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Papers by (Des)troços: revista de pensamento radical

Research paper thumbnail of Mensajes furtivos: murmullos entre líneas

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2023

El texto reflexiona sobre la paradoja implícita en las cartas codificadas. Dicha incongruencia es... more El texto reflexiona sobre la paradoja implícita en las cartas codificadas. Dicha incongruencia es consecuencia del problema de la apertura de la escritura, es decir, de la imposibilidad del escrito de discriminar a sus lectores: un texto está expuesto a todos los ojos.

La paradoja se acentúa cuando el escrito tiene un destinatario concreto y determinado: la intención, la necesidad de excluir de la lectura del texto a todos aquellos que se consideran inadecuados obliga al remitente a enfrentarse al siguiente problema: ¿Cómo escribir un texto que discrimine de manera selectiva, es decir, que “elija” al receptor adecuado?

La reflexión sobre este tema se orienta mediante la exposición y el análisis de ejemplos en los que el mantenimiento del secreto es una cuestión de vida o muerte: fallar en la codificación del escrito puede llevar al remitente a la muerte, la cárcel o el exilio. La indiscreta apertura del texto se convierte en el problema central a la hora de analizar las prácticas de comunicación, en el contexto de las organizaciones que hacen del secreto fundamento del propio existir.

Research paper thumbnail of Fidelidade à verdade: Gandhi e a genealogia da desobediência civil

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Mohandas Gandhi é o criador de mitos mais influente e o teórico mais original da desobediência ci... more Mohandas Gandhi é o criador de mitos mais influente e o teórico mais original da desobediência civil. Como editor de jornal na África do Sul, ele narrou suas experiências com satyagraha traçando paralelos com nobres precedentes históricos, dentre os quais os mais duradouros foram Sócrates e Henry David Thoreau. A genealogia que Gandhi inventou nesses anos se tornou a pedra angular das narrativas liberais contemporâneas de desobediência civil como uma tradição contínua de apelo consciencioso que vai de Sócrates a King e Rawls. Uma consequência dessa canonização contemporânea da narrativa de Gandhi, no entanto, foi obscurecer a crítica radical da violência que originalmente a motivou. Este ensaio se baseia no relato de Edward Said sobre a teoria da viagem para desestabilizar o mito da doutrina que se formou em torno da desobediência civil. Ao colocar a genealogia de Gandhi no contexto de sua crítica da civilização moderna, bem como seu encontro formativo (embora muitas vezes esquecido) com o movimento sufragista feminino britânico, ele reconstrói a noção paradoxal de Gandhi de que a ação política sacrificial é a expressão mais completa do autogoverno. Para Gandhi, Sócrates e Thoreau exemplificam a desobediência civil como uma prática destemida de fidelidade à verdade, profundamente em desacordo com as concepções liberais de desobediência como fidelidade à lei.

Research paper thumbnail of Civil disobedience: a dispute of concepts

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Adopting a genealogical methodology, this paper aims to unveil the historical intricacies of civi... more Adopting a genealogical methodology, this paper aims to unveil the historical intricacies of civil concept and the liberal model of civil disobedience. As suggested by Hanson, there has been a Resistance to civil government later republished as Civil disobedience that goes from its editors until Gandhi. By the same token, there has been a second process, not of selective appropriation per se, but of colonization in which authors of the liberal model of civil disobedience impose a series of theoretical constraints in the form of constitutive elements that ought to be fulfilled in order for a political movement to be considered a legitimate case of civil disobedience. This has resulted in civil disobedients being required to recognize the legitimacy of legal and political systems and to demand changes only within the boundaries of the rule of law. Conversely, we suggest a different and radical approach to civil disobedience, one that acknowledges that civil-base, i.e., determined from real political actions and not necessarily centered on legal foundations or normative status.

Research paper thumbnail of A desobediência como ethos: Foucault leitor de O anti-Édipo

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente ensaio aborda a desobediência como ethos a partir da leitura do prefácio intitulado In... more O presente ensaio aborda a desobediência como ethos a partir da leitura do prefácio intitulado Introdução a uma vida não fascista à obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia, lançada em 1972. Embora escrito em 1977 para edição publicada nos Estados Unidos, o prelúdio escrito por Michel Foucault nos oportuniza problematizar a desobediência como ethos. O olhar elogioso para o livro de Deleuze e Guattari o insere em uma dimensão ética que nos permite pensar nossa relação com o desejo a partir de um inconsciente que abandona sua condição fantasmática para assumir-se maquínico. Em sua alegoria como usina do desejo, no embate entre a psicanálise de então com uma esquizoanálise insurgente, abre-se a oportunidade para observarmos a crítica como ferramenta para problematizarmos o fascismo em suas múltiplas expressões os microfascismos contemporâneos. É nestes termos que o presente ensaio toma Foucault, leitor de O anti-Édipo, como possibilidade de evidenciar um horizonte de desobediência como ethos. Palavras-chave Desobediência como ethos; Michel Foucault; Gilles Deleuze; Félix Guattari; microfascismo.

Research paper thumbnail of Como resistir ao populismo autoritário

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O populismo autoritário impõe grandes desafios à democracia. No entanto, relativamente pouca anál... more O populismo autoritário impõe grandes desafios à democracia. No entanto, relativamente pouca análise sistemática político-teórica ou filosófica se concentrou na melhor forma de se opor ou resistir a ele. O presente ensaio se dedica a três abordagens possíveis que, no momento, estão sendo provisoriamente discutidas. Alguns escritores enfatizam as possíveis virtudes da desobediência civil, outros defendem uma estratégia ainda mais ampla de resistência civil e outros, ainda, abandonam ambas as abordagens “civis” em favor da desobediência não-civil. Apesar de seus muitos pontos fortes, cada abordagem possui pontos fracos, em parte porque cada uma responde de forma incompleta aos desafios do populismo autoritário e ao uso de modos cada vez mais comuns de repressão “inteligente”. Com implicações sinistras para aqueles preocupados com o destino da democracia, os populistas estão adotando técnicas coercitivas destinadas a reprimir a dissidência sem gerar a simpatia do público ou uma reação popular.

