Leonardo Luvison - Academia.edu (original) (raw)
Papers by Leonardo Luvison
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2021
A evolução biológica é frequentemente considerada um eixo central e unificador da biologia. O art... more A evolução biológica é frequentemente
considerada um eixo central e
unificador da biologia. O artigo discute
aspectos históricos desse ideal de
unificação, bem como os seus sinais de
desintegração entre os anos 1960 e 1980.
Argumentamos que apesar das novas
propostas de síntese do conhecimento
biológico, a biologia evolutiva
contemporânea é caracterizada por um
pluralismo. Os principais pontos a favor
do pluralismo evolutivo são discutidos, e
algumas consequências dessa perspectiva
são apresentadas, particularmente em
relação ao ideal de unificação da biologia.
Por fim, defendemos um pluralismo
evolutivo crítico do ideal de unificação
como um objetivo da ciência, mas ainda
favorável a integrações locais.
PERI, 2020
Em suas propostas ambiciosas de revisão e unificação da teoria evolutiva, os biólogos não apresen... more Em suas propostas ambiciosas de revisão e unificação da teoria evolutiva, os biólogos não apresentam apenas alegações científicas, mas mobilizam também categorias históricas e filosóficas. As principais propostas de síntese do conhecimento evolutivo-conhecidas como Síntese Evolutiva e Síntese Evolutiva Estendida-expressam visões metacientíficas, com um papel fundamental da História e Filosofia da Biologia. O presente estudo tem como objetivo analisar a dimensão metacientífica destas propostas de síntese a partir dos argumentos apresentados por alguns dos seus proponentes. A principal questão abordada em relação à Síntese Evolutiva é a chamada retórica de unificação, baseada em uma historiografia produzida por evolucionistas como Julian Huxley e Ernst Mayr. Nessa narrativa, os oponentes da Síntese Evolutiva se comportam irracionalmente e mantêm visões com falhas óbvias. Em relação à Síntese Evolutiva Estendida, pretende-se analisar uma tensão na argumentação dos seus proponentes: recorrentemente é apresentada uma narrativa histórica continuísta e linear que conflita diretamente com as aspirações científicas e filosóficas apresentada pelos autores, os quais estabelecem mudanças substanciais na estrutura teórica da biologia evolutiva contemporânea.
Investigações em Ensino de Ciências, 2020
Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Quatro décad... more Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Quatro décadas de pesquisa revelaram uma prevalência surpreendentemente alta de concepções equivocadas sobre evolução em estudantes de diferentes níveis de ensino. Considerando a relevância deste tema, este trabalho pretende comparar a presença de concepções equivocadas sobre evolução entre estudantes brasileiros de ciências biológicas no início da graduação, avançados no curso e na pós-graduação. Um questionário de pesquisa com afirmações que expressam concepções equivocadas sobre evolução foi desenvolvido e validado, sendo aplicado em duas edições de um curso de extensão frequentado por alunos da área biológica de diferentes Universidades públicas e privadas. Obteve-se 46 respostas de graduandos em ciências biológicas no início do curso, 42 respostas de estudantes avançados na graduação e 34 respostas de pós-graduandos, totalizando 122 questionários preenchidos. A análise comparativa indicou uma redução média nas concepções equivocadas de acordo com o avanço na formação acadêmica dos estudantes. Diferenças significativas entre os graduandos de ciências biológicas e pós-graduandos foram encontradas em alguns itens, com os estudantes de pós-graduação apresentando uma frequência menor de concepções equivocadas sobre seleção natural e adaptação. No entanto, mesmo nestas questões, ainda há uma alta porcentagem de concordância em todos os grupos. Em conjunto, os dados analisados indicam a necessidade de uma atenção especial às concepções equivocadas relacionadas com seleção natural, adaptação e leitura de filogenias na formação de professores, biólogos e mesmo de pós-graduandos da área biológica.
