Carolina Kesser | Universidade Federal de Pelotas (Federal University of Pelotas) (original) (raw)

Papers by Carolina Kesser

Research paper thumbnail of VAI VOLTAR PRA ESCOLA SIM! A INTERAÇÃO NECESSÁRIA ENTRE A ACADEMIA E A COMUNIDADE

Universidade vai à Escola: uma experiência de professores universitários no Curso Popular UP, 2019

Minha trajetória educacional é bastante comum a de muitas outras contemporâneas, filhas 2 da clas... more Minha trajetória educacional é bastante comum a de muitas outras contemporâneas, filhas 2 da classe média paulistana do início dos anos 80. Descendente de imigrantes, morando em um típico bairro, à época, bem arborizado e seguro, aos dois anos eu já estava socializando com demais criancinhas em uma das muitas escolinhas de ensino infantil da Zona Sul de São Paulo. A partir daí, não saí mais da escola, especificamente das particulares e, na maior parte das vezes, religiosas, com Madres Superioras na direção, e aulas de Ensino Religioso. Na parte final da ditadura militar no Brasil 3 , tive ainda as disciplinas Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política do Brasil (OSPB), e um caderno com 1 Noção do termo Nguni Bantu "Ubuntu", sem tradução em língua portuguesa, e que exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. Segundo Desmond Tutu, em seu livro No future without forgiveness (1999), "é também uma maneira de dizer: 'minha humanidade é ligada inextricavelmente à sua' ou 'nós pertencemos ao mesmo ramo de vidas'. [É] o princípio: 'um ser humano existe somente em função de outros seres humanos' (in TELES, 2015, p. 138). 2 Contemplo neste texto o sujeito feminino, embora, obviamente, eu trate de mulheres e homens, meninas e meninos com quem interagi durante minha trajetória. A norma da língua portuguesa concorda os plurais e coletivos no masculino. Mas aqui, concordo em discordar. É uma posição pessoal, e um exercício que compartilho.

Research paper thumbnail of G E R O P S O

Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2023

"Geropso aparece como a acompanhante de Héracles no trajeto para a aula de música e seu status de... more "Geropso aparece como a acompanhante de Héracles
no trajeto para a aula de música e seu status de escrava fica
compreendido pela sua função em cena, mas outros indícios
em sua figuração reforçam sua situação social e de origem.
Os traços escuros e irregulares que aparecem em seus braços,
pescoço e pés são tatuagens que marcam na pele sua
identidade estrangeira, pois na iconografia ática, tatuagens são
colocadas sobre os corpos das outras, aquelas a quem gregos
dos séculos V e IV aEC. chamavam barbarai".

Research paper thumbnail of O VASO NA AULA. A AULA NO VASO

Universidade vai à Escola: uma experiência de professores universitários no Curso Popular UP / Carolina Kesser Barcellos Dias, Milena Rosa Araújo Ogawa e Douglas Ferreira dos Santos (Orgs.). [ Recurso eletrônico ]. Porto Alegre: Casaletras, 2019., 2019

O capítulo resultada da minha participação em um curso popular pré-universitário, trazendo refle... more O capítulo resultada da minha participação em um curso popular pré-universitário, trazendo reflexões, a partir desta experiência, sobre a didática de história antiga, baseada no potencial pedagógico das imagens e do contato direto com a materialidade. Analisamos com mais profundidade, assim, o que desenvolvemos e pode ser desenvolvido com relação ao vaso, em si, e a como imagens são representadas nele. Assim, tratamos do vaso na aula, mas também da aula no vaso, ao trazermos um vaso com cena de educação musical, de modo que instigamos os alunos com esta circularidade entre o objeto, suporte de imagem, a imagem e o tema da imagem

Research paper thumbnail of The iconography of deaTh: conTinuiTy and change in proThesis riTual Through iconographical Techniques, moTifs, and gesTures depicTed in greek poTTery

Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, 2018

Prothesis scenes have been a controversial and debated theme of iconographical approaches to Gree... more Prothesis scenes have been a controversial and debated theme of iconographical approaches to Greek pottery analyses. Focused on meaning and historical references these studies usually have considered pictorial elements isolated in a particular pottery production and style, Attic Geometric for instance. This paper intends to analyze and discuss some iconographical elements such as technique of production, style, motifs and gestures taking into account a broader perspective and chronology, including vases and terracotta pinakes from the Geometric to the Classical Period. This approach to prothesis ritual scenes allow us to point out continuities and changes in the funerary ritual iconographic representation itself and its social and cultural meanings. keywords: Greek Archaeology; pottery; iconography of death; prothesis scenes. A iconogrAfiA dA morte: continuidAde e mudAnçA no rituAl de PróTHESiS Por meio dAs técnicAs iconográficAs, motivos e gestos rePresentAdos nA cerâmicA gregA resumo: Cenas de próthesis têm sido tema de debate e controvérsia nas abordagens iconográficas de análise da cerâmica grega. Fundamentados na busca dos significados e das referências históricas, esses estudos usualmente consideraram os elementos pictóricos isolados em um determinado estilo e produção de cerâmica em particular, por exemplo, a produção Geométrica Ática. Este artigo pretende analisar e discutir alguns elementos iconográficos, como técnica de produção, estilo, motivos e gestos, levando em conta uma perspectiva e cronologia mais amplas de

Research paper thumbnail of “Greek Vases in the Royal Ontario Museum of Archaeology, Toronto”  / VASOS GREGOS NO MUSEU ARQUEOLÓGICO DE ONTÁRIO, TORONTO

