Daniel Souza | Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (original) (raw)
Thesis Chapters by Daniel Souza
O interesse dessa tese de doutorado é ensaiar uma leitura teológica atravessada e provocada pelas... more O interesse dessa tese de doutorado é ensaiar uma leitura teológica atravessada e provocada pelas potências destituintes nos acontecimentos de junho de 2013 no Brasil. Nessa perspectiva, “junho” estaria afastado de um “poder constituinte”, na busca de uma nova ordem institucional e novamente enquadrado em um “paradigma securitário” do estado e em suas relações com o capitalismo neoliberal. Desse modo, entendo que aqueles acontecimentos podem ser interpretados para além da pergunta pela consequência político-estratégica e vistos como uma revolta capaz de expor a anarquia e a anomia capturadas nas tecnologias da “máquina governamental”. Como percurso metodológico, interessei-me em “catar” as imagens deixadas para trás nesses acontecimentos. A partir de mensagens levadas às ruas por meio de pichações, faixas, cartazes e bandeiras, desejei encontrar rastros destituintes e ineficientes, em alianças dos corpos que criam novas habitações da cidade. Com esse olhar, assumi “junho” como uma dobradiça político-teológica. De um lado, desvela a assinatura teológica do estado e possui um potencial profanatório e destituinte do fazer-político moderno. Do outro, ao indicar outros modos de viver a política e (re)imaginar o “sagrado” do estado, “dividindo a divisão” entre sagrado e profano, junho favorece os processos de revisão dos projetos de teologias, como a latino-americana da libertação (TdL). Para o exercício de imaginar rastros teológicos em junho de 2013, tomei como referencial teórico o filósofo italiano Giorgio Agamben (1942-), especialmente o seu projeto Homo sacer. Junto a isso, busquei construir tensões criativas entre uma “teologia inoperosa” e o paradigma teológico do êxodo, central nas TdL, focado na identidade (sujeito oprimido), no soberano (Deus libertador), no povo/nação, na posse da terra e na operatividade da luta. A escolha da TdL se deve à vinculação de uma espiritualidade desde e com as lutas populares e pelos seus interesses de se refletir e construir projetos políticos. Essas interações, desde junho, podem abrir possibilidades para novos usos da política e para se “pensar o impensado” como uma teologia ineficiente, orientada, por exemplo, a partir da concepção hebraica do sábado. A leitura ensaiada nessa tese é diagramática e cria algum sentido para expressões teológicas, com ênfase no espírito e no tempo messiânico, na libertação e imanência de deus e na graça de uma “comunidade que vem”. Por fim, em uma dimensão inoperosa da escrita, a tese se encerra com uma intervenção artística nas ruas da cidade de São Paulo, nomeada como: “rastros de deus nos rastros de junho”.
Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, 2013
O objetivo central desta pesquisa é desvendar possibilidades no estabelecimento de prováveis eixo... more O objetivo central desta pesquisa é desvendar possibilidades no estabelecimento de prováveis eixos básicos de uma cristologia pluralista da libertação, a partir das reflexões teológicas de Jon Sobrino (1938-) e Jacques Dupuis (1923-2004). Para tanto, se reconhecem cotidianamente os entrecruzamentos de sinais dos tempos, como as diferenças religiosas e as violações de direitos e injustiças sociais. A partir desta problemática, toma-se como hipótese a necessidade de se demonstrar a articulação em andamento entre perspectivas das teologias da libertação com perspectivas das teologias cristãs do pluralismo religioso, sinalizando um novo modo de fazer teologia. O trabalho aqui desenvolvido dialoga com os estudos culturais, especialmente com os conceitos de Homi Bhabha, o referencial teórico desta pesquisa, que possibilitou, criticamente, o entrelaçamento das perspectivas de Jacques Dupuis e Jon Sobrino. Para a construção desta cristologia, seguiu-se um tripé metodológico: revisão, reconstrução e reinvenção. O trabalho buscou revisar os discursos teológicos apresentados por Jon Sobrino e Jacques Dupuis; reconstruir as reflexões teológicas elaboradas por estes autores; e reinventar uma cristologia que se mostre como um terceiro espaço, um entrelugar discursivo, uma cristologia pluralista da libertação, que não é nem o um (a cristologia da libertação) nem o outro (a teologia cristã do pluralismo religioso), mas algo a mais, uma fala híbrida elaborada a partir de determinadas zonas de contato entre os autores. A pesquisa apresenta como eixos: (i) uma cristologia integral: vivenciada nos espaços cotidianos, com uma reflexão a partir das vítimas e do espírito das testemunhas; (ii) uma cristologia trinitária: refletida a partir d@ outr@ e centrada no mistério inesgotável, na humanização do divino e na força do Espírito; e (iii) uma cristologia reinoteocêntrica: vocacionada ao reino de Deus, numa tensão entre a parcialidade com as vítimas e a universalidade da ação de Deus, numa elaboração nas vias da mística e em um discurso cristológico estruturado na (des)missão. Tais eixos possuem implicações políticas, uma vez que esta cristologia se constrói como uma dupla função: é objeto de estudo e é espaço para a atuação política, reconhecendo que novos discursos e linguagens relacionam-se com novas atuações e mobilizações sociais.
