Hélio Ázara de Oliveira | UFCG - Universidade Federal de Campina Grande (original) (raw)
Papers by Hélio Ázara de Oliveira
Civitas - Revista de Ciências Sociais
O objetivo deste artigo consiste em propor uma hipótese explicativa para o autoritarismo contempo... more O objetivo deste artigo consiste em propor uma hipótese explicativa para o autoritarismo contemporâneo no Brasil que leve em conta de modo consequente as especificidades da nossa cultura e história. Para tanto, e para problematizar as propostas interpretativas baseadas em uma reedição brasileira do fascismo italiano, iniciaremos discutindo o problema da repetição na história e a função heurística do passado e da cultura nacional na explicação do presente a partir de Hegel, Marx e Gramsci. Como conclusão, sugerimos interpretar o bolsonarismo como forma política atual da restauração reacionária neoliberal no Brasil.
Revista Novos Rumos, 2014
O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de O Capit... more O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de O Capital, mais precisamente nos interessa apontar como as primeiras polêmicas em torno da primeira seção de O Capital determinaram o problema que ficou conhecido como referência histórica das categorias. Trata-se, como veremos, do problema de determinar por onde deve começar a exposição da crítica da Economia Política, se pelos começos da civilização, e, portanto, a partir do pré-capitalismo, ou se deve-se começar já desde sempre a partir do capitalismo.
Cadernos Cemarx, May 10, 2013
Considerações sobre a Dialética do Abstrato e do Concreto na Circulação Simples de O Capital Héli... more Considerações sobre a Dialética do Abstrato e do Concreto na Circulação Simples de O Capital Hélio Ázara de Oliveira 1 Resumo: Marx inicia a exposição categorial de sua principal obra pela circulação simples, isto é, pelo abstrato capitalista. Esta "opção" não é, sem dúvida, acidental. Ela é fruto e resultado de uma adesão metodológica clara. Procuramos neste artigo analisar de que modo a dialética do abstrato e do concreto estrutura a exposição que abre O Capital, e, em um segundo momento, procuramos destacar como esta dialética se reporta a uma relação ainda mais ampla, aquela que existe entre aparência e essência. Com isso buscamos ressaltar a herança filosófica da qual parte Marx ao fazer a seu diagnóstico da sociedade moderna.
O livro Marx e a Dialetica da Sociedade Civil, resultado do ja tradicional “Seminario Internacion... more O livro Marx e a Dialetica da Sociedade Civil, resultado do ja tradicional “Seminario Internacional de Teoria Politica do Socialismo”, da Faculdade de Filosofia e Ciencias da Unesp (FFC), em sua quinta edicao, vem colaborar para a consolidacao das inumeras pesquisas sobre a Teoria Social Marxiana, que estao sendo desenvolvidas em diversas universidades brasileiras, latinoamericanas e europeias. Esses estudos internacionais se alargaram para afrontar as questoes centrais de nossa epoca, em particular, apos a crise das breves experiencias socialistas e “socializantes” do seculo XX, em que a FFC teve papel de vanguarda, quando em abril de 1993 – em meio a onda de pessimismo e de ataques ao marxismo, notoriamente, as apressadas conclusoes sobre a “impossibilidade” do socialismo a conhecida teoria do “fim da historia” – organizou o seminario Liberalismo e Socialismo: Novos e Velhos Paradigmas. Os temas abordados no livro inserem-se no amplo debate do assim chamado “marxismo do seculo XX...
Artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Revista Novos Rumos
O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito de Esta... more O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito de Estado (bem como das relações recíprocas entre capital e Estado) por parte de K. Marx em O Capital. Como se sabe, Marx não se ocupou sistematicamente deste conceito, mas seria esse “ponto cego” de sua teoria da moderna sociedade civil burguesa algo de irremediável? Quais são as ligações e os distanciamentos entre a teoria do capital e o problema do Estado? Neste breve texto apresentamos oito teses extraídas da leitura do Livro I de O Capital como uma contribuição para este debate que segue aberto.
