Rodrigo O B Reis | Universidade Federal do Amazonas (original) (raw)
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Papers by Rodrigo O B Reis
Mundo Amazónico
A rede transfronteiriça pode ser entendida como um processo de articulação e colaboração efetiva ... more A rede transfronteiriça pode ser entendida como um processo de articulação e colaboração efetiva entre pesquisadores e instituições universitárias nos três países que formam a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. O seu objetivo fundamental é sistematizar informações, pesquisar, monitorar e divulgar resultados sobre a pandemia de forma conjunta, ou seja, pensar nessas localidades e municípios fronteiriços dos três países como uma única região transfronteiriça. Essa perspectiva de pesquisa e análise dos dados visa romper com o nacionalismo metodológico tão presente nas pesquisas nas zonas fronteiriças internacionais. Isso coloca uma série de desafios na sistematização conjunta informação, à medida que as instituições de cada Estado-nação desenvolvem diferentes metodologias e diferentes prazos para publicação de dados oficiais, além de problemas de subnotificação em alguns casos. Essas dificuldades tornaram-se muito presentes no processo de produzir boletins de covid 19 na...
Anuário Antropológico, 2021
Antropologia na fronteira & fronteiras da Antropologia: experiências de ensino, pesquisa e extens... more Antropologia na fronteira & fronteiras da Antropologia: experiências de ensino, pesquisa e extensão universitária em uma região transfronteiriça
Mundo Amazónico, 2020
Neste estudo, apresentamos um panorama do espalhamento do novo Coronavírus (SARS-Cov-2) nos munic... more Neste estudo, apresentamos um panorama do espalhamento do novo Coronavírus (SARS-Cov-2) nos municípios da microrregião Alto Solimões no Estado do Amazonas, Brasil. Os dados utilizados são oriundos do Sistema Monitoramento de casos de infecção por Covid-19 nos municípios do estado do Amazonas e do Sistema Monitoramento de casos de Covid-19 nos povos indígenas do Brasil, organizados em um banco de dados e no WebSig, coordenados por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Sul e do Amazonas, e da Universidade do Estado do Amazonas. Sistematizamos e analisamos informações disponibilizadas por organismos públicos municipais e estaduais, responsáveis pela prevenção e combate à pandemia, com destaque para os dados divulgados sobre a saúde indígena, presentes nos boletins da Secretaria Especial de Saúde Indígena, mas questionados por informes de organizações indígenas. Confrontados com as características geográficas, políticas e socioeconômicas da microrregião do Alto Solim...
Cadernos de Estudos Socioambientais, Jul 30, 2020
A presente Nota Técnica tem como objetivo auxiliar à produção e análise das informações sobre a p... more A presente Nota Técnica tem como objetivo auxiliar à produção e análise das informações sobre a propagação da COVID-19 entre os povos indígenas que habitam a fronteira amazônica entre Brasil, Colômbia e Perú. Para tanto, no presente documento, reunimos informações territoriais e censitárias das populações indígenas produzidas por órgãos governamentais do Brasil (IBGE, FUNAI e SESAI) e da Colômbia (DANE).
Anuário Antropológico, 2021
Recorrendo ao exercício autorreflexivo, analisamos a implantação do curso de graduação em Antropo... more Recorrendo ao exercício autorreflexivo, analisamos a implantação do curso de graduação em Antropologia no campus da Universidade Federal do Amazonas na cidade de Benjamin Constant e sua associação ao recente processo de expansão universitária no Brasil. A situação analisada se desenvolve na região de tríplice fronteira amazônica entre Brasil, Colômbia e Peru e traz à luz questões sobre a polissemia da fronteira; o contexto político que propiciou a criação do curso; algumas representações da Amazônia e da Antropologia; e os efeitos desse processo para o fazer antropológico. Refletimos como nossas experiências de ensino, pesquisa e extensão na fronteira foram positivamente afetadas pelos modos de experimentação da antropologia vivenciados pelas estudantes mulheres e indígenas com quem partilhamos esse percurso.
