Os Brazão, réus do caso Marielle, acumulam império de ao menos 162 imóveis (original) (raw)

O imóvel foi vasculhado pela PF em 24 de março, quando foi deflagrada a operação que prendeu Domingos, Chiquinho e o delegado Rivaldo Barbosa.

Terceiro acusado de participar do planejamento do crime e de ter influenciado as investigações para não responsabilizar os Brazão, o delegado também nega envolvimento.

Francisco Brazão, o Chiquinho, eleito deputado federal em 2018 e reeleito em 2022, aparece como dono de 11 imóveis, em sociedade com os irmãos (Domingos e Pedro) ou em nome da holding 3X, sociedade dele com um filho.

Após a prisão preventiva por suspeita de envolvimento nas mortes de Marielle e Anderson, ele aguarda decisão do Conselho de Ética da Câmara sobre a perda do mandato.

O terceiro irmão na política, Manoel Inácio, mais velho e conhecido como Pedro Brazão, é deputado estadual desde 2018 pelo União Brasil e ocupa hoje a vice-presidência da Assembleia Legislativa do Rio.

O primogênito não é suspeito de envolvimento nas mortes da vereadora e do motorista.

Sozinho, ele é dono de um apartamento e duas salas de escritório, além de onze terrenos e imóveis comerciais em sociedade com Domingos e Chiquinho.

Outros cinco imóveis estão em nome das irmãs Deolinda, Dolores e Maria Lúcia, que estão fora da política.

Cada uma das irmãs também é dona de sua própria clínica de exames médicos para carteira de motorista, conveniada com o Detran do Rio.

A origem do dinheiro dos Brazão para construir seu império imobiliário é objeto de suspeita da polícia.

Em outras ocasiões, Domingos e Chiquinho afirmaram que sempre tiveram atividade empresarial paralela à política.

Depois da operação que prendeu os irmãos, peritos encontraram nos celulares de Chiquinho indícios de desvio de recursos de emendas parlamentares para "obtenção de vantagens indevidas".

Os dados foram remetidos com um pedido de aprofundamento das investigações ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF.

O UOL rastreou ao menos 190 operações de compra e venda de imóveis da família e de suas empresas desde 2003, quando Domingos assumiu seu segundo mandato como deputado estadual.

A maioria das transações ocorreu entre 2018 e 2023.

Em alguns casos, os ganhos superam a média de transações similares do mercado.

Em outubro de 2017, a Superplan, de Domingos Brazão, comprou por R$ 2,7 milhões imóvel na estrada Rio-Petrópolis -- um terreno de 29 mil m² onde ficava um galpão que já tinha abrigado um supermercado.

O prédio de dois andares foi vendido em julho de 2023 por R$ 22 milhões para uma sociedade de propósito específico que o arrendou para a rede de supermercados Sendas.

O lucro de 714% em uma única transação é um indício, segundo a PF, de que as operações imobiliárias da família seriam ainda uma forma de dar aparência limpa a dinheiro sem origem lícita.

O padrão se repete em outros negócios. Em julho de 2011, Domingos comprou, na pessoa física, um apartamento em Jacarepaguá por R$ 1,6 milhão. Em julho de 2012, ele revendeu o imóvel por R$ 3,1 milhões, mais do que dobrando o capital declarado em apenas sete meses.

Chiquinho Brazão só vendeu dois imóveis nos últimos anos. Segundo as matrículas, agora pertencem à Superplan -- a holding controlada pelo seu irmão, Domingos.

Juntas, as vendas foram registradas por R$ 500 mil.