André Grillo | UFJF - Federal University of Juiz de Fora (original) (raw)
Papers by André Grillo
Teoria e Cultura, Dec 20, 2023
Sentidos do trabalho com arte e cultura: a produção cultural no Brasil contemporâneo André Peralt... more Sentidos do trabalho com arte e cultura: a produção cultural no Brasil contemporâneo André Peralta Grillo 1 Resumo Neste artigo desenvolvo uma sociologia do trabalho com arte e cultura para analisar o produtor cultural no Brasil recente, com foco no nicho da música "independente", buscando compreender alguns dos sentidos possíveis que a atividade possui para quem a executa. Para tanto, remeto ao estudo da Contracultura dos anos 60 para observar a formação de um novo sentido para o trabalho, manifesto por muitos dos produtores pesquisados, ao menos em sua forma incorporada ao "novo capitalismo", comparando-o com outros sentidos possíveis observados. Apresento, assim, sucintamente, as principais contribuições teóricas, históricas e empíricas de cada uma das três partes de minha tese de doutorado, e alguns de seus principais resultados, conclusões, e apontamentos para pesquisas futuras.
PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura
Este artigo trata da rede Circuito Fora do Eixo (FdE), que logrou constituir uma rede de coletivo... more Este artigo trata da rede Circuito Fora do Eixo (FdE), que logrou constituir uma rede de coletivos culturais, ou de coletivos de produção cultural, de amplo alcance, especialmente entre o final da década de 2000, e o início da década de 2010. Sua estrutura, organização, e mesmo atuação, mudaram muito ao longo dos anos, desde a sua fundação (no final de 2005), até hoje, embora algumas características tenham se mantido ao longo de todo o seu percurso. O texto será mais descritivo, utilizando material do estudo de caso que realizei sobre a rede, como parte da pesquisa empírica de minha tese de doutorado, cujo tema é a produção cultural no Brasil contemporâneo.
O presente trabalho sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teorica... more O presente trabalho sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teoricas gerais, na tentativa aplainar o terreno para uma melhor compreensao dos dilemas e conflitos que o mesmo provoca. Parte-se de uma discussao do texto “O Estranho”, no qual Freud busca compreender o que causa a sensacao de estranhar algo. Passando para as contribuicoes de Georg Simmel, sao trabalhadas suas reflexoes sobre o estrangeiro, a vida urbana, etc. De Pierre Bourdieu, se faz recurso a sua teoria sobre classes sociais e espaco social, em especial a relacao entre os espacos fisico e social e a questao das lutas por distincao de classe e de hegemonia dentro de um campo. Sao discutidas tambem as analises sobre a diferenciacao das esferas de valor, o desencantamento do mundo e os determinantes da sensacao de pertencimento social em Max Weber, e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Algumas caracteristicas do “estranho” sao ilustradas com o romance “O Estrangeiro”, de Albert Camus...
PragMATIZES
Este artigo discute a relação do produtor cultural, definido como quem realiza eventos ou produz ... more Este artigo discute a relação do produtor cultural, definido como quem realiza eventos ou produz bens culturais e artísticos, com as mudanças no “mundo do trabalho” contemporâneo. Baseia-se em pesquisa sobre o tema focada no ramo da “música independente” brasileira contemporânea, a partir de estudo de caso da rede “Circuito Fora do Eixo”, fundada em 2005 por coletivos de produção cultural de diferentes partes do país. Tenho como hipótese que os agentes dessa rede levam ao limite algumas tendências contemporâneas de vinculação do trabalho produtivo a um cunho militante, a partir de um repertório de crenças e práticas forjados no âmbito dos movimentos de contestação juvenil dos anos 60, que ficaram conhecidos como “Contracultura”.
Revista Ensaios
Neste trabalho buscar-se-á analisar o desdobrar dos novos movimentos sociais. Uma analise que pe... more Neste trabalho buscar-se-á analisar o desdobrar dos novos movimentos sociais. Uma analise que perpassa pela experiência do autor o observando o grupo rede de militância laboral “Circuito Fora do Eixo. A percepção de grupos associados à produção de atividades culturais, mas na se restringem a mesma temática suas redes de contatos. As redes sociais se ampliam para temas além do tema inicial. O itinerário do trabalho segue o desenvolvimento das NTIC, da influência da Contracultura e da ascensão do “trabalho imaterial”; em seguida vem a como tema a interação da cibercultura com os “novos movimentos sociais”; e a experiência do Fora do Eixo e da Mídia Ninja.
Ciências Sociais Unisinos
A presente incursao sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teorica... more A presente incursao sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teoricas gerais, na tentativa aplainar o terreno para uma melhor compreensao dos dilemas e conflitos que o mesmo provoca. Parte-se de uma discussao do texto “O Estranho”, no qual Freud busca compreender o que causa a sensacao de estranhar algo. Passando para as contribuicoes de Georg Simmel, sao trabalhadas suas reflexoes sobre o estrangeiro, a vida urbana, etc. De Pierre Bourdieu, se faz recurso a sua teoria sobre classes sociais e espaco social, em especial a relacao entre os espacos fisico e social e a questao das lutas por distincao de classe e de hegemonia dentro de um campo. Sao discutidas tambem as analises sobre a diferenciacao das esferas de valor, o desencantamento do mundo e os determinantes da sensacao de pertencimento social em Max Weber, e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Algumas caracteristicas do “estranho” sao ilustradas com o romance “O Estrangeiro”, de Albert Camus...
