Martim Silva | Universidade Federal do Paraná (original) (raw)

Papers by Martim Silva

Research paper thumbnail of Silva, M - Heraclitus and the possibility of human knowledge / Heráclito e a possibilidade do conhecimento humano. In: Costa, A. et al. (Org) Estudos presocráticos na América Latina /Pre-Socratic Studies in Latin America. São Paulo: Odysseus Editora, 2024.

Estudos pré-socráticos na América Latina, 2024

The E-book includes both Portuguese and English versions. The printed book includes only the Port... more The E-book includes both Portuguese and English versions. The printed book includes only the Portuguese version.

Original em português presente no livro impresso e no e-book. Tradução para o inglês incluída no e-book.

ABSTRACT
Known for his critical view on human understanding and for the many images in which he portrayed it, Heraclitus seems in many fragments not only to attack the mob but to deny any possibility of human knowledge. In DK 22 B 1, for example, the criticism is reinforced by the polar expression “both before listening and having listened before” and the adverb “always”, indicating twice that humans never understand. Similarly, we can understand his characterization of wisdom as an exclusive attribute of divinity (especially in DK 22 B 32, B 41, and B 108), as a definitive denying that any human being could deserve the title of “wise”. In an even more direct proposition, in DK 22 B 78, Heraclitus states that “human character (ethos) does not possess sciences (gnomas), but the divine does.” However, the Ephesian also exhorts the search for knowledge, extolling the importance of reflection and learning, as a path to what would be a “human wisdom” (as we can see, for example, in DK 22 B 50, B 112, and B 114). In this way, by repeatedly emphasizing the precariousness and partiality of human knowledge, Heraclitus points to the effort to understand the universe as a continuous interpretative challenge.

RESUMO:
Conhecido por sua visão crítica sobre a compreensão hu‐ mana e pelas inúmeras imagens em que a retratou, Heráclito parece muitas vezes não apenas atacar a multidão, mas negar qualquer possibilidade de conhecimento humano. Em DK 22 B 1, por exemplo, a crítica é reforçada pela expressão polar “antes e depois” e pelo advérbio “sempre”, indicando duas vezes que os humanos nunca entendem. De modo semelhante, é significativa a tematização da “sapiência” (especialmente em DK 22 B 32, B 41 e B 108) como um atributo exclusivo da divindade, que parece negar o estatuto de sabedoria a qualquer ser hu‐ mano. Numa proposição ainda mais direta, em DK 22 B 78, Heráclito afirma: “o caráter humano (ethos) não comporta ciências (gnomas), mas o divino sim”. Contudo, o efésio também exorta a busca pelo conhecimento, exaltando a importância da reflexão e do aprendizado como caminho para o que seria a “sabedoria humana” (como podemos ver em DK 22 B 50, B 112 e B 114). Dessa forma, ao enfatizar repetidas vezes a precariedade e a parcialidade do conhecimento humano, Heráclito aponta para o esforço de compreensão do universo como um desafio interpretativo contínuo.

Research paper thumbnail of Centelhas e incêndios: imagens da hýbris em Sólon e Heráclito.

Revista Anañsi, 2022

Embora tenham sido historicamente associados a diferentes tradições, Sólon e Heráclito viveram em... more Embora tenham sido historicamente associados a diferentes tradições, Sólon e Heráclito viveram em períodos relativamente próximos e suas obras apresentam pontos de contato significativos. Neste artigo, proponho explorar algumas dessas ressonâncias a partir de duas imagens, uma presente no fragmento 13W de Sólon e a outra no fragmento B 43 de Heráclito, nas quais a hýbris é associada a um incêndio. A partir dos tratamentos dados à noção de hýbris, é possível também observar outros pontos significativos nas obras desses autores, como a abordagem da precariedade da cognição humana e a exortação por uma postura reflexiva, que em ambos se relacionam também com a esfera do pensamento político.

Research paper thumbnail of A decisão de Aquiles: Intensidade dramática e narrativa na Patrocléia ( Ilíada XVI )

RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Iliada, conhecido como Patrocleia, o poeta... more RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Iliada, conhecido como Patrocleia, o poeta cria uma intensidade dramatica que explora elementos centrais da narrativa, dando especial relevância ao episodio, que representa a principal reviravolta na trama da obra. Deste modo, a selvageria crescente neste canto traz a tona tanto a tematica da irascibilidade diante de uma guerra longa e desgastante, que deu origem ao conflito entre Aquiles e Agamemnon, quanto a perspectiva das mortes tragicas de Hector e de Aquiles, centrais para a construcao da trama. Em movimentos continuos, a narrativa explora a dramaticidade da decisao de Aquiles em voltar ou nao ao campo de batalha, dando a dimensao dos riscos que o mesmo precisa assumir em cada uma das possibilidades. Movidos pela paixao, Patroclo e Aquiles discutem e deliberam uma solucao parcial – o uso da armadura de Aquiles por Patroclo – que poderia salvar os Aqueus sem descumprir a promessa de Aquiles de nao intervir ate que as naus f...