Research paper thumbnail of Agamben contra Agamben: por uma vida nua

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

No conjunto da obra de Giorgio Agamben, mas especialmente em seu célebre projeto políticofilosófi... more No conjunto da obra de Giorgio Agamben, mas especialmente em seu célebre projeto políticofilosófico, o conceito de vida nua aparece basicamente como a prestação fundamental do poder soberano e o elemento originário do mundo jurídico-político ocidental, em relação residual dissecada pela ameaça e pela violência. A investigação que ganha corpo nas reflexões que ora se resume tem o propósito de elucidar se há elementos na obra do filósofo que autorizem lançar outro olhar sobre a vida nua, para além de sua concepção teórica mais evidente. Abrangendo o longo período que separa Homo sacer: il potere sovrano e la nuda vita de Quando la casa brucia, com vinte e cinco anos de produção ininterrupta, procuramos agora aquilatar se há outro lado da vida nua, se o conceito pode ser observado por outro ângulo, que alternativas suporta, que sugestões infere, quais suas potencialidades, tanto pelos elementos arrolados pelo próprio autor quanto pelas acepções que podemos construir por vias argumentativas independentes. Assim como para o filósofo italiano, lemos em uma entrevista datada do início desse percurso, a leitura de Walter Benjamin pode servir de antídoto para o pensamento de Martin Heidegger, Giorgio Agamben talvez possa servir de antídoto contra si mesmo. Palavras-chave Giorgio Agamben; vida nua; nudez.

Research paper thumbnail of Normas de gênero e normas jurídicas: reflexões sobre dildo e violência

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Apoiado no Manifesto Contrasexual de Paul Preciado, o artigo objetiva analisar a relação entre no... more Apoiado no Manifesto Contrasexual de Paul Preciado, o artigo objetiva analisar a relação entre normas de gênero e normas jurídicas à luz dos estudos no campo de gênero e sexualidade, bem como os efeitos dessa dupla normação nos corpos que escapam. O trabalho sugere que normas jurídicas e normas de gênero não se estranham porque a maneira com a qual construímos nosso acesso epistêmico do mundo está alicerçada em verdades hierárquicas, binárias e dicotômicas que ambas reiteram e legitimam. Nesse sentido, busca-se pensar a dildotopia com uma ameça epistêmica a desestabilizar tais lócus de saber nomardos.

Research paper thumbnail of Biopolítica, desenvolvimento, insegurança, exclusão e violência

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O objetivo deste artigo é compreender o controle e a violência exercida pelo Estado por meio dos ... more O objetivo deste artigo é compreender o controle e a violência exercida pelo Estado por meio dos instrumentos jurídicos e da racionalidade dos dispositivos econômico-políticos e suas implicações sobre o desenvolvimento regional. A partir dos escritos de Michael Foucault, Giorgio Agamben e Maurizio Lazzarato, faz-se permissível estabelecer uma relação ambígua e complexa na qual o Estado – alicerçado em injunções jurídicas e dispositivos econômico-políticos – exerce uma violência institucionalizada que não apenas determina condutas, mas segrega indivíduos e populações, produz constantes ameaças e assegura contratos e imposições financeiras sobre comunidades e povos, sob a obsessão do padrão desenvolvimentista. Esse modelo é tão ávido que se liquefaz ao projeto biopolítico e transforma a vida humana em vida meramente biológica, especialmente nas populações periféricas ou excluídas social, cultural e economicamente. A violência, atrelada à lei e a este processo, contamina todas as instituições, projetos e injunções, inclusive o “desenvolvimento”, nas suas mais diversas adjetivações, conservando e (re)produzindo vidas desqualificadas.

Research paper thumbnail of Estética da ferocidade

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Neste ensaio, procuro desenvolver a noção de estética da ferocidade. Para isso, primeiramente, bu... more Neste ensaio, procuro desenvolver a noção de estética da ferocidade. Para isso, primeiramente, busco me relacionar criticamente com alguns elementos da Escola de Frankfurt e dos Estudos Queer. A respeito da primeira escola de pensamento, reflito sobre o teórico Herbert Marcuse. Diante de Marcuse, é possível compreender já na década de 1960 uma valorização dos saberes minoritários, da produção de novas formas de subjetividade, de uma positivação das sexualidades ditas perversas e, também, a valorização das utopias que se pode chamar de subalternas. A respeito da segunda escola de pensamento os Estudos Queer , é possível encontrar muitas semelhanças com o pensamento de Marcuse, mas penso que o queer evoca uma experiência de desestruturação dos processos normativos, ou ainda de determinadas ontologias. Nesse sentido, o que direciono para uma estética da ferocidade seria a compreensão do queer como uma experiência de implosão dos processos normativos, mas, também, de uma explosão do Simbólico via pulsão de morte.

Research paper thumbnail of #80tiros: como contar a violência? Análise sobre a percepção da violência policial nas redes sociais

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente ensaio visa contribuir aos estudos sobre os processos de percepção social da violência... more O presente ensaio visa contribuir aos estudos sobre os processos de percepção social da violência no Brasil, com ênfase nas redes sociais. Como recorte, elegemos a repercussão no Instagram e Twitter do assassinato de Evaldo Rosa e Luciano Macedo pelo Exército em 2019, no Rio de Janeiro – episódio que ficou marcado pela hashtag #80tiros. Vamos analisar os argumentos mais recorrentes, seus fundamentos sociológicos e limitações interpretativas, bem como a influência da infraestrutura algorítmica na sua construção. Nossa hipótese é de que a fala mítica dificultou a percepção da zona cinza formada com o avanço das necropolíticas de Estado contra setores da classe batalhadora.

Research paper thumbnail of A propriedade é um dispositivo?

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

A partir da análise de discursos político-jurídicos paradigmáticos, que permearam a consolidação ... more A partir da análise de discursos político-jurídicos paradigmáticos, que permearam a consolidação da propriedade moderna, compreendida aqui como noção e como instituto, pretende-se verificar se é correta a interpretação de que a propriedade se instituiu como um dispositivo. Para tanto, quatro características da forma de operar do dispositivo – tal como teorizado por Heidegger, Foucault e Agamben – foram selecionadas como guia para a análise: 1) resposta a um objetivo estratégico ou à produção de um resultado útil; 2) divisão bipolar da realidade; 3) imposição de certo direcionamento sobre o real; e, 4) captura do sujeito como parte ou “peça” do processo. Do trabalho foi possível constatar que tais características se encontram presentes em pontos nodais de emergência da propriedade moderna, respondendo positivamente à pergunta presente no título deste artigo.