Esta pesquisa tem como objeto a producao cultural no Brasil Contemporâneo (anos 90 aos dias atuai... more Esta pesquisa tem como objeto a producao cultural no Brasil Contemporâneo (anos 90 aos dias atuais) e, dentro desta, mais especificamente, o nicho da chamada “musica independente”, analisada a partir (mas nao so) de estudo empirico da rede “Circuito Fora do Eixo”, a qual, como objeto, ultrapassa o âmbito da producao cultural e dos circuitos alternativos de arte e cultura. Os objetivos sao observar a atividade de producao cultural em sua generalidade no mundo contemporâneo, o quanto esta e moldada por ingerencias estruturais e conjunturais tanto economicas quanto politicas, alem de culturais; descrever sucintamente parte da historia recente e analisar o nicho da “musica independente” dentro deste quadro; analisar o caso da rede “Circuito Fora do Eixo”, sua formacao em meio e sob a ingerencia destes diferentes processos, sua especificidade como, alem de circuito cultural, movimento social, e seu desenvolvimento ao longo dos anos, demonstrando a sua pertinencia heuristica para o objeto...
Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a par... more Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a partir da experiência da rede de militância laboral “Circuito Fora do Eixo”. O Fora do Eixo surge da articulação de coletivos de produção cultural de diferentes partes do país. Formada por coletivos que, a princípio, se dedicam à produção de artistas e de eventos culturais, principalmente shows e festivais de música, as atividades da rede vão se diversificando e, gradativamente, passam a assumir cada vez mais um cunho militante. Este é gestado pela intervenção e atuação em defesa do fortalecimento de políticas públicas para a cultura, contribuindo para a dotação de sentido militante que a atuação de seus agentes e coletivos assume, seja pelo sentido de engajamento e dedicação às suas atividades (laborais), seja pela incorporação de pautas progressistas que expressam anseios da juventude e da defesa de direitos humanos (como legalização das drogas, do aborto, defesa de grupos marginalizados ...
REvista CSOnline, 2010
Resumo O presente trabalho sobre o fenômeno do estranhamento social começa com algumas reflexões ... more Resumo O presente trabalho sobre o fenômeno do estranhamento social começa com algumas reflexões teóricas gerais, na tentativa aplainar o terreno para uma melhor compreensão dos dilemas e conflitos que o mesmo provoca. Parte-se de uma discussão do texto "O Estranho", no qual Freud busca compreender o que causa a sensação de estranhar algo. Passando para as contribuições de Georg Simmel, são trabalhadas suas reflexões sobre o estrangeiro, a vida urbana, etc. De Pierre Bourdieu, se faz recurso à sua teoria sobre classes sociais e espaço social, em especial a relação entre os espaços físico e social e a questão das lutas por distinção de classe e de hegemonia dentro de um campo. São discutidas também as análises sobre a diferenciação das esferas de valor, o desencantamento do mundo e os determinantes da sensação de pertencimento social em Max Weber, e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Algumas características do "estranho" são ilustradas com o romance "O Estrangeiro", de Albert Camus. A articulação dessas diferentes fontes forma o tronco comum a partir do qual se chega à distinção entre os dois pólos do estranhamento: a invisibilidade e o choque. O primeiro pólo é trabalhado partindo-se da concepção de que a invisibilidade social deriva diretamente do estranhamento de classe (como uma espécie de recurso anestésico), e o segundo privilegia o estranhamento intencional, seja encarado como uma atitude puramente disruptiva e/ou subversiva, seja como uma "luta por reconhecimento" de um determinado estilo de vida ou modo de agir. Palavras-chave: Estranhamento; Invisibilidade; Desigualdade INTRODUÇÃO O que significa ser estranho? Primeiramente, pode ser útil apresentar uma abordagem mais geral do fenômeno. Freud (1987) se interessa por compreender o que causa a sensação de estranhar algo (seja uma coisa, pessoa, situação, etc.). Apesar disso, parece limitar de forma indevida o escopo dessa sensação, definindo como estranho apenas o que causa uma espécie de temor. Dessa forma, o que proporcionaria a sensação do estranhamento seria algo inusitado, inesperado e incomum, mas apenas na medida em que causasse algum temor, que fosse algo assustador.
Anais do 43° Encontro Anual da ANPOCS, 2019
Revista de Ciências Sociais da Unisinos, 2017
Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o “mundo do trabalho” em geral se encontram em campos ... more Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o “mundo do trabalho” em geral se encontram em campos separados, apesar de algumas obras de referência sobre profissões e cadeia produtiva da arte e o mercado de trabalho dos artistas, como as de Howard Becker e Pierre-Michel Menger. Para analisar a produção cultural no chamado “novo mundo do
trabalho”, e a categoria de produtor cultural no Brasil contemporâneo, busco desenvolver uma sociologia do trabalho com arte e cultura, fazendo recurso ao arcabouço teórico da sociologia do trabalho a partir das análises de André Gorz e de Boltanki e Chiapello acerca das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho (e da influência da contracultura nesse processo), complementando-as com a sociologia do trabalho com arte e cultura de Menger e Becker. Para tal, começo então com a discussão sobre o chamado “novo mundo do trabalho” das perspectivas da evolução do pensamento de Gorz e do clássico de Boltanski e Chiapello O novo espírito do capitalismo. Em seguida, apresento a abordagem de Menger sobre os mercados de trabalho com cultura e arte, aproximando sua análise das expostas anteriormente, e complementando-a com o estudo sobre os Mundos da Arte, de Becker. A partir daí, por fim, busco pensar sobre o trabalho com cultura e arte no Brasil contemporâneo da perspectiva dos “produtores culturais”.
