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Papers by Thiago Campos

Research paper thumbnail of De volta ao complexo cafeeiro... dimensões da demografia da escravidão no centro do Império

No texto que segue, buscaremos problematizar a análise das grandes propriedades escravistas integ... more No texto que segue, buscaremos problematizar a análise das grandes propriedades escravistas integradas à economia oitocentista, especialmente àquelas do complexo cafeeiro, estruturado ao longo do Vale do Paraíba entre o sul do Rio de Janeiro e o norte de São Paulo. Para tanto, inicialmente, evidenciaremos uma breve síntese do consenso produzido na historiografia sobre o perfil demográfico da escravidão no Brasil, sobretudo, nas províncias que acolheram a grande lavoura. Em seguida, resguardado o consenso, passaremos a sugerir o retorno à análise dos espaços tidos como zonas de agro exportação, na penumbra nas últimas décadas, posto à sombra justamente no combate a ideia de que o Brasil, fosse no período colonial ou imperial, sintetizava-se na face da plantation. Efetivamente, voltaremos à grande lavoura cafeeira problematizando a força da escravidão naquele espaço no oitocentos, destacando a concentração da propriedade escrava lastreada em poucos complexos de fazendas familiares constituídos pelos potentados do café a partir dos anos de 1820. Vale dizer, nesse sentido, que a constituição desses espaços, integrados à reestruturação da economia mundial capitalista, reatualizou a escravidão nas zonas economicamente mais dinâmicas do Império do Brasil, transformando seu perfil, reabrindo o tráfico de africanos em escala nacional e alargando a sobrevida da própria escravidão nacional.

Research paper thumbnail of A " DELAÇÃO ALCOFORADO " E O COMÉRCIO ILEGAL DE AFRICANOS NO VALE DO CAFÉ: NOTAS DE PESQUISA

Em outubro de 1853, Joaquim de Paula Guedes Alcoforado entregara, à pedido das forças de repressã... more Em outubro de 1853, Joaquim de Paula Guedes Alcoforado entregara, à pedido das forças de repressão, instigante relatório sobre as atividades do comércio de africanos na ilegalidade no período aberto com a lei de 7 de novembro de 1831. Traficante redimido, Alcoforado conhecia os meandros do tráfico, sobretudo, as redes e as estruturas de desembarques montadas no litoral que seguia dos Campos dos Goitacazes à serra do mar, entre os limites das províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ano a ano, entre 1831 e 1853, foram descritos os desembarques mais notórios, os sujeitos envolvidos no ilícito trato, e os novos pontos de desembarques, montados meticulosamente nas praias antes desertas dos municípios litorâneos do Império.
Apesar de muito conhecido, o relato comprometedor de Alcoforado passou quase incólume nos últimos anos. Disponível no The National Arquives, antigo Public Record Office, na capital do Reino Unido; transcrito pelo Arquivo Nacional brasileiro; citado em publicações clássicas na década de 1960, como no livro de José Honório Rodrigues, “Brasil e África: outros horizontes” de 1964; e mesmo publicado, ainda que não integralmente, em revista acadêmica de prestígio em meados dos anos 1990, os casos, os nomes e os lugares evidenciados por Alcoforado não se transformaram em objeto de pesquisa, salvo no trabalho ainda inédito de Roquinaldo Ferreira de 1996. Da tessitura do relatório, em outubro de 1853, até os nossos dias, a delação de Alcoforado cumpriu seu papel junto às autoridades de repressão, mas seguiu na penumbra para os historiadores do século XXI.
Sendo assim, transformaremos alguns dos informes fornecidos por Alcoforado em pontos de partida de uma pesquisa em desenvolvimento sobre os agentes e os espaços do tráfico ilegal de africanos no litoral sul da antiga província do Rio de Janeiro. No rastro dos indícios fornecidos pelo relatório de 1853, procuraremos identificar alguns dos sujeitos citados e mapear os espaços de recepção e desembarque no litoral que margeava o complexo cafeeiro fluminense. Por se tratar de pesquisa em andamento, apresentaremos os resultados preliminares em relação a alguns sujeitos e lugares do tráfico nas praias e ilhas compreendidas entre a baia de Sepetiba e o mar de Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro.