Papers by Daniel Souza
Caminhos - Revista de Ciências da Religião, 2024
Este artigo procura compreender a relação entre religião e turismo a partir do Santuário de Bom J... more Este artigo procura compreender a relação entre religião e turismo a partir do Santuário de Bom Jesus da Lapa (BA), a “Igreja de pedra e luz”. Para tal atividade, busco referências conceituais na semiótica da cultura (Iuri Lotman) e estudos culturais (Néstor Canclini e Homi Bhabha), nas reflexões sobre os movimentos religiosos contemporâneos e nos estudos da antropologia (Carlos Alberto Steil) sobre a interação entre romarias e turismo. Com síntese, este texto apresenta este fenômeno religioso entre mudanças e continuidades, entre estabelecimentos de novos modos de ser e repetição da tradição da romaria, por meio de suas misturas e hibridismos, em suas tensões com marcas de novidade e, ao mesmo tempo, de permanência, com ambivalências e obliquidades.
Estudos de religião, 2021
Esse artigo tem a comunidade no contexto da pandemia da COVID-19 como um conceito organizador. Co... more Esse artigo tem a comunidade no contexto da pandemia da COVID-19 como um conceito organizador. Com os cenários de isolamento social, as perguntas pelo “viver junto” e o “viver só” tornam-se latentes. Para ensaiar possibilidades prático- teóricas para o problema do viver comum, organizei esse artigo a partir das seguintes temáticas: i) a aproximação entre a comunidade e o imaginário da trindade, com novas possibilidades de leitura a partir das noções de “makom” e de “pericórese”; ii) a reflexão sobre a “comunidade que vem” e as propostas de dessubjetivação e esvaziamento de uma noção ideal e colonial de humanidade; e iii) as leituras teológicas sobre a graça e as “brechas” possíveis para a constituição de arranjos éticos comuns. O movimento do texto, portanto, nos coloca diante do dilema da vida na pandemia e, nesse cenário de insegurança, ensaia estratégias imaginativas que assumem o vazio (de deus e do humano) para nos arriscarmos em uma (im)possibilidade da vida em relação.
Estudos de religião, 2020
As teologias latino-americanas da libertação foram construídas a partir do paradigma do êxodo. Em... more As teologias latino-americanas da libertação foram construídas a partir do paradigma do êxodo. Embora alguns teólogos, como Gustavo Gutiérrez (1987), tenham proposto outras aproximações paradigmáticas, é sobre o esquema opressão-libertação que se organiza majoritariamente esse método teológico, esse modo de viver uma espiritualidade, esse modo de imaginar Deus e ensaiar projetos políticos. Retomar esse paradigma me parece importante para repensarmos os projetos históricos e as suas relações com o estado-nação no contexto da América Latina. Por isso, em um exercício de revisão das teologias da libertação, apresento nesse artigo a possibilidade de se repensar esse paradigma a partir das inquietações provocadas pelos acontecimentos de junho de 2013 no Brasil, colocando em questão algumas marcas centrais no êxodo como paradigma de libertação: o soberano (como modelo de Deus), o povo-nação, a posse da terra como projeto, o pobre como sujeito histórico, o opressor como o ídolo e a operatividade como prática.
