Jeronimo Pereira Silva | Istituto Di Liturgia Pastorale Padova (original) (raw)
Papers by Jeronimo Pereira Silva
Passados 50 anos do Concílio já não é mais nenhuma novidade a compreensão da liturgia como lugar ... more Passados 50 anos do Concílio já não é mais nenhuma novidade a compreensão da liturgia como lugar da manifestação da Igreja na sua natureza sacramental, nem tampouco de quanto essa categoria seja estreitamente ligada àquela do mistério, na linguagem dos Padres da Igreja adotada como modelo pelos padres conciliares e por toda a doutrina teológica do último cinquentenário. É, por outro lado, obrigação nossa, por justiça metodológica, sublinhar que quem seriamente se empenhou ou se empenha em aprender o mínimo de teologia é capaz de distinguir ações mistéricas de ações misteriosas. Em poucas palavras, o mistério se revela escondendo-se nos sinais, o misterioso se esconde no espetáculo que deixa o espectador até o fim numa situação inegociável de espectador, isto é, o mistério é aberto, acolhedor, envolvente, participativo, não admite ausência e apatia, inércia, o seu objetivo é revelar-se; o misterioso é excludente, sectário; tudo se faz diante de um público que assiste maravilhado o numinoso inacessível. Partindo dessa premissa não se pode duvidar que a compreensão do mistério litúrgico resida na afirmação persistente da constante presença de Cristo na celebração dos sacramentos; assim o mistério eclesial segue o mesmo modelo, isto é, a Igreja é mistério porque também essa é lugar da constante presença e ação de Deus por Jesus Cristo seu Filho no Espírito Santo 2. É exatamente no número 7 de Sacrosanctum Concilium (SC) onde particularmente se expressa a dimensão mistérica da Igreja. Seria pecar por liturgismo afirmar que a presença de Cristo na Igreja se limite ao âmbito cultual, mas é absolutamente evidente que é na celebração litúrgica que tal presença ativa e operante se atualiza de modo excelente. De fato o artigo 7 começa exatamente sublinhando essa verdade: " Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas " 3 .
A fé cristã se fundamenta na revelação. Ela surge a partir de uma epifania, isto é, nasce da mani... more A fé cristã se fundamenta na revelação. Ela surge a partir de uma epifania, isto é, nasce da manifestação de um que é completamente outro, de um que ordinariamente não poderia ser alcançado, visto, tocado, escutado, mas somente temido, venerado. Aqui se apresenta o grande mistério que transpassa todo o percurso histórico da fé cristã, longamente preparado pelo antigo Israel, realizado plenamente em Jesus Cristo e prolongado na Igreja: Não é a criatura que chega até Deus, mas é Deus que em primeiro lugar alcança o ser humano, caminha na sua direção, a ele se revela, dele assume não somente a carne, mas o próprio ser 1. Convém salientar antes de tudo que o esforço intelectual e moral, embora importante para a vida cristã, não é suficiente para se chegar até Deus. A fé sim, e esta se apresenta como um dom gratuito de Deus. A fé, porém, não é transmitida e recebida por meio da doutrina (intelectualismo) ou pelas aplicações de leis morais (moral) que têm como objetivo levar a humanidade a tornar-se melhor, mas por meio de algo que mais se pareça com a história da salvação, porque é exatamente ali, na história da salvação, que se dá a revelação de Deus encarnado em Jesus Cristo, o qual distribui gratuitamente o dom da fé. Aqui entra a liturgia que se configura como um constante fazer memória desta história de salvação. A celebração litúrgica como transfiguração do mistério A comunidade cristã, se quiser entrar na dinâmica da história da salvação, deve manter um tipo de prática ritual que constantemente a faça recordar que a primazia pertence sempre a Deus; porque exatamente a sua capacidade de acesso Àquele que antes da revelação era inacessível, e agora se tornou tangível, nasce somente graças à fé que é um dom gratuito que vem do alto e foi dado a todos, ignorantes (intelectualmente) e incoerentes (moralmente fracos). A Igreja precisa de celebrar sempre para ter sempre presente essa consciência de que a fé não é uma conquista humana. O evento da Encarnação, da vida, da cruz, da Páscoa, da Ascenção de Cristo, do qual toda celebração litúrgica é um constante fazer memória 2 , é crucial para ajudar o crente a mudar a