Esta tese procura reconstituir as categorias essenciais do "conceito marxiano de capital com... more Esta tese procura reconstituir as categorias essenciais do "conceito marxiano de capital como tal", entendido como o nucleo da critica de Marx a Economia Politica e a sociedade capitalista, a que esta ciencia corresponde. Nessa reconstituicao nosso fio condutor e o uso heuristico feito por Marx de operadores da Logica hegeliana. Procuramos explicitar o modo como Marx se utiliza da dialetica da finitude, que tem como operadores logicos as nocoes de limite e barreira, para caracterizar a subjetividade do capital, uma subjetividade marcada pela infinitude da vontade de valor e mais-valor. Essa vontade infinita de valorizacao se constitui no traco caracteristico do capital como tal, ou seja, o nao reconhecimento de limites ou a transformacao reiterada de seus proprios limites em barreiras e sua consequente superacao. Procuramos mostrar em que consiste a afirmacao do capital como relacao, isto e, como o capital tem o poder de fixar e subordinar a si o seu outro, o trabalho assa...
A história do mundo é para G. W. F. Hegel o automovimento do espírito no caminho da descoberta de... more A história do mundo é para G. W. F. Hegel o automovimento do espírito no caminho da descoberta de sua liberdade. Essa liberdade é, a um só tempo, o conteúdo e o Fim da História. É importante começar nossa reflexão trazendo à memória os elementos fundamentais da Filosofia hegeliana da História, quais sejam, o Indivíduo, o Povo e o Estado, esses elementos se relacionam, entre outros, com o tema da Revolução, que é posta em relevo no capítulo final das Lições sobre Filosofia da História de Hegel. Para Hegel estes "elementos" são os "encarregados das tarefas da História", entendida como caminho percorrido pelo Espírito na apreensão consciente de sua própria liberdade. A seu modo, K. Marx irá entender a História como um movimento [não isento de contradições, pois revoluções e
RESUMO: O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito... more RESUMO: O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito de Estado (bem como das relações recíprocas entre capital e Estado) por parte de K. Marx em O Capital. Como se sabe, Marx não se ocupou sistematicamente deste conceito, mas seria esse "ponto cego" de sua teoria da moderna sociedade civil burguesa algo de irremediável? Quais são as ligações e os distanciamentos entre a teoria do capital e o problema do Estado? Neste breve texto apresentamos oito teses extraídas da leitura do Livro I de O Capital como uma contribuição para este debate que segue aberto. Palavras-chave: Estado. Capital. Dialética Marxista. ABSTRACT; This article seeks to identify the difficulties of no systematic treatment of the concept of State (as well as the reciprocal relations between capital and state) by Marx in Capital. As is known, Marx did not systematically pay atention to this concept, but it would be this "blind spot" of his theory of modern bourgeois civil society something irremediable? What are the connections and the distances between the theory of capital and the problem of the state? In this short text we present eight theses drawn from reading the Book I of Capital as a contribution to this debate that remains open. Passados duzentos anos de seu nascimento e ao menos cento e cinquenta anos após a publicação do núcleo de sua crítica da economia política, os estudos sobre Marx ganham novamente força, suas obras, ou ao menos, a história de preparação destas e os materiais preparatórios que restavam inéditos passam a ser publicados. O imenso trabalho da Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA 2) nos dá acesso ao "laboratório de Marx", para usar uma expressão de Michael Heinrich 3 , mas é evidente que o mero trabalho editorial e mesmo filológico não tem o poder de sanar todas as inúmeras dificuldades textuais e interpretativas sobre o pensamento de Marx. Assoma-se a isso o fato de que recentemente, por conta da a atual "crise de sobreacumulação" (Cf. GRESPAN, 2009, p. 11-7), Marx foi "reavaliado" no debate econômico mesmo por