Anais do 19° Encontro Brasileiro de Sociologia (SBS), 2019
Sociologia do trabalho com arte e cultura: notas para um debate André Peralta Grillo, UNIOESTE/PR... more Sociologia do trabalho com arte e cultura: notas para um debate André Peralta Grillo, UNIOESTE/PR Visa-se no presente trabalho aplicar a perspectiva de uma sociologia do trabalho com arte e cultura, desenvolvida em minha tese sobre a produção (gestão) cultural no Brasil contemporâneo, na elaboração de uma sociologia da música que envolva todas as etapas do seu processo de realização (produção, mediação e recepção, além das obras), a partir de autores que já desenvolvem pesquisas sociológicas sobre trabalho com arte e cultura, a saber, Howard Becker e Pierre-Michel Menger, assim como autores de sistematização contemporânea das contribuições e perspectivas das sociologias da arte e da cultura (em seus sentidos amplos e restritos, tendo as duas entre si também a mesma relação), como o trabalho pioneiro de Raymond Willians e, especialmente, o de Natalie Heinich. Propõe-se para discussão algumas notas, ancoradas em debate teórico e trabalho empírico (e buscando superar o escopo deste último), no intuito de realizar a sistematização de uma perspectiva que englobe as contribuições recentes das sociologias da arte e da cultura, com ênfase na questão do trabalho, trazendo assim também a discussão sobre as mudanças contemporâneas no(s) mundo(s) do trabalho à baila. As indústrias culturais e criativas capitalizam cerca de 2,250 bilhões de dólares, o que corresponde a 3% do PIB global, e geram 30 milhões de empregos mundialmente, segundo dados apresentados em relatório da UNESCO de 2015. No Brasil, o trabalho com arte e cultura emprega mais que a indústria automobilística, mais que o dobro da indústria eletroeletrônica, e ainda remunera melhor em média. Entretanto, metade da população ocupada na área de cultura no Brasil não tem carteira assinada ou trabalha por conta própria.
Anais do 41° Encontro Anual da ANPOCS, 2017
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br Cultura e trabalho imaterial: música independente e p... more Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br Cultura e trabalho imaterial: música independente e produção cultural no novo mundo do trabalho Cultura y trabajo inmaterial: la música independiente y la producción cultural en el nuevo mundo del trabajo
Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o "mundo do trabalho" em geral se encontram em campos ... more Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o "mundo do trabalho" em geral se encontram em campos separados, apesar de algumas obras de referência sobre profissões e "trabalhadores da cultura" e o mercado de trabalho dos artistas, como as de Howard Becker e Pierre-Michel Menger. Meu objetivo é fazer recurso ao arcabouço teórico da sociologia do trabalho para o estudo do mundo do trabalho da cultura e da arte no Brasil contemporâneo, focando na atividade e nas relações dos "produtores culturais" (e menos no mercado de trabalho dos artistas), a partir da análise do desenvolvimento da interpretação de André Gorz acerca das mudanças no mundo do trabalho, desde seu clássico (e polêmico) "Adeus ao Proletariado", até sua obra tardia "O Imaterial". Esta análise é cotejada com a necessária contextualização e com as críticas, no âmbito da sociologia do trabalho brasileira, ao autor, assim como com a discussão mais específica da sociologia da cultura. Tudo isso considerado, busco demonstrar que a teoria de André Gorz apresenta relevante potencial heurístico para o estudo da atividade de produção cultural no Brasil contemporâneo. O itinerário deste artigo irá se ater a quatro obras de André Gorz: "Adeus ao Proletariado", "Metamorfoses do Trabalho", "Misérias do Presente, Riquezas do Possível", e "O Imaterial" (publicadas, respectivamente, em 1980, 1988, 1997 e 2003, e que serão identificadas, a partir de agora, respectivamente, como AAP, MDT, MDP e IM. Fazem parte do que Josué Pereira da Silva (2006; 2011) define como o segundo grande período do pensamento de Gorz, distinção baseada no "lugar do trabalho numa estratégia de emancipação social"), destacando tanto as continuidades, desdobramentos, quanto as rupturas no pensamento do autor, que matizam a evolução de sua análise incisiva sobre as mudanças contemporâneas no mundo do trabalho, suas mazelas, malogros e potencialidades.
Sociais: desafios da inserção em contextos contemporâneos. 23 a 25 de setembro de 2015, UFES, Vit... more Sociais: desafios da inserção em contextos contemporâneos. 23 a 25 de setembro de 2015, UFES, Vitória-ES.