The dossier “Greek Vases in the Royal Ontario Museum of Archaeology, Toronto” results from an ass... more The dossier “Greek Vases in the Royal Ontario Museum of Archaeology, Toronto” results from an association between the magazine Interfaces Brasil/Canadá and the Laboratory of Studies on Ancient Pottery, from the Federal University of Pelotas (LECA), with the proposal of widening the dialogue between Brazil and Canada, fomented by the Interfaces, which has already had a significant advance concerning literature studies, by reaching now the fields of material culture, iconography and archaeology. One aims to assemble different visions and interpretations, by modern scholars, highlighting the contribution of Brazilian historians and archaeologists, as well as researchers from other nationalities, about the collection of ancient Greek vases conserved in the Royal Ontario Museum of Toronto.
In the three Americas, besides the collections of Greek vases in the United States, some of them recognized as the most important ones worldwide, other countries are responsible for the conservation of collections of high archaeological e patrimonial value. In Latin America, we could remember the collections of La Habana, Buenos Aires, Montevideo, São Paulo and Rio de Janeiro. To cast an essayistic look on Toronto collection, and at the same time taking in account its value to our knowledge about ancient Greek civilization, consists also of a strategy of valorization of such collection as a continental cultural heritage, since the above-mentioned countries have in common to be responsible for the conservation, in our continent, among their musealized cultural properties, of material exemplars that support the mankind’s memory related to the historical experiences of ancient Mediterranean.
In the frame of this dossier, we stimulate archaeologists, historians, art historians, as well as other scholar interested in ceramic material, to propose an iconographical or morphological study, be choosing one or more vases, or either a set of vases, pointing their potential to our understanding of some cultural or social aspects of ancient Greece. One may do it through ceramological or iconographical studies, or emphasizing material culture, or either through more comprehensive cultural studies.
Texts with essayistic profile will be accepted, based on the Ontario vases, keeping dialogue with other thematic studies or with other collections, outlining possibilities of interpretation.

Sumário:
1. Dioniso e Ariadne sob a harmonia de Apolo: uma leitura iconográfica da música no cortejo nupcial
Lidiane C. Carderaro, Fábio Vergara Cerqueira
2. O Duelo entre Ájax e Heitor pelo Pintor de Antímenes
José Geraldo Costa Grillo
3. Cenas de Partida: um ensaio de análise da iconografia
Marta Mega de Andrade
4. Hipismo: práticas esportivas, práticas aristocráticas na imagética Ática (Séculos VI ao V a.C.)
Fábio de Souza Lessa
5. Les motifs ornementaux non-figurés des vases à figures noires de la collection du Musée royal de l’Ontario, Toronto, Canada: éléments iconographiques de tradition Géométrique?
Camila Diogo de Souza
6. Vasos áticos e tradição panatenaica: uma reflexão a partir do acervo do Museu Real Ontário, Toronto
Gilberto da Silva Francisco
7. “Les petits vases moches” du Musée Royal de l’Ontario
Carolina Kesser Barcellos Dias

Research paper thumbnail of “Les petits vases moches” du Musée Royal d’Ontario

Dans cet article, à caractère essayiste, nous cherchons à présenter quelques aspects et possibili... more Dans cet article, à caractère essayiste, nous cherchons à présenter quelques aspects et possibilités d'abordages méthodologiques pour l'étude des vases à figures noires de la fin de la période archaïque, en nous basant sur les lécythes présents dans la collection du Musée Royal d'Ontario, Toronto, Canada. Ce qui nous intéresse de mettre ici en exergue, au-delà des questions pertinentes aux études attributionnistes de cette catégorie de vases céramiques, c'est la manière dont ces ensembles de petits vases à figures noires ont été présentés dans la bibliographie, dans les catalogues et dans les discussions actuelles sur la céramologie.

Research paper thumbnail of Artistic relations between attic vases producers from 510 to 475 B.C. reviewed by the attribution methodology

Research paper thumbnail of Laboratório de Estudos sobre a Cerâmica Antiga - LECA-UFPel

Resumo: Neste relatório apresentamos um histórico das atividades desenvolvidas pelo Laboratório d... more Resumo: Neste relatório apresentamos um histórico das atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Estudos sobre a Cerâmica Antiga da Universidade Federal de Pelotas -LECA-UFPel, desde sua concepção em 2011 até o momento, e apontamos as atividades e perspectivas futuras.

Research paper thumbnail of Iconografia Dionisíaca nos lécitos áticos de figuras negras do final do período arcaico (sécs. VI e V A.C.)

Por volta de 570 a. C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se co... more Por volta de 570 a. C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se constituir, e temas relativos a Dioniso e seu séquito tornam-se extremamente populares. Essa popularidade, que pode ser parcialmente explicada pela difusão dos cultos dionisíacos na região da Ática, possui relação direta com as oficinas onde artistas-artesãos especializados na produção de lécitos de figuras negras tornaram-se responsáveis pelo desenvolvimento de uma importante tradição iconográfica do deus e de sua mitologia.

Research paper thumbnail of Caderno de Resumos da XV Jornada de História Antiga Edição Especial LECA-POIEMA/UFPel

XV JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA EDIÇÃO ESPECIAL LECA-POIEMA – UFPEL FORMAÇÃO EM ESTUDOS CLÁSSICOS... more XV JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA
EDIÇÃO ESPECIAL LECA-POIEMA – UFPEL

FORMAÇÃO EM ESTUDOS CLÁSSICOS NO BRASIL:
ABORDAGENS, TRAJETÓRIAS E PERSPECTIVAS PARA AS PESQUISAS EM ANTIGUIDADE

O tema geral da XV Jornada de História Antiga da UFPel, uma edição especial promovida pelo LECA-POIEMA, com apoio do PPGH/UFPel, procura discutir a formação, a pesquisa e extensão promovidas por núcleos de estudos dedicados à Antiguidade Clássica. A proposta é que todas as apresentações - conferências, mesas redondas e minicursos - discutam a maneira como os pesquisadores têm contribuído para a construção do conhecimento de temas clássicos, por meio de projetos desenvolvidos pelos laboratórios, grupos de estudo, núcleos de pesquisa, entre outras denominações.
Assim, o objetivo principal do evento é a apresentação aos discentes nos níveis de graduação e pós das possíveis trajetórias de pesquisa, e a divulgação de projetos de pesquisa e extensão dos laboratórios dedicados aos estudos Clássicos baseados em Universidades Estaduais e Federais do país.
O evento tem apoio e participação dos membros dos seguintes laboratórios e núcleos: Núcleo de Estudos da Antiguidade, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NEA-UERJ); Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (LABECA), TAPHOS - Grupo de Pesquisas em Práticas Mortuárias no Mediterrâneo Antigo, Laboratório de Arqueologia Romana Provincial (LARP), os últimos três, laboratórios do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP).