Reflexão, 2020
Este artigo se desenvolve no campo das Ciências da Religião na busca de um alargamento teórico-me... more Este artigo se desenvolve no campo das Ciências da Religião na busca de um alargamento teórico-metodológico para se interpretar um mundo. Para alcançá-lo, aproximo-me dos estudos culturais, caracterizados por seu nomadismo disciplinar e por ser “morada” de distintas teorias e temáticas. Nesse encontro, deseja-se que as Ciências da Religião também se assumam como um campo transdisciplinar, um espaço de encruzilhadas metodológicas e articulações teóricas entre distintos saberes já estabelecidos (filosofia, teologia, psicologia, literatura, ciências sociais, ciências da linguagem); mas assumindo, também, que o objeto de sua pesquisa acontece/mostra-se de forma híbrida e em movimento, por meio das relações estabelecidas nas margens da cultura, em seus interstícios. Como estrutura, este texto apresentará: (i) um estado da questão em torno das Ciências da Religião em relação aos seus métodos (ciências) e concepções do “objeto” (religião); (ii) uma introdução dos estudos culturais e suas propostas de inter- relação entre saberes para se estudar as culturas; (iii) as teses de Néstor Canclini, como o hibridismo cultural; (iv) as reflexões de Homi Bhabha, com os estudos sobre a importância do espaço fronteiriço, entre-lugar, para a construção da cultura; (v) as reflexões de Silvia Cusicanqui sobre a noção de ch’ixi; e (vi) como conclusão, indico as possíveis interações que imagino entre esses estudos culturais e as Ciências da Religião, apontando a importância do espaço fronteiriço, das relações de transformação por meio do hibridismo, da superação de lógicas binárias na interpretação e da interação teoria-prática para os estudos da religião no exercício da decolonialidade. Este artigo se envereda na reafirmação e suspeita de uma área acadêmica que se amplia na interação, integração e na possibilidade de múltiplos caminhos para se estudar o seu “objeto”, mas se perguntando até onde estamos dispostos a ir nas experimentações prático-conceituais.
Interações , 2020
Este artigo realiza uma análise político-teológica do estado a partir dos acontecimentos de junho... more Este artigo realiza uma análise político-teológica do estado a partir dos acontecimentos de junho de 2013. Esses eventos foram decisivos para a compreensão da política brasileira, pois colocaram em questão os modos de vida esperados em uma dinâmica de cidade e, também, os modos de organização da política em sua democracia liberal. O ponto decisivo desse texto é apresentar a relação entre dois polos do estado (soberania e biopolítica) como uma determinada teologia trinitária, algo evidenciado pelo filósofo Giorgio Agamben. A hipótese é que junho desvela essa atuação da máquina governamental. Com essa perspectiva, metodologicamente, esse artigo analisa, desde as provocações agambeanas, algumas grafias-como pichações, cartazes e faixas-feitas durante esse período. Como estrutura, esse artigo está dividido em algumas partes: i) uma introdução que retoma a técnica como uma problemática de junho de 2013; ii) a investigação das relações entre trindade e o estado moderno; iii) a apresentação da inoperosidade no centro da máquina governamental do estado; e iv) a relação entre as tentativas de encobrimento do vazio anárquico do estado, por meio dos dispositivos aclamatórios, e os rastros de junho potentes em sua capacidade inoperosa.
Revista Caminhando, 2010
O estudo faz uma correlação entre teologia e literatura baseada na visão cristológica de Jon Sobr... more O estudo faz uma correlação entre teologia e literatura baseada na visão cristológica de Jon Sobrino e dos escritos de Murilo Mendes e desenha uma cristologia, poetizada em ensaios que se mostrou como libertadora por propor o seguimento: a prática de Jesus, as suas escolhas e opções.