Arte laborans: produção cultural no novo mundo do trabalho André Peralta Grillo UFJF O artigo tra... more Arte laborans: produção cultural no novo mundo do trabalho André Peralta Grillo UFJF O artigo trata da produção cultural no Brasil contemporâneo, a partir da conceituação de um novo capitalismo mundial. Inúmeros autores e correntes do pensamento sociológico têm observado mudanças substantivas no mundo contemporâneo, com ênfase no "mundo do trabalho". Mudanças que, dada a atual integração global das sociedades, têm alcance mundial, embora, evidentemente, em níveis os mais variados. São mudanças tendenciais, que se institucionalizam como prática e avanço para uma minoria da população, mas se espraiam e disseminam em seu conjunto como "ideologia" . O mesmo movimento significa, para poucos, liberdade, para muitos, apenas precariedade. A crítica e o "fazer cultura" se enredam nesse processo, assumindo um novo "status" na contemporaneidade, podendo radicalizar, de certa forma, estas tendências, pela própria "natureza" (construída) da atividade. O artigo analisa a produção e o produtor cultural neste contexto de expansão do chamado mundo conexionista, da lógica da flexibilidade, fluidez, mobilidade, adaptabilidade, improviso, cooperação, comunicação e afeto. São abordados temas como contracultura, mudança social, novos movimentos sociais, coletivos e redes de produção e ativismo cultural, música independente e midiativismo, a partir de observação participante e amplo levantamento teórico. Estes elementos se enredam em experiências contemporâneas que são tomadas como laboratório de novas formas de vida, trabalho e crítica, a partir de estudo de caso da rede de produção e ativismo cultural Circuito Fora do Eixo, fundada em 2005. I No terceiro Congresso nacional do FDE, realizado em outubro de 2010 na cidade de Uberlândia/MG, Pablo Capilé, um dos principais articuladores e o principal porta-voz da rede, afirma, em uma das assembléias públicas, que O Fora do Eixo está forte como circuito cultural, mas ainda está fraco como movimento social. Tratei sucintamente do histórico do FDE alhures (GRILLO 2014a; 2014b) 1 . Aqui tomo algumas referências principais. Denota-se na fala acima o anseio por uma guinada que irá se tornar um ponto de inflexão na atuação do FDE. Com efeito, a partir de 2011, a face ativista, estrito senso, irá assumir relativa preponderância na atuação da rede. Para Savazoni (2014), este é o momento em que o FDE se transforma de fato no que chama de "rede político-cultural", com preponderância na atuação política, ao invés da sua atuação como circuito cultural (embora esta não deixe de existir). Minha interpretação (GRILLO 2014a; 2014b) é próxima, porém com diferenças importantes. É inegável, como também já havia constatado, uma nova guinada da rede, e a fala de Capilé citada é emblemática nesse sentido. Savanozi descreve de forma muito clara o fortalecimento da atuação política do FDE, primeiramente pelo envolvimento, com outras redes e coletivos, na organização das Marchas da Liberdade em 2011, encabeçando o movimento "Mobiliza Cultura" (constituído contra as mudanças de rumo no Ministério da Cultura a partir da entrada de Ana de Holanda), e organizando o festival e o movimento "Existe Amor em SP" (durantes as eleições para prefeito de São Paulo).
Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a par... more Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a partir da experiência da rede de militância laboral “Circuito Fora do Eixo”. O Fora do Eixo surge da articulação de coletivos de produção cultural de diferentes partes do país. Formada por coletivos que, a princípio, se dedicam à produção de artistas e de eventos culturais, principalmente shows e festivais de música, as atividades da rede vão se diversificando e, gradativamente, passam a assumir cada vez mais um cunho militante. Este é gestado pela intervenção e atuação em defesa do fortalecimento de políticas públicas para a cultura, contribuindo para a dotação de sentido militante que a atuação de seus agentes e coletivos assume, seja pelo sentido de engajamento e dedicação às suas atividades (laborais), seja pela incorporação de pautas progressistas que expressam anseios da juventude e da defesa de direitos humanos (como legalização das drogas, do aborto, defesa de grupos marginalizados e excluídos, de novos modelos de família e estilos de vida), articulando-se com inúmeros movimentos socais, associados diretamente à juventude ou não. A rede, integrada como um circuito cultural, se fortalece como movimento social a partir de 2011, ao se envolver diretamente em uma série de manifestações (como a marcha da maconha) e se aproximar de vários outros movimentos, como o MST. Seu trabalho como um todo, sua comunicação, o fortalecimento de sua identidade, de seus vínculos afetivos, seus fluxos de reciprocidade, tem como pilar as novas TIC´s, em uma alternância e mistura de vivências online e offline, mantendo e reforçando laços formados em encontros presenciais e pela circulação de agentes. Sua atuação política se destaca através do chamado midiativismo, ou seja, a cobertura (por múltiplos meios e em tempo real ou não) de protestos, manifestações e intervenções públicas coletivas diversas da sociedade civil, organizadas ou não por movimentos. A partir da experiência acumulada com a cobertura de eventos e com as primeiras coberturas de manifestações, seus agentes consolidam um núcleo de midiativismo específico (podendo ou não ser ocupado pelos agentes da mídia FDE), a Mídia N.I.N.J.A. (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação), que ganha destaque pela cobertura das manifestações de Junho de 2013. Meu objetivo aqui é contextualizar o que chamo de “militância laboral” a partir das implicações na sociabilidade, no trabalho e no engajamento político (instâncias intimamente imbricadas na vivência dos agentes do Fora do Eixo) da cibercultura e das TIC’s contemporâneas, tendo como pano de fundo as reconfigurações destas na sociedade em sentido amplo e também mais especificamente no mundo do trabalho contemporâneo, discutindo a influência das mutações da chamada “sociedade em rede”, “capitalismo cognitivo”, “sociedade do conhecimento”, e do predomínio do “trabalho imaterial” na vida, trabalho, identidade e engajamento político, amalgamados em experiências coletivas recentes como a rede Fora do Eixo. Para tal desiderato sigo o seguinte roteiro: primeiro, caracterizar as mudanças do capitalismo a partir do desenvolvimento das NTIC, da influência da Contracultura e da ascensão do “trabalho imaterial” como elemento hegemônico na criação de valor (tendo como referências principais Manuel Castells, a obra conjunta de Boltanski e Chiapello e a discussão sobre “Trabalho Imaterial” de André Gorz); em seguida, tematizar a relação da cibercultura com os chamados “novos movimentos sociais”; e por fim, apresentar a experiência do Fora do Eixo e da Mídia Ninja como uma expressão sui generis de articulação dos elementos anteriormente discutidos, configurando-se em um movimento no qual trabalho, vida e militância tornam-se um só.
O artigo discute os possíveis impactos das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho na área d... more O artigo discute os possíveis impactos das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho na área da produção cultural, apresentando como estudo de caso a rede de coletivos “Circuito Fora do Eixo”.