Filosofia e História da Biologia, 2019
A importância central da teoria evolutiva para o estudo dos seres vivos é reconhecida, atualmente... more A importância central da teoria evolutiva para o estudo dos seres vivos é reconhecida, atualmente, por todos os biólogos. Também há consenso entre os educadores de ciências sobre a centralidade da evolução no ensino de biologia. No entanto, é muito comum que professores de biologia ensinem evolução como um conteúdo isolado do currículo. A literatura sobre ensino de ciências já levantou algumas razões que explicam essa discrepância, como um vício herdado pelo professor nos seus próprios cursos de formação, seja por não romperem com o ensino isolado da teoria evolutiva, seja por não sanarem dificuldades pessoais na compreensão de conceitos básicos de evo-lução. A estrutura dos livros didáticos que trata da teoria evolutiva apenas em um capítulo ou seção particular, assim como a oposição de grupos religiosos ativamente anti-evolucionistas, são outras razões já apontadas. Além destas, também são debatidas questões históricas e filosóficas relativas aos desafios para estabelecer a centralidade da evolução no ensino de biologia. Defendo neste trabalho que a chamada síntese evolutiva tem baseado o ensino de bio-logia nos níveis básico e superior, perpetuando uma série de desafios para a centralidade da evolução no contexto pedagógico. O artigo aborda especifica-mente de que forma a proeminência da genética, o foco na seleção natural como explicação padrão da evolução e a distinção entre causas próximas e últimas, característicos da síntese evolutiva, são elementos que dificultam constituir a evolução como tema central e unificador no ensino de biologia. Palavras-chave: evolução biológica; ensino de evolução; filosofia da biologia; história da biologia; unificação da biologia.
A chamada Síntese Evolutiva (SE), formulada entre os anos 1920 e 1940, constitui o quadro interpr... more A chamada Síntese Evolutiva (SE), formulada entre os anos 1920 e 1940, constitui o quadro interpretativo dominante na biologia evolutiva atual. A proposta mais bem articulada, teórica e institucionalmente, de uma mudança nesse quadro, denomina-se Síntese Evolutiva Estendida (SEE). Nosso principal objetivo será apresentar e desenvolver as seguintes objeções à SEE: (I) apesar de se declarar como uma "extensão" da SE, a SEE reinterpreta processos evolutivos, reformula sua rede conceitual e modifica pressupostos centrais da SE. Portanto, a diferença entre SEE e SE não deveria ser descrita como uma relação conjunto-subconjunto (isto é, como uma "extensão"); (II) apesar de se declarar como uma "síntese", a SEE leva, pelo menos em curto prazo, a um pluralismo de abordagens na biologia evolutiva. Portanto, a SEE não deveria ser descrita como uma síntese, mas como um quadro interpretativo amplo e plural que abarca diferentes abordagens. Essas objeções não são direcionadas às mudanças propostas, mas à interpretação dessas mudanças como uma "síntese estendida" do quadro evolutivo anterior. Com base nessas objeções, formularemos três hipóteses para explicar o uso do termo "síntese estendida" entre os seus proponentes. Palavras-chave: Filosofia e história da biologia, teoria da evolução, síntese evolutiva, síntese evolutiva estendida, mudança científica. Abstract: The so-called Evolutionary Synthesis (ES), formulated between 1920 and 1940, constitutes the interpretive framework in evolutionary biology. A renewed theoretical synthesis that proposes a change in this framework is called Extended Evolutionary Synthesis (EES). Our main objective will be to present and develop the following objections to EES: (i) although it has been declared as an "extension" of the ES, the EES reinterprets evolutionary processes, reformulate its conceptual network and modify central assumptions. Therefore, the distinction between ES and EES should not be described as a set-subset relationship (that is, as an "extension"); (ii) although it has been declared as an "synthesis", the EES leads, at least in the short term, to a pluralism of approaches in evolutionary biology. Therefore, EES should not have been described as a synthesis, but as an interpretive and plural framework encompassing different approaches. These objections are not directed to the proposed changes, but to the interpretation of the EES as an "extended synthesis". Based on these objections, we will formulate three hypotheses to explain the use of the term "extended synthesis" among its proponents.
Journal of Biological Education, 2020
The central importance of evolution to all biological sciences is recognised by many authors. Des... more The central importance of evolution to all biological sciences is recognised by many authors. Despite this scientific consensus, the theory of evolution is commonly presented as one discrete topic among many in the biology curriculum. Possible reasons for this scenario include discomfort with the content, ideological opposition and teachers’ difficulties in concepts identified as essential for the understanding of evolution. In evolution education, there is a well-established literature on these aspects, but little has been discussed about the historical and philosophical issues concerning the challenges to the centrality of evolution in biology teaching. In this article, I argue that evolution at both basic and higher education levels is strongly based on the original evolutionary synthesis, with a focus on population genetics, and this is one of the reasons for the failure in establishing the centrality of evolution in biology teaching. Given the diversity and complexity of contemporary evolution theory, a more pluralistic perspective to evolutionary teaching is required. I propose that a causally pluralistic evolutionary worldview, which expands the range of causal factors contributing to evolutionary change, is essential when it comes to establishing the centrality of evolution in biology teaching.