Estudos teológicos, 2016
Esse artigo procura analisar algumas homilias de Dom Oscar Romero (1917-1980) diante da relação e... more Esse artigo procura analisar algumas homilias de Dom Oscar Romero (1917-1980) diante da relação entre religião & política, a partir da seguinte hipótese: as narrativas e discursos religiosos são políticos e circulam a arena dos espaços públicos sem a simples separação público versus privado, comum em alguns debates sobre secularização. Com essa referência, esse texto analisa os símbolos construídos de maneira discursiva nas homilias - ou outras falas religiosas - de D. Romero, para além dos esquemas interpretativos que delimitam a relevância e o alcance destas linguagens para o uso e incidência restrita nos espaços privados das religiões. A análise que se segue acontece a partir da compreensão e leitura das homilias e da vida de D. Romero desde os movimentos e experiências de resistência e libertação em El Salvador, na tentativa de se compreender suas pregações como processos de “encarnação na realidade histórica” de seu pais. Como estrutura, esse artigo foi organizado em três grandes momentos: i) a compreensão de Dom Oscar Romero como parte da experiência de libertação e resistência salvadorenha; ii) a análise das homilias de Monsenhor Romero, assumindo que o púlpito é um lugar político, organizadas em três grandes temas: o problema da idolatria do dinheiro e do poder militar, o falseamento da justiça, dos meios de comunicação e da religião e a conversão e a esperança de libertação; e iii) como último tópico do texto, apresentam-se as implicações da vida e martírio de Dom Oscar Romero e a construção do seu testemunho.
Revista Paralelus, 2016
Esse artigo tem como objetivo compreender a narrativa do martírio da comunidade jesuíta da Univer... more Esse artigo tem como objetivo compreender a narrativa do martírio da comunidade jesuíta da Universidade Centro Americana José Simeon Cañas (UCA) em El Salvador, ocorrido em 1989, a partir de um referencial teórico crítico sobre a “memória cultural”, perguntando-nos pelo que resta desta memória, confrontando-nos com distintos discursos sobre as recordações do martírio e construindo caminhos e estratégias de profanação ante histórias e narrativas colocadas como espaços para contemplação. Os principais referenciais teóricos desse estudo são: Jon Sobrino (1938-), Maurice Halbwachs (1877-1945) e Giorgio Agamben (1942-). O “resto” é a “contração do tempo”, não o que sobra, ou o que permanece para ser transmitido para outras gerações. O “resto” é um entre, o que não pode ser enquadrado, domesticado, um hiato discursivo que se instaura na própria língua em que se testemunha em confronto às classificações do arquivo. Como estrutura, o artigo se organiza da seguinte forma: i) a apresentação da teologia do martírio elaborada por Jon Sobrino, desde o assassinato da comunidade jesuíta da UCA; ii) o levantamento de algumas reflexões sobre memória tomando como referência Maurice Halbwachs e Giorgio Agamben; e iii) a articulação entre a teologia do martírio com o referencial teórico sobre memória construído neste texto.
Páginas de Filosofia, 2015
Este artigo busca identificar os alicerces básicos de uma prática educativa gestada a partir dos ... more Este artigo busca identificar os alicerces básicos de uma prática educativa gestada a partir dos corpos, especialmente os corpos em relações de opressão e subalternidade. Para tal intuito, foram arti-culadas as reflexões sobre o corpo elaboradas pelo filósofo fran-cês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) e as concepções de edu-cação apresentadas pelo educador brasileiro Carlos Rodrigues Brandão (1940-), uma aproximação entre a fenomenologia da percepção e a educação popular. Ao assumir as concepções destes autores de referência como pontos de partida, este texto imprimiu esforços para fundamentar uma filosofia da educação que – tendo os corpos como lugar em que se gesta o saber – construa cami-nhos teórico-didáticos para a prática do ensino de filosofia; para a reflexão crítica das concepções de educação e as suas relações com projetos políticos e econômicos; para uma práxis que favore-ça a crítica, a criatividade e as atividades culturais. Como princi-pais conclusões, o texto anuncia como convergências, possibili-dade para: i) uma educação a partir das vivências; ii) uma educa-ção ambígua; iii) uma educação subversiva; iv) uma educação per-formática; v) uma educação afetiva; e vi) uma educação poético-festiva.
Books by Daniel Souza
Editora Fi, 2016
Estas folhas que se seguem são a produção de um tempo de estudos. Mostram-se como ensaios (tentat... more Estas folhas que se seguem são a produção de um
tempo de estudos. Mostram-se como ensaios (tentativas!)
de uma reflexão filosófica, que procuram exprimir pelas
vias da palavra as experiências que acontecem no mundo da
vida. Para situar a leitura, o objetivo deste livro é
fundamentar os princípios básicos de uma filosofia da
educação que tenha como seus protagonistas os corpos
oprimidos 1, possuindo como inspiração a Fenomenologia da
Percepção elaborada por Maurice Merleau-Ponty (1908-1961)
e a educação popular proposta por Carlos Rodrigues Brandão
(1940-).