Teoria e Cultura, Dec 20, 2023
Sentidos do trabalho com arte e cultura: a produção cultural no Brasil contemporâneo André Peralt... more Sentidos do trabalho com arte e cultura: a produção cultural no Brasil contemporâneo André Peralta Grillo 1 Resumo Neste artigo desenvolvo uma sociologia do trabalho com arte e cultura para analisar o produtor cultural no Brasil recente, com foco no nicho da música "independente", buscando compreender alguns dos sentidos possíveis que a atividade possui para quem a executa. Para tanto, remeto ao estudo da Contracultura dos anos 60 para observar a formação de um novo sentido para o trabalho, manifesto por muitos dos produtores pesquisados, ao menos em sua forma incorporada ao "novo capitalismo", comparando-o com outros sentidos possíveis observados. Apresento, assim, sucintamente, as principais contribuições teóricas, históricas e empíricas de cada uma das três partes de minha tese de doutorado, e alguns de seus principais resultados, conclusões, e apontamentos para pesquisas futuras.
PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura
Este artigo trata da rede Circuito Fora do Eixo (FdE), que logrou constituir uma rede de coletivo... more Este artigo trata da rede Circuito Fora do Eixo (FdE), que logrou constituir uma rede de coletivos culturais, ou de coletivos de produção cultural, de amplo alcance, especialmente entre o final da década de 2000, e o início da década de 2010. Sua estrutura, organização, e mesmo atuação, mudaram muito ao longo dos anos, desde a sua fundação (no final de 2005), até hoje, embora algumas características tenham se mantido ao longo de todo o seu percurso. O texto será mais descritivo, utilizando material do estudo de caso que realizei sobre a rede, como parte da pesquisa empírica de minha tese de doutorado, cujo tema é a produção cultural no Brasil contemporâneo.
O presente trabalho sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teorica... more O presente trabalho sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teoricas gerais, na tentativa aplainar o terreno para uma melhor compreensao dos dilemas e conflitos que o mesmo provoca. Parte-se de uma discussao do texto “O Estranho”, no qual Freud busca compreender o que causa a sensacao de estranhar algo. Passando para as contribuicoes de Georg Simmel, sao trabalhadas suas reflexoes sobre o estrangeiro, a vida urbana, etc. De Pierre Bourdieu, se faz recurso a sua teoria sobre classes sociais e espaco social, em especial a relacao entre os espacos fisico e social e a questao das lutas por distincao de classe e de hegemonia dentro de um campo. Sao discutidas tambem as analises sobre a diferenciacao das esferas de valor, o desencantamento do mundo e os determinantes da sensacao de pertencimento social em Max Weber, e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Algumas caracteristicas do “estranho” sao ilustradas com o romance “O Estrangeiro”, de Albert Camus...
PragMATIZES
Este artigo discute a relação do produtor cultural, definido como quem realiza eventos ou produz ... more Este artigo discute a relação do produtor cultural, definido como quem realiza eventos ou produz bens culturais e artísticos, com as mudanças no “mundo do trabalho” contemporâneo. Baseia-se em pesquisa sobre o tema focada no ramo da “música independente” brasileira contemporânea, a partir de estudo de caso da rede “Circuito Fora do Eixo”, fundada em 2005 por coletivos de produção cultural de diferentes partes do país. Tenho como hipótese que os agentes dessa rede levam ao limite algumas tendências contemporâneas de vinculação do trabalho produtivo a um cunho militante, a partir de um repertório de crenças e práticas forjados no âmbito dos movimentos de contestação juvenil dos anos 60, que ficaram conhecidos como “Contracultura”.
Revista Ensaios
Neste trabalho buscar-se-á analisar o desdobrar dos novos movimentos sociais. Uma analise que pe... more Neste trabalho buscar-se-á analisar o desdobrar dos novos movimentos sociais. Uma analise que perpassa pela experiência do autor o observando o grupo rede de militância laboral “Circuito Fora do Eixo. A percepção de grupos associados à produção de atividades culturais, mas na se restringem a mesma temática suas redes de contatos. As redes sociais se ampliam para temas além do tema inicial. O itinerário do trabalho segue o desenvolvimento das NTIC, da influência da Contracultura e da ascensão do “trabalho imaterial”; em seguida vem a como tema a interação da cibercultura com os “novos movimentos sociais”; e a experiência do Fora do Eixo e da Mídia Ninja.
Ciências Sociais Unisinos
A presente incursao sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teorica... more A presente incursao sobre o fenomeno do estranhamento social comeca com algumas reflexoes teoricas gerais, na tentativa aplainar o terreno para uma melhor compreensao dos dilemas e conflitos que o mesmo provoca. Parte-se de uma discussao do texto “O Estranho”, no qual Freud busca compreender o que causa a sensacao de estranhar algo. Passando para as contribuicoes de Georg Simmel, sao trabalhadas suas reflexoes sobre o estrangeiro, a vida urbana, etc. De Pierre Bourdieu, se faz recurso a sua teoria sobre classes sociais e espaco social, em especial a relacao entre os espacos fisico e social e a questao das lutas por distincao de classe e de hegemonia dentro de um campo. Sao discutidas tambem as analises sobre a diferenciacao das esferas de valor, o desencantamento do mundo e os determinantes da sensacao de pertencimento social em Max Weber, e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Algumas caracteristicas do “estranho” sao ilustradas com o romance “O Estrangeiro”, de Albert Camus...