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Os casos de corrupção que nos dias de hoje ocupam grande parte dos noticiários, politizando o cot... more Os casos de corrupção que nos dias de hoje ocupam grande parte dos noticiários, politizando o cotidiano e potencializando a incerteza do futuro, configuram um dos muitos capítulos de uma cultura política que encontra raízes na formação histórica do Estado brasileiro. Como sabemos, a consolidação do Brasil como nação, em curso no segundo quartel do século XIX, ocorreu entremeada pelo flagrante desrespeito à lei de 7 de novembro de 1831 que determinava em seu artigo 1º que "todos os escravos que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres". 3 De fato, entre 1837 e 1850, da ascensão do "regresso conservador" à nova lei de 4 de setembro de 1850, o comércio atlântico de africanos foi reaberto na clandestinidade. Naquele tempo, imperou como política de Estado um dos maioresse não o maiorcaso de corrupção sistêmica da história brasileira. Nele, Estado e sociedade foram cúmplices no processo de desmoralização dos estatutos legais que determinavam o fim do trato de africanos novos no território brasileiro. O assinte a tratados internacionais e às determinações contidas no dispositivo de 1831 se converteram em práticas sociais legítimas, fazendo com que o Império do Brasil, nos anos cruciais de sua formação e consolidação, fosse transformado em um "Estado negreiro independente", como o definiu Alencastro. 4

Research paper thumbnail of O COMÉRCIO NEGREIRO NA CLANDESTINIDADE: AS FAZENDAS DE RECEPÇÃO DE AFRICANOS DA FAMÍLIA SOUZA BREVES E SEUS CATIVOS

This article analyzes the involvement of one of the Brazilian Empire’s richest families in the il... more This article analyzes the involvement of one of the Brazilian Empire’s richest
families in the illegal trade to Africa. The brothers José and Joaquim de Souza
Breves, men of prominence in 19th Brazilian century politics and society, built
a territorial and human empire that included thousands of slaves in numerous
real estate properties. In an area ranging from the coastal areas of the southern
Fluminense region to the Paraíba valley, they had dozens of plantations in
which enslaved Africans formed a marked presence. This article seeks to
understand how the Breves brothers’ relationship to the illegal slave trade led
to the specific characteristics of their coastal properties, thus raising new
questions about the last years of the Atlantic slave trade to Brazil.

Research paper thumbnail of E depois da “Lei Eusébio”? Reprodução da escravidão e seus limites em um complexo de fazendas do vale do café (Rio de Janeiro, c. 1864-1888)

In this paper, we will discuss the conditions for slavery reproduction in Rio de Janeiro´s planta... more In this paper, we will discuss the conditions for slavery reproduction in Rio de Janeiro´s
plantations after the end of the Atlantic slave trade. In order to do that, we studied the
slavery demography of Commendator Joaquim Breves’ plantations, which were a symbol of
slavery expansion on the coffee valley. Through one of the plantations’ registers, we analyze
the demographical development in this complex of farms. We demonstrate that, after the
1860s, a broad vegetative growth in those plantations began to develop through a movement
that had different meanings to slaves and their owners. Thus, we will analyze the dimensions
of slavery reproduction, and its limits, in the two decades preceding the downfall of slavery
in Rio de Janeiro’s coffee plantations.

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No texto que segue, buscaremos problematizar a análise das grandes propriedades escravistas integ... more No texto que segue, buscaremos problematizar a análise das grandes propriedades escravistas integradas à economia oitocentista, especialmente àquelas do complexo cafeeiro, estruturado ao longo do Vale do Paraíba entre o sul do Rio de Janeiro e o norte de São Paulo. Para tanto, inicialmente, evidenciaremos uma breve síntese do consenso produzido na historiografia sobre o perfil demográfico da escravidão no Brasil, sobretudo, nas províncias que acolheram a grande lavoura. Em seguida, resguardado o consenso, passaremos a sugerir o retorno à análise dos espaços tidos como zonas de agro exportação, na penumbra nas últimas décadas, posto à sombra justamente no combate a ideia de que o Brasil, fosse no período colonial ou imperial, sintetizava-se na face da plantation. Efetivamente, voltaremos à grande lavoura cafeeira problematizando a força da escravidão naquele espaço no oitocentos, destacando a concentração da propriedade escrava lastreada em poucos complexos de fazendas familiares constituídos pelos potentados do café a partir dos anos de 1820. Vale dizer, nesse sentido, que a constituição desses espaços, integrados à reestruturação da economia mundial capitalista, reatualizou a escravidão nas zonas economicamente mais dinâmicas do Império do Brasil, transformando seu perfil, reabrindo o tráfico de africanos em escala nacional e alargando a sobrevida da própria escravidão nacional.

