Geraldo Pieroni | Universidade Tuiuti do Paraná (original) (raw)
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Papers by Geraldo Pieroni
Nas cidades coloniais, blasfemar era algo comum. Autoridades administrativas, clérigos, soldados,... more Nas cidades coloniais, blasfemar era algo comum. Autoridades administrativas, clérigos, soldados, prostitutas, marinheiros e degredados afiavam a língua nas praças e tabernas. Os alvos eram Deus, Cristo e os apóstolos. "Cristo é tão infame quanto a lama da rua", ousou dizer um certo português chamado Antônio Meneses. Antônio Pires jogou o terço e a imagem de Jesus ladeira abaixo. Luís Cabral gritou colérico, que queria matar "Nosso Senhor com duas pelotas de fuzil". A boca é representada na iconografia universal tanto pela gorja do monstro quanto pelos lábios dos anjos, podendo ser a porta do Paraíso ou a do Inferno. O historiador Jean Delumeau, consciente desta relação, afirma que o blasfemador não aparece mais somente como aquele que arrisca a desencadear a cólera divina. Simboliza também e, sobretudo, aquele que ameaça uma harmonia social.
Neste estudo, analisa-se o processo inquisitorial da portuguesa Maria Ferreira, condenada em 1673... more Neste estudo, analisa-se o processo inquisitorial da portuguesa Maria Ferreira, condenada em 1673 pelo tribunal do Santo Ofício, a sete anos de degredo no Brasil. A ré era acusada de bigamia, condição considerada pela Igreja um crime, um grande pecado e uma grave suspeita de heresia. A análise do processo é feita sob uma perspectiva histórica, religiosa e jurídica, como também sob uma perspectiva linguística, por meio da descrição e análise dos vocábulos utilizados no processo pelos juízes da Inquisição. A análise do vocabulário inquisitorial tem como objetivo demonstrar que os usos da linguagem revelam a cultura e os modos de pensamento de uma sociedade e de uma época.
Nas cidades coloniais, blasfemar era algo comum. Autoridades administrativas, clérigos, soldados,... more Nas cidades coloniais, blasfemar era algo comum. Autoridades administrativas, clérigos, soldados, prostitutas, marinheiros e degredados afiavam a língua nas praças e tabernas. Os alvos eram Deus, Cristo e os apóstolos. "Cristo é tão infame quanto a lama da rua", ousou dizer um certo português chamado Antônio Meneses. Antônio Pires jogou o terço e a imagem de Jesus ladeira abaixo. Luís Cabral gritou colérico, que queria matar "Nosso Senhor com duas pelotas de fuzil". A boca é representada na iconografia universal tanto pela gorja do monstro quanto pelos lábios dos anjos, podendo ser a porta do Paraíso ou a do Inferno. O historiador Jean Delumeau, consciente desta relação, afirma que o blasfemador não aparece mais somente como aquele que arrisca a desencadear a cólera divina. Simboliza também e, sobretudo, aquele que ameaça uma harmonia social.
Neste estudo, analisa-se o processo inquisitorial da portuguesa Maria Ferreira, condenada em 1673... more Neste estudo, analisa-se o processo inquisitorial da portuguesa Maria Ferreira, condenada em 1673 pelo tribunal do Santo Ofício, a sete anos de degredo no Brasil. A ré era acusada de bigamia, condição considerada pela Igreja um crime, um grande pecado e uma grave suspeita de heresia. A análise do processo é feita sob uma perspectiva histórica, religiosa e jurídica, como também sob uma perspectiva linguística, por meio da descrição e análise dos vocábulos utilizados no processo pelos juízes da Inquisição. A análise do vocabulário inquisitorial tem como objetivo demonstrar que os usos da linguagem revelam a cultura e os modos de pensamento de uma sociedade e de uma época.