Esta pesquisa tem como objeto a producao cultural no Brasil Contemporâneo (anos 90 aos dias atuai... more Esta pesquisa tem como objeto a producao cultural no Brasil Contemporâneo (anos 90 aos dias atuais) e, dentro desta, mais especificamente, o nicho da chamada “musica independente”, analisada a partir (mas nao so) de estudo empirico da rede “Circuito Fora do Eixo”, a qual, como objeto, ultrapassa o âmbito da producao cultural e dos circuitos alternativos de arte e cultura. Os objetivos sao observar a atividade de producao cultural em sua generalidade no mundo contemporâneo, o quanto esta e moldada por ingerencias estruturais e conjunturais tanto economicas quanto politicas, alem de culturais; descrever sucintamente parte da historia recente e analisar o nicho da “musica independente” dentro deste quadro; analisar o caso da rede “Circuito Fora do Eixo”, sua formacao em meio e sob a ingerencia destes diferentes processos, sua especificidade como, alem de circuito cultural, movimento social, e seu desenvolvimento ao longo dos anos, demonstrando a sua pertinencia heuristica para o objeto...
Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a par... more Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a partir da experiência da rede de militância laboral “Circuito Fora do Eixo”. O Fora do Eixo surge da articulação de coletivos de produção cultural de diferentes partes do país. Formada por coletivos que, a princípio, se dedicam à produção de artistas e de eventos culturais, principalmente shows e festivais de música, as atividades da rede vão se diversificando e, gradativamente, passam a assumir cada vez mais um cunho militante. Este é gestado pela intervenção e atuação em defesa do fortalecimento de políticas públicas para a cultura, contribuindo para a dotação de sentido militante que a atuação de seus agentes e coletivos assume, seja pelo sentido de engajamento e dedicação às suas atividades (laborais), seja pela incorporação de pautas progressistas que expressam anseios da juventude e da defesa de direitos humanos (como legalização das drogas, do aborto, defesa de grupos marginalizados ...
REvista CSOnline, 2010
Resumo O presente trabalho sobre o fenômeno do estranhamento social começa com algumas reflexões ... more Resumo O presente trabalho sobre o fenômeno do estranhamento social começa com algumas reflexões teóricas gerais, na tentativa aplainar o terreno para uma melhor compreensão dos dilemas e conflitos que o mesmo provoca. Parte-se de uma discussão do texto "O Estranho", no qual Freud busca compreender o que causa a sensação de estranhar algo. Passando para as contribuições de Georg Simmel, são trabalhadas suas reflexões sobre o estrangeiro, a vida urbana, etc. De Pierre Bourdieu, se faz recurso à sua teoria sobre classes sociais e espaço social, em especial a relação entre os espaços físico e social e a questão das lutas por distinção de classe e de hegemonia dentro de um campo. São discutidas também as análises sobre a diferenciação das esferas de valor, o desencantamento do mundo e os determinantes da sensação de pertencimento social em Max Weber, e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Algumas características do "estranho" são ilustradas com o romance "O Estrangeiro", de Albert Camus. A articulação dessas diferentes fontes forma o tronco comum a partir do qual se chega à distinção entre os dois pólos do estranhamento: a invisibilidade e o choque. O primeiro pólo é trabalhado partindo-se da concepção de que a invisibilidade social deriva diretamente do estranhamento de classe (como uma espécie de recurso anestésico), e o segundo privilegia o estranhamento intencional, seja encarado como uma atitude puramente disruptiva e/ou subversiva, seja como uma "luta por reconhecimento" de um determinado estilo de vida ou modo de agir. Palavras-chave: Estranhamento; Invisibilidade; Desigualdade INTRODUÇÃO O que significa ser estranho? Primeiramente, pode ser útil apresentar uma abordagem mais geral do fenômeno. Freud (1987) se interessa por compreender o que causa a sensação de estranhar algo (seja uma coisa, pessoa, situação, etc.). Apesar disso, parece limitar de forma indevida o escopo dessa sensação, definindo como estranho apenas o que causa uma espécie de temor. Dessa forma, o que proporcionaria a sensação do estranhamento seria algo inusitado, inesperado e incomum, mas apenas na medida em que causasse algum temor, que fosse algo assustador.
Anais do 43° Encontro Anual da ANPOCS, 2019
Revista de Ciências Sociais da Unisinos, 2017
Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o “mundo do trabalho” em geral se encontram em campos ... more Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o “mundo do trabalho” em geral se encontram em campos separados, apesar de algumas obras de referência sobre profissões e cadeia produtiva da arte e o mercado de trabalho dos artistas, como as de Howard Becker e Pierre-Michel Menger. Para analisar a produção cultural no chamado “novo mundo do
trabalho”, e a categoria de produtor cultural no Brasil contemporâneo, busco desenvolver uma sociologia do trabalho com arte e cultura, fazendo recurso ao arcabouço teórico da sociologia do trabalho a partir das análises de André Gorz e de Boltanki e Chiapello acerca das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho (e da influência da contracultura nesse processo), complementando-as com a sociologia do trabalho com arte e cultura de Menger e Becker. Para tal, começo então com a discussão sobre o chamado “novo mundo do trabalho” das perspectivas da evolução do pensamento de Gorz e do clássico de Boltanski e Chiapello O novo espírito do capitalismo. Em seguida, apresento a abordagem de Menger sobre os mercados de trabalho com cultura e arte, aproximando sua análise das expostas anteriormente, e complementando-a com o estudo sobre os Mundos da Arte, de Becker. A partir daí, por fim, busco pensar sobre o trabalho com cultura e arte no Brasil contemporâneo da perspectiva dos “produtores culturais”.
