Simone Ponde Vassallo - Academia.edu (original) (raw)
Papers by Simone Ponde Vassallo
ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 2019
Este artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória da di... more Este artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória da diáspora africana na região portuária do Rio de Janeiro, através de uma reflexão sobre as ações e representações em torno do sítio arqueológico Cais do Valongo, antigo cais de desembarque de cativos africanos. Procuramos compreender como, num determinado contexto, alguns grupos de atores chegam a consensos que favorecem a institucionalização da memória da diáspora africana na região. Acreditamos que a patrimonialização do Cais do Valongo ocorre na interseção de dois fenômenos entrelaçados: a) o reconhecimento do multiculturalismo e da diversidade étnico-racial no Brasil; b) os grandes projetos de revitalização urbana assumidos pelas municipalidades. Concentramos a observação em três grupos de atores: lideranças do movimento negro, pesquisadores acadêmicos e representantes do poder público municipal. Procuramos compreender como, juntos, eles produzem a localidade do Cais do Valongo como pri...
Intercoes. Revista de estudos interdisciplinares, 2004
Le présent article cherche à mettre en lumière le processus de construction d'un paradigme de la ... more Le présent article cherche à mettre en lumière le processus de construction d'un paradigme de la pureté du jeu de la capoeira 1 , intitulé Capoeira Angola. Il s'agit ici de dévoiler le vaste réseau de relations qui se tisse entre les pratiquants de cette capoeira considérée la plus pure et les intellectuels et représentants des pouvoirs publics brésiliens, ces articulations mettant en question son « authenticité ». Nous allons effectuer cette réflexion à travers l'étude de la trajectoire de maître Pastinha, qui est considéré comme le gardien de la capoeira traditionnelle dans l'actualité.
Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Jul 13, 2018
Representações da escravidão. Vestígios humanos. Diáspora africana. Patrimônio arqueológico.
Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro), 2017
Resumo Nos últimos anos, diversas iniciativas no Brasil e no mundo apontam para um novo enquadram... more Resumo Nos últimos anos, diversas iniciativas no Brasil e no mundo apontam para um novo enquadramento da escravidão que procura trazer à tona o ponto de vista dos escravizados. Elas são elaboradas em torno de uma nova moralidade que denuncia o processo de vitimização a que foram submetidos. No entanto, a construção dessas novas narrativas é permeada por conflitos e ambiguidades. Partindo de uma etnografia sobre as ossadas do sítio arqueológico Cemitério dos Pretos Novos, tento trazer à tona a multiplicidade de atores e representações que transcendem e ressignificam o processo de vitimização. Com isso, procuro iluminar a complexidade da construção contemporânea da categoria da vítima, em particular as vítimas da escravização no Brasil.
Intersecoes Revista De Estudos Interdisciplinares, Dec 26, 2012
este artigo pretende explorar a relação entre memória, identidade e cidadania. Farei isso através... more este artigo pretende explorar a relação entre memória, identidade e cidadania. Farei isso através da análise de alguns grupos de capoeira angola contemporâneos, que reivindicam o pertencimento à escola pastiniana. acredito que o engajamento nessa modalidade de capoeira possua uma forte conotação política, que se relaciona ao mesmo tempo com uma reivindicação positiva da identidade negra e com um envolvimento em projetos de inclusão social. Palavras-chave capoeira de angola. identidade negra. Memória. África. cidadania.