Research paper thumbnail of O pintor de Gela: características formais e estilísticas, decorativas e iconográficas

Research paper thumbnail of Apontamentos sobre a atribuição de vasos áticos: a produção do Pintor de Gela

Research paper thumbnail of Atribuir ou não atribuir é uma questão? Comentários sobre a metodologia  de atribuição de vasos de figuras negras do final do arcaísmo

Research paper thumbnail of Abordagens metodológicas para o estudo dos vasos gregos: a atribuição e a análise iconográfica

Resumo: A atribuição e a análise iconográfica figuram desde as origens da ceramologia grega como ... more Resumo: A atribuição e a análise iconográfica figuram desde as origens da ceramologia grega como abordagens fundamentais para o estudo dos vasos, oficinas e artistas de diversos períodos e contextos. Neste artigo, apresentamos a introdução aos estudos dos vasos gregos e uma síntese historiográfica dessas duas abordagens, observando-as na atualidade dos estudos da cerâmica. Palavras-chave: Arqueologia, metodologia, cerâmica grega, atribuição, iconografia O interesse pelos vasos cerâmicos pintados apareceu já no século XVII, embora inicialmente observados e apreciados de forma diletante. Nos séculos XVII e XVIII, dominados pela Etruscomania, os estudiosos atribuíram origem etrusca a todos os monumentos que não fossem obviamente egípcios, romanos e gregos, o que também serviu para os vasos pintados. O Conde de Caylus publicou em meados do século XVIII o Recueil d'antiquités égyptiennes, étrusques, grecques, romaines et gauloises, obra baseada nos objetos de sua coleção particular e em objetos de outras coleções analisados por ele. Caylus, um entusiasta das Antiguidades, tinha verdadeiro apreço pelos vasos cerâmicos, porém acreditava na origem etrusca destes, sendo, anos depois, criticado por Winckelmann (2), por ter caído no erro comum da época: considerar etruscos todos os vasos de terracota pintados. Quando em meados do século XVIII admitiu-se que a maioria era grega, ocorreu a idéia de que os vasos pudessem ter sido produzidos nas redondezas de onde eram encontrados, e as descobertas parecem ter confirmado essa suposição. Os estudiosos do século XVIII, então, fizeram dois grandes serviços aos vasos pintados: eles os descobriram e os reconheceram como gregos. A partir daí, alguns autores passaram a observar e atribuir 47 Revista Eletrônica Antiguidade Clássica ISSN 1983 7614 -No. 004/ Semestre II/2009/pp.47-65 os vasos mais corretamente. Algumas das publicações do século XVIII continham em si o embrião do rigor científico que começaria a seguir; antes, uma disciplina regida pela estética, o estudo dos vasos pintados passou a contar com uma visão mais arqueológica. As cronologias inicialmente apresentaram problemas já que uma datação correta se mostrou impraticável. Os estudiosos que se aventuraram a datar a cerâmica não demonstraram ter nenhum sistema confiável de datação nessa época, a não ser algumas poucas referências históricas e a ainda vigente "prioridade etrusca"; concluira-se, portanto, que o período de produção de vasos pintados se estendeu do século VIII ao II a.C. No começo do século XIX, os eruditos observaram os vasos com toda a atenção possível; a nova ordem era 'observar, descrever, publicar'. Ainda assim, o problema das datações e das classificações, tanto de origem quanto de estilo, persistiam. Mas vários acontecimentos e descobertas auxiliaram para uma melhor compreensão da produção cerâmica grega: em 1830, a grande quantidade de vasos encontrada em Vulci foi classificada por alguns estudiosos, ainda influenciados pela etruscomania, como etruscos, enquanto outros acreditavam que fossem gregos. Alguns autores tentaram resolver essa questão classificando como "áticos" os vasos de figuras negras e como "italiotas", os de figuras vermelhas. Mas uma melhor solução para o impasse da atribuição da origem dos vasos foi publicada em 1837: em Über den Styl und die Herkunft der belmaten griechischen Thongefässe, Gustav Kramer apresentou suas teorias baseadas na observação estilística e nas formas epigráficas, já que as análises químicas da argila e da pintura não apresentaram resultados satisfatórios (3). Ele reclassificou a cerâmica e atribuiu aos vasos procedência coríntia, ática, ápula, italiota, de acordo com a decoração. No século XIX, a partir dos anos 30, houve um aumento de publicações dos vasos pintados, em sua maioria encontrados na Itália. Nessas publicações, as discussões sobre estilo eram bastante desenvolvidas e os critérios de classificação mais apurados. Foi a partir desse período que os estilos Orientalizante, Geométrico e Ático se consolidaram nos meios acadêmicos e serviram de base para as classificações dos vasos até os dias atuais. Houve um maior interesse também no estudo das formas dos vasos, sendo recuperados nomes antigos ou atribuídos nomes de acordo com as funções de cada recipiente. Entretanto, a sistematização dos nomes de vasos gregos é ainda hoje assunto de discussões (4). Em 1854, Otto Jahn publicou sua obra fundamental, Beschreibung der Vasensammlung, na qual sugeriu a interpretação simbólica dos motivos iconográficos. Era recomendada a atenção ao local de achado dos vasos, que deveria ser registrado para auxiliar na definição do estilo, e não o contrário. Otto Jahn estabeleceu a origem grega da maior parte dos vasos encontrados na Itália propondo o seguinte método: para cada vaso, estabelecia-se um estado civil, reconhecido através de múltiplas comparações sobre origem e data, definindo a classe à qual os vasos faziam parte. Esse desdobramento de erudição é justificado pela característica particular dos vasos, que não eram mais simplesmente objetos, mas "os documentos mais seguros e mais numerosos que chegaram até nós para reconstituir a história da pintura na Grécia" (Schnapp, 1985: 71). Da atribuição No fim do século XIX, início do XX, se desenvolveu um método novo que privilegiou uma abordagem particular: aquela da mão, da personalidade do artista. Como um certo número de vasos antigos era assinado pelo oleiro e/ou pelo pintor, tornou-se possível a partir de um pequeno número de exemplares assinados reconhecer as personalidades, estabelecer as relações estilísticas apoiadas na observação do detalhe e construir uma verdadeira ciência de atribuições. Wilhelm Klein, Paul Hartwig e Adolf Furtwängler são reconhecidos como os predecessores de John Beazley, e seus trabalhos eram os principais exemplos do processo de identificação de pintores de vasos áticos. Havia o interesse em explorar a personalidade dos pintores por várias razões: primeiro, os vasos cerâmicos eram vistos como um reflexo da pintura parietal grega, toda ela perdida; segundo, os autores queriam seguir o exemplo de estudos da escultura grega e da pintura renascentista; e, mais importante, permanecia em seus estudos a influência da estética do final do século XIX. Em 1885, Adolf Furtwängler publicou o catálogo dos vasos da coleção de Berlim, que apresentou duas importantes inovações: os vasos foram numerados de acordo com um sistema classificatório rígido, divididos por indústria, período e forma; a segunda inovação, mais ousada, foi o agrupamento dos vasos por estilo, ou ao menos por afinidades estilísticas. Furtwängler procurou fazer o que hoje em dia é a chamada atribuição. 49 Revista Eletrônica Antiguidade Clássica ISSN 1983 7614 -No. 004/ Semestre II/2009/pp.47-65 Furtwängler acreditava que poderia relacionar trabalhos anônimos aos textos antigos. Seu método era o de observar as cópias conservadas nos museus, cuja intenção era reproduzir o mais fielmente possível as 'obras-primas da arte grega' -ou seja, aquelas mencionadas em textos de Pausânias ou Plínio. Seu método estava de acordo com a tradição da interpretação filológica e estilística da arte, diretamente inspirado pela crítica textual (Rouet, 2001:38). A contribuição de Wilhelm Klein veio através da interpretação dos vasos com inscrições. Esperava-se que através do estudo das inscrições, especialmente das assinaturas, fosse possível encontrar uma classificação satisfatória da cerâmica. A presença das palavras epoíesen e égraphsen ditou o agrupamento das assinaturas quando concluiu-se uma diferença básica entre essas palavras e seus significados: égraphsen significando 'pintou' e epoíesen, 'fez'. Deduziu-se que as assinaturas indicassem o pintor e o oleiro, evidenciando duas funções distintas empregadas em uma oficina (5). Paul Hartwig publicou em 1893 Die griechischen Meisterschalen der Blüthezeit des strengen rothfigurigen Stiles, um trabalho pioneiro de percepção artística. As análises de Hartwig eram bem detalhadas e muitas de suas conclusões acertadas, especialmente em relação ao estilo. A grande contribuição de Hartwig foi a criação das 'personalidades anônimas': "sometimes the most beautiful works by the masters of that time have come down to us without the names of their artists or any inscription, and the only painters who are clearly identifiable by the distinctive features of their style are ones who did not in fact sign their works" (Rouet, 2001:31). Hartwig e Furtwängler abriram o caminho para um tipo de pesquisa essencialmente visual e empírica, uma vez que o objetivo era o reconhecimento dos artistas individualmente. Pode-se perceber uma divisão entre os métodos de análise desses autores, cuja ênfase na noção do estilo individual influenciaria Beazley, e de autores como Klein e Pottier, que acreditavam que os vasos deveriam ser classificados de acordo com as inscrições. Edmond Pottier (1855-1934) teve prestigiosa carreira como estudioso de artes. Em 1884 passou a ser assistente e curador do Departamento de Antigüidades Orientais e Cerâmica Antiga no Museu do Louvre e a lecionar Arqueologia e História na École des Beaux-Arts. Permaneceu no Museu do Louvre até sua aposentadoria, em 1924, quando II/2009/pp.47-65 vases" (Oakley, 1999:288). O que Beazley propôs foi a criação de uma coleção de vasos interligados pelas características gráficas das figuras, ou parte delas, que eram desenhadas quase da mesma maneira. As figuras e decoração eram ainda comparadas entre si para a observação de traços comuns nos vasos já agrupados pelo autor. Questões sobre oficinas, produção e identidade dos artistas puderam ser finalmente abordadas através das classificações das oficinas, círculos (ou grupo) de produção e escolas de pintores (workshop, circles ou groups, e school). Para Beazley, havia diferenças básicas entre cada uma dessas categorias: uma leitura inicial mostra que 'escola', 'grupo' e 'oficina' eram mais ou menos a mesma coisa, mesmo que...