Research paper thumbnail of Heráclito e Hesíodo: diálogos enantiológicos

Universidade Federal da Bahia na cosmologia jônica, oferecido algum outro modelo de mundo determi... more Universidade Federal da Bahia na cosmologia jônica, oferecido algum outro modelo de mundo determinado? Ou teria ele apenas se preocupado em ensinar a percepção de inexauríveis níveis de interpenetração desta unidade, que, desdobrando-se em sentidos contrários, μεταβάλλον ἀναπαύεται (D.84a)

Research paper thumbnail of (DISSERTAÇÃO)  Densidade Semântica e Jogos de Linguaguem em Heráclito de Éfeso

Abstract This study tries to investigate the employment of semantic density in the fragments of ... more Abstract

This study tries to investigate the employment of semantic density in the fragments of Heraclitus of Ephesus, and how it is associated to the use of different kinds of language play. Having been already featured in ant iquit y as philosophical and poetical, Heraclitus’ text intertwines and resignifies content and vocabulary associated with different traditions, as well as argumentative strategies and stylistic devices, challenging in many respects ancient and modern ratings in macro genres. In view of the power of literary expression of the fragments and having the literary universe of archaic Greece as background the philosophical character of the text seems to be inseparable from the artistic elements. The "word" of Heraclitus, as a microcosm of the world order, mimetizes its own content. This correlation between form and content, according to the analysis of the poetic structures observed in the fragments, indicates a dynamic procedural reading provocated by heraclitean language play, which results not in determining a single reading key, but in realizing several hermeneutical possibilities, as main characteristic of the contact with the fragments.

Keywords: Heraclitus of Ephesus, language play, early Greek philosophy, early Greek poetry.

Research paper thumbnail of A decisão de Aquiles: Intensidade dramática e narrativa na Patrocleia (Ilíada XVI)

RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Ilíada, conhecido como Patrocleia, o poeta... more RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Ilíada, conhecido como Patrocleia, o poeta cria uma intensidade dramática que explora elementos centrais da narrativa, dando especial relevância ao episódio, que representa a principal reviravolta na trama da obra. Deste modo, a selvageria crescente neste canto traz à tona tanto a temática da irascibilidade diante de uma guerra longa e desgastante, que deu origem ao conflito entre Aquiles e Agamêmnon, quanto a perspectiva das mortes trágicas de Héctor e de Aquiles, centrais para a construção da trama. Em movimentos contínuos, a narrativa explora a dramaticidade da decisão de Aquiles em voltar ou não ao campo de batalha, dando a dimensão dos riscos que o mesmo precisa assumir em cada uma das possibili-dades. Movidos pela paixão, Pátroclo e Aquiles discutem e deliberam uma solução parcial – o uso da armadura de Aquiles por Pátroclo – que poderia salvar os Aqueus sem descumprir a promessa de Aquiles de não intervir até que as naus fossem incendiadas. Os destinos trágicos de Aquiles e de Pátroclo se mostram, neste momento, irreversíveis: suas decisões são fruto da perspectiva limitada do próprio destino, característica essencial da con-dição humana, e os conduzem, junto às intervenções e desígnios divinos, às mortes gloriosas mas carregadas de sofrimento que lhes estavam reservadas.

ABSTRACT The article discusses how in the sixteenth book of the Iliad (known as Patrocleia) the poet creates dramatic intensity using key elements of the narrative, giving special relevance to the episode, which is the main changing point in the plot of the poem. The increasing savagery in this book brings up both the issue of irascibility in front of a long and exhausting war, that had led to the conflict between Achilles and Agamemnon, as the prospect of the tragic deaths of Hector and Achilles, central to the building of the plot. In a continuous growing, the narrative explores the drama of the Achilles' decision to return or not to the battlefield, giving the size of the risks it must take in each of the possibilities. Driven by passion, Patroclus and Achilles discuss and deliberate a partial solution – the use of armor for Achilles Patroclus – which could save the Achaeans without undoing the Achilles promise not to intervene until the ships were set on fire. The tragic fates of Achilles and Patroclus shows itself at this irreversible: their decisions are the result of the limited perspective of their own destiny, essential characteristic of the human condition, and lead them along with divine interventions and plans, to the glorious but suffering deaths that were reserved for them.