A arte litúrgica se configurou ao longo da história basicamente em três tipos: mistagógica/simból... more A arte litúrgica se configurou ao longo da história basicamente em três tipos: mistagógica/simbólica, alegórica e narrativa/descritiva. A arte narrativa/descritiva nasceu como a Bíblia dos iletrados e procurava narrar uma história mais ou menos completa de um dado ou personagem bíblico ou a vida de um santo, ou os milagres de um santo padroeiro etc.. Esse tipo de arte, que encontramos especialmente figurada nos azulejos portugueses nas nossas igrejas dos séculos XVII-XVIII, se identifica muito com o período barroco. Era uma forma de prender os fieis concentrados piedosamente dentro das igrejas enquanto o " único sacerdote " realizava " sozinho " , com o devido rigor das inúmeras rubricas – certamente os escrupulosos o faziam por medo das penas canônicas que se incorriam-o complicadíssimo culto, a baixa voz, em altares distantes do povo, separados por um longo transepto, fechado pela grade denominada " mesa da comunhão " , que limitava o espaço entre o corpo da igreja e o recinto sagrado, que, por causa de uma concepção misógina do sagrado, era inacessível às mulheres. A arte alegórica caracterizou praticamente todos os séculos que antecederam o Barroco, situando-se mais ou menos depois dos séculos VIII e IX até à modernidade. À mutação do método da lectio à questio, provocada pela perda do contato dos pensadores medievais com o método dos Padres da antiguidade, aderiu também a reflexão litúrgica, desenvolvendo, ou às vezes se contrapondo, às variadas correntes e disputas iniciadas no século IX. A coisificação do sacramento coisificou também a liturgia 1. A liturgia perdeu a sua categoria de teologia primeira não lhe sobrando nem mesmo a de locus teologicus (lugar teológico). À perda da compreensão simbólica da liturgia sucedeu o método alegórico que encontrou na escolástica o seu ponto culminante. Ao lado da summa apareceu sempre mais a expositio de modo que a celebração dos sacramentos, já definitivamente separada do saber teológico dos sacramentos, agora ensinado e aprendido nas escolas, ganha sempre mais uma explicação de tipo sistemático 2. Se destacam nessa empresa: Odo de Cambrai († 1113); Bruno de Segni († 1123), autor do De sacramentis ecclesiae, mysteriis atque ecclesiasticis ritibus 3 ; Ruperto de Deutz († 1135), com sua obra dividida em 12 livros De divinis officiis 4 ; o teólogo parisiense João Beleth († 1165), cuja Summa de ecclesiasticis officiis 5 ao lado do Liber Officiis de Amalário e o Rationale de Guilherme Durando era parte integrante da trilogia clássica dos manuais litúrgicos medievais 6. No século XIII, período áureo da Escolástica, se destacam Siccardo († 1215) que na sua obra Mitrale apresentou um longo comentário sobre a missa, constituindo, segundo Righetti, uma verdadeira summa liturgica 7 ; o papa Inocêncio III († 1216), com sua vasta obra litúrgica e de modo 1 «O processo de coisificação dos sacramentos terá início precisamente com a sua interpretação ilemorfica: identificando os elementos essenciais do sacramento com a matéria e a forma, o fato sacramental perderá a característica fundamental de «ação» e de «evento», para o qual o interesse da teologia e da própria catequese se moverá, do mistério e das pessoas envolvidas, às coisas com que o mistério é celebrado»: E. RUFFINI, « Sacramenti », in A obra é formada por 9 livros. «Aqui a liturgia é vista como a vida da Igreja; encontram-se, portanto, declarações teológicas, conselhos ascéticos, referências jurídicas, bem como a descrição dos ritos. Coberto de razão está o cardeal Mai, com sua bela prosa latina, apresentando em 1839 uma primeira antologia de textos do Mitrale poderia falar de " fonte genuína da qual pode-se extrair informações valiosas sobre a origem, a
Breve estudo sobre o Lava pés
Introdução Por causa das suas peculiaridades, praticamente todas as áreas do saber filosófico e t... more Introdução Por causa das suas peculiaridades, praticamente todas as áreas do saber filosófico e teológico, ocuparam-se do estudo do Prólogo do IV Evangelho 1. Nessa brevíssima pesquisa procuraremos, muito suscintamente, apresentar cinco pontos pertinentes ao estudo do Prólogo joanino, a saber: O gênero literário, a estrutura, os temas, os conflitos e a sua relação com o todo do IV Evangelho.