teóricos ligados ao FMI e pela revista The Economist. Ainda no que diz respeito às dificuldades e de soluções criativas destacariamos a instigante "Teoria Materialista do Estado" de Joachim Hirsch, que é parte de uma tarefa crítica que visa lançar luzes sobre o que se pode considerar um "ponto cego" da Crítica da Economia Política, ao menos tal como apresentada por Marx em O Capital. Como ressalta Hirsch, o próprio Marx não se ocupou sistematicamente do Estado (p. 19), o que certamente não quer dizer que não tenha se ocupado dele em sua teoria da sociedade burguesa moderna. A dificuldade toda passa a ser o caráter "não sistemático" e "indireto" da tema do Estado por parte de Marx. A esta dificuldade se busca fazer frente com uma reconstituição categorial, e é justamente este procedimento, realizado por Hirsch no capítulo de abertura de sua obra, que gostaríamos de destacar brevemente. Ao discutir os "Traços fundamentais da teoria materialista do Estado", título de seu primeiro capítulo, Hirsch recorre à apresentação categorial de O Capital e busca deduzir desta apresentação as manifestações da forma Estado. O ganho teórico contido neste procedimento metodológico está no fato de que ao Estado seja aplicada uma análise que remeta aos esquemas e circuitos do valor, tal como feito por Marx em sua obra fundamental, e com isso se faz revelar seu caráter enfeitiçado. 4 Assim como as relações sociais dos homens aparecem, por meio da oposição interna constitutiva da mercadoria, para os próprios homens como outro autônomo, do processo de subordinação há ação recíproca, uma vez que aquele que é subordinado, no caso o trabalho, também age sobre aquele que subordina. Na luta em torno das barreiras da jornada de trabalho há condicionamento e determinação recíproca, embora haja assimetria de poder, mas o trabalho que é subordinado também age e impõe derrotas à sede vampiresca do capital, e consegue um limite ao sobre-trabalho. Marx utiliza a terminologia da subordinação para falar dos termos da relação, embora, é preciso que se diga, não o faça de modo sistemático e detalhado. De um lado, o capital chega a ser uma totalidade por "subordinar a si a sociedade" 20 , e pensamos que os Grundrisse estão se referindo à subordinação da força produtiva social ao capital, por meio da subordinação formal e real do trabalho ao capital. Esta subordinação faculta ao capital o poder de criar "órgãos" que lhe faltem, isto é, órgãos são criados na sociedade a partir do capital. De outro lado, Marx fala nos Grundrisse sobre "a subordinação do aparelho estatal ao capital" 21 . Este processo é aquele narrado no capítulo 24 do Livro I de O Capital. Marx o sintetiza por meio de uma nova metáfora teológica. Nos começos de sua relação com os Estados europeus o capital "era o 'deus estranho' que se colocava sobre o altar ao lado dos velhos ídolos da Europa e que, um belo dia, com um empurrão e um chute, jogou-os todos por terra. Proclamou a extração de mais-valor como finalidade última e única da humanidade" 22 . Marx estiliza aqui a dominação do capital sobre os valores modernos do Ocidente (autonomia, liberdade, etc.) como a chegada de Paulo apóstolo à Atenas narrada no Capítulo 17 dos Atos dos Apóstolos. O artifício de Paulo consistiu na figuração do cristo como o "deus desconhecido", que fez do cristianismo uma religião extra-judaica, por assim dizer, uma religião não mais tribal ou nacional, antes uma religião universal ou do homem em abstrato, é correlato do poder que o capital assume ao se tornar o modo geral da produção e manutenção da vida. Como uma pequena seita local que se torna a religião mundial, o capital converte a si os valores ou os "velhos ídolos da Europa" e faz de seu modo de ser o modo de viver de toda a humanidade. Daí que "à medida então que a forma mercadoria se alastra por todos os seguimentos da vida, a sociabilidade tende a se articular toda ela pela mediação 20 G, p. 189. 21 G. p. 628. 