Research paper thumbnail of Colonização grega e contato cultural na Magna Grécia: o testemunho dos vasos lucânicos

Os objetos podem carregar em si informações sobre a cultura que os produziu. Neste artigo, aborda... more Os objetos podem carregar em si informações sobre a cultura que os produziu. Neste artigo, abordaremos os registros materiais cerâmicos de uma região colonizada pelos gregos no sul da Itáliaa Lucânia em busca de traços que possam indicar movimentos de resistência da população nativa aos padrões culturais helênicos introduzidos durante a colonização. Nos interessa observar quais traços gregos puderam ser incorporados e reinterpretados por artistas lucânicos contemporâneos e posteriores à colonização grega, e quais os traços locais que permaneceram evidentes durante a produção cerâmica no mesmo período.

Research paper thumbnail of A organização das oficinas de cerâmica em Atenas

revistaliter.dominiotemporario.com

Phoînix 2014.2 by Carolina Kesser

Research paper thumbnail of ICONOGRAFIA DIONISÍACA NOS LÉCITOS ÁTICOS DE FIGURAS NEGRAS DO FINAL DO PERÍODO ARCAICO (SÉCS. VI E V A.C.)

Phoînix, 2014

volta de 570 a.C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se constit... more volta de 570 a.C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se constituir, e temas relativos a Dioniso e seu séquito tornam-se extremamente populares. essa popularidade, que pode ser parcialmente explicada pela difusão dos cultos dionisíacos na região da Ática, possui relação direta com as oficinas onde artistas-artesãos especializados na produção de lécitos de figuras negras tornaram-se responsáveis pelo desenvolvimento de uma importante tradição iconográfica do deus e de sua mitologia.