Research paper thumbnail of Pensare la vita come ciò di cui non si dà mai proprietà: Agamben e a propriedade privada

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Retornamos ao texto que se segue ao Altissima povertà: regole monastiche e forma di vita de Giorg... more Retornamos ao texto que se segue ao Altissima povertà: regole monastiche e forma di vita de Giorgio Agamben para nos indagar se estaria o filósofo italiano escrevendo contra a propriedade privada e se o seu livro pode ser lido como um manifesto contra o direito de propriedade. Ao contrário de outros temas que se repetem com frequência durante o intercurso da obra do filósofo romano, esse quase não aparece e tem um posto bem localizado. A sua articulada argumentação em benefício de uma vida fora do direito seria uma afronta direta ou indireta ao uso particular e exclusivo dos bens que estão à disposição da humanidade? É muito provável que os estilhaços do tempo messiânico aos quais se refere Walter Benjamin, cacos que indicam os sentidos das portas estreitas por onde pode passar a salvação messiânica que prescinde de futuro e de messias, atinjam o direito de propriedade. Os recursos a aplicar contra uma realidade supostamente improfanável estão à nossa disposição, ao menos à disposição da filosofia crítica que ainda vem ou da filosofia radical que já se encontra em estado de latência?

Research paper thumbnail of Um outro devir-negro do mundo: neoliberalismo e lutas antirracistas

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Prolongando um conceito de Achille Mbembe, este ensaio propõe a noção de “um outro devir-negro do... more Prolongando um conceito de Achille Mbembe, este ensaio propõe a noção de “um outro devir-negro do mundo” como categoria capaz de tornar pensáveis as relações entre raça e capital na dimensão das lutas. Cruzando pesquisa bibliográfica e análise de conjuntura, as relações entre raça e capital são tematizadas, por um lado, como funcionamentos de poder que estruturam novos deslizamentos generalizantes da sujeição e hierarquização racial/social no contexto do capitalismo neoliberal; por outro, a partir da análise da emergência de um conjunto global de lutas involucradas nos protestos do Black Lives Matter. Este “outro devir-negro do mundo” excede as funções meramente críticas ou diagnósticas dos poderes em curso que estão presentes na categoria de “devir-negro do mundo” e, englobando-os, revela os pontos de contato em que as lutas antirracistas e anticapitalistas se cruzam transversalmente no contexto do neoliberalismo.

Research paper thumbnail of Não comum

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Neste texto, que compõe um dos capítulos do seu livro Política e negação: por uma filosofia afirm... more Neste texto, que compõe um dos capítulos do seu livro Política e negação: por uma filosofia afirmativa, o filósofo italiano Roberto Esposito examina a propriedade como categoria política do Moderno. Enquanto tal, a propriedade teria se constituído e operaria por meio do negativo, isto é, através da negação do seu contrário. Pois, assim como ocorre com a soberania e a liberdade, característica das categorias políticas fundamentais do Moderno é que elas teriam sido definidas a partir da negação daquilo que não são, permanecendo atreladas – em uma relação constitutiva – aos seus opostos. Percorrendo arqueologicamente a construção moderna do instituto – desde a sua afirmação como direito natural, fruto do trabalho, até a sua volatização em mero título jurídico –, o que Esposito demonstra é que a propriedade se constituiu não como uma entidade positiva, mas como a negação daquela realidade originária que lhe subjaz: o comum.

Research paper thumbnail of A mulher negra como “Outro do Outro”: interseções entre gênero e raça em Grada Kilomba e Lélia Gonzalez

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente artigo objetiva discutir, dentro do campo da filosofia política, a invisibilização das... more O presente artigo objetiva discutir, dentro do campo da filosofia política, a invisibilização das mulheres negras na sociedade, demonstrando como esse apagamento se reproduz historicamente e reforça as estruturas de opressão observadas até os nossos dias. Tal problematização é feita a partir das contribuições teóricas de Grada Kilomba e Lélia Gonzalez, baseando-se em como abordam o problema da mulher negra diante de uma estrutura que é, ao mesmo tempo, racista e sexista. Investigamos, por meio de revisão bibliográfica, como Kilomba analisa a interconexão entre gênero e raça para a construção do papel dessas mulheres segundo a dinâmica colonial e como Gonzalez critica o racismo e o sexismo na cultura brasileira enquanto resultado da herança escravista que se projeta como denegação. Considerando essas duas perspectivas, evidenciamos a importância da interseção entre gênero e raça para teorias e práticas que almejam uma sociedade efetivamente democrática, antissexista e antirracista.

Research paper thumbnail of Ocupações urbanas: enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente artigo objetiva estabelecer a relação entre a noção de participação popular para a pro... more O presente artigo objetiva estabelecer a relação entre a noção de participação popular para a promoção cultural na cidade e a ideia de ocupação urbana enquanto um direito de resistência. Pretende-se, com o presente texto, contribuir para a ressignificação do conceito de pessoa de ocupação, em geral compreendido sob o estigma da ilegalidade e até mesmo da violência. Para tanto, valemo-nos, a fim de ilustrar essa discussão, dos exemplos do Espaço Comum Luiz Estrela e da Kasa Invisível.

Research paper thumbnail of Belo Monte, Canudos ou a "comunidade que vem" em estado fenomênico

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

A propriedade, enquanto um dispositivo, possui a capacidade de interceptar e modelar subjetividad... more A propriedade, enquanto um dispositivo, possui a capacidade de interceptar e modelar subjetividades, de modo a constituir viventes amuralhados em si mesmos em identidades petrificadas e oposicionais que refreiam o irromper do comum. Por esse motivo, ciente da premissa benjaminiana de que a rememoração do passado serve a sua presentificação, objetivo neste artigo analisar a experiência do Arraial de Canudos (1893-1897), no qual diversas singularidades se reuniram na experiência comunitária – no sentido pregnante da palavra – de Belo Monte. Esse movimento é feito tendo em vista o meu entendimento de que ali se deu uma desativação do dispositivo proprietário que captura nossa humanidade comum, a recodificando em identidades jurídico-sociais.