ANUÁRIO DO INSTITUTO DE NATUREZA E CULTURA, 2016
O objetivo da pesquisa foi descrever o modo de vida dos moradores de São José e identificar as at... more O objetivo da pesquisa foi descrever o modo de vida dos moradores de São José e identificar as atividades produtivas, com foco na análise do sistema de produção agrícola. A Comunidade São José localiza-se na Ilha de Aramaçá em ambiente de várzea, situada à margem direita do rio Solimões. O delineamento da pesquisa de campo foi o estudo de caso com o uso das técnicas de entrevistas e observação. A produção agrícola predominantemente é voltada ao autoconsumo e o excedente destinado à comercialização. Os agricultores cultivam várias espécies, colhidas, principalmente, na época seca. Realizam diversas atividades no ano agrícola: pesca, caça, plantio, colheita e criação de animais de pequeno porte. A produção na várzea satisfaz, relativamente, as necessidades de alimentos das unidades familiares, favorecendo a segurança alimentar e a conservação do sistema ambiental.
Revista Eletrônica OABRJ, 2018
Resumo: Tendo como motivação inicial os estudos e o acompanhamento da situação de povos indígenas... more Resumo: Tendo como motivação inicial os estudos e o acompanhamento da situação de povos indígenas que vivem em regiões de fronteira e tiveram seus territórios divididos pelos limites dos estados nacionais, em especial os Matsés (família linguística Pano), o presente texto busca sistematizar algumas leituras e reflexões acerca dos direitos territoriais dos povos indígenas estabelecidos nas legislações de Brasil e Peru. Compreendemos que investigar as fundamentações do indigenismo oficial destes países em relação à distância entre os direitos efetivamente adquiridos e a sua garantia por meio de políticas governamentais pode contribuir para um debate sobre as relações normativas e cotidianas que se desdobre na análise dos aparelhos de poder que têm um papel determinante na garantia dos direitos dos povos indígenas. Ao final do artigo analisamos os direitos territoriais dos povos indígenas à luz dos marcos legais internacionais e da influência dos grandes projetos econômicos. Palavras-chave: Indigenismo; Direitos; Territórios Indígenas; Amazônia Introdução O presente artigo é resultante do projeto de pesquisa Critérios de indianidade e direitos territoriais indígenas: um estudo comparado sobre o Brasil e o Peru 1. que propõe um estudo comparativo sobre a categoria de indianidade e a sua influência nas legislações brasileira e peruana concernentes aos direitos territoriais indígenas. Ao indagar sobre os
RESUMO O presente artigo trata da relação entre etnicidade e nacionalidade a partir da análise da... more RESUMO O presente artigo trata da relação entre etnicidade e nacionalidade a partir da análise da situação do povo Matsés (Pano) que habita a zona limítrofe entre o Brasil e o Peru. Adotando a perspectiva de que as regiões fronteiriças configuram espaços que possibilitam observar as estratégias dos Estados e das populações locais de definição e redefinição territorial, buscamos abordar a etnicidade e a nacionalidade como expressões identitárias inter-relacionadas em um espaço sociocultural de fronteiras políticas entre países. A região estudada tem sido palco de diversas frentes econômicas, como a exploração da seringa e do caucho, posteriormente, a exploração madeireira e, mais recentemente, os projetos de concessão para exploração petrolífera no Peru e sua população é constituída de uma diversidade de povos indígenas, de comunidades ribeirinhas (pescadores, agricultores, seringueiros, extratores e coletores de modo geral) e por pessoas de outras regiões, como militares, pesquisadores e missionários. Neste cenário, os Matsés vêm estabelecendo diversas relações interétnicas ao longo do tempo, definindo e redefinindo sua identidade, construindo sua territorialidade e (re)formulando sua organização social e política. O quadro de relações estabelecidos entre os Matsés e as agências indigenistas governamentais e não governamentais, aliado às dinâmicas internas ao grupo, tem provocado tanto processos de sedentarização e fixação de comunidades quanto a mobilidade de grupos ou subgrupos na área do rio Javari e seus afluentes. Neste sentido, buscaremos discutir a configuração de novos padrões de territorialidade dos quais decorrem novas formas de organização social e política.
