como foram produzidas as primeiras representações sobre o Consel... more Para tal intento, investigaremos como foram produzidas as primeiras representações sobre o Conselheiro em várias modalidades de discursoscientífico, memorialístico, historiográfico e literário, através de fontes como jornais, romances, relatos históricos e memorialísticos, relatórios do governo, discursos de políticos, atas da Câmara dos Deputados, no contexto que vai de 1874 (surgimento da primeira notícia sobre o Conselheiro na imprensa) até 1902 (lançamento de Os Sertões), e setenta anos depois, na época da elaboração de La guerra del fin del mudo em meados da década de 1970. Buscaremos, ainda, identificar as intenções político-ideológicas e o lugar social de cada uma destas construções, bem como explicar os fundamentos e motivações da reelaboração da guerra de Canudos (1896-1897) empreendida por Vargas Llosa, problematizando alguns conceitos, como representações, literatura, ficção e história.
Em 1981, o jornal Herald tribune, um dos mais influentes jornais da Europa, escreve uma nota sobr... more Em 1981, o jornal Herald tribune, um dos mais influentes jornais da Europa, escreve uma nota sobre o mais recente trabalho do escritor peruano Mario Vargas Llosa: "é ao mesmo tempo, um grande trabalho literário, uma história de aventura e um drama histórico". 1 Referia-se com isso ao romance La guerra del fim del mundo 2 (1981), que começou a ser pensado por Vargas Llosa, em meados da década 1970. A partir disso, Vargas Llosa "enfeitiçado" pela temática da Guerra de Canudos (1896-1897) e pela leitura de Os Sertões (1902), decide escrever um livro sobre um dos acontecimentos mais impressionantes da história brasileira. Contudo, para Vargas Llosa, escrever sobre um tema tão caro à história brasileira, configurou-se em uma tarefa árdua e bastante complicada. Na construção de La guerra del fim del mundo, considerada pelo próprio autor na época de publicação,
Nosso objetivo neste suscinto trabalho é identificar como se deu o debate sobre a memória de Belo... more Nosso objetivo neste suscinto trabalho é identificar como se deu o debate sobre a memória de Belo Monte, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, a partir da publicação do romance A guerra do fim do mundo, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, e sua recepção no contexto baiano e nacional. Intentamos entender as causas e os fundamentos do debate que se travou entre o romancista peruano, com alguns estudiosos marxistas da década de 1970 e 1980, sobretudo, o jornalista e cientista social Edmundo Muniz, bem como, sua relevância para uma compreensão mais inteligível de como se configura a disputa de interpretações e memória de um fato histórico. Utilizaremos como fontes, obras literárias e historiográficas, jornais, entrevistas e artigos de revistas.
Ao longo destes mais de cem anos que se passaram desde o término da maior guerra civil da históri... more Ao longo destes mais de cem anos que se passaram desde o término da maior guerra civil da história do Brasil Republicano (1896-97), é interessante perceber como as interpretações de Antônio Conselheiro e Belo Monte, variaram logicamente, dependendo das intenções políticas e ideológicas de quem se propôs a rememorar esse acontecimento tão significativo da história do nosso país. No ano de 2009, completou-se o centenário da trágica morte de Euclides da Cunha, que foi um dos principais intérpretes da Guerra de Canudos, e que por muito tempo, devido à escrita de sua obra-prima Os sertões: campanha de Canudos (1902) foi considerado como escritor do livro definitivo sobre o assunto. Segundo o historiador José Calasans (1915-2001)-grande estudioso da Guerra de Canudos-a visão euclidiana prendeu a história de Belo Monte numa "gaiola de ouro". Contudo um fato inegável para muitos estudiosos deste fato, é que se não fosse Os sertões, talvez a história de Canudos seria apagada da memória coletiva nacional 2. No final da década de 1970, o escritor peruano Mario Vargas Llosa a partir de um roteiro de filme que não da certo, decide escrever um romance ficcional sobre a Guerra de Canudos. Desde modo, em 1981 é lançado A guerra do fim do mundo, um livro que se pretendia além de recontar uma história que já havia sido contada de várias maneiras e de variados pontos de vista, tentar reescrever um dos maiores clássicos da literatura nacional: 1 Graduando do 7º semestre do curso História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 2 Ver ZILLY, Berthold. A guerra como painel e espetáculo: a história encenada em Os sertões. Revista de História de Ciências Sociais.
Para tal intento, investigaremos como foram produzidas as primeiras representações sobre o Consel... more Para tal intento, investigaremos como foram produzidas as primeiras representações sobre o Conselheiro em várias modalidades de discursoscientífico, memorialístico, historiográfico e literário, através de fontes como jornais, romances, relatos históricos e memorialísticos, relatórios do governo, discursos de políticos, atas da Câmara dos Deputados, no contexto que vai de 1874 (surgimento da primeira notícia sobre o Conselheiro na imprensa) até 1902 (lançamento de Os Sertões), e setenta anos depois, na época da elaboração de La guerra del fin del mudo em meados da década de 1970. Buscaremos, ainda, identificar as intenções político-ideológicas e o lugar social de cada uma destas construções, bem como explicar os fundamentos e motivações da reelaboração da guerra de Canudos (1896-1897) empreendida por Vargas Llosa, problematizando alguns conceitos, como representações, literatura, ficção e história.
Em 1981, o jornal Herald tribune, um dos mais influentes jornais da Europa, escreve uma nota sobr... more Em 1981, o jornal Herald tribune, um dos mais influentes jornais da Europa, escreve uma nota sobre o mais recente trabalho do escritor peruano Mario Vargas Llosa: "é ao mesmo tempo, um grande trabalho literário, uma história de aventura e um drama histórico". 1 Referia-se com isso ao romance La guerra del fim del mundo 2 (1981), que começou a ser pensado por Vargas Llosa, em meados da década 1970. A partir disso, Vargas Llosa "enfeitiçado" pela temática da Guerra de Canudos (1896-1897) e pela leitura de Os Sertões (1902), decide escrever um livro sobre um dos acontecimentos mais impressionantes da história brasileira. Contudo, para Vargas Llosa, escrever sobre um tema tão caro à história brasileira, configurou-se em uma tarefa árdua e bastante complicada. Na construção de La guerra del fim del mundo, considerada pelo próprio autor na época de publicação,