Books by Carolina Kesser

Research paper thumbnail of A UNIVERSIDADE VAI À ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS NO CURSO POPULAR UP

A UNIVERSIDADE VAI À ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS NO CURSO POPULAR UP, 2019

É com muito prazer que apresentamos o livro que vocês têm em mãos! Aqui, procuramos divulgar a in... more É com muito prazer que apresentamos o livro que vocês têm em mãos! Aqui, procuramos divulgar a iniciativa de fomento acadêmico aplicado no Curso Pré-Universitário Popular UP pelo projeto A universidade vai à escola: uma experiência de professores universitários no Curso Popular UP, institucionalizado como Projeto de Extensão do Laboratório de Estudos sobre a Cerâmica Antiga (LECA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Research paper thumbnail of FLORENZANO - O Mundo Antigo - Roma

Mundo Antigo Economia e Sociedade Grécia e Roma, 1982

FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. O Mundo Antigo Economia e Sociedade Grécia e Roma. São Paulo: Br... more FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. O Mundo Antigo Economia e Sociedade Grécia e Roma. São Paulo: Brasiliense, 1982. "Roma", p. 56-84

Research paper thumbnail of VAI VOLTAR PRA ESCOLA SIM! A INTERAÇÃO NECESSÁRIA ENTRE A ACADEMIA E A COMUNIDADE

Universidade vai à Escola: uma experiência de professores universitários no Curso Popular UP, 2019

Minha trajetória educacional é bastante comum a de muitas outras contemporâneas, filhas 2 da clas... more Minha trajetória educacional é bastante comum a de muitas outras contemporâneas, filhas 2 da classe média paulistana do início dos anos 80. Descendente de imigrantes, morando em um típico bairro, à época, bem arborizado e seguro, aos dois anos eu já estava socializando com demais criancinhas em uma das muitas escolinhas de ensino infantil da Zona Sul de São Paulo. A partir daí, não saí mais da escola, especificamente das particulares e, na maior parte das vezes, religiosas, com Madres Superioras na direção, e aulas de Ensino Religioso. Na parte final da ditadura militar no Brasil 3 , tive ainda as disciplinas Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política do Brasil (OSPB), e um caderno com 1 Noção do termo Nguni Bantu "Ubuntu", sem tradução em língua portuguesa, e que exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. Segundo Desmond Tutu, em seu livro No future without forgiveness (1999), "é também uma maneira de dizer: 'minha humanidade é ligada inextricavelmente à sua' ou 'nós pertencemos ao mesmo ramo de vidas'. [É] o princípio: 'um ser humano existe somente em função de outros seres humanos' (in TELES, 2015, p. 138). 2 Contemplo neste texto o sujeito feminino, embora, obviamente, eu trate de mulheres e homens, meninas e meninos com quem interagi durante minha trajetória. A norma da língua portuguesa concorda os plurais e coletivos no masculino. Mas aqui, concordo em discordar. É uma posição pessoal, e um exercício que compartilho.

Research paper thumbnail of G E R O P S O

Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2023

"Geropso aparece como a acompanhante de Héracles no trajeto para a aula de música e seu status de... more "Geropso aparece como a acompanhante de Héracles
no trajeto para a aula de música e seu status de escrava fica
compreendido pela sua função em cena, mas outros indícios
em sua figuração reforçam sua situação social e de origem.
Os traços escuros e irregulares que aparecem em seus braços,
pescoço e pés são tatuagens que marcam na pele sua
identidade estrangeira, pois na iconografia ática, tatuagens são
colocadas sobre os corpos das outras, aquelas a quem gregos
dos séculos V e IV aEC. chamavam barbarai".

Research paper thumbnail of O VASO NA AULA. A AULA NO VASO

Universidade vai à Escola: uma experiência de professores universitários no Curso Popular UP / Carolina Kesser Barcellos Dias, Milena Rosa Araújo Ogawa e Douglas Ferreira dos Santos (Orgs.). [ Recurso eletrônico ]. Porto Alegre: Casaletras, 2019., 2019

O capítulo resultada da minha participação em um curso popular pré-universitário, trazendo refle... more O capítulo resultada da minha participação em um curso popular pré-universitário, trazendo reflexões, a partir desta experiência, sobre a didática de história antiga, baseada no potencial pedagógico das imagens e do contato direto com a materialidade. Analisamos com mais profundidade, assim, o que desenvolvemos e pode ser desenvolvido com relação ao vaso, em si, e a como imagens são representadas nele. Assim, tratamos do vaso na aula, mas também da aula no vaso, ao trazermos um vaso com cena de educação musical, de modo que instigamos os alunos com esta circularidade entre o objeto, suporte de imagem, a imagem e o tema da imagem

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Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, 2018

Prothesis scenes have been a controversial and debated theme of iconographical approaches to Gree... more Prothesis scenes have been a controversial and debated theme of iconographical approaches to Greek pottery analyses. Focused on meaning and historical references these studies usually have considered pictorial elements isolated in a particular pottery production and style, Attic Geometric for instance. This paper intends to analyze and discuss some iconographical elements such as technique of production, style, motifs and gestures taking into account a broader perspective and chronology, including vases and terracotta pinakes from the Geometric to the Classical Period. This approach to prothesis ritual scenes allow us to point out continuities and changes in the funerary ritual iconographic representation itself and its social and cultural meanings. keywords: Greek Archaeology; pottery; iconography of death; prothesis scenes. A iconogrAfiA dA morte: continuidAde e mudAnçA no rituAl de PróTHESiS Por meio dAs técnicAs iconográficAs, motivos e gestos rePresentAdos nA cerâmicA gregA resumo: Cenas de próthesis têm sido tema de debate e controvérsia nas abordagens iconográficas de análise da cerâmica grega. Fundamentados na busca dos significados e das referências históricas, esses estudos usualmente consideraram os elementos pictóricos isolados em um determinado estilo e produção de cerâmica em particular, por exemplo, a produção Geométrica Ática. Este artigo pretende analisar e discutir alguns elementos iconográficos, como técnica de produção, estilo, motivos e gestos, levando em conta uma perspectiva e cronologia mais amplas de

Research paper thumbnail of “Greek Vases in the Royal Ontario Museum of Archaeology, Toronto”  / VASOS GREGOS NO MUSEU ARQUEOLÓGICO DE ONTÁRIO, TORONTO