Pequeno estudo sobre os quatro primeiros capítulos da Primeira carta de São Paulo aos Coríntios
A celebração litúrgica do sacramento da penitência como profissão de fé eclesial 1 JERÔNIMO PEREI... more A celebração litúrgica do sacramento da penitência como profissão de fé eclesial 1 JERÔNIMO PEREIRA A publicação do novo Ritual da Penitência (RP) no ano de 1974, depois de sete longos e dificultosos anos, concluiu o complexo processo de renovação do Ritual Romano (RR), no que diz respeito à celebração dos sacramentos 2 .
Nós, os nascidos nas décadas de setenta, oitenta, não seremos nunca capazes de vislumbrar tudo o ... more Nós, os nascidos nas décadas de setenta, oitenta, não seremos nunca capazes de vislumbrar tudo o que foi o Concílio Vaticano II. Por esses dias, lendo os pronunciamentos dos papas João XXIII e Paulo VI, revendo o percurso preparatório, a organização das comissões, os textos dos documentos, me encontrei diante de uma situação que é justo ser considerada um divisor de águas. Em primeiro lugar o Concílio se trata do "evento católico" por excelência; católico no sentido pleno da palavra, melhor dizendo, se trata de uma epifania da universalidade da Igreja, especialmente da Igreja como comunhão em todos os sentidos. Depois podemos considerá-lo como o concílio realmente ecumênico, isto é, aberto a todo o mundo cristão, caracterizado pela presença não insignificante dos nossos irmãos orientais ortodoxos e dos nossos irmãos protestantes na qualidade de "observadores". Por fim o Concílio se encarnou numa realidade concreta e abriu os olhos para um universo não reduzido a um continente, ou uma cultura, uma língua, mas a todos os povos de boa vontade e se dispôs a dialogar com o diferente, a sensibilizar-se com o que "os de fora" poderiam dizer para que a Igreja continuasse sua missão de Mãe e de Mestra. O Concílio é ainda hoje aquela "demonstração da igreja, sempre viva e sempre jovem, que sente o ritmo do tempo" 3 , é aquele evento que surgiu "na igreja como um dia pleno de luz cheia de esplendor". Se pode dizer que "os céus e a terra se uniram na celebração do concílio: os santos do céu para proteger os trabalhos; os fieis da terra, na oração contínua ao Senhor; e os padres conciliares, acolhendo as
Celebrare per entrare nella dinamica della fede pasquale «Che cos'è un rito?», disse il piccolo p... more Celebrare per entrare nella dinamica della fede pasquale «Che cos'è un rito?», disse il piccolo principe. «Anche questa è una cosa da tempo dimenticata», disse la volpe. «È quello che fa un giorno diverso dagli altri giorni, un'ora dalle altre ore. C'è un rito, per esempio, presso i miei cacciatori. Il giovedì ballano con le ragazze del villaggio. Allora il giovedì è un giorno meraviglioso! Io mi spingo sino alla vigna. Se i cacciatori ballassero in un giorno qualsiasi, i giorni si somiglierebbero tutti e non avrei mai vacanza» 1 .
No dia 4 de janeiro de 1963 o teólogo consultor do Concílio Yves Congar registrou no seu diário a... more No dia 4 de janeiro de 1963 o teólogo consultor do Concílio Yves Congar registrou no seu diário a lista dos cardeais responsáveis pelos esquemas dos documentos conciliares. O responsável pelo esquema do De Ecclesia (sobre a Igreja) na sua reformulação era o cardeal belga Léon-Joseph Suenens 3 . Nas reuniões plenárias, durante as avaliações dos esquemas dos documentos conciliares, cardeais e bispos dispunham cada um, depois de prévia inscrição, de 10 minutos para exposição das suas opiniões, com o diferencial que somente os cardeais podiam intervir durante a exposição de um outro cardeal fazendo perguntas ou observações 4 . Expondo o tema da Igreja-mistério (LG I) o cardeal Suenens fez referência à Igreja como "sacramento" de salvação. Um cardeal italiano interveio usando um latim perfeito: -Eminência, desde criança, já no catecismo, aprendi que os sacramentos da Igreja são sete. Agora o senhor nos fala da Igreja como um sacramento. Por acaso se pensa em mudar a tradicional doutrina dos sacramentos e transformá-los em oito? -Eminentíssimo irmão, respondeu perguntando o cardeal Suenens, sempre em perfeito latim: o senhor tem uma catedral?