Research paper thumbnail of Considerações sobre direito, justiça, força e obediência na perspectiva de Jacques Derrida

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente texto objetiva traçar o caminho teórico trilhado por Jacques Derrida ao analisar a rel... more O presente texto objetiva traçar o caminho teórico trilhado por Jacques Derrida ao analisar a relação entre direito, justiça e força a fim de demonstrar a injustificabilidade da obediência às leis e ao direito. Retomando alguns aspectos dos trabalhos de Kant, Pascal e Montaigne, tenta-se demonstrar, no presente artigo, a falseabilidade da pressuposição do vínculo supostamente indissociável e necessário entre direito e justiça, apontando, ao contrário, que a condição de existência do direito é, em verdade, a força resultado do fundamento místico que sustenta o próprio direito.

Research paper thumbnail of O potencial democratizante da desobediência civil

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente artigo objetiva demonstrar que as principais tradições liberais da desobediência civil... more O presente artigo objetiva demonstrar que as principais tradições liberais da desobediência civil falham ao não conseguir capturar completamente as características específicas desse fenômeno enquanto prática de contestação genuinamente democrática e política, uma vez que a desobediência civil não pode ser simplesmente reduzida a uma compreensão legal ou ética em termos de consciência individual ou de fidelidade ao direito. Ao desenvolver essa proposta com mais detalhes, primeiro defino a desobediência civil com o propósito de explicar cuidadosamente porque o modelo liberal padrão, embora capaz de prover um ponto de partida útil, em última análise leva a uma compreensão excessivamente restrita, domesticada e higienizadora da complexa prática política que é a desobediência civil. Em segundo lugar, eu localizo a prática política da desobediência entre dois polos opostos: a política simbólica e o confronto real, argumentando que a irredutível tensão entre esses polos explica precisamente seu potencial politizante e democratizante. Ao final, examino brevemente o papel da desobediência civil nas democracias representativas, abordando, para tanto, uma série de argumentos recentes feitos em resposta a esse entendimento radicalmente democrático da desobediência.

Research paper thumbnail of Contra a Constituição da "democracia protegida": a emergência do processo constituinte chileno 2021-2022

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

O presente trabalho é uma pesquisa exploratória desenvolvida no campo da história constitucional... more O presente trabalho é uma pesquisa exploratória desenvolvida no campo da história constitucional sobre a emergência do processo constituinte chileno de 2021-2022. O objetivo é compreender, em linhas gerais, em que sentido direito e política se relacionam no processo histórico-constitucional chileno a partir do marco da constituição outorgada pela Junta Militar. O trabalho emprega como fio condutor algumas das principais críticas formuladas à Constituição de 1980: (i) sua imposição ilegítima; (ii) seus limites à participação política, em virtude do modelo de “democracia protegida” adotado; e (iii) seus limites à atuação do Estado para garantir direitos sociais e intervir no domínio econômico. Nesse quadro, o trabalho busca compreender o processo de institucionalização constitucional do projeto da ditadura chilena e (iv) as tentativas de modificá-lo ou superá-lo, analisando em quais sentidos a constituição se coloca como obstáculo às reivindicações populares que tiveram seu ápice no chamado “estallido social”. Concluímos (v) com a hipótese de que a “convenção constituinte” chilena, em sua emergência partindo de uma crítica ao núcleo do projeto constitucional pinochetista, vai levar as persistentes disputas sobre a memória e o legado da ditadura ao centro do palco: o que a modernização autoritária promovida pela ditadura efetivamente constituiu?

Research paper thumbnail of Mensajes furtivos: murmullos entre líneas

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2023

El texto reflexiona sobre la paradoja implícita en las cartas codificadas. Dicha incongruencia es... more El texto reflexiona sobre la paradoja implícita en las cartas codificadas. Dicha incongruencia es consecuencia del problema de la apertura de la escritura, es decir, de la imposibilidad del escrito de discriminar a sus lectores: un texto está expuesto a todos los ojos.

La paradoja se acentúa cuando el escrito tiene un destinatario concreto y determinado: la intención, la necesidad de excluir de la lectura del texto a todos aquellos que se consideran inadecuados obliga al remitente a enfrentarse al siguiente problema: ¿Cómo escribir un texto que discrimine de manera selectiva, es decir, que “elija” al receptor adecuado?

La reflexión sobre este tema se orienta mediante la exposición y el análisis de ejemplos en los que el mantenimiento del secreto es una cuestión de vida o muerte: fallar en la codificación del escrito puede llevar al remitente a la muerte, la cárcel o el exilio. La indiscreta apertura del texto se convierte en el problema central a la hora de analizar las prácticas de comunicación, en el contexto de las organizaciones que hacen del secreto fundamento del propio existir.

Research paper thumbnail of Fidelidade à verdade: Gandhi e a genealogia da desobediência civil

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Mohandas Gandhi é o criador de mitos mais influente e o teórico mais original da desobediência ci... more Mohandas Gandhi é o criador de mitos mais influente e o teórico mais original da desobediência civil. Como editor de jornal na África do Sul, ele narrou suas experiências com satyagraha traçando paralelos com nobres precedentes históricos, dentre os quais os mais duradouros foram Sócrates e Henry David Thoreau. A genealogia que Gandhi inventou nesses anos se tornou a pedra angular das narrativas liberais contemporâneas de desobediência civil como uma tradição contínua de apelo consciencioso que vai de Sócrates a King e Rawls. Uma consequência dessa canonização contemporânea da narrativa de Gandhi, no entanto, foi obscurecer a crítica radical da violência que originalmente a motivou. Este ensaio se baseia no relato de Edward Said sobre a teoria da viagem para desestabilizar o mito da doutrina que se formou em torno da desobediência civil. Ao colocar a genealogia de Gandhi no contexto de sua crítica da civilização moderna, bem como seu encontro formativo (embora muitas vezes esquecido) com o movimento sufragista feminino britânico, ele reconstrói a noção paradoxal de Gandhi de que a ação política sacrificial é a expressão mais completa do autogoverno. Para Gandhi, Sócrates e Thoreau exemplificam a desobediência civil como uma prática destemida de fidelidade à verdade, profundamente em desacordo com as concepções liberais de desobediência como fidelidade à lei.