The dossier “Greek Vases in the Royal Ontario Museum of Archaeology, Toronto” results from an ass... more The dossier “Greek Vases in the Royal Ontario Museum of Archaeology, Toronto” results from an association between the magazine Interfaces Brasil/Canadá and the Laboratory of Studies on Ancient Pottery, from the Federal University of Pelotas (LECA), with the proposal of widening the dialogue between Brazil and Canada, fomented by the Interfaces, which has already had a significant advance concerning literature studies, by reaching now the fields of material culture, iconography and archaeology. One aims to assemble different visions and interpretations, by modern scholars, highlighting the contribution of Brazilian historians and archaeologists, as well as researchers from other nationalities, about the collection of ancient Greek vases conserved in the Royal Ontario Museum of Toronto.
In the three Americas, besides the collections of Greek vases in the United States, some of them recognized as the most important ones worldwide, other countries are responsible for the conservation of collections of high archaeological e patrimonial value. In Latin America, we could remember the collections of La Habana, Buenos Aires, Montevideo, São Paulo and Rio de Janeiro. To cast an essayistic look on Toronto collection, and at the same time taking in account its value to our knowledge about ancient Greek civilization, consists also of a strategy of valorization of such collection as a continental cultural heritage, since the above-mentioned countries have in common to be responsible for the conservation, in our continent, among their musealized cultural properties, of material exemplars that support the mankind’s memory related to the historical experiences of ancient Mediterranean.
In the frame of this dossier, we stimulate archaeologists, historians, art historians, as well as other scholar interested in ceramic material, to propose an iconographical or morphological study, be choosing one or more vases, or either a set of vases, pointing their potential to our understanding of some cultural or social aspects of ancient Greece. One may do it through ceramological or iconographical studies, or emphasizing material culture, or either through more comprehensive cultural studies.
Texts with essayistic profile will be accepted, based on the Ontario vases, keeping dialogue with other thematic studies or with other collections, outlining possibilities of interpretation.

Sumário:
1. Dioniso e Ariadne sob a harmonia de Apolo: uma leitura iconográfica da música no cortejo nupcial
Lidiane C. Carderaro, Fábio Vergara Cerqueira
2. O Duelo entre Ájax e Heitor pelo Pintor de Antímenes
José Geraldo Costa Grillo
3. Cenas de Partida: um ensaio de análise da iconografia
Marta Mega de Andrade
4. Hipismo: práticas esportivas, práticas aristocráticas na imagética Ática (Séculos VI ao V a.C.)
Fábio de Souza Lessa
5. Les motifs ornementaux non-figurés des vases à figures noires de la collection du Musée royal de l’Ontario, Toronto, Canada: éléments iconographiques de tradition Géométrique?
Camila Diogo de Souza
6. Vasos áticos e tradição panatenaica: uma reflexão a partir do acervo do Museu Real Ontário, Toronto
Gilberto da Silva Francisco
7. “Les petits vases moches” du Musée Royal de l’Ontario
Carolina Kesser Barcellos Dias

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Dans cet article, à caractère essayiste, nous cherchons à présenter quelques aspects et possibili... more Dans cet article, à caractère essayiste, nous cherchons à présenter quelques aspects et possibilités d'abordages méthodologiques pour l'étude des vases à figures noires de la fin de la période archaïque, en nous basant sur les lécythes présents dans la collection du Musée Royal d'Ontario, Toronto, Canada. Ce qui nous intéresse de mettre ici en exergue, au-delà des questions pertinentes aux études attributionnistes de cette catégorie de vases céramiques, c'est la manière dont ces ensembles de petits vases à figures noires ont été présentés dans la bibliographie, dans les catalogues et dans les discussions actuelles sur la céramologie.

Research paper thumbnail of Artistic relations between attic vases producers from 510 to 475 B.C. reviewed by the attribution methodology

Research paper thumbnail of Laboratório de Estudos sobre a Cerâmica Antiga - LECA-UFPel

Resumo: Neste relatório apresentamos um histórico das atividades desenvolvidas pelo Laboratório d... more Resumo: Neste relatório apresentamos um histórico das atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Estudos sobre a Cerâmica Antiga da Universidade Federal de Pelotas -LECA-UFPel, desde sua concepção em 2011 até o momento, e apontamos as atividades e perspectivas futuras.

Research paper thumbnail of Iconografia Dionisíaca nos lécitos áticos de figuras negras do final do período arcaico (sécs. VI e V A.C.)

Por volta de 570 a. C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se co... more Por volta de 570 a. C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se constituir, e temas relativos a Dioniso e seu séquito tornam-se extremamente populares. Essa popularidade, que pode ser parcialmente explicada pela difusão dos cultos dionisíacos na região da Ática, possui relação direta com as oficinas onde artistas-artesãos especializados na produção de lécitos de figuras negras tornaram-se responsáveis pelo desenvolvimento de uma importante tradição iconográfica do deus e de sua mitologia.

Research paper thumbnail of Caderno de Resumos da XV Jornada de História Antiga Edição Especial LECA-POIEMA/UFPel

XV JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA EDIÇÃO ESPECIAL LECA-POIEMA – UFPEL FORMAÇÃO EM ESTUDOS CLÁSSICOS... more XV JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA
EDIÇÃO ESPECIAL LECA-POIEMA – UFPEL

FORMAÇÃO EM ESTUDOS CLÁSSICOS NO BRASIL:
ABORDAGENS, TRAJETÓRIAS E PERSPECTIVAS PARA AS PESQUISAS EM ANTIGUIDADE

O tema geral da XV Jornada de História Antiga da UFPel, uma edição especial promovida pelo LECA-POIEMA, com apoio do PPGH/UFPel, procura discutir a formação, a pesquisa e extensão promovidas por núcleos de estudos dedicados à Antiguidade Clássica. A proposta é que todas as apresentações - conferências, mesas redondas e minicursos - discutam a maneira como os pesquisadores têm contribuído para a construção do conhecimento de temas clássicos, por meio de projetos desenvolvidos pelos laboratórios, grupos de estudo, núcleos de pesquisa, entre outras denominações.
Assim, o objetivo principal do evento é a apresentação aos discentes nos níveis de graduação e pós das possíveis trajetórias de pesquisa, e a divulgação de projetos de pesquisa e extensão dos laboratórios dedicados aos estudos Clássicos baseados em Universidades Estaduais e Federais do país.
O evento tem apoio e participação dos membros dos seguintes laboratórios e núcleos: Núcleo de Estudos da Antiguidade, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NEA-UERJ); Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (LABECA), TAPHOS - Grupo de Pesquisas em Práticas Mortuárias no Mediterrâneo Antigo, Laboratório de Arqueologia Romana Provincial (LARP), os últimos três, laboratórios do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP).