22 K, I, p. 782; C, I, 2, p. 228. das coisas que mobilizam as pessoas a se relacionarem" 23 . A lógica da valorização do valor, surgida nos estertores da sociedade medieval, era o objetivo de vida de uma fração social, uma pequena "sociedade de lobos". Era uma novidade histórica, daí a referência ao "deus estranho" na estratégia de pregação de Paulo no Panteão de Atenas. A lógica da valorização era a princípio apenas um objetivo e fim entre outros, mas que se tornou fim último e único da humanidade. Contudo, aqui estamos diante dos resultados da subordinação, não de seu processo. 7. Damos ênfase na relação de subordinação em detrimento do esquema da estrutura, mas não nos passa despercebido o caráter insuficiente da opção. O que deveria colocar em termos precisos em que consiste a subordinação seria justamente o "estudo crítico das formas do Estado", não realizado, bem como uma reconstituição dos momentos históricos centrais do condicionamento e determinação recíprocos dos polos da relação. A esta altura já teríamos deixado o domínio (Gebiet) da Crítica da Economia Política. 8. O curioso é que, no domínio da crítica da Filosofia do Direito, a necessidade de um estudo crítico das formas do Estado não havia passado despercebida por Marx. Uma história do direito foi esboçada por Marx nos manuscritos de Kreuznach em 1843 24 , talvez sob a influência de Eduard Gans, de quem Marx foi aluno na antiga Berliner Universität.
RESUMO: O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de... more RESUMO: O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de O Capital, mais precisamente nos interessa apontar como as primeiras polêmicas em torno da primeira seção de O Capital determinaram o problema que ficou conhecido como referência histórica das categorias. Trata-se, como veremos, do problema de determinar por onde deve começar a exposição da crítica da Economia Política, se pelos começos da civilização, e, portanto, a partir do pré-capitalismo, ou se deve-se começar já desde sempre a partir do capitalismo.
Civitas - Revista de Ciências Sociais
O objetivo deste artigo consiste em propor uma hipótese explicativa para o autoritarismo contempo... more O objetivo deste artigo consiste em propor uma hipótese explicativa para o autoritarismo contemporâneo no Brasil que leve em conta de modo consequente as especificidades da nossa cultura e história. Para tanto, e para problematizar as propostas interpretativas baseadas em uma reedição brasileira do fascismo italiano, iniciaremos discutindo o problema da repetição na história e a função heurística do passado e da cultura nacional na explicação do presente a partir de Hegel, Marx e Gramsci. Como conclusão, sugerimos interpretar o bolsonarismo como forma política atual da restauração reacionária neoliberal no Brasil.
Revista Novos Rumos, 2014
O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de O Capit... more O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de O Capital, mais precisamente nos interessa apontar como as primeiras polêmicas em torno da primeira seção de O Capital determinaram o problema que ficou conhecido como referência histórica das categorias. Trata-se, como veremos, do problema de determinar por onde deve começar a exposição da crítica da Economia Política, se pelos começos da civilização, e, portanto, a partir do pré-capitalismo, ou se deve-se começar já desde sempre a partir do capitalismo.
Cadernos Cemarx, May 10, 2013
Considerações sobre a Dialética do Abstrato e do Concreto na Circulação Simples de O Capital Héli... more Considerações sobre a Dialética do Abstrato e do Concreto na Circulação Simples de O Capital Hélio Ázara de Oliveira 1 Resumo: Marx inicia a exposição categorial de sua principal obra pela circulação simples, isto é, pelo abstrato capitalista. Esta "opção" não é, sem dúvida, acidental. Ela é fruto e resultado de uma adesão metodológica clara. Procuramos neste artigo analisar de que modo a dialética do abstrato e do concreto estrutura a exposição que abre O Capital, e, em um segundo momento, procuramos destacar como esta dialética se reporta a uma relação ainda mais ampla, aquela que existe entre aparência e essência. Com isso buscamos ressaltar a herança filosófica da qual parte Marx ao fazer a seu diagnóstico da sociedade moderna.
