Rízzia S. Rocha | UFMG - The Federal University of Minas Gerais (original) (raw)
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Papers by Rízzia S. Rocha
Revista Dois Pontos
Na década de 1960 a prática do arquivo se torna frequente na produção artística. Isso acontece, d... more Na década de 1960 a prática do arquivo se torna frequente na produção artística. Isso acontece, dentre outros motivos, pela apropriação de objetos para o espaço da arte e pelo acúmulo de registros de trabalhos efêmeros característicos da produção artística contemporânea. O arquivo também surge como metáfora do tempo, da memória e do esquecimento de uma cultura, como mostra o Mnemosine Atlas, trabalho do historiador Aby Warburg. A imobilização do tempo numa imagem mnemônica é ativada por uma espécie de coação em que as representações entre sujeitos ou entre sujeitos e coisas estão próximas do colapso ou do desaparecimento. “Aquilo que sabemos que, em breve, não teremos diante de nós torna-se imagem”, afirma Walter Benjamin. Nesse contexto, a fotografia desempenha um duplo papel: ela é agente da dissolução da memória, com sua oferta compulsiva de imagens, e meio de registro para a formação da história. Este trabalho tem como proposta pensar a apropriação da imagem fotográfica pelo meio artístico e como essa tensão entre esquecimento e memória resulta em outra historiografia da arte.
Revista ArteFilosofia
O ponto de partida desse trabalho é a tese XII de Sobre o conceito de história. Nela Benjamin pen... more O ponto de partida desse trabalho é a tese XII de Sobre o conceito de história. Nela Benjamin pensa a vingança como prática revolucionária que se afasta da ideia de uma ação motivada por rancor estéril, a qual alcança no castigo sua realização máxima. Portanto, vingar, no contexto aqui pretendido, assume o sentido de sobrevivência como força que resiste à violência do opressor e ainda como impulso motriz que estrutura saídas possíveis ao ressentimento. Os trabalhos do fotógrafo manauara Francisco Costa Lima e as obras da artista colombiana Doris Salcedo são o meio através do qual o direito de rememoração do oprimido contra a indiferença do presente histórico é aqui articulado. Esses trabalhos reapresentam realidades constantemente submetidas à censura e cintilam a luz dos vingam. Em 2004 Doris Salcedo começa uma pesquisa centrada na violência urbana e anos mais tarde expõe Plegária muda, uma instalação que traz ao presente o testemunho de vitimas da violência dando ao sofrimento perenizante, nas palavras de Adorno, o direito à expressão. Exposta na Pinacoteca de São Paulo em 2013, essa versão da obra consistia em cerca de 120 estruturas compostas por mesas retangulares de madeira, contrapostas em pares, tendo entre os tampos uma grossa camada de terra. Um sistema de irrigação específico umedece a terra favorecendo o brotamento de algumas ervas que irrompem por entre as fissuras da madeira. Nas palavras da artista, a obra procura articular a violência do conflito colombiano mas também conjuga a violência das guerras e conflitos por todo o mundo. Entre 2003 e 2009 o exército colombiano assassinou sem qualquer motivo aparente centenas de jovens que habitavam zonas marginais do país. Esses jovens eram executados, vestidos como guerrilheiros, enterrados em valas comuns sem qualquer identificação e ao governo era assegurado que aqueles corpos pertenciam a insurgentes mortos em combate. Esse não é o único massacre de que o país tem notícia. Entre 1990 e 2000 houve mais de 26 mil mortos relacionados à complexa situação do conflito armado. A artista considera a Colômbia como o país da morte insepulta, da vala comum e dos mortos anônimos e nós, brasileiros, reconhecemos claramente o ecoar dessa consideração sobre nosso país.
Revista Kalagatos
Partindo dos problemas que a produção artística contemporânea suscita ao conceito de arte, o obje... more Partindo dos problemas que a produção artística contemporânea suscita ao conceito de arte, o objetivo desse trabalho é discutir um modo crítico de compreender a obra de arte propondo-lhe uma recepção produtiva. Adotando o conceito benjaminiano de crítica como base teórica e, ainda, as reflexões de Arthur Danto sobre as mudanças promovidas pela arte contemporânea, procuramos pensar a crítica como movimento que perfaz a obra de arte.
Viso
Diante das mudanças ocorridas na arte das últimas décadas, os critérios estéticos tradicionais pe... more Diante das mudanças ocorridas na arte das últimas décadas, os critérios estéticos tradicionais perdem sua eficácia para pensar a produção artística contemporânea. Consequentemente, a recepção da obra de arte, assentada na tradição, torna-se inócua. Neste artigo apresento a necessidade de uma reconfiguração da recepção do objeto artístico a partir da crítica não normativa da obra de arte, cunhada por Walter Benjamin, em associação às reflexões sobre estética e filosofia da arte desenvolvidas por Arthur Danto. A aproximação entre esses dois autores, embora mantenha uma dimensão controversa, propõe rearticular aspectos do pensamento benjaminiano sobre a arte, corroborando sua crítica em relação ao ideal forjado pela razão iluminista. Assim, o presente artigo expõe o problema da estética e da história partindo do olhar que o contemporâneo lança ao passado, o qual ressignifica importantes modificações que o século XVIII introduziu no conceito de arte.