Research paper thumbnail of Civil disobedience: a dispute of concepts

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Adopting a genealogical methodology, this paper aims to unveil the historical intricacies of civi... more Adopting a genealogical methodology, this paper aims to unveil the historical intricacies of civil concept and the liberal model of civil disobedience. As suggested by Hanson, there has been a Resistance to civil government later republished as Civil disobedience that goes from its editors until Gandhi. By the same token, there has been a second process, not of selective appropriation per se, but of colonization in which authors of the liberal model of civil disobedience impose a series of theoretical constraints in the form of constitutive elements that ought to be fulfilled in order for a political movement to be considered a legitimate case of civil disobedience. This has resulted in civil disobedients being required to recognize the legitimacy of legal and political systems and to demand changes only within the boundaries of the rule of law. Conversely, we suggest a different and radical approach to civil disobedience, one that acknowledges that civil-base, i.e., determined from real political actions and not necessarily centered on legal foundations or normative status.

Research paper thumbnail of A desobediência como ethos: Foucault leitor de O anti-Édipo

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente ensaio aborda a desobediência como ethos a partir da leitura do prefácio intitulado In... more O presente ensaio aborda a desobediência como ethos a partir da leitura do prefácio intitulado Introdução a uma vida não fascista à obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia, lançada em 1972. Embora escrito em 1977 para edição publicada nos Estados Unidos, o prelúdio escrito por Michel Foucault nos oportuniza problematizar a desobediência como ethos. O olhar elogioso para o livro de Deleuze e Guattari o insere em uma dimensão ética que nos permite pensar nossa relação com o desejo a partir de um inconsciente que abandona sua condição fantasmática para assumir-se maquínico. Em sua alegoria como usina do desejo, no embate entre a psicanálise de então com uma esquizoanálise insurgente, abre-se a oportunidade para observarmos a crítica como ferramenta para problematizarmos o fascismo em suas múltiplas expressões os microfascismos contemporâneos. É nestes termos que o presente ensaio toma Foucault, leitor de O anti-Édipo, como possibilidade de evidenciar um horizonte de desobediência como ethos. Palavras-chave Desobediência como ethos; Michel Foucault; Gilles Deleuze; Félix Guattari; microfascismo.

Research paper thumbnail of Como resistir ao populismo autoritário

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O populismo autoritário impõe grandes desafios à democracia. No entanto, relativamente pouca anál... more O populismo autoritário impõe grandes desafios à democracia. No entanto, relativamente pouca análise sistemática político-teórica ou filosófica se concentrou na melhor forma de se opor ou resistir a ele. O presente ensaio se dedica a três abordagens possíveis que, no momento, estão sendo provisoriamente discutidas. Alguns escritores enfatizam as possíveis virtudes da desobediência civil, outros defendem uma estratégia ainda mais ampla de resistência civil e outros, ainda, abandonam ambas as abordagens “civis” em favor da desobediência não-civil. Apesar de seus muitos pontos fortes, cada abordagem possui pontos fracos, em parte porque cada uma responde de forma incompleta aos desafios do populismo autoritário e ao uso de modos cada vez mais comuns de repressão “inteligente”. Com implicações sinistras para aqueles preocupados com o destino da democracia, os populistas estão adotando técnicas coercitivas destinadas a reprimir a dissidência sem gerar a simpatia do público ou uma reação popular.

Research paper thumbnail of Agamben contra Agamben: por uma vida nua

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

No conjunto da obra de Giorgio Agamben, mas especialmente em seu célebre projeto políticofilosófi... more No conjunto da obra de Giorgio Agamben, mas especialmente em seu célebre projeto políticofilosófico, o conceito de vida nua aparece basicamente como a prestação fundamental do poder soberano e o elemento originário do mundo jurídico-político ocidental, em relação residual dissecada pela ameaça e pela violência. A investigação que ganha corpo nas reflexões que ora se resume tem o propósito de elucidar se há elementos na obra do filósofo que autorizem lançar outro olhar sobre a vida nua, para além de sua concepção teórica mais evidente. Abrangendo o longo período que separa Homo sacer: il potere sovrano e la nuda vita de Quando la casa brucia, com vinte e cinco anos de produção ininterrupta, procuramos agora aquilatar se há outro lado da vida nua, se o conceito pode ser observado por outro ângulo, que alternativas suporta, que sugestões infere, quais suas potencialidades, tanto pelos elementos arrolados pelo próprio autor quanto pelas acepções que podemos construir por vias argumentativas independentes. Assim como para o filósofo italiano, lemos em uma entrevista datada do início desse percurso, a leitura de Walter Benjamin pode servir de antídoto para o pensamento de Martin Heidegger, Giorgio Agamben talvez possa servir de antídoto contra si mesmo. Palavras-chave Giorgio Agamben; vida nua; nudez.

Research paper thumbnail of Normas de gênero e normas jurídicas: reflexões sobre dildo e violência

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Apoiado no Manifesto Contrasexual de Paul Preciado, o artigo objetiva analisar a relação entre no... more Apoiado no Manifesto Contrasexual de Paul Preciado, o artigo objetiva analisar a relação entre normas de gênero e normas jurídicas à luz dos estudos no campo de gênero e sexualidade, bem como os efeitos dessa dupla normação nos corpos que escapam. O trabalho sugere que normas jurídicas e normas de gênero não se estranham porque a maneira com a qual construímos nosso acesso epistêmico do mundo está alicerçada em verdades hierárquicas, binárias e dicotômicas que ambas reiteram e legitimam. Nesse sentido, busca-se pensar a dildotopia com uma ameça epistêmica a desestabilizar tais lócus de saber nomardos.