Passados 50 anos do Concílio já não é mais nenhuma novidade a compreensão da liturgia como lugar ... more Passados 50 anos do Concílio já não é mais nenhuma novidade a compreensão da liturgia como lugar da manifestação da Igreja na sua natureza sacramental, nem tampouco de quanto essa categoria seja estreitamente ligada àquela do mistério, na linguagem dos Padres da Igreja adotada como modelo pelos padres conciliares e por toda a doutrina teológica do último cinquentenário. É, por outro lado, obrigação nossa, por justiça metodológica, sublinhar que quem seriamente se empenhou ou se empenha em aprender o mínimo de teologia é capaz de distinguir ações mistéricas de ações misteriosas. Em poucas palavras, o mistério se revela escondendo-se nos sinais, o misterioso se esconde no espetáculo que deixa o espectador até o fim numa situação inegociável de espectador, isto é, o mistério é aberto, acolhedor, envolvente, participativo, não admite ausência e apatia, inércia, o seu objetivo é revelar-se; o misterioso é excludente, sectário; tudo se faz diante de um público que assiste maravilhado o numinoso inacessível. Partindo dessa premissa não se pode duvidar que a compreensão do mistério litúrgico resida na afirmação persistente da constante presença de Cristo na celebração dos sacramentos; assim o mistério eclesial segue o mesmo modelo, isto é, a Igreja é mistério porque também essa é lugar da constante presença e ação de Deus por Jesus Cristo seu Filho no Espírito Santo 2. É exatamente no número 7 de Sacrosanctum Concilium (SC) onde particularmente se expressa a dimensão mistérica da Igreja. Seria pecar por liturgismo afirmar que a presença de Cristo na Igreja se limite ao âmbito cultual, mas é absolutamente evidente que é na celebração litúrgica que tal presença ativa e operante se atualiza de modo excelente. De fato o artigo 7 começa exatamente sublinhando essa verdade: " Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas " 3 .
A fé cristã se fundamenta na revelação. Ela surge a partir de uma epifania, isto é, nasce da mani... more A fé cristã se fundamenta na revelação. Ela surge a partir de uma epifania, isto é, nasce da manifestação de um que é completamente outro, de um que ordinariamente não poderia ser alcançado, visto, tocado, escutado, mas somente temido, venerado. Aqui se apresenta o grande mistério que transpassa todo o percurso histórico da fé cristã, longamente preparado pelo antigo Israel, realizado plenamente em Jesus Cristo e prolongado na Igreja: Não é a criatura que chega até Deus, mas é Deus que em primeiro lugar alcança o ser humano, caminha na sua direção, a ele se revela, dele assume não somente a carne, mas o próprio ser 1. Convém salientar antes de tudo que o esforço intelectual e moral, embora importante para a vida cristã, não é suficiente para se chegar até Deus. A fé sim, e esta se apresenta como um dom gratuito de Deus. A fé, porém, não é transmitida e recebida por meio da doutrina (intelectualismo) ou pelas aplicações de leis morais (moral) que têm como objetivo levar a humanidade a tornar-se melhor, mas por meio de algo que mais se pareça com a história da salvação, porque é exatamente ali, na história da salvação, que se dá a revelação de Deus encarnado em Jesus Cristo, o qual distribui gratuitamente o dom da fé. Aqui entra a liturgia que se configura como um constante fazer memória desta história de salvação. A celebração litúrgica como transfiguração do mistério A comunidade cristã, se quiser entrar na dinâmica da história da salvação, deve manter um tipo de prática ritual que constantemente a faça recordar que a primazia pertence sempre a Deus; porque exatamente a sua capacidade de acesso Àquele que antes da revelação era inacessível, e agora se tornou tangível, nasce somente graças à fé que é um dom gratuito que vem do alto e foi dado a todos, ignorantes (intelectualmente) e incoerentes (moralmente fracos). A Igreja precisa de celebrar sempre para ter sempre presente essa consciência de que a fé não é uma conquista humana. O evento da Encarnação, da vida, da cruz, da Páscoa, da Ascenção de Cristo, do qual toda celebração litúrgica é um constante fazer memória 2 , é crucial para ajudar o crente a mudar a