Biological Theory, 2020
The extended evolutionary synthesis (EES) intends to offer a new framework for understanding evol... more The extended evolutionary synthesis (EES) intends to offer a new framework for understanding evolution based mainly on empirical and theoretical findings of current studies, including heredity and evolutionary developmental biology. In this essay, we present and develop the following objections about the terminology associated with the EES literature: (1) despite using the term "extension," EES protagonists claim new evolutionary processes, reformulate conceptual networks, and modify central assumptions of the evolutionary synthesis (ES). Therefore, the difference between ES and EES should not be described in terms of a set-subset relationship (that is, as an extension); (2) despite using the term "synthesis," the EES leads, at least in the short term, to a pluralism of approaches in evolutionary biology. Thus, we argue that the EES should not be described as a synthesis, but as a broad and plural interpretative framework encompassing different approaches. These objections are not directed to the proposed changes, but to the interpretation of these changes as a mere expansion of the previous evolutionary framework, as well as to the interpretation of the EES as a synthesis. Based on these objections, we seek to present some explanations for the use of the term "extended synthesis" among its protagonists.
Resumo: Neste trabalho, pretendemos discutir a interpretação histórica do Eclipse do Darwinismo p... more Resumo: Neste trabalho, pretendemos discutir a interpretação histórica do Eclipse do Darwinismo pelos arquitetos da Síntese Evolutiva, tomando como referência dois importantes evolucionistas: Julian S. Huxley e Ernst Mayr. Os argumentos destes autores tiveram um papel importante no convencimento de que a Síntese Evolutiva foi uma verdadeira unificação da Biologia Evoluti-va, ao mesmo tempo em que serviram para justificar a exclusão de explica-ções e disciplinas biológicas deste quadro teórico. O espírito de uma teoria unificada e madura na Biologia Evolutiva teve como componente essencial essa leitura ativa da história do Eclipse do Darwinismo. O comprometimento desses autores com a Síntese Evolutiva causou certo viés nessa interpretação histórica, sendo perpetuada pela historiografia da biologia. Palavras-chave: historiografia da biologia; síntese evolutiva; eclipse do darwinismo; Huxley, Julian Sorell; Mayr, Ernst When the victors write history: the interpretation of the architects of the Evolutionary Synthesis on the Eclipse of Darwinism Abstract: In this paper we discuss the role of historical arguments in the Evolutionary Synthesis from two important evolutionists: Julian S. Huxley and Ernst Mayr. The arguments of these authors played an important role to convince that Evolutionary Synthesis was a real unification of evolutionary
Resumo A evolução biológica tem uma importância fundamental para a Biologia contemporânea. Devido... more Resumo A evolução biológica tem uma importância fundamental para a Biologia contemporânea. Devido a sua relevância e as dificuldades de ensino, diversos autores tem apontado a necessidade de o conhecimento evolutivo ser abordado desde o Ensino Fundamental. O cenário no Brasil, contudo, é bem diferente: a teoria evolutiva é frequentemente trabalhada apenas no final do Ensino Médio. Considerando essa problemática na educação brasileira, o presente trabalho apresenta uma estratégia didática sobre evolução biológica que pode ser utilizada com estudantes do Ensino Fundamental, em conjunto com um conteúdo tradicionalmente trabalhado na disciplina de Ciências – o corpo humano. A estratégia didática foi avaliada em uma escola da rede federal, na cidade de Porto Alegre. A partir do desenvolvimento da atividade foi possível apresentar e discutir temas relacionados com a teoria evolutiva antes de sua abordagem formal no Ensino Médio, sem negligenciar conteúdos tradicionalmente abordados no Ensino Fundamental. Abstract The theory of evolution holds fundamental importance for modern biology. Due to their relevance and aspects of their teaching, several authors have pointed out the need for evolutionary knowledge to be introduced since elementary school. The scenario in Brazil, however, is quite different: evolutionary theory is often taught only at the end of high school. Considering this problem in Brazilian education, the present work presents a teaching strategy about biological evolution. The strategy can be used concomitantly with a content traditionally worked in the discipline of science in elementary education-the human body. The teaching strategy was evaluated in a high school in the city of Porto Alegre. Throughout the development of the activity it was possible to present and discuss topics related to evolutionary theory before its formal approach in High School, without neglecting the contents traditionally addressed in Elementary School.
