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Guia de Vigilância em Saúde (GVS), editado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério d... more Guia de Vigilância em Saúde (GVS), editado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS), em sua 2ª edição eletrônica, se alinha aos novos desafios e estratégias de vigilância, prevenção e controle das doenças e agravos de importância de Saúde Pública. Esta edição atualiza as recomendações relacionadas às ações de vigilância em saúde, em conformidade aos dispositivos da Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, que define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública, e da Portaria nº 1.984, de 12 de setembro de 2014, que define a lista nacional das doenças e agravos que devem ser monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas. A publicação do GVS visa disseminar os procedimentos relativos aos fluxos, prazos, instrumentos, definições de casos suspeitos e confirmados, funcionamento dos sistemas de informação em saúde, condutas, medidas de controle e demais diretrizes técnicas para operacionalização do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, levando em consideração o conhecimento científico disponível. Com uma nova dinâmica de atualização, outras edições poderão ser divulgadas com revisão mais ou menos abrangente de conteúdo, à medida que novas evidências indiquem a necessidade de rever as recomendações vigentes para vigilância, prevenção e controle das doenças e agravos de interesse do SUS. Nesse sentido, especialmente aqueles que o utilizam para balizar suas práticas profissionais em saúde pública devem estar atentos às versões eletrônicas. Nesta 2ª edição, passaram por atualizações substanciais alguns capítulos, a exemplo daqueles dedicados à infecção pelo HIV e aids, à doença de Chagas e à tuberculose. Foram inseridos os textos sobre parotidite infecciona (caxumba), filariose linfática e infeção pelo vírus Zika -este último incluído no capítulo Dengue, Chilkungunya e Zika. Foram ainda mantidos conteúdos presentes na edição anterior do GVS e no Guia de Vigilância Epidemiológica, conformando um processo de construção coletiva e histórica. Assim, importa agradecer a todos os profissionais, gestores e colaboradores que participaram deste processo, bem como aos editores, às equipes técnicas da SVS, aos membros de seus comitês técnicos assessores e demais colaboradores que se dedicaram a esta edição, identificados ao final de cada volume. A despeito do mérito da contribuição destes profissionais, garante-se a autoria institucional das recomendações contidas neste GVS à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, como instância coordenadora do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Espera-se que o GVS dissemine as informações que possam contribuir para o aprimoramento das práticas da vigilância em saúde, de forma integrada aos serviços de saúde, em todos os municípios do país. Os editores C,D3"*,E. F'*,/.4G*,&,H'IJI&I. K"-%.+4G*,&,H&-*+ CAPÍTULO 1 = C,D3"*,E. 7#+!Z[\!]ZZ C,D3"*,E.4+.E',.3 1.%.I-*%2+-&I.+4H*%.&+ F*+I%&/0' Infecção viral aguda do sistema respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global. Um indivíduo pode contraí-la várias vezes ao longo da vida. Em geral, tem evolução autolimitada, podendo, contudo, apresentar-se de forma grave. Gripe e in uenza humana. O vírus in uenza, pertencente à família Ortomixiviridae, possui RNA de hélice única e se subdivide em três tipos antigenicamente distintos: A, B e C. O vírus tipo A é mais suscetível às variações antigênicas, e periodicamente sofre alterações em sua estrutura genômica, o que contribui para a existência de diversos subtipos. São responsáveis pela ocorrência da maioria das epidemias de in uenza e classi cados de acordo com os tipos de proteínas que se localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteína H está associada à infecção das células do trato respiratório superior, onde o vírus se multiplica, enquanto a proteína N facilita a saída das partículas virais do interior das células infectadas. O vírus in uenza tipo A infecta o homem, suínos, cavalos, mamíferos marinhos e aves; o tipo B infecta exclusivamente humanos; e o tipo C, humanos e suínos. O vírus tipo B sofre menos variações antigênicas e, por isso, está associado com epidemias mais localizadas. O vírus tipo C é antigenicamente estável, provoca doença subclínica e não ocasiona epidemias, motivo pelo qual merece menos destaque em saúde pública. O homem, suínos, equinos, focas e aves são os principais reservatórios. As aves migratórias, principalmente as aquáticas e as silvestres, desempenham importante papel na disseminação natural da doença entre distintos pontos do globo terrestre. Em geral, a transmissão ocorre dentro da mesma espécie, exceto entre os suínos, cujas células possuem receptores para os vírus humanos e aviários. A transmissão direta (pessoa a pessoa) é mais comum e ocorre por meio de gotículas, expelidas pelo indivíduo infectado com o vírus in uenza, ao falar, espirrar