A arte litúrgica se configurou ao longo da história basicamente em três tipos: mistagógica/simból... more A arte litúrgica se configurou ao longo da história basicamente em três tipos: mistagógica/simbólica, alegórica e narrativa/descritiva. A arte narrativa/descritiva nasceu como a Bíblia dos iletrados e procurava narrar uma história mais ou menos completa de um dado ou personagem bíblico ou a vida de um santo, ou os milagres de um santo padroeiro etc.. Esse tipo de arte, que encontramos especialmente figurada nos azulejos portugueses nas nossas igrejas dos séculos XVII-XVIII, se identifica muito com o período barroco. Era uma forma de prender os fieis concentrados piedosamente dentro das igrejas enquanto o " único sacerdote " realizava " sozinho " , com o devido rigor das inúmeras rubricas – certamente os escrupulosos o faziam por medo das penas canônicas que se incorriam-o complicadíssimo culto, a baixa voz, em altares distantes do povo, separados por um longo transepto, fechado pela grade denominada " mesa da comunhão " , que limitava o espaço entre o corpo da igreja e o recinto sagrado, que, por causa de uma concepção misógina do sagrado, era inacessível às mulheres. A arte alegórica caracterizou praticamente todos os séculos que antecederam o Barroco, situando-se mais ou menos depois dos séculos VIII e IX até à modernidade. À mutação do método da lectio à questio, provocada pela perda do contato dos pensadores medievais com o método dos Padres da antiguidade, aderiu também a reflexão litúrgica, desenvolvendo, ou às vezes se contrapondo, às variadas correntes e disputas iniciadas no século IX. A coisificação do sacramento coisificou também a liturgia 1. A liturgia perdeu a sua categoria de teologia primeira não lhe sobrando nem mesmo a de locus teologicus (lugar teológico). À perda da compreensão simbólica da liturgia sucedeu o método alegórico que encontrou na escolástica o seu ponto culminante. Ao lado da summa apareceu sempre mais a expositio de modo que a celebração dos sacramentos, já definitivamente separada do saber teológico dos sacramentos, agora ensinado e aprendido nas escolas, ganha sempre mais uma explicação de tipo sistemático 2. Se destacam nessa empresa: Odo de Cambrai († 1113); Bruno de Segni († 1123), autor do De sacramentis ecclesiae, mysteriis atque ecclesiasticis ritibus 3 ; Ruperto de Deutz († 1135), com sua obra dividida em 12 livros De divinis officiis 4 ; o teólogo parisiense João Beleth († 1165), cuja Summa de ecclesiasticis officiis 5 ao lado do Liber Officiis de Amalário e o Rationale de Guilherme Durando era parte integrante da trilogia clássica dos manuais litúrgicos medievais 6. No século XIII, período áureo da Escolástica, se destacam Siccardo († 1215) que na sua obra Mitrale apresentou um longo comentário sobre a missa, constituindo, segundo Righetti, uma verdadeira summa liturgica 7 ; o papa Inocêncio III († 1216), com sua vasta obra litúrgica e de modo 1 «O processo de coisificação dos sacramentos terá início precisamente com a sua interpretação ilemorfica: identificando os elementos essenciais do sacramento com a matéria e a forma, o fato sacramental perderá a característica fundamental de «ação» e de «evento», para o qual o interesse da teologia e da própria catequese se moverá, do mistério e das pessoas envolvidas, às coisas com que o mistério é celebrado»: E. RUFFINI, « Sacramenti », in A obra é formada por 9 livros. «Aqui a liturgia é vista como a vida da Igreja; encontram-se, portanto, declarações teológicas, conselhos ascéticos, referências jurídicas, bem como a descrição dos ritos. Coberto de razão está o cardeal Mai, com sua bela prosa latina, apresentando em 1839 uma primeira antologia de textos do Mitrale poderia falar de " fonte genuína da qual pode-se extrair informações valiosas sobre a origem, a
Breve estudo sobre o Lava pés
Introdução Por causa das suas peculiaridades, praticamente todas as áreas do saber filosófico e t... more Introdução Por causa das suas peculiaridades, praticamente todas as áreas do saber filosófico e teológico, ocuparam-se do estudo do Prólogo do IV Evangelho 1. Nessa brevíssima pesquisa procuraremos, muito suscintamente, apresentar cinco pontos pertinentes ao estudo do Prólogo joanino, a saber: O gênero literário, a estrutura, os temas, os conflitos e a sua relação com o todo do IV Evangelho.