Research paper thumbnail of Biopolítica, desenvolvimento, insegurança, exclusão e violência

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O objetivo deste artigo é compreender o controle e a violência exercida pelo Estado por meio dos ... more O objetivo deste artigo é compreender o controle e a violência exercida pelo Estado por meio dos instrumentos jurídicos e da racionalidade dos dispositivos econômico-políticos e suas implicações sobre o desenvolvimento regional. A partir dos escritos de Michael Foucault, Giorgio Agamben e Maurizio Lazzarato, faz-se permissível estabelecer uma relação ambígua e complexa na qual o Estado – alicerçado em injunções jurídicas e dispositivos econômico-políticos – exerce uma violência institucionalizada que não apenas determina condutas, mas segrega indivíduos e populações, produz constantes ameaças e assegura contratos e imposições financeiras sobre comunidades e povos, sob a obsessão do padrão desenvolvimentista. Esse modelo é tão ávido que se liquefaz ao projeto biopolítico e transforma a vida humana em vida meramente biológica, especialmente nas populações periféricas ou excluídas social, cultural e economicamente. A violência, atrelada à lei e a este processo, contamina todas as instituições, projetos e injunções, inclusive o “desenvolvimento”, nas suas mais diversas adjetivações, conservando e (re)produzindo vidas desqualificadas.

Research paper thumbnail of Estética da ferocidade

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Neste ensaio, procuro desenvolver a noção de estética da ferocidade. Para isso, primeiramente, bu... more Neste ensaio, procuro desenvolver a noção de estética da ferocidade. Para isso, primeiramente, busco me relacionar criticamente com alguns elementos da Escola de Frankfurt e dos Estudos Queer. A respeito da primeira escola de pensamento, reflito sobre o teórico Herbert Marcuse. Diante de Marcuse, é possível compreender já na década de 1960 uma valorização dos saberes minoritários, da produção de novas formas de subjetividade, de uma positivação das sexualidades ditas perversas e, também, a valorização das utopias que se pode chamar de subalternas. A respeito da segunda escola de pensamento os Estudos Queer , é possível encontrar muitas semelhanças com o pensamento de Marcuse, mas penso que o queer evoca uma experiência de desestruturação dos processos normativos, ou ainda de determinadas ontologias. Nesse sentido, o que direciono para uma estética da ferocidade seria a compreensão do queer como uma experiência de implosão dos processos normativos, mas, também, de uma explosão do Simbólico via pulsão de morte.

Research paper thumbnail of #80tiros: como contar a violência? Análise sobre a percepção da violência policial nas redes sociais

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente ensaio visa contribuir aos estudos sobre os processos de percepção social da violência... more O presente ensaio visa contribuir aos estudos sobre os processos de percepção social da violência no Brasil, com ênfase nas redes sociais. Como recorte, elegemos a repercussão no Instagram e Twitter do assassinato de Evaldo Rosa e Luciano Macedo pelo Exército em 2019, no Rio de Janeiro – episódio que ficou marcado pela hashtag #80tiros. Vamos analisar os argumentos mais recorrentes, seus fundamentos sociológicos e limitações interpretativas, bem como a influência da infraestrutura algorítmica na sua construção. Nossa hipótese é de que a fala mítica dificultou a percepção da zona cinza formada com o avanço das necropolíticas de Estado contra setores da classe batalhadora.

Research paper thumbnail of A propriedade é um dispositivo?

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A partir da análise de discursos político-jurídicos paradigmáticos, que permearam a consolidação ... more A partir da análise de discursos político-jurídicos paradigmáticos, que permearam a consolidação da propriedade moderna, compreendida aqui como noção e como instituto, pretende-se verificar se é correta a interpretação de que a propriedade se instituiu como um dispositivo. Para tanto, quatro características da forma de operar do dispositivo – tal como teorizado por Heidegger, Foucault e Agamben – foram selecionadas como guia para a análise: 1) resposta a um objetivo estratégico ou à produção de um resultado útil; 2) divisão bipolar da realidade; 3) imposição de certo direcionamento sobre o real; e, 4) captura do sujeito como parte ou “peça” do processo. Do trabalho foi possível constatar que tais características se encontram presentes em pontos nodais de emergência da propriedade moderna, respondendo positivamente à pergunta presente no título deste artigo.

Research paper thumbnail of Pensare la vita come ciò di cui non si dà mai proprietà: Agamben e a propriedade privada

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Retornamos ao texto que se segue ao Altissima povertà: regole monastiche e forma di vita de Giorg... more Retornamos ao texto que se segue ao Altissima povertà: regole monastiche e forma di vita de Giorgio Agamben para nos indagar se estaria o filósofo italiano escrevendo contra a propriedade privada e se o seu livro pode ser lido como um manifesto contra o direito de propriedade. Ao contrário de outros temas que se repetem com frequência durante o intercurso da obra do filósofo romano, esse quase não aparece e tem um posto bem localizado. A sua articulada argumentação em benefício de uma vida fora do direito seria uma afronta direta ou indireta ao uso particular e exclusivo dos bens que estão à disposição da humanidade? É muito provável que os estilhaços do tempo messiânico aos quais se refere Walter Benjamin, cacos que indicam os sentidos das portas estreitas por onde pode passar a salvação messiânica que prescinde de futuro e de messias, atinjam o direito de propriedade. Os recursos a aplicar contra uma realidade supostamente improfanável estão à nossa disposição, ao menos à disposição da filosofia crítica que ainda vem ou da filosofia radical que já se encontra em estado de latência?

Research paper thumbnail of Um outro devir-negro do mundo: neoliberalismo e lutas antirracistas

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Prolongando um conceito de Achille Mbembe, este ensaio propõe a noção de “um outro devir-negro do... more Prolongando um conceito de Achille Mbembe, este ensaio propõe a noção de “um outro devir-negro do mundo” como categoria capaz de tornar pensáveis as relações entre raça e capital na dimensão das lutas. Cruzando pesquisa bibliográfica e análise de conjuntura, as relações entre raça e capital são tematizadas, por um lado, como funcionamentos de poder que estruturam novos deslizamentos generalizantes da sujeição e hierarquização racial/social no contexto do capitalismo neoliberal; por outro, a partir da análise da emergência de um conjunto global de lutas involucradas nos protestos do Black Lives Matter. Este “outro devir-negro do mundo” excede as funções meramente críticas ou diagnósticas dos poderes em curso que estão presentes na categoria de “devir-negro do mundo” e, englobando-os, revela os pontos de contato em que as lutas antirracistas e anticapitalistas se cruzam transversalmente no contexto do neoliberalismo.