Anais do 19° Encontro Brasileiro de Sociologia (SBS), 2019
Sociologia do trabalho com arte e cultura: notas para um debate André Peralta Grillo, UNIOESTE/PR... more Sociologia do trabalho com arte e cultura: notas para um debate André Peralta Grillo, UNIOESTE/PR Visa-se no presente trabalho aplicar a perspectiva de uma sociologia do trabalho com arte e cultura, desenvolvida em minha tese sobre a produção (gestão) cultural no Brasil contemporâneo, na elaboração de uma sociologia da música que envolva todas as etapas do seu processo de realização (produção, mediação e recepção, além das obras), a partir de autores que já desenvolvem pesquisas sociológicas sobre trabalho com arte e cultura, a saber, Howard Becker e Pierre-Michel Menger, assim como autores de sistematização contemporânea das contribuições e perspectivas das sociologias da arte e da cultura (em seus sentidos amplos e restritos, tendo as duas entre si também a mesma relação), como o trabalho pioneiro de Raymond Willians e, especialmente, o de Natalie Heinich. Propõe-se para discussão algumas notas, ancoradas em debate teórico e trabalho empírico (e buscando superar o escopo deste último), no intuito de realizar a sistematização de uma perspectiva que englobe as contribuições recentes das sociologias da arte e da cultura, com ênfase na questão do trabalho, trazendo assim também a discussão sobre as mudanças contemporâneas no(s) mundo(s) do trabalho à baila. As indústrias culturais e criativas capitalizam cerca de 2,250 bilhões de dólares, o que corresponde a 3% do PIB global, e geram 30 milhões de empregos mundialmente, segundo dados apresentados em relatório da UNESCO de 2015. No Brasil, o trabalho com arte e cultura emprega mais que a indústria automobilística, mais que o dobro da indústria eletroeletrônica, e ainda remunera melhor em média. Entretanto, metade da população ocupada na área de cultura no Brasil não tem carteira assinada ou trabalha por conta própria.
Anais do 41° Encontro Anual da ANPOCS, 2017
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br Cultura e trabalho imaterial: música independente e p... more Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br Cultura e trabalho imaterial: música independente e produção cultural no novo mundo do trabalho Cultura y trabajo inmaterial: la música independiente y la producción cultural en el nuevo mundo del trabajo
Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o "mundo do trabalho" em geral se encontram em campos ... more Os estudos sobre cultura e arte e os sobre o "mundo do trabalho" em geral se encontram em campos separados, apesar de algumas obras de referência sobre profissões e "trabalhadores da cultura" e o mercado de trabalho dos artistas, como as de Howard Becker e Pierre-Michel Menger. Meu objetivo é fazer recurso ao arcabouço teórico da sociologia do trabalho para o estudo do mundo do trabalho da cultura e da arte no Brasil contemporâneo, focando na atividade e nas relações dos "produtores culturais" (e menos no mercado de trabalho dos artistas), a partir da análise do desenvolvimento da interpretação de André Gorz acerca das mudanças no mundo do trabalho, desde seu clássico (e polêmico) "Adeus ao Proletariado", até sua obra tardia "O Imaterial". Esta análise é cotejada com a necessária contextualização e com as críticas, no âmbito da sociologia do trabalho brasileira, ao autor, assim como com a discussão mais específica da sociologia da cultura. Tudo isso considerado, busco demonstrar que a teoria de André Gorz apresenta relevante potencial heurístico para o estudo da atividade de produção cultural no Brasil contemporâneo. O itinerário deste artigo irá se ater a quatro obras de André Gorz: "Adeus ao Proletariado", "Metamorfoses do Trabalho", "Misérias do Presente, Riquezas do Possível", e "O Imaterial" (publicadas, respectivamente, em 1980, 1988, 1997 e 2003, e que serão identificadas, a partir de agora, respectivamente, como AAP, MDT, MDP e IM. Fazem parte do que Josué Pereira da Silva (2006; 2011) define como o segundo grande período do pensamento de Gorz, distinção baseada no "lugar do trabalho numa estratégia de emancipação social"), destacando tanto as continuidades, desdobramentos, quanto as rupturas no pensamento do autor, que matizam a evolução de sua análise incisiva sobre as mudanças contemporâneas no mundo do trabalho, suas mazelas, malogros e potencialidades.
Sociais: desafios da inserção em contextos contemporâneos. 23 a 25 de setembro de 2015, UFES, Vit... more Sociais: desafios da inserção em contextos contemporâneos. 23 a 25 de setembro de 2015, UFES, Vitória-ES.