Educacao Fisica Em Revista, Apr 17, 2009
A idéia de patrimônio não é necessariamente a mesma para todos, nem para os órgãos voltados para ... more A idéia de patrimônio não é necessariamente a mesma para todos, nem para os órgãos voltados para a sua proteção, e nem para a população em geral. Portanto, não é consensual e nem isenta de conflitos. Por outro lado, o jogo da capoeira também é alvo de inúmeras interpretações, tanto da parte dos próprios capoeiristas, quanto de diversos outros setores da sociedade, como órgãos públicos, a mídia, a universidade. O registro da capoeira como bem imaterial, realizado pelo IPHAN-Instituto Histórico e Artístico Nacional-, em julho de 2008, trouxe à tona esses conflitos, relacionados às diferentes maneiras de se pensar a capoeira e as políticas de patrimônio. A noção de patrimônio parece estar intimamente relacionada à de propriedade, seja ela de um indivíduo ou grupo social, e também à de herança, o que implica na sua transmissão e continuidade ao longo do tempo, bem como na própria perpetuação do grupo detentor dos bens em questão. De acordo com o antropólogo José Reginaldo Gonçalves, o patrimônio pode ser pensado como uma categoria universal, presente em diferentes povos e momentos históricos, ainda que guardadas as suas especificidades locais. Para o autor, "todo e qualquer grupo humano exerce algum tipo de atividade de 'colecionamento' de objetos materiais cujo efeito é demarcar um domínio subjetivo em oposição a um determinado 'outro'. O resultado dessa atividade é precisamente a constituição de um 'patrimônio'" (Gonçalves, 2007: 109). Portanto, a noção de patrimônio pode adquirir diferentes significados, em função dos indivíduos que a veiculam e do contexto em que estes se inserem. Assim, grupos de capoeira e agentes de órgãos públicos como o Ministério da Cultura ou o IPHAN podem defender percepções díspares, e até mesmo contraditórias, da idéia de patrimônio e seus desdobramentos. Refletir sobre o patrimônio contém algumas implicações. Se patrimônio diz respeito a propriedade, isto nos remete imediatamente à seguinte questão: propriedade de quem? Por sua vez, isto pode rapidamente conduzir à idéia que, se pertence a uns, não pertence a outros. Mas como definir esse pertencimento? E quais são os atores que procuram fazê-lo? Na medida em que remete à herança, algo que se herda e se transmite, podemos nos perguntar: herda-se de quem? Transmite-se a quem? Quem está apto ou
CAMPOS - Revista de Antropologia Social, 2006
A partir da década de 1930, a emergência do paradigma culturalista, no Brasil, contribui para a e... more A partir da década de 1930, a emergência do paradigma culturalista, no Brasil, contribui para a elaboração de um novo olhar sobre a cultura popular. Autores como Édison Carneiro, Arthur Ramos, Renato Almeida, Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, entre outros, lançam-se num projeto de busca de nossas expressões culturais mais autênticas, tidas como aquelas que melhor expressariam a singularidade da identidade brasileira. Esta busca de autenticidade está relacionada ao projeto de construção da identidade brasileira, característico da política fortemente nacionalista do governo Vargas. Neste período, bem como nos outros que o sucedem, só a cultura verdadeiramente "autêntica" pode exprimir a "essência" da nacionalidade. Assim, a identidade e a cultura brasileira transformam-se rapidamente em "questões de estado" (Schwarcz 1995). Neste contexto, a mestiçagem, vista como solução unificadora da nação, é apontada como a nossa genuinidade, a nossa singularidade cultural. Cria-se então um mito de origem, ou uma "fábula das três raças" (Da Matta 1993), cristalizada na obra de Gilberto Freyre, segundo a qual três elementos (o negro africano, o português branco e o nativo indígena) teriam se fundido harmoniosamente no Brasil. A partir de uma perspectiva em que as fronteiras entre raça e cultura não são tão claramente delimitadas como se poderia supor (Martínez-Echazábal 1998), o folclore-e mais especificamente as festas e os jogos-passa a ser considerado o lugar por excelência da cordialidade que perpassa as relações entre os diferentes grupos sociais e étnicos, celebrando a condição sincrética da cultura e da raça brasileiras (Vilhena 1997). Paralelamente, os estudos sobre o folclore que marcam o período situado entre os anos 1930 e 1960 são orientados por uma política de resgate das manifestações culturais populares. Acreditam que estas estariam em via de desaparecimento num mundo moderno e civilizado e que caberia, portanto, aos pesquisadores coletar,
Horizontes Antropológicos, 2019
Resumo Esse artigo se propõe a analisar a tentativa de implementação do Museu da Escravidão e da ... more Resumo Esse artigo se propõe a analisar a tentativa de implementação do Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), marcada por sucessivas dificuldades e cujo intuito é trazer a “verdade” sobre a escravidão. Acreditamos que o MEL se encontre no cerne de intensas disputas políticas mais amplas, daí as adversidades que encontra. Por um lado, ele expressa as dificuldades do movimento negro em trazer a público as memórias da escravidão. Por outro, ele revela os embates entre projetos voltados para ações afirmativas, reparação e reconhecimento no novo contexto político conservador que ocorre tanto na administração pública federal quanto na municipal. Para tanto, nos inspiramos na noção de “rituais abortivos”, de Trouillot, para quem as evocações memorialísticas e os pedidos públicos contemporâneos de desculpas por crimes cometidos no passado esvaziam-se do seu potencial político e não possuem um caráter verdadeiramente transformador.