Research paper thumbnail of Entre Poesia e Filosofia: O Caso de Heráclito de Éfeso

Thesis Chapters by Martim Silva

Research paper thumbnail of Jogos de linguagem e reflexividade em Heráclito de Éfeso (TESE - 2021)

Tese de Doutorado, 2021

Ao longo dos aproximadamente dois mil e quinhentos anos que nos separam de sua composição, como p... more Ao longo dos aproximadamente dois mil e quinhentos anos que nos separam de sua composição, como podemos perceber pelos testemunhos antigos, o texto de Heráclito de Éfeso tem sido objeto de muitas interpretações distintas. Apesar da sua diversidade, contudo, na maior parte delas foram reconhecidas tanto a qualidade poética da composição quanto a potencialidade filosófica das reflexões heraclíticas. Considerando essas duas dimensões do texto, esse trabalho se volta para seu entrelaçamento entre forma e conteúdo, entre jogos de linguagem e reflexividade. Pensando o texto como um todo e sua relação com seu contexto histórico, observa-se como, criticando as grandes referências e ressemantizando noções fundamentais da cultura intelectual de seu tempo, o efésio se apresenta como um competidor na arte da palavra, em um discurso que reafirma a unidade de todas as coisas enquanto uma realidade ao mesmo tempo inescapável e indecifrável; denunciando a alienação humana, mas também defendendo e induzindo o público a um exercício reflexivo. Desse modo, os jogos de linguagem se articulam com o conteúdo do discurso, criando uma rede de ressonâncias semânticas que sugere uma dinâmica contínua de reinterpretação dos significados. A “concisão e a gravidade” do seu estilo, como o definiu Diógenes Laércio (Livro IX, 5-9), nesse sentido, são entendidos como parte de uma densidade semântica, que entrelaça uma considerável gama de recursos poéticos em uma provocação filosófica sobre a própria linguagem, mas também sobre o pensamento e sobre o real. Em particular, destaca-se aqui a importância da reflexão sobre a linguagem e como ela se expande a partir das metáforas do falar e do escutar. Entendida enquanto exercício sintético (a partir da noção de lógos, a “palavra”) e interpretativo (a partir da noção de escuta), a linguagem se mostra como um instrumento ambíguo, mas também como caminho para uma sabedoria humana, marcada pelo exercício da reflexividade.

Research paper thumbnail of Silva, M - Heraclitus and the possibility of human knowledge / Heráclito e a possibilidade do conhecimento humano. In: Costa, A. et al. (Org) Estudos presocráticos na América Latina /Pre-Socratic Studies in Latin America. São Paulo: Odysseus Editora, 2024.

Estudos pré-socráticos na América Latina, 2024

The E-book includes both Portuguese and English versions. The printed book includes only the Port... more The E-book includes both Portuguese and English versions. The printed book includes only the Portuguese version.

Original em português presente no livro impresso e no e-book. Tradução para o inglês incluída no e-book.

ABSTRACT
Known for his critical view on human understanding and for the many images in which he portrayed it, Heraclitus seems in many fragments not only to attack the mob but to deny any possibility of human knowledge. In DK 22 B 1, for example, the criticism is reinforced by the polar expression “both before listening and having listened before” and the adverb “always”, indicating twice that humans never understand. Similarly, we can understand his characterization of wisdom as an exclusive attribute of divinity (especially in DK 22 B 32, B 41, and B 108), as a definitive denying that any human being could deserve the title of “wise”. In an even more direct proposition, in DK 22 B 78, Heraclitus states that “human character (ethos) does not possess sciences (gnomas), but the divine does.” However, the Ephesian also exhorts the search for knowledge, extolling the importance of reflection and learning, as a path to what would be a “human wisdom” (as we can see, for example, in DK 22 B 50, B 112, and B 114). In this way, by repeatedly emphasizing the precariousness and partiality of human knowledge, Heraclitus points to the effort to understand the universe as a continuous interpretative challenge.

RESUMO:
Conhecido por sua visão crítica sobre a compreensão hu‐ mana e pelas inúmeras imagens em que a retratou, Heráclito parece muitas vezes não apenas atacar a multidão, mas negar qualquer possibilidade de conhecimento humano. Em DK 22 B 1, por exemplo, a crítica é reforçada pela expressão polar “antes e depois” e pelo advérbio “sempre”, indicando duas vezes que os humanos nunca entendem. De modo semelhante, é significativa a tematização da “sapiência” (especialmente em DK 22 B 32, B 41 e B 108) como um atributo exclusivo da divindade, que parece negar o estatuto de sabedoria a qualquer ser hu‐ mano. Numa proposição ainda mais direta, em DK 22 B 78, Heráclito afirma: “o caráter humano (ethos) não comporta ciências (gnomas), mas o divino sim”. Contudo, o efésio também exorta a busca pelo conhecimento, exaltando a importância da reflexão e do aprendizado como caminho para o que seria a “sabedoria humana” (como podemos ver em DK 22 B 50, B 112 e B 114). Dessa forma, ao enfatizar repetidas vezes a precariedade e a parcialidade do conhecimento humano, Heráclito aponta para o esforço de compreensão do universo como um desafio interpretativo contínuo.