Arte laborans: produção cultural no novo mundo do trabalho André Peralta Grillo UFJF O artigo tra... more Arte laborans: produção cultural no novo mundo do trabalho André Peralta Grillo UFJF O artigo trata da produção cultural no Brasil contemporâneo, a partir da conceituação de um novo capitalismo mundial. Inúmeros autores e correntes do pensamento sociológico têm observado mudanças substantivas no mundo contemporâneo, com ênfase no "mundo do trabalho". Mudanças que, dada a atual integração global das sociedades, têm alcance mundial, embora, evidentemente, em níveis os mais variados. São mudanças tendenciais, que se institucionalizam como prática e avanço para uma minoria da população, mas se espraiam e disseminam em seu conjunto como "ideologia" . O mesmo movimento significa, para poucos, liberdade, para muitos, apenas precariedade. A crítica e o "fazer cultura" se enredam nesse processo, assumindo um novo "status" na contemporaneidade, podendo radicalizar, de certa forma, estas tendências, pela própria "natureza" (construída) da atividade. O artigo analisa a produção e o produtor cultural neste contexto de expansão do chamado mundo conexionista, da lógica da flexibilidade, fluidez, mobilidade, adaptabilidade, improviso, cooperação, comunicação e afeto. São abordados temas como contracultura, mudança social, novos movimentos sociais, coletivos e redes de produção e ativismo cultural, música independente e midiativismo, a partir de observação participante e amplo levantamento teórico. Estes elementos se enredam em experiências contemporâneas que são tomadas como laboratório de novas formas de vida, trabalho e crítica, a partir de estudo de caso da rede de produção e ativismo cultural Circuito Fora do Eixo, fundada em 2005. I No terceiro Congresso nacional do FDE, realizado em outubro de 2010 na cidade de Uberlândia/MG, Pablo Capilé, um dos principais articuladores e o principal porta-voz da rede, afirma, em uma das assembléias públicas, que O Fora do Eixo está forte como circuito cultural, mas ainda está fraco como movimento social. Tratei sucintamente do histórico do FDE alhures (GRILLO 2014a; 2014b) 1 . Aqui tomo algumas referências principais. Denota-se na fala acima o anseio por uma guinada que irá se tornar um ponto de inflexão na atuação do FDE. Com efeito, a partir de 2011, a face ativista, estrito senso, irá assumir relativa preponderância na atuação da rede. Para Savazoni (2014), este é o momento em que o FDE se transforma de fato no que chama de "rede político-cultural", com preponderância na atuação política, ao invés da sua atuação como circuito cultural (embora esta não deixe de existir). Minha interpretação (GRILLO 2014a; 2014b) é próxima, porém com diferenças importantes. É inegável, como também já havia constatado, uma nova guinada da rede, e a fala de Capilé citada é emblemática nesse sentido. Savanozi descreve de forma muito clara o fortalecimento da atuação política do FDE, primeiramente pelo envolvimento, com outras redes e coletivos, na organização das Marchas da Liberdade em 2011, encabeçando o movimento "Mobiliza Cultura" (constituído contra as mudanças de rumo no Ministério da Cultura a partir da entrada de Ana de Holanda), e organizando o festival e o movimento "Existe Amor em SP" (durantes as eleições para prefeito de São Paulo).
Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a par... more Este artigo tem como objeto a confluência entre trabalho e militância na sociedade em rede, a partir da experiência da rede de militância laboral “Circuito Fora do Eixo”. O Fora do Eixo surge da articulação de coletivos de produção cultural de diferentes partes do país. Formada por coletivos que, a princípio, se dedicam à produção de artistas e de eventos culturais, principalmente shows e festivais de música, as atividades da rede vão se diversificando e, gradativamente, passam a assumir cada vez mais um cunho militante. Este é gestado pela intervenção e atuação em defesa do fortalecimento de políticas públicas para a cultura, contribuindo para a dotação de sentido militante que a atuação de seus agentes e coletivos assume, seja pelo sentido de engajamento e dedicação às suas atividades (laborais), seja pela incorporação de pautas progressistas que expressam anseios da juventude e da defesa de direitos humanos (como legalização das drogas, do aborto, defesa de grupos marginalizados e excluídos, de novos modelos de família e estilos de vida), articulando-se com inúmeros movimentos socais, associados diretamente à juventude ou não. A rede, integrada como um circuito cultural, se fortalece como movimento social a partir de 2011, ao se envolver diretamente em uma série de manifestações (como a marcha da maconha) e se aproximar de vários outros movimentos, como o MST. Seu trabalho como um todo, sua comunicação, o fortalecimento de sua identidade, de seus vínculos afetivos, seus fluxos de reciprocidade, tem como pilar as novas TIC´s, em uma alternância e mistura de vivências online e offline, mantendo e reforçando laços formados em encontros presenciais e pela circulação de agentes. Sua atuação política se destaca através do chamado midiativismo, ou seja, a cobertura (por múltiplos meios e em tempo real ou não) de protestos, manifestações e intervenções públicas coletivas diversas da sociedade civil, organizadas ou não por movimentos. A partir da experiência acumulada com a cobertura de eventos e com as primeiras coberturas de manifestações, seus agentes consolidam um núcleo de midiativismo específico (podendo ou não ser ocupado pelos agentes da mídia FDE), a Mídia N.I.N.J.A. (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação), que ganha destaque pela cobertura das manifestações de Junho de 2013. Meu objetivo aqui é contextualizar o que chamo de “militância laboral” a partir das implicações na sociabilidade, no trabalho e no engajamento político (instâncias intimamente imbricadas na vivência dos agentes do Fora do Eixo) da cibercultura e das TIC’s contemporâneas, tendo como pano de fundo as reconfigurações destas na sociedade em sentido amplo e também mais especificamente no mundo do trabalho contemporâneo, discutindo a influência das mutações da chamada “sociedade em rede”, “capitalismo cognitivo”, “sociedade do conhecimento”, e do predomínio do “trabalho imaterial” na vida, trabalho, identidade e engajamento político, amalgamados em experiências coletivas recentes como a rede Fora do Eixo. Para tal desiderato sigo o seguinte roteiro: primeiro, caracterizar as mudanças do capitalismo a partir do desenvolvimento das NTIC, da influência da Contracultura e da ascensão do “trabalho imaterial” como elemento hegemônico na criação de valor (tendo como referências principais Manuel Castells, a obra conjunta de Boltanski e Chiapello e a discussão sobre “Trabalho Imaterial” de André Gorz); em seguida, tematizar a relação da cibercultura com os chamados “novos movimentos sociais”; e por fim, apresentar a experiência do Fora do Eixo e da Mídia Ninja como uma expressão sui generis de articulação dos elementos anteriormente discutidos, configurando-se em um movimento no qual trabalho, vida e militância tornam-se um só.
O artigo discute os possíveis impactos das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho na área d... more O artigo discute os possíveis impactos das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho na área da produção cultural, apresentando como estudo de caso a rede de coletivos “Circuito Fora do Eixo”.
Tese de Doutorado em Ciências Sociais/UFJF, 2017