Research paper thumbnail of O pintor de Gela: características formais e estilísticas, decorativas e iconográficas

Research paper thumbnail of Apontamentos sobre a atribuição de vasos áticos: a produção do Pintor de Gela

Research paper thumbnail of Atribuir ou não atribuir é uma questão? Comentários sobre a metodologia  de atribuição de vasos de figuras negras do final do arcaísmo

Research paper thumbnail of Abordagens metodológicas para o estudo dos vasos gregos: a atribuição e a análise iconográfica

Resumo: A atribuição e a análise iconográfica figuram desde as origens da ceramologia grega como ... more Resumo: A atribuição e a análise iconográfica figuram desde as origens da ceramologia grega como abordagens fundamentais para o estudo dos vasos, oficinas e artistas de diversos períodos e contextos. Neste artigo, apresentamos a introdução aos estudos dos vasos gregos e uma síntese historiográfica dessas duas abordagens, observando-as na atualidade dos estudos da cerâmica. Palavras-chave: Arqueologia, metodologia, cerâmica grega, atribuição, iconografia O interesse pelos vasos cerâmicos pintados apareceu já no século XVII, embora inicialmente observados e apreciados de forma diletante. Nos séculos XVII e XVIII, dominados pela Etruscomania, os estudiosos atribuíram origem etrusca a todos os monumentos que não fossem obviamente egípcios, romanos e gregos, o que também serviu para os vasos pintados. O Conde de Caylus publicou em meados do século XVIII o Recueil d'antiquités égyptiennes, étrusques, grecques, romaines et gauloises, obra baseada nos objetos de sua coleção particular e em objetos de outras coleções analisados por ele. Caylus, um entusiasta das Antiguidades, tinha verdadeiro apreço pelos vasos cerâmicos, porém acreditava na origem etrusca destes, sendo, anos depois, criticado por Winckelmann (2), por ter caído no erro comum da época: considerar etruscos todos os vasos de terracota pintados. Quando em meados do século XVIII admitiu-se que a maioria era grega, ocorreu a idéia de que os vasos pudessem ter sido produzidos nas redondezas de onde eram encontrados, e as descobertas parecem ter confirmado essa suposição. Os estudiosos do século XVIII, então, fizeram dois grandes serviços aos vasos pintados: eles os descobriram e os reconheceram como gregos. A partir daí, alguns autores passaram a observar e atribuir 47 Revista Eletrônica Antiguidade Clássica ISSN 1983 7614 -No. 004/ Semestre II/2009/pp.47-65 os vasos mais corretamente. Algumas das publicações do século XVIII continham em si o embrião do rigor científico que começaria a seguir; antes, uma disciplina regida pela estética, o estudo dos vasos pintados passou a contar com uma visão mais arqueológica. As cronologias inicialmente apresentaram problemas já que uma datação correta se mostrou impraticável. Os estudiosos que se aventuraram a datar a cerâmica não demonstraram ter nenhum sistema confiável de datação nessa época, a não ser algumas poucas referências históricas e a ainda vigente "prioridade etrusca"; concluira-se, portanto, que o período de produção de vasos pintados se estendeu do século VIII ao II a.C. No começo do século XIX, os eruditos observaram os vasos com toda a atenção possível; a nova ordem era 'observar, descrever, publicar'. Ainda assim, o problema das datações e das classificações, tanto de origem quanto de estilo, persistiam. Mas vários acontecimentos e descobertas auxiliaram para uma melhor compreensão da produção cerâmica grega: em 1830, a grande quantidade de vasos encontrada em Vulci foi classificada por alguns estudiosos, ainda influenciados pela etruscomania, como etruscos, enquanto outros acreditavam que fossem gregos. Alguns autores tentaram resolver essa questão classificando como "áticos" os vasos de figuras negras e como "italiotas", os de figuras vermelhas. Mas uma melhor solução para o impasse da atribuição da origem dos vasos foi publicada em 1837: em Über den Styl und die Herkunft der belmaten griechischen Thongefässe, Gustav Kramer apresentou suas teorias baseadas na observação estilística e nas formas epigráficas, já que as análises químicas da argila e da pintura não apresentaram resultados satisfatórios (3). Ele reclassificou a cerâmica e atribuiu aos vasos procedência coríntia, ática, ápula, italiota, de acordo com a decoração. No século XIX, a partir dos anos 30, houve um aumento de publicações dos vasos pintados, em sua maioria encontrados na Itália. Nessas publicações, as discussões sobre estilo eram bastante desenvolvidas e os critérios de classificação mais apurados. Foi a partir desse período que os estilos Orientalizante, Geométrico e Ático se consolidaram nos meios acadêmicos e serviram de base para as classificações dos vasos até os dias atuais. Houve um maior interesse também no estudo das formas dos vasos, sendo recuperados nomes antigos ou atribuídos nomes de acordo com as funções de cada recipiente. Entretanto, a sistematização dos nomes de vasos gregos é ainda hoje assunto de discussões (4). Em 1854, Otto Jahn publicou sua obra fundamental, Beschreibung der Vasensammlung, na qual sugeriu a interpretação simbólica dos motivos iconográficos. Era recomendada a atenção ao local de achado dos vasos, que deveria ser registrado para auxiliar na definição do estilo, e não o contrário. Otto Jahn estabeleceu a origem grega da maior parte dos vasos encontrados na Itália propondo o seguinte método: para cada vaso, estabelecia-se um estado civil, reconhecido através de múltiplas comparações sobre origem e data, definindo a classe à qual os vasos faziam parte. Esse desdobramento de erudição é justificado pela característica particular dos vasos, que não eram mais simplesmente objetos, mas "os documentos mais seguros e mais numerosos que chegaram até nós para reconstituir a história da pintura na Grécia" (Schnapp, 1985: 71). Da atribuição No fim do século XIX, início do XX, se desenvolveu um método novo que privilegiou uma abordagem particular: aquela da mão, da personalidade do artista. Como um certo número de vasos antigos era assinado pelo oleiro e/ou pelo pintor, tornou-se possível a partir de um pequeno número de exemplares assinados reconhecer as personalidades, estabelecer as relações estilísticas apoiadas na observação do detalhe e construir uma verdadeira ciência de atribuições. Wilhelm Klein, Paul Hartwig e Adolf Furtwängler são reconhecidos como os predecessores de John Beazley, e seus trabalhos eram os principais exemplos do processo de identificação de pintores de vasos áticos. Havia o interesse em explorar a personalidade dos pintores por várias razões: primeiro, os vasos cerâmicos eram vistos como um reflexo da pintura parietal grega, toda ela perdida; segundo, os autores queriam seguir o exemplo de estudos da escultura grega e da pintura renascentista; e, mais importante, permanecia em seus estudos a influência da estética do final do século XIX. Em 1885, Adolf Furtwängler publicou o catálogo dos vasos da coleção de Berlim, que apresentou duas importantes inovações: os vasos foram numerados de acordo com um sistema classificatório rígido, divididos por indústria, período e forma; a segunda inovação, mais ousada, foi o agrupamento dos vasos por estilo, ou ao menos por afinidades estilísticas. Furtwängler procurou fazer o que hoje em dia é a chamada atribuição. 49 Revista Eletrônica Antiguidade Clássica ISSN 1983 7614 -No. 004/ Semestre II/2009/pp.47-65 Furtwängler acreditava que poderia relacionar trabalhos anônimos aos textos antigos. Seu método era o de observar as cópias conservadas nos museus, cuja intenção era reproduzir o mais fielmente possível as 'obras-primas da arte grega' -ou seja, aquelas mencionadas em textos de Pausânias ou Plínio. Seu método estava de acordo com a tradição da interpretação filológica e estilística da arte, diretamente inspirado pela crítica textual (Rouet, 2001:38). A contribuição de Wilhelm Klein veio através da interpretação dos vasos com inscrições. Esperava-se que através do estudo das inscrições, especialmente das assinaturas, fosse possível encontrar uma classificação satisfatória da cerâmica. A presença das palavras epoíesen e égraphsen ditou o agrupamento das assinaturas quando concluiu-se uma diferença básica entre essas palavras e seus significados: égraphsen significando 'pintou' e epoíesen, 'fez'. Deduziu-se que as assinaturas indicassem o pintor e o oleiro, evidenciando duas funções distintas empregadas em uma oficina (5). Paul Hartwig publicou em 1893 Die griechischen Meisterschalen der Blüthezeit des strengen rothfigurigen Stiles, um trabalho pioneiro de percepção artística. As análises de Hartwig eram bem detalhadas e muitas de suas conclusões acertadas, especialmente em relação ao estilo. A grande contribuição de Hartwig foi a criação das 'personalidades anônimas': "sometimes the most beautiful works by the masters of that time have come down to us without the names of their artists or any inscription, and the only painters who are clearly identifiable by the distinctive features of their style are ones who did not in fact sign their works" (Rouet, 2001:31). Hartwig e Furtwängler abriram o caminho para um tipo de pesquisa essencialmente visual e empírica, uma vez que o objetivo era o reconhecimento dos artistas individualmente. Pode-se perceber uma divisão entre os métodos de análise desses autores, cuja ênfase na noção do estilo individual influenciaria Beazley, e de autores como Klein e Pottier, que acreditavam que os vasos deveriam ser classificados de acordo com as inscrições. Edmond Pottier (1855-1934) teve prestigiosa carreira como estudioso de artes. Em 1884 passou a ser assistente e curador do Departamento de Antigüidades Orientais e Cerâmica Antiga no Museu do Louvre e a lecionar Arqueologia e História na École des Beaux-Arts. Permaneceu no Museu do Louvre até sua aposentadoria, em 1924, quando II/2009/pp.47-65 vases" (Oakley, 1999:288). O que Beazley propôs foi a criação de uma coleção de vasos interligados pelas características gráficas das figuras, ou parte delas, que eram desenhadas quase da mesma maneira. As figuras e decoração eram ainda comparadas entre si para a observação de traços comuns nos vasos já agrupados pelo autor. Questões sobre oficinas, produção e identidade dos artistas puderam ser finalmente abordadas através das classificações das oficinas, círculos (ou grupo) de produção e escolas de pintores (workshop, circles ou groups, e school). Para Beazley, havia diferenças básicas entre cada uma dessas categorias: uma leitura inicial mostra que 'escola', 'grupo' e 'oficina' eram mais ou menos a mesma coisa, mesmo que...