Os índios a que se refere, eram os Majurunas ou Mangeronas, que constituíam uma das tribus mais e... more Os índios a que se refere, eram os Majurunas ou Mangeronas, que constituíam uma das tribus mais espalhadas e mais temíveis do alto Amazonas. Êles não reconhecem a supremacia espanhola nem a portuguesa, diz Von Martius, anotando a Spix, e são perigosos para os viajantes brasileiros do Javarí, assim como para os espanhóis do Ucaiale. (Anísio Jobim, Panoramas Amazônicos, VI).
Book Reviews by Rodrigo O B Reis
Apresentada primeiramente como Tese de Doutorado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Soc... more Apresentada primeiramente como Tese de Doutorado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, a obra aqui analisada recebeu o Prêmio ABA-GTZ 2008-2010, “Povos Indígenas na Amazônia: Cenários etnográficos de mudança e continuidade”, que possibilitou
a sua publicação em forma de livro.
Thesis Chapters by Rodrigo O B Reis
A presente tese parte da ideia de que os indígenas do Vale do Javari – a segunda maior Terra Indí... more A presente tese parte da ideia de que os indígenas do Vale do Javari – a segunda maior Terra Indígena brasileira, situada na fronteira com o Peru – estão conquistando a cidade, em suas múltiplas dimensões. Busco demonstrar, nesta tese, o que significa, então, essa Conquista da cidade. Afinal de contas, o que eles estão conquistando? Como se deu esse processo? Quais os impactos no conjunto das relações intra e interétnicas na região? Partindo de uma abordagem processualista, pensar essa
Conquista da cidade não poderia ser feito sem um diálogo entre a antropologia e a história. Neste sentido, o caminho percorrido até a apresentação dos argumentos e das respostas a essas questões centrais inclui descrições e análises sobre o processo de construção da tríplice fronteira amazônica Brasil-Colômbia-Peru, um processo
constante, inacabado, que atinge todas as populações da região. Processo que associa diferentes frentes econômicas, fundamentalmente as extrativistas, e um conjunto diverso de legislações e políticas governamentais, que ao longo de mais de um século afetam diretamente a vida, os corpos e territórios dessas populações. Este processo de fronteirização é analisado articuladamente a outro, que para este trabalho é central, que é o de territorialização. E não está dissociado de outros, como a constituição do campo indigenista no Brasil, a partir da implementação de políticas de atração e de contato; das transformações do indigenismo, que incluem as mudanças ocorridas no âmbito da FUNAI, assim como, da diversificação dos agentes, governamentais e não governamentais, responsáveis pela implementação de políticas públicas voltadas às populações indígenas. Na busca de tentar responder como ocorre a conquista e o que os indígenas estão conquistando na cidade, observo que as diferentes políticas de construção de fronteiras e as ações do Estado e de instituições não governamentais voltadas às populações indígenas se articulam com a política indígena. É no conjunto de relações que são configuradas nesses processos que os indígenas do Vale do Javari, desde o início da república no Brasil, em 1889, passando por diversas frentes econômicas, como a da borracha e da madeira, além de outras secundárias, como a caça e a comercialização de peles de animais silvestres; e pela implementação da política indigenista da FUNAI, a partir dos anos 1970, vão estabelecer diferentes estratégias e construir respostas através das quais a luta pelo território estará, concomitantemente, criando condições para aquilo que aqui apresento como Conquista da cidade. Desta forma, a Terra Indígena demarcada não está, de forma alguma, dissociada da cidade, assim como é possível identificar a dependência da cidade em relação às políticas de gestão da terra indígena, especialmente, na atração e movimentação de recursos humanos e financeiros, responsáveis por grande parte da economia lícita existente. Como procuro argumentar, a presença e a conquista da cidade são alimentadas e fortalecem o que foi conquistado, isto é, o território, as políticas de educação e saúde, assim como a própria participação política dos indígenas nas esferas de governo.