Resumo: Analisamos o debate sobre as fronteiras entre natureza/cultura e ciências humanas/ciência... more Resumo: Analisamos o debate sobre as fronteiras entre natureza/cultura e ciências humanas/ciências biológicas, a partir do campo de interlocuções entre neurociências e educação e de críticas realizadas por Richard Lewontin. As produções analisadas enfatizam que natureza e cultura são dimensões que não se opõem, colocando em xeque a própria cisão entre ciências biológicas e humanas. Conquanto defendam uma aproximação entre os dois campos, os exemplos analisados não têm conseguido avançar para além de suas críticas, de forma a desenvolver estudos empíricos que efetivamente articulem os referenciais teórico-metodológicos de ambas as áreas. As fronteiras entre natureza e cultura têm sofrido problematizações, mas ainda constituem condição importante para a produção de conhecimento nas ciências humanas e biológicas. The boundaries between nature and nurture: discussions from internal criticisms of biology and the interlocutions between neurosciences and education
Tese by Leonardo Luvison
Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Tornar a evo... more Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Tornar a evolução biológica um eixo central no ensino de biologia, tanto na educação básica quanto superior, é defendido por muitos pesquisadores da área. Esta pesquisa de doutorado compreende que uma abordagem integrada de evolução deve ser acompanhada de uma perspectiva pluralista do conhecimento evolutivo, uma vez que sem o pluralismo a biologia não consegue dar conta das explicações evolutivas complexas. Neste sentido, esta investigação pretende fazer um duplo movimento: apresentar uma análise histórica e filosófica sobre o pluralismo evolutivo e refletir sobre os desafios e as potencialidades de um ensino pluralista e integrado de evolução no contexto de uma atividade de formação continuada. O chamado Curso de Biologia Evolutiva na UFRGS - projeto de extensão voltado para a formação continuada de professores e biólogos - tem a participação de ministrantes oriundos de diferentes registros disciplinares. A inserção de discussões evolutivas provenientes de distintas disciplinas biológicas e de perspectivas das ciências humanas representa um estudo de caso importante para analisar e refletir sobre uma abordagem pluralista de ensino de evolução. Tal investigação será aprofundada na tese ao longo de três eixos: o primeiro eixo discute a questão do pluralismo no conhecimento evolutivo em suas dimensões históricas, filosóficas e científicas. Tomando o Curso de Biologia Evolutiva na UFRGS como um estudo de caso, o segundo eixo aborda os desafios e as potencialidades de um ensino pluralista de evolução. O terceiro eixo detalha o desenvolvimento, a validação e a análise de um questionário quali-quantitativo de pesquisa respondido pelos alunos que frequentam o referido curso.
Dissertação de Mestrado by Leonardo Luvison
A hereditariedade e a variação biológica são centrais para a evolução biológica. Apesar das difer... more A hereditariedade e a variação biológica são centrais para a evolução biológica. Apesar das diferentes abordagens sobre esse tema, sempre se mostra recorrente no discurso de cientistas, filósofos, historiadores e sociólogos da ciência a problematização do genecentrismo. Desse modo, uma questão relevante é entender o lugar do genecentrismo no pensamento evolutivo - é preciso perguntar como e por que esse tema tem sido problematizado de uma determinada maneira. Essa dissertação tem como objetivo principal, portanto, procurar as condições históricas que possibilitaram a organização do genecentrismo no pensamento evolutivo. A principal ideia defendida nesse estudo é de que a constituição do genecentrismo, e seu lugar central na teoria evolutiva, foram possibilitados pela emergência da racionalidade genética e pela construção de uma identidade genética intrínseca no início do século XX. A partir de evidências históricas, defendo também que a emergência da racionalidade genética permitiu enunciar muitas proposições novas, formando saberes e produzindo discursos, como a demonstração da seleção natural e uma síntese teórica da evolução biológica. Mas também a partir dela se operou “constrições” no conhecimento evolutivo, como a exclusão da Embriologia e a diminuição da importância de fatores ontogenéticos e ambientais.
Books by Leonardo Luvison
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2021
A evolução biológica é frequentemente considerada um eixo central e unificador da biologia. O art... more A evolução biológica é frequentemente
considerada um eixo central e
unificador da biologia. O artigo discute
aspectos históricos desse ideal de
unificação, bem como os seus sinais de
desintegração entre os anos 1960 e 1980.
Argumentamos que apesar das novas
propostas de síntese do conhecimento
biológico, a biologia evolutiva
contemporânea é caracterizada por um
pluralismo. Os principais pontos a favor
do pluralismo evolutivo são discutidos, e
algumas consequências dessa perspectiva
são apresentadas, particularmente em
relação ao ideal de unificação da biologia.