Research paper thumbnail of Colonização grega e contato cultural na Magna Grécia: o testemunho dos vasos lucânicos

Os objetos podem carregar em si informações sobre a cultura que os produziu. Neste artigo, aborda... more Os objetos podem carregar em si informações sobre a cultura que os produziu. Neste artigo, abordaremos os registros materiais cerâmicos de uma região colonizada pelos gregos no sul da Itáliaa Lucânia em busca de traços que possam indicar movimentos de resistência da população nativa aos padrões culturais helênicos introduzidos durante a colonização. Nos interessa observar quais traços gregos puderam ser incorporados e reinterpretados por artistas lucânicos contemporâneos e posteriores à colonização grega, e quais os traços locais que permaneceram evidentes durante a produção cerâmica no mesmo período.

Research paper thumbnail of A organização das oficinas de cerâmica em Atenas

revistaliter.dominiotemporario.com

Research paper thumbnail of ICONOGRAFIA DIONISÍACA NOS LÉCITOS ÁTICOS DE FIGURAS NEGRAS DO FINAL DO PERÍODO ARCAICO (SÉCS. VI E V A.C.)

Phoînix, 2014

volta de 570 a.C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se constit... more volta de 570 a.C., o repertório figurativo nos vasos áticos de figuras negras começa a se constituir, e temas relativos a Dioniso e seu séquito tornam-se extremamente populares. essa popularidade, que pode ser parcialmente explicada pela difusão dos cultos dionisíacos na região da Ática, possui relação direta com as oficinas onde artistas-artesãos especializados na produção de lécitos de figuras negras tornaram-se responsáveis pelo desenvolvimento de uma importante tradição iconográfica do deus e de sua mitologia.

Research paper thumbnail of A UNIVERSIDADE VAI À ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS NO CURSO POPULAR UP

A UNIVERSIDADE VAI À ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS NO CURSO POPULAR UP, 2019

É com muito prazer que apresentamos o livro que vocês têm em mãos! Aqui, procuramos divulgar a in... more É com muito prazer que apresentamos o livro que vocês têm em mãos! Aqui, procuramos divulgar a iniciativa de fomento acadêmico aplicado no Curso Pré-Universitário Popular UP pelo projeto A universidade vai à escola: uma experiência de professores universitários no Curso Popular UP, institucionalizado como Projeto de Extensão do Laboratório de Estudos sobre a Cerâmica Antiga (LECA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

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Mundo Antigo Economia e Sociedade Grécia e Roma, 1982

FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. O Mundo Antigo Economia e Sociedade Grécia e Roma. São Paulo: Br... more FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. O Mundo Antigo Economia e Sociedade Grécia e Roma. São Paulo: Brasiliense, 1982. "Roma", p. 56-84