Mundo Amazónico
A rede transfronteiriça pode ser entendida como um processo de articulação e colaboração efetiva ... more A rede transfronteiriça pode ser entendida como um processo de articulação e colaboração efetiva entre pesquisadores e instituições universitárias nos três países que formam a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. O seu objetivo fundamental é sistematizar informações, pesquisar, monitorar e divulgar resultados sobre a pandemia de forma conjunta, ou seja, pensar nessas localidades e municípios fronteiriços dos três países como uma única região transfronteiriça. Essa perspectiva de pesquisa e análise dos dados visa romper com o nacionalismo metodológico tão presente nas pesquisas nas zonas fronteiriças internacionais. Isso coloca uma série de desafios na sistematização conjunta informação, à medida que as instituições de cada Estado-nação desenvolvem diferentes metodologias e diferentes prazos para publicação de dados oficiais, além de problemas de subnotificação em alguns casos. Essas dificuldades tornaram-se muito presentes no processo de produzir boletins de covid 19 na...
Anuário Antropológico, 2021
Antropologia na fronteira & fronteiras da Antropologia: experiências de ensino, pesquisa e extens... more Antropologia na fronteira & fronteiras da Antropologia: experiências de ensino, pesquisa e extensão universitária em uma região transfronteiriça
Mundo Amazónico, 2020
Neste estudo, apresentamos um panorama do espalhamento do novo Coronavírus (SARS-Cov-2) nos munic... more Neste estudo, apresentamos um panorama do espalhamento do novo Coronavírus (SARS-Cov-2) nos municípios da microrregião Alto Solimões no Estado do Amazonas, Brasil. Os dados utilizados são oriundos do Sistema Monitoramento de casos de infecção por Covid-19 nos municípios do estado do Amazonas e do Sistema Monitoramento de casos de Covid-19 nos povos indígenas do Brasil, organizados em um banco de dados e no WebSig, coordenados por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Sul e do Amazonas, e da Universidade do Estado do Amazonas. Sistematizamos e analisamos informações disponibilizadas por organismos públicos municipais e estaduais, responsáveis pela prevenção e combate à pandemia, com destaque para os dados divulgados sobre a saúde indígena, presentes nos boletins da Secretaria Especial de Saúde Indígena, mas questionados por informes de organizações indígenas. Confrontados com as características geográficas, políticas e socioeconômicas da microrregião do Alto Solim...
Cadernos de Estudos Socioambientais, Jul 30, 2020
A presente Nota Técnica tem como objetivo auxiliar à produção e análise das informações sobre a p... more A presente Nota Técnica tem como objetivo auxiliar à produção e análise das informações sobre a propagação da COVID-19 entre os povos indígenas que habitam a fronteira amazônica entre Brasil, Colômbia e Perú. Para tanto, no presente documento, reunimos informações territoriais e censitárias das populações indígenas produzidas por órgãos governamentais do Brasil (IBGE, FUNAI e SESAI) e da Colômbia (DANE).
Anuário Antropológico, 2021
Recorrendo ao exercício autorreflexivo, analisamos a implantação do curso de graduação em Antropo... more Recorrendo ao exercício autorreflexivo, analisamos a implantação do curso de graduação em Antropologia no campus da Universidade Federal do Amazonas na cidade de Benjamin Constant e sua associação ao recente processo de expansão universitária no Brasil. A situação analisada se desenvolve na região de tríplice fronteira amazônica entre Brasil, Colômbia e Peru e traz à luz questões sobre a polissemia da fronteira; o contexto político que propiciou a criação do curso; algumas representações da Amazônia e da Antropologia; e os efeitos desse processo para o fazer antropológico. Refletimos como nossas experiências de ensino, pesquisa e extensão na fronteira foram positivamente afetadas pelos modos de experimentação da antropologia vivenciados pelas estudantes mulheres e indígenas com quem partilhamos esse percurso.