O interesse dessa tese de doutorado é ensaiar uma leitura teológica atravessada e provocada pelas... more O interesse dessa tese de doutorado é ensaiar uma leitura teológica atravessada e provocada pelas potências destituintes nos acontecimentos de junho de 2013 no Brasil. Nessa perspectiva, “junho” estaria afastado de um “poder constituinte”, na busca de uma nova ordem institucional e novamente enquadrado em um “paradigma securitário” do estado e em suas relações com o capitalismo neoliberal. Desse modo, entendo que aqueles acontecimentos podem ser interpretados para além da pergunta pela consequência político-estratégica e vistos como uma revolta capaz de expor a anarquia e a anomia capturadas nas tecnologias da “máquina governamental”. Como percurso metodológico, interessei-me em “catar” as imagens deixadas para trás nesses acontecimentos. A partir de mensagens levadas às ruas por meio de pichações, faixas, cartazes e bandeiras, desejei encontrar rastros destituintes e ineficientes, em alianças dos corpos que criam novas habitações da cidade. Com esse olhar, assumi “junho” como uma dobradiça político-teológica. De um lado, desvela a assinatura teológica do estado e possui um potencial profanatório e destituinte do fazer-político moderno. Do outro, ao indicar outros modos de viver a política e (re)imaginar o “sagrado” do estado, “dividindo a divisão” entre sagrado e profano, junho favorece os processos de revisão dos projetos de teologias, como a latino-americana da libertação (TdL). Para o exercício de imaginar rastros teológicos em junho de 2013, tomei como referencial teórico o filósofo italiano Giorgio Agamben (1942-), especialmente o seu projeto Homo sacer. Junto a isso, busquei construir tensões criativas entre uma “teologia inoperosa” e o paradigma teológico do êxodo, central nas TdL, focado na identidade (sujeito oprimido), no soberano (Deus libertador), no povo/nação, na posse da terra e na operatividade da luta. A escolha da TdL se deve à vinculação de uma espiritualidade desde e com as lutas populares e pelos seus interesses de se refletir e construir projetos políticos. Essas interações, desde junho, podem abrir possibilidades para novos usos da política e para se “pensar o impensado” como uma teologia ineficiente, orientada, por exemplo, a partir da concepção hebraica do sábado. A leitura ensaiada nessa tese é diagramática e cria algum sentido para expressões teológicas, com ênfase no espírito e no tempo messiânico, na libertação e imanência de deus e na graça de uma “comunidade que vem”. Por fim, em uma dimensão inoperosa da escrita, a tese se encerra com uma intervenção artística nas ruas da cidade de São Paulo, nomeada como: “rastros de deus nos rastros de junho”.
Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, 2013
O objetivo central desta pesquisa é desvendar possibilidades no estabelecimento de prováveis eixo... more O objetivo central desta pesquisa é desvendar possibilidades no estabelecimento de prováveis eixos básicos de uma cristologia pluralista da libertação, a partir das reflexões teológicas de Jon Sobrino (1938-) e Jacques Dupuis (1923-2004). Para tanto, se reconhecem cotidianamente os entrecruzamentos de sinais dos tempos, como as diferenças religiosas e as violações de direitos e injustiças sociais. A partir desta problemática, toma-se como hipótese a necessidade de se demonstrar a articulação em andamento entre perspectivas das teologias da libertação com perspectivas das teologias cristãs do pluralismo religioso, sinalizando um novo modo de fazer teologia. O trabalho aqui desenvolvido dialoga com os estudos culturais, especialmente com os conceitos de Homi Bhabha, o referencial teórico desta pesquisa, que possibilitou, criticamente, o entrelaçamento das perspectivas de Jacques Dupuis e Jon Sobrino. Para a construção desta cristologia, seguiu-se um tripé metodológico: revisão, reconstrução e reinvenção. O trabalho buscou revisar os discursos teológicos apresentados por Jon Sobrino e Jacques Dupuis; reconstruir as reflexões teológicas elaboradas por estes autores; e reinventar uma cristologia que se mostre como um terceiro espaço, um entrelugar discursivo, uma cristologia pluralista da libertação, que não é nem o um (a cristologia da libertação) nem o outro (a teologia cristã do pluralismo religioso), mas algo a mais, uma fala híbrida elaborada a partir de determinadas zonas de contato entre os autores. A pesquisa apresenta como eixos: (i) uma cristologia integral: vivenciada nos espaços cotidianos, com uma reflexão a partir das vítimas e do espírito das testemunhas; (ii) uma cristologia trinitária: refletida a partir d@ outr@ e centrada no mistério inesgotável, na humanização do divino e na força do Espírito; e (iii) uma cristologia reinoteocêntrica: vocacionada ao reino de Deus, numa tensão entre a parcialidade com as vítimas e a universalidade da ação de Deus, numa elaboração nas vias da mística e em um discurso cristológico estruturado na (des)missão. Tais eixos possuem implicações políticas, uma vez que esta cristologia se constrói como uma dupla função: é objeto de estudo e é espaço para a atuação política, reconhecendo que novos discursos e linguagens relacionam-se com novas atuações e mobilizações sociais.