Pequeno estudo sobre os quatro primeiros capítulos da Primeira carta de São Paulo aos Coríntios
A celebração litúrgica do sacramento da penitência como profissão de fé eclesial 1 JERÔNIMO PEREI... more A celebração litúrgica do sacramento da penitência como profissão de fé eclesial 1 JERÔNIMO PEREIRA A publicação do novo Ritual da Penitência (RP) no ano de 1974, depois de sete longos e dificultosos anos, concluiu o complexo processo de renovação do Ritual Romano (RR), no que diz respeito à celebração dos sacramentos 2 .
Nós, os nascidos nas décadas de setenta, oitenta, não seremos nunca capazes de vislumbrar tudo o ... more Nós, os nascidos nas décadas de setenta, oitenta, não seremos nunca capazes de vislumbrar tudo o que foi o Concílio Vaticano II. Por esses dias, lendo os pronunciamentos dos papas João XXIII e Paulo VI, revendo o percurso preparatório, a organização das comissões, os textos dos documentos, me encontrei diante de uma situação que é justo ser considerada um divisor de águas. Em primeiro lugar o Concílio se trata do "evento católico" por excelência; católico no sentido pleno da palavra, melhor dizendo, se trata de uma epifania da universalidade da Igreja, especialmente da Igreja como comunhão em todos os sentidos. Depois podemos considerá-lo como o concílio realmente ecumênico, isto é, aberto a todo o mundo cristão, caracterizado pela presença não insignificante dos nossos irmãos orientais ortodoxos e dos nossos irmãos protestantes na qualidade de "observadores". Por fim o Concílio se encarnou numa realidade concreta e abriu os olhos para um universo não reduzido a um continente, ou uma cultura, uma língua, mas a todos os povos de boa vontade e se dispôs a dialogar com o diferente, a sensibilizar-se com o que "os de fora" poderiam dizer para que a Igreja continuasse sua missão de Mãe e de Mestra. O Concílio é ainda hoje aquela "demonstração da igreja, sempre viva e sempre jovem, que sente o ritmo do tempo" 3 , é aquele evento que surgiu "na igreja como um dia pleno de luz cheia de esplendor". Se pode dizer que "os céus e a terra se uniram na celebração do concílio: os santos do céu para proteger os trabalhos; os fieis da terra, na oração contínua ao Senhor; e os padres conciliares, acolhendo as
Celebrare per entrare nella dinamica della fede pasquale «Che cos'è un rito?», disse il piccolo p... more Celebrare per entrare nella dinamica della fede pasquale «Che cos'è un rito?», disse il piccolo principe. «Anche questa è una cosa da tempo dimenticata», disse la volpe. «È quello che fa un giorno diverso dagli altri giorni, un'ora dalle altre ore. C'è un rito, per esempio, presso i miei cacciatori. Il giovedì ballano con le ragazze del villaggio. Allora il giovedì è un giorno meraviglioso! Io mi spingo sino alla vigna. Se i cacciatori ballassero in un giorno qualsiasi, i giorni si somiglierebbero tutti e non avrei mai vacanza» 1 .
No dia 4 de janeiro de 1963 o teólogo consultor do Concílio Yves Congar registrou no seu diário a... more No dia 4 de janeiro de 1963 o teólogo consultor do Concílio Yves Congar registrou no seu diário a lista dos cardeais responsáveis pelos esquemas dos documentos conciliares. O responsável pelo esquema do De Ecclesia (sobre a Igreja) na sua reformulação era o cardeal belga Léon-Joseph Suenens 3 . Nas reuniões plenárias, durante as avaliações dos esquemas dos documentos conciliares, cardeais e bispos dispunham cada um, depois de prévia inscrição, de 10 minutos para exposição das suas opiniões, com o diferencial que somente os cardeais podiam intervir durante a exposição de um outro cardeal fazendo perguntas ou observações 4 . Expondo o tema da Igreja-mistério (LG I) o cardeal Suenens fez referência à Igreja como "sacramento" de salvação. Um cardeal italiano interveio usando um latim perfeito: -Eminência, desde criança, já no catecismo, aprendi que os sacramentos da Igreja são sete. Agora o senhor nos fala da Igreja como um sacramento. Por acaso se pensa em mudar a tradicional doutrina dos sacramentos e transformá-los em oito? -Eminentíssimo irmão, respondeu perguntando o cardeal Suenens, sempre em perfeito latim: o senhor tem uma catedral?