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Em outubro de 1853, Joaquim de Paula Guedes Alcoforado entregara, à pedido das forças de repressã... more Em outubro de 1853, Joaquim de Paula Guedes Alcoforado entregara, à pedido das forças de repressão, instigante relatório sobre as atividades do comércio de africanos na ilegalidade no período aberto com a lei de 7 de novembro de 1831. Traficante redimido, Alcoforado conhecia os meandros do tráfico, sobretudo, as redes e as estruturas de desembarques montadas no litoral que seguia dos Campos dos Goitacazes à serra do mar, entre os limites das províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ano a ano, entre 1831 e 1853, foram descritos os desembarques mais notórios, os sujeitos envolvidos no ilícito trato, e os novos pontos de desembarques, montados meticulosamente nas praias antes desertas dos municípios litorâneos do Império.
Apesar de muito conhecido, o relato comprometedor de Alcoforado passou quase incólume nos últimos anos. Disponível no The National Arquives, antigo Public Record Office, na capital do Reino Unido; transcrito pelo Arquivo Nacional brasileiro; citado em publicações clássicas na década de 1960, como no livro de José Honório Rodrigues, “Brasil e África: outros horizontes” de 1964; e mesmo publicado, ainda que não integralmente, em revista acadêmica de prestígio em meados dos anos 1990, os casos, os nomes e os lugares evidenciados por Alcoforado não se transformaram em objeto de pesquisa, salvo no trabalho ainda inédito de Roquinaldo Ferreira de 1996. Da tessitura do relatório, em outubro de 1853, até os nossos dias, a delação de Alcoforado cumpriu seu papel junto às autoridades de repressão, mas seguiu na penumbra para os historiadores do século XXI.
Sendo assim, transformaremos alguns dos informes fornecidos por Alcoforado em pontos de partida de uma pesquisa em desenvolvimento sobre os agentes e os espaços do tráfico ilegal de africanos no litoral sul da antiga província do Rio de Janeiro. No rastro dos indícios fornecidos pelo relatório de 1853, procuraremos identificar alguns dos sujeitos citados e mapear os espaços de recepção e desembarque no litoral que margeava o complexo cafeeiro fluminense. Por se tratar de pesquisa em andamento, apresentaremos os resultados preliminares em relação a alguns sujeitos e lugares do tráfico nas praias e ilhas compreendidas entre a baia de Sepetiba e o mar de Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro.

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Os casos de corrupção que nos dias de hoje ocupam grande parte dos noticiários, politizando o cot... more Os casos de corrupção que nos dias de hoje ocupam grande parte dos noticiários, politizando o cotidiano e potencializando a incerteza do futuro, configuram um dos muitos capítulos de uma cultura política que encontra raízes na formação histórica do Estado brasileiro. Como sabemos, a consolidação do Brasil como nação, em curso no segundo quartel do século XIX, ocorreu entremeada pelo flagrante desrespeito à lei de 7 de novembro de 1831 que determinava em seu artigo 1º que "todos os escravos que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres". 3 De fato, entre 1837 e 1850, da ascensão do "regresso conservador" à nova lei de 4 de setembro de 1850, o comércio atlântico de africanos foi reaberto na clandestinidade. Naquele tempo, imperou como política de Estado um dos maioresse não o maiorcaso de corrupção sistêmica da história brasileira. Nele, Estado e sociedade foram cúmplices no processo de desmoralização dos estatutos legais que determinavam o fim do trato de africanos novos no território brasileiro. O assinte a tratados internacionais e às determinações contidas no dispositivo de 1831 se converteram em práticas sociais legítimas, fazendo com que o Império do Brasil, nos anos cruciais de sua formação e consolidação, fosse transformado em um "Estado negreiro independente", como o definiu Alencastro. 4

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This article analyzes the involvement of one of the Brazilian Empire’s richest families in the il... more This article analyzes the involvement of one of the Brazilian Empire’s richest
families in the illegal trade to Africa. The brothers José and Joaquim de Souza
Breves, men of prominence in 19th Brazilian century politics and society, built
a territorial and human empire that included thousands of slaves in numerous
real estate properties. In an area ranging from the coastal areas of the southern
Fluminense region to the Paraíba valley, they had dozens of plantations in
which enslaved Africans formed a marked presence. This article seeks to
understand how the Breves brothers’ relationship to the illegal slave trade led
to the specific characteristics of their coastal properties, thus raising new
questions about the last years of the Atlantic slave trade to Brazil.

Research paper thumbnail of E depois da “Lei Eusébio”? Reprodução da escravidão e seus limites em um complexo de fazendas do vale do café (Rio de Janeiro, c. 1864-1888)

In this paper, we will discuss the conditions for slavery reproduction in Rio de Janeiro´s planta... more In this paper, we will discuss the conditions for slavery reproduction in Rio de Janeiro´s
plantations after the end of the Atlantic slave trade. In order to do that, we studied the
slavery demography of Commendator Joaquim Breves’ plantations, which were a symbol of
slavery expansion on the coffee valley. Through one of the plantations’ registers, we analyze
the demographical development in this complex of farms. We demonstrate that, after the
1860s, a broad vegetative growth in those plantations began to develop through a movement
that had different meanings to slaves and their owners. Thus, we will analyze the dimensions
of slavery reproduction, and its limits, in the two decades preceding the downfall of slavery
in Rio de Janeiro’s coffee plantations.

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