Déia Thomaz | Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (original) (raw)
Papers by Déia Thomaz
1 Um dia, em que comecei a refletir acerca dos seres, e meu pensamento deixou-se planar nas altur... more 1 Um dia, em que comecei a refletir acerca dos seres, e meu pensamento deixou-se planar nas alturas enquanto meus sentidos corporais estavam como que atados, como acontece àqueles atingidos por um sono pesado pelo excesso de alimentação ou de uma grande fatiga corporal, pareceu que se me delineava um ser de um talhe imenso, além de toda medida definível, que me chamou pelo meu nome e disse: "Que desejas ouvir e ver, e pelo pensamento aprender a conhecer?" 2 E eu lhe disse "Mas tu, quem és?". -"Eu", disse ele, "eu sou Poimandres, o Noús da Soberania absoluta. Eu sei o que queres e estou contigo em todo lugar". 3 E eu disse: "Quero ser instruído sobre os seres, compreender sua natureza, conhecer Deus. Oh! como desejo entender!" Respondeu-me ele por sua vez: "Mantém em teu intelecto tudo o que desejas aprender e eu te instruirei." 4 A essas palavras mudou de aspecto e, subitamente, tudo se abriu diante de mim num momento, e tive uma visão sem limites, tudo tornou-se luz, serena e alegre, e ao vê-la apaixonei-me por ela. E pouco depois surgiu uma obscuridade dirigindo-se para baixo, em sua natureza assustadora e sombria, enrolando-se em espirais tortuosas, como uma serpente, foi assim que a percebi. Depois esta obscuridade transformou-se numa espécie de natureza úmida, agitada de uma maneira indizível e exalando um vapor, como o que sai do fogo e produzindo uma espécie de som, um gemido indescritível. Depois lançando um grito de apelo, sem articulação, tal que o comparei a uma voz de fogo, e ainda que saindo da luz auto-existente; um Verbo santo veio cobrir a Natureza, e um fogo sem mistura exalta-se da natureza úmida em direção à região sublime, era leve, vivo e ativo ao mesmo tempo; e o ar, sendo leve, seguia ao sopro ígneo elevando-se ao fogo, a partir da terra e da água, de forma a parecer preso ao fogo; pela terra e pela água, permaneciam no mesmo lugar, se bem que não se percebesse a terra separada da água: estavam continuamente em movimento sob a ação do sopro do Verbo que colocara-se sobre elas, segundo percebia minha audição. 6 Então disse Poimandres: "Compreendeste o que esta visão significa?" E eu: "Eu o saberei". -"Esta luz" disse ele" sou eu, Noús, teu Deus, aquele que existe antes da natureza úmida que apareceu fora da obscuridade. Quanto ao Verbo luminoso saído do NOÚS, é o filho de Deus." "Quem então?", disse eu. -"Conheça o que quero dizer através do que em ti vê e ouve (o teu íntimo), é o Verbo do Senhor, e teu Noús é o Deus Pai; não são separados um do outro, pois esta união é que é a vida." -"Eu te agradeço" -disse. -"Agora fixa teu espírito sobre a luz e conhece isto". 7 A essas palavras, olhou-me bem de frente um tempo bastante longo, se bem que eu tremesse pelo seu aspecto. Depois, como ele elevasse a cabeça, vi em meu Noús a luz consistente em um número incalculável de Potências, tornada um mundo sem limites, ainda que o fogo estivesse envolvido por uma força todo poderosa, e assim, solidamente contido, atingia seu equilíbrio: eis o que distingui pelo pensamento nesta visão, encorajado pela palavra de Poimandres. 8 Como eu estivesse ainda totalmente fora de mim, disse-me ele novamente: "Viste no Nods a forma arquetípica, o préprincípio anterior ao começo sem fim." Assim me falou Poimandres. -"Ora, disse eu, de onde surgiram os elementos da natureza?" -Respondeu: "Da Vontade de Deus, que, tendo nela recebido o Verbo e tendo visto o belo mundo arquetípico, o imitou feita como foi em um mundo ordenado, segundo seus próprios elementos e seus próprios produtos, as almas. 9 "Ora o Noüs Deus, sendo macho e fêmea, existente como vida e luz, faz nascer de uma palavra um segundo Noôs demiurgo que, sendo deus do fogo e do sopro, criou Sete Governadores, os quais envolvem nos seus círculos o mundo sensível; e seu governo se chama o Destino.