Revista Dois Pontos
Na década de 1960 a prática do arquivo se torna frequente na produção artística. Isso acontece, d... more Na década de 1960 a prática do arquivo se torna frequente na produção artística. Isso acontece, dentre outros motivos, pela apropriação de objetos para o espaço da arte e pelo acúmulo de registros de trabalhos efêmeros característicos da produção artística contemporânea. O arquivo também surge como metáfora do tempo, da memória e do esquecimento de uma cultura, como mostra o Mnemosine Atlas, trabalho do historiador Aby Warburg. A imobilização do tempo numa imagem mnemônica é ativada por uma espécie de coação em que as representações entre sujeitos ou entre sujeitos e coisas estão próximas do colapso ou do desaparecimento. “Aquilo que sabemos que, em breve, não teremos diante de nós torna-se imagem”, afirma Walter Benjamin. Nesse contexto, a fotografia desempenha um duplo papel: ela é agente da dissolução da memória, com sua oferta compulsiva de imagens, e meio de registro para a formação da história. Este trabalho tem como proposta pensar a apropriação da imagem fotográfica pelo meio artístico e como essa tensão entre esquecimento e memória resulta em outra historiografia da arte.
Revista ArteFilosofia
O ponto de partida desse trabalho é a tese XII de Sobre o conceito de história. Nela Benjamin pen... more O ponto de partida desse trabalho é a tese XII de Sobre o conceito de história. Nela Benjamin pensa a vingança como prática revolucionária que se afasta da ideia de uma ação motivada por rancor estéril, a qual alcança no castigo sua realização máxima. Portanto, vingar, no contexto aqui pretendido, assume o sentido de sobrevivência como força que resiste à violência do opressor e ainda como impulso motriz que estrutura saídas possíveis ao ressentimento. Os trabalhos do fotógrafo manauara Francisco Costa Lima e as obras da artista colombiana Doris Salcedo são o meio através do qual o direito de rememoração do oprimido contra a indiferença do presente histórico é aqui articulado. Esses trabalhos reapresentam realidades constantemente submetidas à censura e cintilam a luz dos vingam. Em 2004 Doris Salcedo começa uma pesquisa centrada na violência urbana e anos mais tarde expõe Plegária muda, uma instalação que traz ao presente o testemunho de vitimas da violência dando ao sofrimento perenizante, nas palavras de Adorno, o direito à expressão. Exposta na Pinacoteca de São Paulo em 2013, essa versão da obra consistia em cerca de 120 estruturas compostas por mesas retangulares de madeira, contrapostas em pares, tendo entre os tampos uma grossa camada de terra. Um sistema de irrigação específico umedece a terra favorecendo o brotamento de algumas ervas que irrompem por entre as fissuras da madeira. Nas palavras da artista, a obra procura articular a violência do conflito colombiano mas também conjuga a violência das guerras e conflitos por todo o mundo. Entre 2003 e 2009 o exército colombiano assassinou sem qualquer motivo aparente centenas de jovens que habitavam zonas marginais do país. Esses jovens eram executados, vestidos como guerrilheiros, enterrados em valas comuns sem qualquer identificação e ao governo era assegurado que aqueles corpos pertenciam a insurgentes mortos em combate. Esse não é o único massacre de que o país tem notícia. Entre 1990 e 2000 houve mais de 26 mil mortos relacionados à complexa situação do conflito armado. A artista considera a Colômbia como o país da morte insepulta, da vala comum e dos mortos anônimos e nós, brasileiros, reconhecemos claramente o ecoar dessa consideração sobre nosso país.
Revista Kalagatos
Partindo dos problemas que a produção artística contemporânea suscita ao conceito de arte, o obje... more Partindo dos problemas que a produção artística contemporânea suscita ao conceito de arte, o objetivo desse trabalho é discutir um modo crítico de compreender a obra de arte propondo-lhe uma recepção produtiva. Adotando o conceito benjaminiano de crítica como base teórica e, ainda, as reflexões de Arthur Danto sobre as mudanças promovidas pela arte contemporânea, procuramos pensar a crítica como movimento que perfaz a obra de arte.
Viso
Diante das mudanças ocorridas na arte das últimas décadas, os critérios estéticos tradicionais pe... more Diante das mudanças ocorridas na arte das últimas décadas, os critérios estéticos tradicionais perdem sua eficácia para pensar a produção artística contemporânea. Consequentemente, a recepção da obra de arte, assentada na tradição, torna-se inócua. Neste artigo apresento a necessidade de uma reconfiguração da recepção do objeto artístico a partir da crítica não normativa da obra de arte, cunhada por Walter Benjamin, em associação às reflexões sobre estética e filosofia da arte desenvolvidas por Arthur Danto. A aproximação entre esses dois autores, embora mantenha uma dimensão controversa, propõe rearticular aspectos do pensamento benjaminiano sobre a arte, corroborando sua crítica em relação ao ideal forjado pela razão iluminista. Assim, o presente artigo expõe o problema da estética e da história partindo do olhar que o contemporâneo lança ao passado, o qual ressignifica importantes modificações que o século XVIII introduziu no conceito de arte.