ANUÁRIO DO INSTITUTO DE NATUREZA E CULTURA, 2016
O objetivo da pesquisa foi descrever o modo de vida dos moradores de São José e identificar as at... more O objetivo da pesquisa foi descrever o modo de vida dos moradores de São José e identificar as atividades produtivas, com foco na análise do sistema de produção agrícola. A Comunidade São José localiza-se na Ilha de Aramaçá em ambiente de várzea, situada à margem direita do rio Solimões. O delineamento da pesquisa de campo foi o estudo de caso com o uso das técnicas de entrevistas e observação. A produção agrícola predominantemente é voltada ao autoconsumo e o excedente destinado à comercialização. Os agricultores cultivam várias espécies, colhidas, principalmente, na época seca. Realizam diversas atividades no ano agrícola: pesca, caça, plantio, colheita e criação de animais de pequeno porte. A produção na várzea satisfaz, relativamente, as necessidades de alimentos das unidades familiares, favorecendo a segurança alimentar e a conservação do sistema ambiental.
Revista Eletrônica OABRJ, 2018
Resumo: Tendo como motivação inicial os estudos e o acompanhamento da situação de povos indígenas... more Resumo: Tendo como motivação inicial os estudos e o acompanhamento da situação de povos indígenas que vivem em regiões de fronteira e tiveram seus territórios divididos pelos limites dos estados nacionais, em especial os Matsés (família linguística Pano), o presente texto busca sistematizar algumas leituras e reflexões acerca dos direitos territoriais dos povos indígenas estabelecidos nas legislações de Brasil e Peru. Compreendemos que investigar as fundamentações do indigenismo oficial destes países em relação à distância entre os direitos efetivamente adquiridos e a sua garantia por meio de políticas governamentais pode contribuir para um debate sobre as relações normativas e cotidianas que se desdobre na análise dos aparelhos de poder que têm um papel determinante na garantia dos direitos dos povos indígenas. Ao final do artigo analisamos os direitos territoriais dos povos indígenas à luz dos marcos legais internacionais e da influência dos grandes projetos econômicos. Palavras-chave: Indigenismo; Direitos; Territórios Indígenas; Amazônia Introdução O presente artigo é resultante do projeto de pesquisa Critérios de indianidade e direitos territoriais indígenas: um estudo comparado sobre o Brasil e o Peru 1. que propõe um estudo comparativo sobre a categoria de indianidade e a sua influência nas legislações brasileira e peruana concernentes aos direitos territoriais indígenas. Ao indagar sobre os
RESUMO O presente artigo trata da relação entre etnicidade e nacionalidade a partir da análise da... more RESUMO O presente artigo trata da relação entre etnicidade e nacionalidade a partir da análise da situação do povo Matsés (Pano) que habita a zona limítrofe entre o Brasil e o Peru. Adotando a perspectiva de que as regiões fronteiriças configuram espaços que possibilitam observar as estratégias dos Estados e das populações locais de definição e redefinição territorial, buscamos abordar a etnicidade e a nacionalidade como expressões identitárias inter-relacionadas em um espaço sociocultural de fronteiras políticas entre países. A região estudada tem sido palco de diversas frentes econômicas, como a exploração da seringa e do caucho, posteriormente, a exploração madeireira e, mais recentemente, os projetos de concessão para exploração petrolífera no Peru e sua população é constituída de uma diversidade de povos indígenas, de comunidades ribeirinhas (pescadores, agricultores, seringueiros, extratores e coletores de modo geral) e por pessoas de outras regiões, como militares, pesquisadores e missionários. Neste cenário, os Matsés vêm estabelecendo diversas relações interétnicas ao longo do tempo, definindo e redefinindo sua identidade, construindo sua territorialidade e (re)formulando sua organização social e política. O quadro de relações estabelecidos entre os Matsés e as agências indigenistas governamentais e não governamentais, aliado às dinâmicas internas ao grupo, tem provocado tanto processos de sedentarização e fixação de comunidades quanto a mobilidade de grupos ou subgrupos na área do rio Javari e seus afluentes. Neste sentido, buscaremos discutir a configuração de novos padrões de territorialidade dos quais decorrem novas formas de organização social e política.