O livro Marx e a Dialetica da Sociedade Civil, resultado do ja tradicional “Seminario Internacion... more O livro Marx e a Dialetica da Sociedade Civil, resultado do ja tradicional “Seminario Internacional de Teoria Politica do Socialismo”, da Faculdade de Filosofia e Ciencias da Unesp (FFC), em sua quinta edicao, vem colaborar para a consolidacao das inumeras pesquisas sobre a Teoria Social Marxiana, que estao sendo desenvolvidas em diversas universidades brasileiras, latinoamericanas e europeias. Esses estudos internacionais se alargaram para afrontar as questoes centrais de nossa epoca, em particular, apos a crise das breves experiencias socialistas e “socializantes” do seculo XX, em que a FFC teve papel de vanguarda, quando em abril de 1993 – em meio a onda de pessimismo e de ataques ao marxismo, notoriamente, as apressadas conclusoes sobre a “impossibilidade” do socialismo a conhecida teoria do “fim da historia” – organizou o seminario Liberalismo e Socialismo: Novos e Velhos Paradigmas. Os temas abordados no livro inserem-se no amplo debate do assim chamado “marxismo do seculo XX...
Artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Revista Novos Rumos
O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito de Esta... more O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito de Estado (bem como das relações recíprocas entre capital e Estado) por parte de K. Marx em O Capital. Como se sabe, Marx não se ocupou sistematicamente deste conceito, mas seria esse “ponto cego” de sua teoria da moderna sociedade civil burguesa algo de irremediável? Quais são as ligações e os distanciamentos entre a teoria do capital e o problema do Estado? Neste breve texto apresentamos oito teses extraídas da leitura do Livro I de O Capital como uma contribuição para este debate que segue aberto.
Esta tese procura reconstituir as categorias essenciais do "conceito marxiano de capital com... more Esta tese procura reconstituir as categorias essenciais do "conceito marxiano de capital como tal", entendido como o nucleo da critica de Marx a Economia Politica e a sociedade capitalista, a que esta ciencia corresponde. Nessa reconstituicao nosso fio condutor e o uso heuristico feito por Marx de operadores da Logica hegeliana. Procuramos explicitar o modo como Marx se utiliza da dialetica da finitude, que tem como operadores logicos as nocoes de limite e barreira, para caracterizar a subjetividade do capital, uma subjetividade marcada pela infinitude da vontade de valor e mais-valor. Essa vontade infinita de valorizacao se constitui no traco caracteristico do capital como tal, ou seja, o nao reconhecimento de limites ou a transformacao reiterada de seus proprios limites em barreiras e sua consequente superacao. Procuramos mostrar em que consiste a afirmacao do capital como relacao, isto e, como o capital tem o poder de fixar e subordinar a si o seu outro, o trabalho assa...