Por fim, defendemos um pluralismo
evolutivo crítico do ideal de unificação
como um objetivo da ciência, mas ainda
favorável a integrações locais.
PERI, 2020
Em suas propostas ambiciosas de revisão e unificação da teoria evolutiva, os biólogos não apresen... more Em suas propostas ambiciosas de revisão e unificação da teoria evolutiva, os biólogos não apresentam apenas alegações científicas, mas mobilizam também categorias históricas e filosóficas. As principais propostas de síntese do conhecimento evolutivo-conhecidas como Síntese Evolutiva e Síntese Evolutiva Estendida-expressam visões metacientíficas, com um papel fundamental da História e Filosofia da Biologia. O presente estudo tem como objetivo analisar a dimensão metacientífica destas propostas de síntese a partir dos argumentos apresentados por alguns dos seus proponentes. A principal questão abordada em relação à Síntese Evolutiva é a chamada retórica de unificação, baseada em uma historiografia produzida por evolucionistas como Julian Huxley e Ernst Mayr. Nessa narrativa, os oponentes da Síntese Evolutiva se comportam irracionalmente e mantêm visões com falhas óbvias. Em relação à Síntese Evolutiva Estendida, pretende-se analisar uma tensão na argumentação dos seus proponentes: recorrentemente é apresentada uma narrativa histórica continuísta e linear que conflita diretamente com as aspirações científicas e filosóficas apresentada pelos autores, os quais estabelecem mudanças substanciais na estrutura teórica da biologia evolutiva contemporânea.
Investigações em Ensino de Ciências, 2020
Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Quatro décad... more Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Quatro décadas de pesquisa revelaram uma prevalência surpreendentemente alta de concepções equivocadas sobre evolução em estudantes de diferentes níveis de ensino. Considerando a relevância deste tema, este trabalho pretende comparar a presença de concepções equivocadas sobre evolução entre estudantes brasileiros de ciências biológicas no início da graduação, avançados no curso e na pós-graduação. Um questionário de pesquisa com afirmações que expressam concepções equivocadas sobre evolução foi desenvolvido e validado, sendo aplicado em duas edições de um curso de extensão frequentado por alunos da área biológica de diferentes Universidades públicas e privadas. Obteve-se 46 respostas de graduandos em ciências biológicas no início do curso, 42 respostas de estudantes avançados na graduação e 34 respostas de pós-graduandos, totalizando 122 questionários preenchidos. A análise comparativa indicou uma redução média nas concepções equivocadas de acordo com o avanço na formação acadêmica dos estudantes. Diferenças significativas entre os graduandos de ciências biológicas e pós-graduandos foram encontradas em alguns itens, com os estudantes de pós-graduação apresentando uma frequência menor de concepções equivocadas sobre seleção natural e adaptação. No entanto, mesmo nestas questões, ainda há uma alta porcentagem de concordância em todos os grupos. Em conjunto, os dados analisados indicam a necessidade de uma atenção especial às concepções equivocadas relacionadas com seleção natural, adaptação e leitura de filogenias na formação de professores, biólogos e mesmo de pós-graduandos da área biológica.
Filosofia e História da Biologia, 2019
A importância central da teoria evolutiva para o estudo dos seres vivos é reconhecida, atualmente... more A importância central da teoria evolutiva para o estudo dos seres vivos é reconhecida, atualmente, por todos os biólogos. Também há consenso entre os educadores de ciências sobre a centralidade da evolução no ensino de biologia. No entanto, é muito comum que professores de biologia ensinem evolução como um conteúdo isolado do currículo. A literatura sobre ensino de ciências já levantou algumas razões que explicam essa discrepância, como um vício herdado pelo professor nos seus próprios cursos de formação, seja por não romperem com o ensino isolado da teoria evolutiva, seja por não sanarem dificuldades pessoais na compreensão de conceitos básicos de evo-lução. A estrutura dos livros didáticos que trata da teoria evolutiva apenas em um capítulo ou seção particular, assim como a oposição de grupos religiosos ativamente anti-evolucionistas, são outras razões já apontadas. Além destas, também são debatidas questões históricas e filosóficas relativas aos desafios para estabelecer a centralidade da evolução no ensino de biologia. Defendo neste trabalho que a chamada síntese evolutiva tem baseado o ensino de bio-logia nos níveis básico e superior, perpetuando uma série de desafios para a centralidade da evolução no contexto pedagógico. O artigo aborda especifica-mente de que forma a proeminência da genética, o foco na seleção natural como explicação padrão da evolução e a distinção entre causas próximas e últimas, característicos da síntese evolutiva, são elementos que dificultam constituir a evolução como tema central e unificador no ensino de biologia. Palavras-chave: evolução biológica; ensino de evolução; filosofia da biologia; história da biologia; unificação da biologia.