Caminhos - Revista de Ciências da Religião, 2024
Este artigo procura compreender a relação entre religião e turismo a partir do Santuário de Bom J... more Este artigo procura compreender a relação entre religião e turismo a partir do Santuário de Bom Jesus da Lapa (BA), a “Igreja de pedra e luz”. Para tal atividade, busco referências conceituais na semiótica da cultura (Iuri Lotman) e estudos culturais (Néstor Canclini e Homi Bhabha), nas reflexões sobre os movimentos religiosos contemporâneos e nos estudos da antropologia (Carlos Alberto Steil) sobre a interação entre romarias e turismo. Com síntese, este texto apresenta este fenômeno religioso entre mudanças e continuidades, entre estabelecimentos de novos modos de ser e repetição da tradição da romaria, por meio de suas misturas e hibridismos, em suas tensões com marcas de novidade e, ao mesmo tempo, de permanência, com ambivalências e obliquidades.
Estudos de religião, 2021
Esse artigo tem a comunidade no contexto da pandemia da COVID-19 como um conceito organizador. Co... more Esse artigo tem a comunidade no contexto da pandemia da COVID-19 como um conceito organizador. Com os cenários de isolamento social, as perguntas pelo “viver junto” e o “viver só” tornam-se latentes. Para ensaiar possibilidades prático- teóricas para o problema do viver comum, organizei esse artigo a partir das seguintes temáticas: i) a aproximação entre a comunidade e o imaginário da trindade, com novas possibilidades de leitura a partir das noções de “makom” e de “pericórese”; ii) a reflexão sobre a “comunidade que vem” e as propostas de dessubjetivação e esvaziamento de uma noção ideal e colonial de humanidade; e iii) as leituras teológicas sobre a graça e as “brechas” possíveis para a constituição de arranjos éticos comuns. O movimento do texto, portanto, nos coloca diante do dilema da vida na pandemia e, nesse cenário de insegurança, ensaia estratégias imaginativas que assumem o vazio (de deus e do humano) para nos arriscarmos em uma (im)possibilidade da vida em relação.
Estudos de religião, 2020
As teologias latino-americanas da libertação foram construídas a partir do paradigma do êxodo. Em... more As teologias latino-americanas da libertação foram construídas a partir do paradigma do êxodo. Embora alguns teólogos, como Gustavo Gutiérrez (1987), tenham proposto outras aproximações paradigmáticas, é sobre o esquema opressão-libertação que se organiza majoritariamente esse método teológico, esse modo de viver uma espiritualidade, esse modo de imaginar Deus e ensaiar projetos políticos. Retomar esse paradigma me parece importante para repensarmos os projetos históricos e as suas relações com o estado-nação no contexto da América Latina. Por isso, em um exercício de revisão das teologias da libertação, apresento nesse artigo a possibilidade de se repensar esse paradigma a partir das inquietações provocadas pelos acontecimentos de junho de 2013 no Brasil, colocando em questão algumas marcas centrais no êxodo como paradigma de libertação: o soberano (como modelo de Deus), o povo-nação, a posse da terra como projeto, o pobre como sujeito histórico, o opressor como o ídolo e a operatividade como prática.