e tossir. Eventualmente, pode ocorrer transmissão pelo ar, pela inalação de partículas residuais, que podem ser levadas a distâncias maiores que 1 metro. Também há evidências de transmissão pelo modo indireto, por meio do contato com as secreções de outros doentes. Nesse caso, as mãos são o principal veículo, ao propiciarem a introdução de partículas In uenza Guia de Vigilância em Saúde 5> virais diretamente nas mucosas oral, nasal e ocular. A e ciência da transmissão por essas vias depende da carga viral, contaminantes por fatores ambientais, como umidade e temperatura, e do tempo transcorrido entre a contaminação e o contato com a superfície contaminada. A infecciosidade está relacionada com a excreção viral pelo trato respiratório superior, porém a correlação entre a excreção viral nasofaríngea e a transmissão é incerta e pode variar, particularmente em função do nível de imunidade preexistente. N*%2'A'4A*4&,I"B./0' Em geral, de 1 a 4 dias. Indivíduos adultos saudáveis infectados transmitem o vírus entre 24 e 48 horas antes do início de sintomas, porém em quantidades mais baixas do que durante o período sintomático. Nesse período, o pico da excreção viral ocorre principalmente entre as primeiras 24 até 72 horas do início da doença, e declina até níveis não detectáveis por volta do 5º dia, após o início dos sintomas. Pessoas com alto grau de imunodepressão podem excretar vírus por semanas ou meses. As crianças, comparadas aos adultos, também excretam vírus mais precocemente, com maior carga viral e por longos períodos. A suscetibilidade é geral. A imunidade aos vírus in uenza é adquirida a partir da infecção natural ou por meio de vacinação, sendo que esta garante imunidade apenas em relação aos vírus homólogos da sua composição. Assim, um hospedeiro que tenha tido uma infecção com determinada cepa terá pouca ou nenhuma imunidade contra uma nova infecção por uma cepa variante do mesmo vírus. Isso explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em causar frequentes epidemias e a necessidade de atualização constante da composição da vacina com as cepas circulantes. Classicamente, o quadro clínico da in uenza sazonal tem início abrupto, com sintomas de síndrome gripal (SG), como febre, tosse seca, dor de garganta, mialgia, cefaleia e prostração. Geralmente, tem resolução espontânea em aproximadamente 7 dias, embora a tosse, o mal-estar e a fadiga possam permanecer por algumas semanas e em alguns casos, principalmente em indivíduos com fatores e/ou condições de risco, pode evoluir para síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Em crianças com menos de 2 anos de idade, considera-se também como caso de SG: febre de início súbito (mesmo que referida) e sintomas respiratórios (tosse, coriza e obstrução nasal), na ausência de outro diagnóstico especí co. Alguns casos podem evoluir com complicações, especialmente em indivíduos com doença crônica, idosos e crianças menores de 2 anos, o que acarreta elevados níveis de morbimortalidade. As mais comuns são: diovasculares (especialmente doença reumática com estenose mitral) ou em mulheres grávidas. A principal complicação são as pneumonias, responsáveis por um grande número de internações hospitalares no país. O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como SG. O diagnóstico depende da investigação clínico-epidemiológica e do exame físico. A amostra clínica preferencial é a secreção da nasofaringe (SNF). Considerando a in uenza sazonal, o período para coleta é preferencialmente entre o 3º e o 7º dia após o início dos primeiros sintomas. Nos casos de SRAG hospitalizado e óbito por SRAG a coleta deve ser realizada independente do dia de início dos sintomas, incluindo os casos em unidade de terapia intensiva (UTI). O diagnóstico laboratorial pela pesquisa de vírus da in uenza é um dos componentes da vigilância de in uenza, a qual se baseia nas estratégias de vigilância sentinela de SG, SRAG em UTI e vigilância universal da SRAG. Nas unidades de saúde sentinelas de SG preconiza-se a coleta de cinco amostras de SNF e/ou orofaringe, conforme a técnica de coleta, por semana epidemiológica (SE). Para as unidades de saúde sentinelas de SRAG, devem ser coletadas amostras de todos os casos de SRAG internados em UTI. Para a vigilância universal de SRAG, a coleta de amostras deve ocorrer em todos os casos hospitalizados. As amostras são processadas por biologia molecular, pela técnica de reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real. Nos laboratórios que ainda não realizam as técnicas moleculares, as amostras devem ser processadas pelo método da imuno uorescência indireta (IFI). Na técnica de IFI, utiliza-se um painel de soros que detecta, além das in uenzas A e B, outros vírus respiratórios de interesse (vírus sincicial respiratório, parain uenza 1, 2 e 3 e adenovírus). De forma complementar e para controle de qualidade, são utilizadas as técnicas de biologia molecular e isolamento viral. Os exames iniciais são realizados nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) e os...