A chamada Síntese Evolutiva (SE), formulada entre os anos 1920 e 1940, constitui o quadro interpr... more A chamada Síntese Evolutiva (SE), formulada entre os anos 1920 e 1940, constitui o quadro interpretativo dominante na biologia evolutiva atual. A proposta mais bem articulada, teórica e institucionalmente, de uma mudança nesse quadro, denomina-se Síntese Evolutiva Estendida (SEE). Nosso principal objetivo será apresentar e desenvolver as seguintes objeções à SEE: (I) apesar de se declarar como uma "extensão" da SE, a SEE reinterpreta processos evolutivos, reformula sua rede conceitual e modifica pressupostos centrais da SE. Portanto, a diferença entre SEE e SE não deveria ser descrita como uma relação conjunto-subconjunto (isto é, como uma "extensão"); (II) apesar de se declarar como uma "síntese", a SEE leva, pelo menos em curto prazo, a um pluralismo de abordagens na biologia evolutiva. Portanto, a SEE não deveria ser descrita como uma síntese, mas como um quadro interpretativo amplo e plural que abarca diferentes abordagens. Essas objeções não são direcionadas às mudanças propostas, mas à interpretação dessas mudanças como uma "síntese estendida" do quadro evolutivo anterior. Com base nessas objeções, formularemos três hipóteses para explicar o uso do termo "síntese estendida" entre os seus proponentes. Palavras-chave: Filosofia e história da biologia, teoria da evolução, síntese evolutiva, síntese evolutiva estendida, mudança científica. Abstract: The so-called Evolutionary Synthesis (ES), formulated between 1920 and 1940, constitutes the interpretive framework in evolutionary biology. A renewed theoretical synthesis that proposes a change in this framework is called Extended Evolutionary Synthesis (EES). Our main objective will be to present and develop the following objections to EES: (i) although it has been declared as an "extension" of the ES, the EES reinterprets evolutionary processes, reformulate its conceptual network and modify central assumptions. Therefore, the distinction between ES and EES should not be described as a set-subset relationship (that is, as an "extension"); (ii) although it has been declared as an "synthesis", the EES leads, at least in the short term, to a pluralism of approaches in evolutionary biology. Therefore, EES should not have been described as a synthesis, but as an interpretive and plural framework encompassing different approaches. These objections are not directed to the proposed changes, but to the interpretation of the EES as an "extended synthesis". Based on these objections, we will formulate three hypotheses to explain the use of the term "extended synthesis" among its proponents.
Journal of Biological Education, 2020
The central importance of evolution to all biological sciences is recognised by many authors. Des... more The central importance of evolution to all biological sciences is recognised by many authors. Despite this scientific consensus, the theory of evolution is commonly presented as one discrete topic among many in the biology curriculum. Possible reasons for this scenario include discomfort with the content, ideological opposition and teachers’ difficulties in concepts identified as essential for the understanding of evolution. In evolution education, there is a well-established literature on these aspects, but little has been discussed about the historical and philosophical issues concerning the challenges to the centrality of evolution in biology teaching. In this article, I argue that evolution at both basic and higher education levels is strongly based on the original evolutionary synthesis, with a focus on population genetics, and this is one of the reasons for the failure in establishing the centrality of evolution in biology teaching. Given the diversity and complexity of contemporary evolution theory, a more pluralistic perspective to evolutionary teaching is required. I propose that a causally pluralistic evolutionary worldview, which expands the range of causal factors contributing to evolutionary change, is essential when it comes to establishing the centrality of evolution in biology teaching.