Horizontes Antropológicos, 2015
ResumoEste artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória... more ResumoEste artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória da diáspora africana na região portuária do Rio de Janeiro, através de uma reflexão sobre as ações e representações em torno do sítio arqueológico Cais do Valongo, antigo cais de desembarque de cativos africanos. Procuramos compreender como, num determinado contexto, alguns grupos de atores chegam a consensos que favorecem a institucionalização da memória da diáspora africana na região. Acreditamos que a patrimonialização do Cais do Valongo ocorre na interseção de dois fenômenos entrelaçados: a) o reconhecimento do multiculturalismo e da diversidade étnico-racial no Brasil; b) os grandes projetos de revitalização urbana assumidos pelas municipalidades. Concentramos a observação em três grupos de atores: lideranças do movimento negro, pesquisadores acadêmicos e representantes do poder público municipal. Procuramos compreender como, juntos, eles produzem a localidade do Cais do Valongo co...
ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 2019
Este artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória da di... more Este artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória da diáspora africana na região portuária do Rio de Janeiro, através de uma reflexão sobre as ações e representações em torno do sítio arqueológico Cais do Valongo, antigo cais de desembarque de cativos africanos. Procuramos compreender como, num determinado contexto, alguns grupos de atores chegam a consensos que favorecem a institucionalização da memória da diáspora africana na região. Acreditamos que a patrimonialização do Cais do Valongo ocorre na interseção de dois fenômenos entrelaçados: a) o reconhecimento do multiculturalismo e da diversidade étnico-racial no Brasil; b) os grandes projetos de revitalização urbana assumidos pelas municipalidades. Concentramos a observação em três grupos de atores: lideranças do movimento negro, pesquisadores acadêmicos e representantes do poder público municipal. Procuramos compreender como, juntos, eles produzem a localidade do Cais do Valongo como pri...
Intercoes. Revista de estudos interdisciplinares, 2004
Le présent article cherche à mettre en lumière le processus de construction d'un paradigme de la ... more Le présent article cherche à mettre en lumière le processus de construction d'un paradigme de la pureté du jeu de la capoeira 1 , intitulé Capoeira Angola. Il s'agit ici de dévoiler le vaste réseau de relations qui se tisse entre les pratiquants de cette capoeira considérée la plus pure et les intellectuels et représentants des pouvoirs publics brésiliens, ces articulations mettant en question son « authenticité ». Nous allons effectuer cette réflexion à travers l'étude de la trajectoire de maître Pastinha, qui est considéré comme le gardien de la capoeira traditionnelle dans l'actualité.
Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Jul 13, 2018
Representações da escravidão. Vestígios humanos. Diáspora africana. Patrimônio arqueológico.
Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro), 2017
Resumo Nos últimos anos, diversas iniciativas no Brasil e no mundo apontam para um novo enquadram... more Resumo Nos últimos anos, diversas iniciativas no Brasil e no mundo apontam para um novo enquadramento da escravidão que procura trazer à tona o ponto de vista dos escravizados. Elas são elaboradas em torno de uma nova moralidade que denuncia o processo de vitimização a que foram submetidos. No entanto, a construção dessas novas narrativas é permeada por conflitos e ambiguidades. Partindo de uma etnografia sobre as ossadas do sítio arqueológico Cemitério dos Pretos Novos, tento trazer à tona a multiplicidade de atores e representações que transcendem e ressignificam o processo de vitimização. Com isso, procuro iluminar a complexidade da construção contemporânea da categoria da vítima, em particular as vítimas da escravização no Brasil.
Intersecoes Revista De Estudos Interdisciplinares, Dec 26, 2012
este artigo pretende explorar a relação entre memória, identidade e cidadania. Farei isso através... more este artigo pretende explorar a relação entre memória, identidade e cidadania. Farei isso através da análise de alguns grupos de capoeira angola contemporâneos, que reivindicam o pertencimento à escola pastiniana. acredito que o engajamento nessa modalidade de capoeira possua uma forte conotação política, que se relaciona ao mesmo tempo com uma reivindicação positiva da identidade negra e com um envolvimento em projetos de inclusão social. Palavras-chave capoeira de angola. identidade negra. Memória. África. cidadania.
Educacao Fisica Em Revista, Apr 17, 2009
A idéia de patrimônio não é necessariamente a mesma para todos, nem para os órgãos voltados para ... more A idéia de patrimônio não é necessariamente a mesma para todos, nem para os órgãos voltados para a sua proteção, e nem para a população em geral. Portanto, não é consensual e nem isenta de conflitos. Por outro lado, o jogo da capoeira também é alvo de inúmeras interpretações, tanto da parte dos próprios capoeiristas, quanto de diversos outros setores da sociedade, como órgãos públicos, a mídia, a universidade. O registro da capoeira como bem imaterial, realizado pelo IPHAN-Instituto Histórico e Artístico Nacional-, em julho de 2008, trouxe à tona esses conflitos, relacionados às diferentes maneiras de se pensar a capoeira e as políticas de patrimônio. A noção de patrimônio parece estar intimamente relacionada à de propriedade, seja ela de um indivíduo ou grupo social, e também à de herança, o que implica na sua transmissão e continuidade ao longo do tempo, bem como na própria perpetuação do grupo detentor dos bens em questão. De acordo com o antropólogo José Reginaldo Gonçalves, o patrimônio pode ser pensado como uma categoria universal, presente em diferentes povos e momentos históricos, ainda que guardadas as suas especificidades locais. Para o autor, "todo e qualquer grupo humano exerce algum tipo de atividade de 'colecionamento' de objetos materiais cujo efeito é demarcar um domínio subjetivo em oposição a um determinado 'outro'. O resultado dessa atividade é precisamente a constituição de um 'patrimônio'" (Gonçalves, 2007: 109). Portanto, a noção de patrimônio pode adquirir diferentes significados, em função dos indivíduos que a veiculam e do contexto em que estes se inserem. Assim, grupos de capoeira e agentes de órgãos públicos como o Ministério da Cultura ou o IPHAN podem defender percepções díspares, e até mesmo contraditórias, da idéia de patrimônio e seus desdobramentos. Refletir sobre o patrimônio contém algumas implicações. Se patrimônio diz respeito a propriedade, isto nos remete imediatamente à seguinte questão: propriedade de quem? Por sua vez, isto pode rapidamente conduzir à idéia que, se pertence a uns, não pertence a outros. Mas como definir esse pertencimento? E quais são os atores que procuram fazê-lo? Na medida em que remete à herança, algo que se herda e se transmite, podemos nos perguntar: herda-se de quem? Transmite-se a quem? Quem está apto ou
CAMPOS - Revista de Antropologia Social, 2006