Books by Déia Thomaz
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1 Um dia, em que comecei a refletir acerca dos seres, e meu pensamento deixou-se planar nas altur... more 1 Um dia, em que comecei a refletir acerca dos seres, e meu pensamento deixou-se planar nas alturas enquanto meus sentidos corporais estavam como que atados, como acontece àqueles atingidos por um sono pesado pelo excesso de alimentação ou de uma grande fatiga corporal, pareceu que se me delineava um ser de um talhe imenso, além de toda medida definível, que me chamou pelo meu nome e disse: "Que desejas ouvir e ver, e pelo pensamento aprender a conhecer?" 2 E eu lhe disse "Mas tu, quem és?". -"Eu", disse ele, "eu sou Poimandres, o Noús da Soberania absoluta. Eu sei o que queres e estou contigo em todo lugar". 3 E eu disse: "Quero ser instruído sobre os seres, compreender sua natureza, conhecer Deus. Oh! como desejo entender!" Respondeu-me ele por sua vez: "Mantém em teu intelecto tudo o que desejas aprender e eu te instruirei." 4 A essas palavras mudou de aspecto e, subitamente, tudo se abriu diante de mim num momento, e tive uma visão sem limites, tudo tornou-se luz, serena e alegre, e ao vê-la apaixonei-me por ela. E pouco depois surgiu uma obscuridade dirigindo-se para baixo, em sua natureza assustadora e sombria, enrolando-se em espirais tortuosas, como uma serpente, foi assim que a percebi. Depois esta obscuridade transformou-se numa espécie de natureza úmida, agitada de uma maneira indizível e exalando um vapor, como o que sai do fogo e produzindo uma espécie de som, um gemido indescritível. Depois lançando um grito de apelo, sem articulação, tal que o comparei a uma voz de fogo, e ainda que saindo da luz auto-existente; um Verbo santo veio cobrir a Natureza, e um fogo sem mistura exalta-se da natureza úmida em direção à região sublime, era leve, vivo e ativo ao mesmo tempo; e o ar, sendo leve, seguia ao sopro ígneo elevando-se ao fogo, a partir da terra e da água, de forma a parecer preso ao fogo; pela terra e pela água, permaneciam no mesmo lugar, se bem que não se percebesse a terra separada da água: estavam continuamente em movimento sob a ação do sopro do Verbo que colocara-se sobre elas, segundo percebia minha audição. 6 Então disse Poimandres: "Compreendeste o que esta visão significa?" E eu: "Eu o saberei". -"Esta luz" disse ele" sou eu, Noús, teu Deus, aquele que existe antes da natureza úmida que apareceu fora da obscuridade. Quanto ao Verbo luminoso saído do NOÚS, é o filho de Deus." "Quem então?", disse eu. -"Conheça o que quero dizer através do que em ti vê e ouve (o teu íntimo), é o Verbo do Senhor, e teu Noús é o Deus Pai; não são separados um do outro, pois esta união é que é a vida." -"Eu te agradeço" -disse. -"Agora fixa teu espírito sobre a luz e conhece isto". 7 A essas palavras, olhou-me bem de frente um tempo bastante longo, se bem que eu tremesse pelo seu aspecto. Depois, como ele elevasse a cabeça, vi em meu Noús a luz consistente em um número incalculável de Potências, tornada um mundo sem limites, ainda que o fogo estivesse envolvido por uma força todo poderosa, e assim, solidamente contido, atingia seu equilíbrio: eis o que distingui pelo pensamento nesta visão, encorajado pela palavra de Poimandres. 8 Como eu estivesse ainda totalmente fora de mim, disse-me ele novamente: "Viste no Nods a forma arquetípica, o préprincípio anterior ao começo sem fim." Assim me falou Poimandres. -"Ora, disse eu, de onde surgiram os elementos da natureza?" -Respondeu: "Da Vontade de Deus, que, tendo nela recebido o Verbo e tendo visto o belo mundo arquetípico, o imitou feita como foi em um mundo ordenado, segundo seus próprios elementos e seus próprios produtos, as almas. 9 "Ora o Noüs Deus, sendo macho e fêmea, existente como vida e luz, faz nascer de uma palavra um segundo Noôs demiurgo que, sendo deus do fogo e do sopro, criou Sete Governadores, os quais envolvem nos seus círculos o mundo sensível; e seu governo se chama o Destino.
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