Research paper thumbnail of Não comum

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Neste texto, que compõe um dos capítulos do seu livro Política e negação: por uma filosofia afirm... more Neste texto, que compõe um dos capítulos do seu livro Política e negação: por uma filosofia afirmativa, o filósofo italiano Roberto Esposito examina a propriedade como categoria política do Moderno. Enquanto tal, a propriedade teria se constituído e operaria por meio do negativo, isto é, através da negação do seu contrário. Pois, assim como ocorre com a soberania e a liberdade, característica das categorias políticas fundamentais do Moderno é que elas teriam sido definidas a partir da negação daquilo que não são, permanecendo atreladas – em uma relação constitutiva – aos seus opostos. Percorrendo arqueologicamente a construção moderna do instituto – desde a sua afirmação como direito natural, fruto do trabalho, até a sua volatização em mero título jurídico –, o que Esposito demonstra é que a propriedade se constituiu não como uma entidade positiva, mas como a negação daquela realidade originária que lhe subjaz: o comum.

Research paper thumbnail of A mulher negra como “Outro do Outro”: interseções entre gênero e raça em Grada Kilomba e Lélia Gonzalez

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O presente artigo objetiva discutir, dentro do campo da filosofia política, a invisibilização das... more O presente artigo objetiva discutir, dentro do campo da filosofia política, a invisibilização das mulheres negras na sociedade, demonstrando como esse apagamento se reproduz historicamente e reforça as estruturas de opressão observadas até os nossos dias. Tal problematização é feita a partir das contribuições teóricas de Grada Kilomba e Lélia Gonzalez, baseando-se em como abordam o problema da mulher negra diante de uma estrutura que é, ao mesmo tempo, racista e sexista. Investigamos, por meio de revisão bibliográfica, como Kilomba analisa a interconexão entre gênero e raça para a construção do papel dessas mulheres segundo a dinâmica colonial e como Gonzalez critica o racismo e o sexismo na cultura brasileira enquanto resultado da herança escravista que se projeta como denegação. Considerando essas duas perspectivas, evidenciamos a importância da interseção entre gênero e raça para teorias e práticas que almejam uma sociedade efetivamente democrática, antissexista e antirracista.

Research paper thumbnail of Ocupações urbanas: enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito

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O presente artigo objetiva estabelecer a relação entre a noção de participação popular para a pro... more O presente artigo objetiva estabelecer a relação entre a noção de participação popular para a promoção cultural na cidade e a ideia de ocupação urbana enquanto um direito de resistência. Pretende-se, com o presente texto, contribuir para a ressignificação do conceito de pessoa de ocupação, em geral compreendido sob o estigma da ilegalidade e até mesmo da violência. Para tanto, valemo-nos, a fim de ilustrar essa discussão, dos exemplos do Espaço Comum Luiz Estrela e da Kasa Invisível.

Research paper thumbnail of Belo Monte, Canudos ou a "comunidade que vem" em estado fenomênico

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

A propriedade, enquanto um dispositivo, possui a capacidade de interceptar e modelar subjetividad... more A propriedade, enquanto um dispositivo, possui a capacidade de interceptar e modelar subjetividades, de modo a constituir viventes amuralhados em si mesmos em identidades petrificadas e oposicionais que refreiam o irromper do comum. Por esse motivo, ciente da premissa benjaminiana de que a rememoração do passado serve a sua presentificação, objetivo neste artigo analisar a experiência do Arraial de Canudos (1893-1897), no qual diversas singularidades se reuniram na experiência comunitária – no sentido pregnante da palavra – de Belo Monte. Esse movimento é feito tendo em vista o meu entendimento de que ali se deu uma desativação do dispositivo proprietário que captura nossa humanidade comum, a recodificando em identidades jurídico-sociais.

Research paper thumbnail of Considerações sobre direito, justiça, força e obediência na perspectiva de Jacques Derrida

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente texto objetiva traçar o caminho teórico trilhado por Jacques Derrida ao analisar a rel... more O presente texto objetiva traçar o caminho teórico trilhado por Jacques Derrida ao analisar a relação entre direito, justiça e força a fim de demonstrar a injustificabilidade da obediência às leis e ao direito. Retomando alguns aspectos dos trabalhos de Kant, Pascal e Montaigne, tenta-se demonstrar, no presente artigo, a falseabilidade da pressuposição do vínculo supostamente indissociável e necessário entre direito e justiça, apontando, ao contrário, que a condição de existência do direito é, em verdade, a força resultado do fundamento místico que sustenta o próprio direito.

Research paper thumbnail of O potencial democratizante da desobediência civil

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

O presente artigo objetiva demonstrar que as principais tradições liberais da desobediência civil... more O presente artigo objetiva demonstrar que as principais tradições liberais da desobediência civil falham ao não conseguir capturar completamente as características específicas desse fenômeno enquanto prática de contestação genuinamente democrática e política, uma vez que a desobediência civil não pode ser simplesmente reduzida a uma compreensão legal ou ética em termos de consciência individual ou de fidelidade ao direito. Ao desenvolver essa proposta com mais detalhes, primeiro defino a desobediência civil com o propósito de explicar cuidadosamente porque o modelo liberal padrão, embora capaz de prover um ponto de partida útil, em última análise leva a uma compreensão excessivamente restrita, domesticada e higienizadora da complexa prática política que é a desobediência civil. Em segundo lugar, eu localizo a prática política da desobediência entre dois polos opostos: a política simbólica e o confronto real, argumentando que a irredutível tensão entre esses polos explica precisamente seu potencial politizante e democratizante. Ao final, examino brevemente o papel da desobediência civil nas democracias representativas, abordando, para tanto, uma série de argumentos recentes feitos em resposta a esse entendimento radicalmente democrático da desobediência.