A história do mundo é para G. W. F. Hegel o automovimento do espírito no caminho da descoberta de... more A história do mundo é para G. W. F. Hegel o automovimento do espírito no caminho da descoberta de sua liberdade. Essa liberdade é, a um só tempo, o conteúdo e o Fim da História. É importante começar nossa reflexão trazendo à memória os elementos fundamentais da Filosofia hegeliana da História, quais sejam, o Indivíduo, o Povo e o Estado, esses elementos se relacionam, entre outros, com o tema da Revolução, que é posta em relevo no capítulo final das Lições sobre Filosofia da História de Hegel. Para Hegel estes "elementos" são os "encarregados das tarefas da História", entendida como caminho percorrido pelo Espírito na apreensão consciente de sua própria liberdade. A seu modo, K. Marx irá entender a História como um movimento [não isento de contradições, pois revoluções e
RESUMO: O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito... more RESUMO: O presente artigo busca apontar as dificuldades do tratamento não sistemático do conceito de Estado (bem como das relações recíprocas entre capital e Estado) por parte de K. Marx em O Capital. Como se sabe, Marx não se ocupou sistematicamente deste conceito, mas seria esse "ponto cego" de sua teoria da moderna sociedade civil burguesa algo de irremediável? Quais são as ligações e os distanciamentos entre a teoria do capital e o problema do Estado? Neste breve texto apresentamos oito teses extraídas da leitura do Livro I de O Capital como uma contribuição para este debate que segue aberto. Palavras-chave: Estado. Capital. Dialética Marxista. ABSTRACT; This article seeks to identify the difficulties of no systematic treatment of the concept of State (as well as the reciprocal relations between capital and state) by Marx in Capital. As is known, Marx did not systematically pay atention to this concept, but it would be this "blind spot" of his theory of modern bourgeois civil society something irremediable? What are the connections and the distances between the theory of capital and the problem of the state? In this short text we present eight theses drawn from reading the Book I of Capital as a contribution to this debate that remains open. Passados duzentos anos de seu nascimento e ao menos cento e cinquenta anos após a publicação do núcleo de sua crítica da economia política, os estudos sobre Marx ganham novamente força, suas obras, ou ao menos, a história de preparação destas e os materiais preparatórios que restavam inéditos passam a ser publicados. O imenso trabalho da Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA 2) nos dá acesso ao "laboratório de Marx", para usar uma expressão de Michael Heinrich 3 , mas é evidente que o mero trabalho editorial e mesmo filológico não tem o poder de sanar todas as inúmeras dificuldades textuais e interpretativas sobre o pensamento de Marx. Assoma-se a isso o fato de que recentemente, por conta da a atual "crise de sobreacumulação" (Cf. GRESPAN, 2009, p. 11-7), Marx foi "reavaliado" no debate econômico mesmo por teóricos ligados ao FMI e pela revista The Economist. Ainda no que diz respeito às dificuldades e de soluções criativas destacariamos a instigante "Teoria Materialista do Estado" de Joachim Hirsch, que é parte de uma tarefa crítica que visa lançar luzes sobre o que se pode considerar um "ponto cego" da Crítica da Economia Política, ao menos tal como apresentada por Marx em O Capital. Como ressalta Hirsch, o próprio Marx não se ocupou sistematicamente do Estado (p. 19), o que certamente não quer dizer que não tenha se ocupado dele em sua teoria da sociedade burguesa moderna. A dificuldade toda passa a ser o caráter "não sistemático" e "indireto" da tema do Estado por parte de Marx. A esta dificuldade se busca fazer frente com uma reconstituição categorial, e é justamente este procedimento, realizado por Hirsch no capítulo de abertura de sua obra, que gostaríamos de destacar brevemente. Ao discutir os "Traços fundamentais da teoria materialista do Estado", título de seu primeiro capítulo, Hirsch recorre à apresentação categorial de O Capital e busca deduzir desta apresentação as manifestações da forma Estado. O ganho teórico contido neste procedimento metodológico está no fato de que ao Estado seja aplicada uma análise que remeta aos esquemas e circuitos do valor, tal como feito por Marx em sua obra fundamental, e com isso se faz revelar seu caráter enfeitiçado. 