Reflexão, 2020
Este artigo se desenvolve no campo das Ciências da Religião na busca de um alargamento teórico-me... more Este artigo se desenvolve no campo das Ciências da Religião na busca de um alargamento teórico-metodológico para se interpretar um mundo. Para alcançá-lo, aproximo-me dos estudos culturais, caracterizados por seu nomadismo disciplinar e por ser “morada” de distintas teorias e temáticas. Nesse encontro, deseja-se que as Ciências da Religião também se assumam como um campo transdisciplinar, um espaço de encruzilhadas metodológicas e articulações teóricas entre distintos saberes já estabelecidos (filosofia, teologia, psicologia, literatura, ciências sociais, ciências da linguagem); mas assumindo, também, que o objeto de sua pesquisa acontece/mostra-se de forma híbrida e em movimento, por meio das relações estabelecidas nas margens da cultura, em seus interstícios. Como estrutura, este texto apresentará: (i) um estado da questão em torno das Ciências da Religião em relação aos seus métodos (ciências) e concepções do “objeto” (religião); (ii) uma introdução dos estudos culturais e suas propostas de inter- relação entre saberes para se estudar as culturas; (iii) as teses de Néstor Canclini, como o hibridismo cultural; (iv) as reflexões de Homi Bhabha, com os estudos sobre a importância do espaço fronteiriço, entre-lugar, para a construção da cultura; (v) as reflexões de Silvia Cusicanqui sobre a noção de ch’ixi; e (vi) como conclusão, indico as possíveis interações que imagino entre esses estudos culturais e as Ciências da Religião, apontando a importância do espaço fronteiriço, das relações de transformação por meio do hibridismo, da superação de lógicas binárias na interpretação e da interação teoria-prática para os estudos da religião no exercício da decolonialidade. Este artigo se envereda na reafirmação e suspeita de uma área acadêmica que se amplia na interação, integração e na possibilidade de múltiplos caminhos para se estudar o seu “objeto”, mas se perguntando até onde estamos dispostos a ir nas experimentações prático-conceituais.
Interações , 2020
Este artigo realiza uma análise político-teológica do estado a partir dos acontecimentos de junho... more Este artigo realiza uma análise político-teológica do estado a partir dos acontecimentos de junho de 2013. Esses eventos foram decisivos para a compreensão da política brasileira, pois colocaram em questão os modos de vida esperados em uma dinâmica de cidade e, também, os modos de organização da política em sua democracia liberal. O ponto decisivo desse texto é apresentar a relação entre dois polos do estado (soberania e biopolítica) como uma determinada teologia trinitária, algo evidenciado pelo filósofo Giorgio Agamben. A hipótese é que junho desvela essa atuação da máquina governamental. Com essa perspectiva, metodologicamente, esse artigo analisa, desde as provocações agambeanas, algumas grafias-como pichações, cartazes e faixas-feitas durante esse período. Como estrutura, esse artigo está dividido em algumas partes: i) uma introdução que retoma a técnica como uma problemática de junho de 2013; ii) a investigação das relações entre trindade e o estado moderno; iii) a apresentação da inoperosidade no centro da máquina governamental do estado; e iv) a relação entre as tentativas de encobrimento do vazio anárquico do estado, por meio dos dispositivos aclamatórios, e os rastros de junho potentes em sua capacidade inoperosa.
Revista Caminhando, 2010
O estudo faz uma correlação entre teologia e literatura baseada na visão cristológica de Jon Sobr... more O estudo faz uma correlação entre teologia e literatura baseada na visão cristológica de Jon Sobrino e dos escritos de Murilo Mendes e desenha uma cristologia, poetizada em ensaios que se mostrou como libertadora por propor o seguimento: a prática de Jesus, as suas escolhas e opções.