Research paper thumbnail of Contra a Constituição da "democracia protegida": a emergência do processo constituinte chileno 2021-2022

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

O presente trabalho é uma pesquisa exploratória desenvolvida no campo da história constitucional... more O presente trabalho é uma pesquisa exploratória desenvolvida no campo da história constitucional sobre a emergência do processo constituinte chileno de 2021-2022. O objetivo é compreender, em linhas gerais, em que sentido direito e política se relacionam no processo histórico-constitucional chileno a partir do marco da constituição outorgada pela Junta Militar. O trabalho emprega como fio condutor algumas das principais críticas formuladas à Constituição de 1980: (i) sua imposição ilegítima; (ii) seus limites à participação política, em virtude do modelo de “democracia protegida” adotado; e (iii) seus limites à atuação do Estado para garantir direitos sociais e intervir no domínio econômico. Nesse quadro, o trabalho busca compreender o processo de institucionalização constitucional do projeto da ditadura chilena e (iv) as tentativas de modificá-lo ou superá-lo, analisando em quais sentidos a constituição se coloca como obstáculo às reivindicações populares que tiveram seu ápice no chamado “estallido social”. Concluímos (v) com a hipótese de que a “convenção constituinte” chilena, em sua emergência partindo de uma crítica ao núcleo do projeto constitucional pinochetista, vai levar as persistentes disputas sobre a memória e o legado da ditadura ao centro do palco: o que a modernização autoritária promovida pela ditadura efetivamente constituiu?

Research paper thumbnail of Por uma prática política desobediente

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Editorial Dossiê Desobediências da (Des)troços: revista de pensamento radical

Research paper thumbnail of Parar a máquina, criar mundos, falar poesia

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Editorial Dossiê: Da crítica ao dispositivo da propriedade à aposta no comum: corpos, colonialida... more Editorial Dossiê: Da crítica ao dispositivo da propriedade à aposta no comum: corpos, colonialidades, mundos

Research paper thumbnail of Para potencializar o que veio, o que está aqui, o que ainda está por vir

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

Editorial do Dossiê Constituinte e destituinte: poderes, potências e pensamento (des)instituinte

Research paper thumbnail of outros mundos: mais mundos: entre mundos: mundos -1

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

Editorial do Dossiê - Outras vidas contra o espetáculo: o animal, a planta, a máquina e o alien

Research paper thumbnail of Mais uma revista de filosofia?

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2020

Editorial Dossiê - Pandêmios Politikê: pensamento radical em quarentena?

Research paper thumbnail of Religião e democracia representativa do séc. XIX ao XXI: resenha de "Deus e o Estado"

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2023

Resenha de: BAKUNIN, Mikhail. Deus e o Estado. Trad. Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Cortez, 1988.

Research paper thumbnail of Abecedário de Riobaldo

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Resenha de PORTO, Renan. Políticas de Riobaldo: a justiça jagunça e suas máquinas de guerra. Reci... more Resenha de PORTO, Renan. Políticas de Riobaldo: a justiça jagunça e suas máquinas de guerra. Recife: CEPE, 2021.

Research paper thumbnail of A invenção da nordestina

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

Resenha da peça teatral A invenção do Nordeste da companhia de teatro Grupo Carmin

Research paper thumbnail of Da biopotência vegetal

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

Resenha de MARDER, Michael; TONDEUR, Anaïs. Chernóbil herbarium: fragmentos de una conciencia exp... more Resenha de MARDER, Michael; TONDEUR, Anaïs. Chernóbil herbarium: fragmentos de una conciencia explotada. Barcelona: NED, 2021.

Research paper thumbnail of Projeto Krisis: tempos de COVID-19

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2020

Resenha dos vídeos do projeto Krisis: Tempos de COVID-19.

Research paper thumbnail of Corpo-voz que é corpo-escrita

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2023

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0.

Research paper thumbnail of Ainda quando

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

“Ainda quando" é uma videoperformance que se propõe pensar a desobediência civil como um ato diá... more “Ainda quando" é uma videoperformance que se propõe pensar a desobediência civil como um ato diário de existência dos corpos pretos. Reunindo quatro pessoas artistas da performance e da dança, com direção de Luísa Machala e trilha sonora de Fellipe Miranda, o trabalho compreende a desobediência como condição do corpo e, portanto, a sua revelação estaria nas mais sutis situações cotidianas. Não é preciso muito para abalar os abismos estruturais da sociedade racista em que vivemos. Em uma mistura de cansaço e persistência, o corpo preto segue, o corpo preto cria, o corpo movimenta-se, acima de tudo, move paradigmas. No processo criativo, decide-se por trazer para o roteiro as nuances entre pessoa e artista, obra e processo, ancestralidade e contemporaneidade, fragilidade e permanência. Cada pessoa artista criou seu trajeto-cena nos arredores de suas casas e, como estímulo criativo, foram convidadas a pensarem suas atividades cotidianas, suas relações com aquele espaço e como seus trabalhos autorais poderiam ser pensados nesse contexto: reunir, em queda, o artista, a obra, a pessoa que acorda cedo e dorme tarde para trabalhar, que pega o ônibus, que gripa, que atrasa, que se vira para continuar a caminhada.

Sinopse: Ainda quando, a andança persiste. O corpo vagueia com a coragem que a carne carrega para além de sua própria história. Na tentativa de curar abismos, Rodrigo escuta seus ancestrais no Largo do Rosário; Flavi, em risco, tempera fluxos; Eli cria mundos possíveis em seu rosto e André constrói um jeito de seguir. Num desafogo, sem nem ver, a desobediência aparece como condição do corpo, como único modo de existir.

Research paper thumbnail of As ruas reinventam o caminho da desobediência: barricadas contra máquinas coloniais

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Research paper thumbnail of Ok, daqui a pouco eu autorizo o registro do projeto de extensão no sistema da Universidade

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2022

Research paper thumbnail of histórias que não me pertencem! : série sim!

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Research paper thumbnail of Crisálida

(Des)troços: revista de pensamento radical, 2021

Research paper thumbnail of Isso não é um direito

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Research paper thumbnail of Certidão

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