4 Assim como as relações sociais dos homens aparecem, por meio da oposição interna constitutiva da mercadoria, para os próprios homens como outro autônomo, do processo de subordinação há ação recíproca, uma vez que aquele que é subordinado, no caso o trabalho, também age sobre aquele que subordina. Na luta em torno das barreiras da jornada de trabalho há condicionamento e determinação recíproca, embora haja assimetria de poder, mas o trabalho que é subordinado também age e impõe derrotas à sede vampiresca do capital, e consegue um limite ao sobre-trabalho. Marx utiliza a terminologia da subordinação para falar dos termos da relação, embora, é preciso que se diga, não o faça de modo sistemático e detalhado. De um lado, o capital chega a ser uma totalidade por "subordinar a si a sociedade" 20 , e pensamos que os Grundrisse estão se referindo à subordinação da força produtiva social ao capital, por meio da subordinação formal e real do trabalho ao capital. Esta subordinação faculta ao capital o poder de criar "órgãos" que lhe faltem, isto é, órgãos são criados na sociedade a partir do capital. De outro lado, Marx fala nos Grundrisse sobre "a subordinação do aparelho estatal ao capital" 21 . Este processo é aquele narrado no capítulo 24 do Livro I de O Capital. Marx o sintetiza por meio de uma nova metáfora teológica. Nos começos de sua relação com os Estados europeus o capital "era o 'deus estranho' que se colocava sobre o altar ao lado dos velhos ídolos da Europa e que, um belo dia, com um empurrão e um chute, jogou-os todos por terra. Proclamou a extração de mais-valor como finalidade última e única da humanidade" 22 . Marx estiliza aqui a dominação do capital sobre os valores modernos do Ocidente (autonomia, liberdade, etc.) como a chegada de Paulo apóstolo à Atenas narrada no Capítulo 17 dos Atos dos Apóstolos. O artifício de Paulo consistiu na figuração do cristo como o "deus desconhecido", que fez do cristianismo uma religião extra-judaica, por assim dizer, uma religião não mais tribal ou nacional, antes uma religião universal ou do homem em abstrato, é correlato do poder que o capital assume ao se tornar o modo geral da produção e manutenção da vida. Como uma pequena seita local que se torna a religião mundial, o capital converte a si os valores ou os "velhos ídolos da Europa" e faz de seu modo de ser o modo de viver de toda a humanidade. Daí que "à medida então que a forma mercadoria se alastra por todos os seguimentos da vida, a sociabilidade tende a se articular toda ela pela mediação 20 G, p. 189. 21 G. p. 628. 22 K, I, p. 782; C, I, 2, p. 228. das coisas que mobilizam as pessoas a se relacionarem" 23 . A lógica da valorização do valor, surgida nos estertores da sociedade medieval, era o objetivo de vida de uma fração social, uma pequena "sociedade de lobos". Era uma novidade histórica, daí a referência ao "deus estranho" na estratégia de pregação de Paulo no Panteão de Atenas. A lógica da valorização era a princípio apenas um objetivo e fim entre outros, mas que se tornou fim último e único da humanidade. Contudo, aqui estamos diante dos resultados da subordinação, não de seu processo. 7. Damos ênfase na relação de subordinação em detrimento do esquema da estrutura, mas não nos passa despercebido o caráter insuficiente da opção. O que deveria colocar em termos precisos em que consiste a subordinação seria justamente o "estudo crítico das formas do Estado", não realizado, bem como uma reconstituição dos momentos históricos centrais do condicionamento e determinação recíprocos dos polos da relação. A esta altura já teríamos deixado o domínio (Gebiet) da Crítica da Economia Política. 8. O curioso é que, no domínio da crítica da Filosofia do Direito, a necessidade de um estudo crítico das formas do Estado não havia passado despercebida por Marx. Uma história do direito foi esboçada por Marx nos manuscritos de Kreuznach em 1843 24 , talvez sob a influência de Eduard Gans, de quem Marx foi aluno na antiga Berliner Universität.
RESUMO: O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de... more RESUMO: O artigo trata de um dos principais problemas interpretativos acerca da primeira seção de O Capital, mais precisamente nos interessa apontar como as primeiras polêmicas em torno da primeira seção de O Capital determinaram o problema que ficou conhecido como referência histórica das categorias. Trata-se, como veremos, do problema de determinar por onde deve começar a exposição da crítica da Economia Política, se pelos começos da civilização, e, portanto, a partir do pré-capitalismo, ou se deve-se começar já desde sempre a partir do capitalismo.