Os índios a que se refere, eram os Majurunas ou Mangeronas, que constituíam uma das tribus mais e... more Os índios a que se refere, eram os Majurunas ou Mangeronas, que constituíam uma das tribus mais espalhadas e mais temíveis do alto Amazonas. Êles não reconhecem a supremacia espanhola nem a portuguesa, diz Von Martius, anotando a Spix, e são perigosos para os viajantes brasileiros do Javarí, assim como para os espanhóis do Ucaiale. (Anísio Jobim, Panoramas Amazônicos, VI).
Apresentada primeiramente como Tese de Doutorado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Soc... more Apresentada primeiramente como Tese de Doutorado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, a obra aqui analisada recebeu o Prêmio ABA-GTZ 2008-2010, “Povos Indígenas na Amazônia: Cenários etnográficos de mudança e continuidade”, que possibilitou
a sua publicação em forma de livro.
A presente tese parte da ideia de que os indígenas do Vale do Javari – a segunda maior Terra Indí... more A presente tese parte da ideia de que os indígenas do Vale do Javari – a segunda maior Terra Indígena brasileira, situada na fronteira com o Peru – estão conquistando a cidade, em suas múltiplas dimensões. Busco demonstrar, nesta tese, o que significa, então, essa Conquista da cidade. Afinal de contas, o que eles estão conquistando? Como se deu esse processo? Quais os impactos no conjunto das relações intra e interétnicas na região? Partindo de uma abordagem processualista, pensar essa
Conquista da cidade não poderia ser feito sem um diálogo entre a antropologia e a história. Neste sentido, o caminho percorrido até a apresentação dos argumentos e das respostas a essas questões centrais inclui descrições e análises sobre o processo de construção da tríplice fronteira amazônica Brasil-Colômbia-Peru, um processo
constante, inacabado, que atinge todas as populações da região. Processo que associa diferentes frentes econômicas, fundamentalmente as extrativistas, e um conjunto diverso de legislações e políticas governamentais, que ao longo de mais de um século afetam diretamente a vida, os corpos e territórios dessas populações. Este processo de fronteirização é analisado articuladamente a outro, que para este trabalho é central, que é o de territorialização. E não está dissociado de outros, como a constituição do campo indigenista no Brasil, a partir da implementação de políticas de atração e de contato; das transformações do indigenismo, que incluem as mudanças ocorridas no âmbito da FUNAI, assim como, da diversificação dos agentes, governamentais e não governamentais, responsáveis pela implementação de políticas públicas voltadas às populações indígenas. Na busca de tentar responder como ocorre a conquista e o que os indígenas estão conquistando na cidade, observo que as diferentes políticas de construção de fronteiras e as ações do Estado e de instituições não governamentais voltadas às populações indígenas se articulam com a política indígena. É no conjunto de relações que são configuradas nesses processos que os indígenas do Vale do Javari, desde o início da república no Brasil, em 1889, passando por diversas frentes econômicas, como a da borracha e da madeira, além de outras secundárias, como a caça e a comercialização de peles de animais silvestres; e pela implementação da política indigenista da FUNAI, a partir dos anos 1970, vão estabelecer diferentes estratégias e construir respostas através das quais a luta pelo território estará, concomitantemente, criando condições para aquilo que aqui apresento como Conquista da cidade. Desta forma, a Terra Indígena demarcada não está, de forma alguma, dissociada da cidade, assim como é possível identificar a dependência da cidade em relação às políticas de gestão da terra indígena, especialmente, na atração e movimentação de recursos humanos e financeiros, responsáveis por grande parte da economia lícita existente. Como procuro argumentar, a presença e a conquista da cidade são alimentadas e fortalecem o que foi conquistado, isto é, o território, as políticas de educação e saúde, assim como a própria participação política dos indígenas nas esferas de governo.