Biological Theory, 2020
The extended evolutionary synthesis (EES) intends to offer a new framework for understanding evol... more The extended evolutionary synthesis (EES) intends to offer a new framework for understanding evolution based mainly on empirical and theoretical findings of current studies, including heredity and evolutionary developmental biology. In this essay, we present and develop the following objections about the terminology associated with the EES literature: (1) despite using the term "extension," EES protagonists claim new evolutionary processes, reformulate conceptual networks, and modify central assumptions of the evolutionary synthesis (ES). Therefore, the difference between ES and EES should not be described in terms of a set-subset relationship (that is, as an extension); (2) despite using the term "synthesis," the EES leads, at least in the short term, to a pluralism of approaches in evolutionary biology. Thus, we argue that the EES should not be described as a synthesis, but as a broad and plural interpretative framework encompassing different approaches. These objections are not directed to the proposed changes, but to the interpretation of these changes as a mere expansion of the previous evolutionary framework, as well as to the interpretation of the EES as a synthesis. Based on these objections, we seek to present some explanations for the use of the term "extended synthesis" among its protagonists.
Resumo: Neste trabalho, pretendemos discutir a interpretação histórica do Eclipse do Darwinismo p... more Resumo: Neste trabalho, pretendemos discutir a interpretação histórica do Eclipse do Darwinismo pelos arquitetos da Síntese Evolutiva, tomando como referência dois importantes evolucionistas: Julian S. Huxley e Ernst Mayr. Os argumentos destes autores tiveram um papel importante no convencimento de que a Síntese Evolutiva foi uma verdadeira unificação da Biologia Evoluti-va, ao mesmo tempo em que serviram para justificar a exclusão de explica-ções e disciplinas biológicas deste quadro teórico. O espírito de uma teoria unificada e madura na Biologia Evolutiva teve como componente essencial essa leitura ativa da história do Eclipse do Darwinismo. O comprometimento desses autores com a Síntese Evolutiva causou certo viés nessa interpretação histórica, sendo perpetuada pela historiografia da biologia. Palavras-chave: historiografia da biologia; síntese evolutiva; eclipse do darwinismo; Huxley, Julian Sorell; Mayr, Ernst When the victors write history: the interpretation of the architects of the Evolutionary Synthesis on the Eclipse of Darwinism Abstract: In this paper we discuss the role of historical arguments in the Evolutionary Synthesis from two important evolutionists: Julian S. Huxley and Ernst Mayr. The arguments of these authors played an important role to convince that Evolutionary Synthesis was a real unification of evolutionary
Resumo A evolução biológica tem uma importância fundamental para a Biologia contemporânea. Devido... more Resumo A evolução biológica tem uma importância fundamental para a Biologia contemporânea. Devido a sua relevância e as dificuldades de ensino, diversos autores tem apontado a necessidade de o conhecimento evolutivo ser abordado desde o Ensino Fundamental. O cenário no Brasil, contudo, é bem diferente: a teoria evolutiva é frequentemente trabalhada apenas no final do Ensino Médio. Considerando essa problemática na educação brasileira, o presente trabalho apresenta uma estratégia didática sobre evolução biológica que pode ser utilizada com estudantes do Ensino Fundamental, em conjunto com um conteúdo tradicionalmente trabalhado na disciplina de Ciências – o corpo humano. A estratégia didática foi avaliada em uma escola da rede federal, na cidade de Porto Alegre. A partir do desenvolvimento da atividade foi possível apresentar e discutir temas relacionados com a teoria evolutiva antes de sua abordagem formal no Ensino Médio, sem negligenciar conteúdos tradicionalmente abordados no Ensino Fundamental. Abstract The theory of evolution holds fundamental importance for modern biology. Due to their relevance and aspects of their teaching, several authors have pointed out the need for evolutionary knowledge to be introduced since elementary school. The scenario in Brazil, however, is quite different: evolutionary theory is often taught only at the end of high school. Considering this problem in Brazilian education, the present work presents a teaching strategy about biological evolution. The strategy can be used concomitantly with a content traditionally worked in the discipline of science in elementary education-the human body. The teaching strategy was evaluated in a high school in the city of Porto Alegre. Throughout the development of the activity it was possible to present and discuss topics related to evolutionary theory before its formal approach in High School, without neglecting the contents traditionally addressed in Elementary School.