Estudos teológicos, 2016
Esse artigo procura analisar algumas homilias de Dom Oscar Romero (1917-1980) diante da relação e... more Esse artigo procura analisar algumas homilias de Dom Oscar Romero (1917-1980) diante da relação entre religião & política, a partir da seguinte hipótese: as narrativas e discursos religiosos são políticos e circulam a arena dos espaços públicos sem a simples separação público versus privado, comum em alguns debates sobre secularização. Com essa referência, esse texto analisa os símbolos construídos de maneira discursiva nas homilias - ou outras falas religiosas - de D. Romero, para além dos esquemas interpretativos que delimitam a relevância e o alcance destas linguagens para o uso e incidência restrita nos espaços privados das religiões. A análise que se segue acontece a partir da compreensão e leitura das homilias e da vida de D. Romero desde os movimentos e experiências de resistência e libertação em El Salvador, na tentativa de se compreender suas pregações como processos de “encarnação na realidade histórica” de seu pais. Como estrutura, esse artigo foi organizado em três grandes momentos: i) a compreensão de Dom Oscar Romero como parte da experiência de libertação e resistência salvadorenha; ii) a análise das homilias de Monsenhor Romero, assumindo que o púlpito é um lugar político, organizadas em três grandes temas: o problema da idolatria do dinheiro e do poder militar, o falseamento da justiça, dos meios de comunicação e da religião e a conversão e a esperança de libertação; e iii) como último tópico do texto, apresentam-se as implicações da vida e martírio de Dom Oscar Romero e a construção do seu testemunho.
Revista Paralelus, 2016
Esse artigo tem como objetivo compreender a narrativa do martírio da comunidade jesuíta da Univer... more Esse artigo tem como objetivo compreender a narrativa do martírio da comunidade jesuíta da Universidade Centro Americana José Simeon Cañas (UCA) em El Salvador, ocorrido em 1989, a partir de um referencial teórico crítico sobre a “memória cultural”, perguntando-nos pelo que resta desta memória, confrontando-nos com distintos discursos sobre as recordações do martírio e construindo caminhos e estratégias de profanação ante histórias e narrativas colocadas como espaços para contemplação. Os principais referenciais teóricos desse estudo são: Jon Sobrino (1938-), Maurice Halbwachs (1877-1945) e Giorgio Agamben (1942-). O “resto” é a “contração do tempo”, não o que sobra, ou o que permanece para ser transmitido para outras gerações. O “resto” é um entre, o que não pode ser enquadrado, domesticado, um hiato discursivo que se instaura na própria língua em que se testemunha em confronto às classificações do arquivo. Como estrutura, o artigo se organiza da seguinte forma: i) a apresentação da teologia do martírio elaborada por Jon Sobrino, desde o assassinato da comunidade jesuíta da UCA; ii) o levantamento de algumas reflexões sobre memória tomando como referência Maurice Halbwachs e Giorgio Agamben; e iii) a articulação entre a teologia do martírio com o referencial teórico sobre memória construído neste texto.
Páginas de Filosofia, 2015
Este artigo busca identificar os alicerces básicos de uma prática educativa gestada a partir dos ... more Este artigo busca identificar os alicerces básicos de uma prática educativa gestada a partir dos corpos, especialmente os corpos em relações de opressão e subalternidade. Para tal intuito, foram arti-culadas as reflexões sobre o corpo elaboradas pelo filósofo fran-cês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) e as concepções de edu-cação apresentadas pelo educador brasileiro Carlos Rodrigues Brandão (1940-), uma aproximação entre a fenomenologia da percepção e a educação popular. Ao assumir as concepções destes autores de referência como pontos de partida, este texto imprimiu esforços para fundamentar uma filosofia da educação que – tendo os corpos como lugar em que se gesta o saber – construa cami-nhos teórico-didáticos para a prática do ensino de filosofia; para a reflexão crítica das concepções de educação e as suas relações com projetos políticos e econômicos; para uma práxis que favore-ça a crítica, a criatividade e as atividades culturais. Como princi-pais conclusões, o texto anuncia como convergências, possibili-dade para: i) uma educação a partir das vivências; ii) uma educa-ção ambígua; iii) uma educação subversiva; iv) uma educação per-formática; v) uma educação afetiva; e vi) uma educação poético-festiva.
Editora Fi, 2016
Estas folhas que se seguem são a produção de um tempo de estudos. Mostram-se como ensaios (tentat... more Estas folhas que se seguem são a produção de um
tempo de estudos. Mostram-se como ensaios (tentativas!)
de uma reflexão filosófica, que procuram exprimir pelas
vias da palavra as experiências que acontecem no mundo da
vida. Para situar a leitura, o objetivo deste livro é
fundamentar os princípios básicos de uma filosofia da
educação que tenha como seus protagonistas os corpos
oprimidos 1, possuindo como inspiração a Fenomenologia da
Percepção elaborada por Maurice Merleau-Ponty (1908-1961)
e a educação popular proposta por Carlos Rodrigues Brandão
(1940-).