A partir da década de 1930, a emergência do paradigma culturalista, no Brasil, contribui para a e... more A partir da década de 1930, a emergência do paradigma culturalista, no Brasil, contribui para a elaboração de um novo olhar sobre a cultura popular. Autores como Édison Carneiro, Arthur Ramos, Renato Almeida, Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, entre outros, lançam-se num projeto de busca de nossas expressões culturais mais autênticas, tidas como aquelas que melhor expressariam a singularidade da identidade brasileira. Esta busca de autenticidade está relacionada ao projeto de construção da identidade brasileira, característico da política fortemente nacionalista do governo Vargas. Neste período, bem como nos outros que o sucedem, só a cultura verdadeiramente "autêntica" pode exprimir a "essência" da nacionalidade. Assim, a identidade e a cultura brasileira transformam-se rapidamente em "questões de estado" (Schwarcz 1995). Neste contexto, a mestiçagem, vista como solução unificadora da nação, é apontada como a nossa genuinidade, a nossa singularidade cultural. Cria-se então um mito de origem, ou uma "fábula das três raças" (Da Matta 1993), cristalizada na obra de Gilberto Freyre, segundo a qual três elementos (o negro africano, o português branco e o nativo indígena) teriam se fundido harmoniosamente no Brasil. A partir de uma perspectiva em que as fronteiras entre raça e cultura não são tão claramente delimitadas como se poderia supor (Martínez-Echazábal 1998), o folclore-e mais especificamente as festas e os jogos-passa a ser considerado o lugar por excelência da cordialidade que perpassa as relações entre os diferentes grupos sociais e étnicos, celebrando a condição sincrética da cultura e da raça brasileiras (Vilhena 1997). Paralelamente, os estudos sobre o folclore que marcam o período situado entre os anos 1930 e 1960 são orientados por uma política de resgate das manifestações culturais populares. Acreditam que estas estariam em via de desaparecimento num mundo moderno e civilizado e que caberia, portanto, aos pesquisadores coletar,
Horizontes Antropológicos, 2019
Resumo Esse artigo se propõe a analisar a tentativa de implementação do Museu da Escravidão e da ... more Resumo Esse artigo se propõe a analisar a tentativa de implementação do Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), marcada por sucessivas dificuldades e cujo intuito é trazer a “verdade” sobre a escravidão. Acreditamos que o MEL se encontre no cerne de intensas disputas políticas mais amplas, daí as adversidades que encontra. Por um lado, ele expressa as dificuldades do movimento negro em trazer a público as memórias da escravidão. Por outro, ele revela os embates entre projetos voltados para ações afirmativas, reparação e reconhecimento no novo contexto político conservador que ocorre tanto na administração pública federal quanto na municipal. Para tanto, nos inspiramos na noção de “rituais abortivos”, de Trouillot, para quem as evocações memorialísticas e os pedidos públicos contemporâneos de desculpas por crimes cometidos no passado esvaziam-se do seu potencial político e não possuem um caráter verdadeiramente transformador.
Horizontes Antropológicos, 2015
ResumoEste artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória... more ResumoEste artigo tem por objeto o processo de institucionalização e patrimonialização da memória da diáspora africana na região portuária do Rio de Janeiro, através de uma reflexão sobre as ações e representações em torno do sítio arqueológico Cais do Valongo, antigo cais de desembarque de cativos africanos. Procuramos compreender como, num determinado contexto, alguns grupos de atores chegam a consensos que favorecem a institucionalização da memória da diáspora africana na região. Acreditamos que a patrimonialização do Cais do Valongo ocorre na interseção de dois fenômenos entrelaçados: a) o reconhecimento do multiculturalismo e da diversidade étnico-racial no Brasil; b) os grandes projetos de revitalização urbana assumidos pelas municipalidades. Concentramos a observação em três grupos de atores: lideranças do movimento negro, pesquisadores acadêmicos e representantes do poder público municipal. Procuramos compreender como, juntos, eles produzem a localidade do Cais do Valongo co...