Resumo: Analisamos o debate sobre as fronteiras entre natureza/cultura e ciências humanas/ciência... more Resumo: Analisamos o debate sobre as fronteiras entre natureza/cultura e ciências humanas/ciências biológicas, a partir do campo de interlocuções entre neurociências e educação e de críticas realizadas por Richard Lewontin. As produções analisadas enfatizam que natureza e cultura são dimensões que não se opõem, colocando em xeque a própria cisão entre ciências biológicas e humanas. Conquanto defendam uma aproximação entre os dois campos, os exemplos analisados não têm conseguido avançar para além de suas críticas, de forma a desenvolver estudos empíricos que efetivamente articulem os referenciais teórico-metodológicos de ambas as áreas. As fronteiras entre natureza e cultura têm sofrido problematizações, mas ainda constituem condição importante para a produção de conhecimento nas ciências humanas e biológicas. The boundaries between nature and nurture: discussions from internal criticisms of biology and the interlocutions between neurosciences and education
Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Tornar a evo... more Os desafios ao ensino de evolução são amplamente discutidos na literatura acadêmica. Tornar a evolução biológica um eixo central no ensino de biologia, tanto na educação básica quanto superior, é defendido por muitos pesquisadores da área. Esta pesquisa de doutorado compreende que uma abordagem integrada de evolução deve ser acompanhada de uma perspectiva pluralista do conhecimento evolutivo, uma vez que sem o pluralismo a biologia não consegue dar conta das explicações evolutivas complexas. Neste sentido, esta investigação pretende fazer um duplo movimento: apresentar uma análise histórica e filosófica sobre o pluralismo evolutivo e refletir sobre os desafios e as potencialidades de um ensino pluralista e integrado de evolução no contexto de uma atividade de formação continuada. O chamado Curso de Biologia Evolutiva na UFRGS - projeto de extensão voltado para a formação continuada de professores e biólogos - tem a participação de ministrantes oriundos de diferentes registros disciplinares. A inserção de discussões evolutivas provenientes de distintas disciplinas biológicas e de perspectivas das ciências humanas representa um estudo de caso importante para analisar e refletir sobre uma abordagem pluralista de ensino de evolução. Tal investigação será aprofundada na tese ao longo de três eixos: o primeiro eixo discute a questão do pluralismo no conhecimento evolutivo em suas dimensões históricas, filosóficas e científicas. Tomando o Curso de Biologia Evolutiva na UFRGS como um estudo de caso, o segundo eixo aborda os desafios e as potencialidades de um ensino pluralista de evolução. O terceiro eixo detalha o desenvolvimento, a validação e a análise de um questionário quali-quantitativo de pesquisa respondido pelos alunos que frequentam o referido curso.
A hereditariedade e a variação biológica são centrais para a evolução biológica. Apesar das difer... more A hereditariedade e a variação biológica são centrais para a evolução biológica. Apesar das diferentes abordagens sobre esse tema, sempre se mostra recorrente no discurso de cientistas, filósofos, historiadores e sociólogos da ciência a problematização do genecentrismo. Desse modo, uma questão relevante é entender o lugar do genecentrismo no pensamento evolutivo - é preciso perguntar como e por que esse tema tem sido problematizado de uma determinada maneira. Essa dissertação tem como objetivo principal, portanto, procurar as condições históricas que possibilitaram a organização do genecentrismo no pensamento evolutivo. A principal ideia defendida nesse estudo é de que a constituição do genecentrismo, e seu lugar central na teoria evolutiva, foram possibilitados pela emergência da racionalidade genética e pela construção de uma identidade genética intrínseca no início do século XX. A partir de evidências históricas, defendo também que a emergência da racionalidade genética permitiu enunciar muitas proposições novas, formando saberes e produzindo discursos, como a demonstração da seleção natural e uma síntese teórica da evolução biológica. Mas também a partir dela se operou “constrições” no conhecimento evolutivo, como a exclusão da Embriologia e a diminuição da importância de fatores ontogenéticos e ambientais.
Evolution Education and the Rise of the Creationist Movement in Brazil, 2019
Evolution Education and the Rise of the Creationist Movement in Brazil examines how, in recent ye... more Evolution Education and the Rise of the Creationist Movement in Brazil examines how, in recent years, larger societal forces such as religion, media, and politics have shaped Brazil’s educational landscape and impacted the teaching and learning of evolution within an increasingly polarized discourse. To this end, Alandeom W. Oliveira and Kristin L. Cook have assembled a number of educational scholars and practitioners, many of whom are based in Brazil, to provide up-close and in-depth accounts of classroom-based evolution instruction, teacher preparation programs, current educational policies, and commonly used school curricula. Contributors also present information on Brazilian teachers’ and students’ attitudes toward—and understanding of—evolution, emergent (mis) conceptions of evolution, and international comparisons of evolution acceptance. Across the three sections of this book, readers see a nation navigating the complexity of multiple spheres of thought about evolution and its role in the K–12 and postsecondary curricula. Suggesting the rise of an influential creationist movement in Brazil, this book illuminates the dynamic sociological processes at play in the educational sphere of Latin America in a globalized era that allows for rapid worldwide travel of competing ideologies.