Research paper thumbnail of Centelhas e incêndios: imagens da hýbris em Sólon e Heráclito.

Revista Anañsi, 2022

Embora tenham sido historicamente associados a diferentes tradições, Sólon e Heráclito viveram em... more Embora tenham sido historicamente associados a diferentes tradições, Sólon e Heráclito viveram em períodos relativamente próximos e suas obras apresentam pontos de contato significativos. Neste artigo, proponho explorar algumas dessas ressonâncias a partir de duas imagens, uma presente no fragmento 13W de Sólon e a outra no fragmento B 43 de Heráclito, nas quais a hýbris é associada a um incêndio. A partir dos tratamentos dados à noção de hýbris, é possível também observar outros pontos significativos nas obras desses autores, como a abordagem da precariedade da cognição humana e a exortação por uma postura reflexiva, que em ambos se relacionam também com a esfera do pensamento político.

Research paper thumbnail of A decisão de Aquiles: Intensidade dramática e narrativa na Patrocléia ( Ilíada XVI )

RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Iliada, conhecido como Patrocleia, o poeta... more RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Iliada, conhecido como Patrocleia, o poeta cria uma intensidade dramatica que explora elementos centrais da narrativa, dando especial relevância ao episodio, que representa a principal reviravolta na trama da obra. Deste modo, a selvageria crescente neste canto traz a tona tanto a tematica da irascibilidade diante de uma guerra longa e desgastante, que deu origem ao conflito entre Aquiles e Agamemnon, quanto a perspectiva das mortes tragicas de Hector e de Aquiles, centrais para a construcao da trama. Em movimentos continuos, a narrativa explora a dramaticidade da decisao de Aquiles em voltar ou nao ao campo de batalha, dando a dimensao dos riscos que o mesmo precisa assumir em cada uma das possibilidades. Movidos pela paixao, Patroclo e Aquiles discutem e deliberam uma solucao parcial – o uso da armadura de Aquiles por Patroclo – que poderia salvar os Aqueus sem descumprir a promessa de Aquiles de nao intervir ate que as naus f...

Research paper thumbnail of Heráclito e Hesíodo: diálogos enantiológicos

Universidade Federal da Bahia na cosmologia jônica, oferecido algum outro modelo de mundo determi... more Universidade Federal da Bahia na cosmologia jônica, oferecido algum outro modelo de mundo determinado? Ou teria ele apenas se preocupado em ensinar a percepção de inexauríveis níveis de interpenetração desta unidade, que, desdobrando-se em sentidos contrários, μεταβάλλον ἀναπαύεται (D.84a)

Research paper thumbnail of (DISSERTAÇÃO)  Densidade Semântica e Jogos de Linguaguem em Heráclito de Éfeso

Abstract This study tries to investigate the employment of semantic density in the fragments of ... more Abstract

This study tries to investigate the employment of semantic density in the fragments of Heraclitus of Ephesus, and how it is associated to the use of different kinds of language play. Having been already featured in ant iquit y as philosophical and poetical, Heraclitus’ text intertwines and resignifies content and vocabulary associated with different traditions, as well as argumentative strategies and stylistic devices, challenging in many respects ancient and modern ratings in macro genres. In view of the power of literary expression of the fragments and having the literary universe of archaic Greece as background the philosophical character of the text seems to be inseparable from the artistic elements. The "word" of Heraclitus, as a microcosm of the world order, mimetizes its own content. This correlation between form and content, according to the analysis of the poetic structures observed in the fragments, indicates a dynamic procedural reading provocated by heraclitean language play, which results not in determining a single reading key, but in realizing several hermeneutical possibilities, as main characteristic of the contact with the fragments.

Keywords: Heraclitus of Ephesus, language play, early Greek philosophy, early Greek poetry.

Research paper thumbnail of A decisão de Aquiles: Intensidade dramática e narrativa na Patrocleia (Ilíada XVI)

RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Ilíada, conhecido como Patrocleia, o poeta... more RESUMO O artigo pretende discutir como no canto XVI da Ilíada, conhecido como Patrocleia, o poeta cria uma intensidade dramática que explora elementos centrais da narrativa, dando especial relevância ao episódio, que representa a principal reviravolta na trama da obra. Deste modo, a selvageria crescente neste canto traz à tona tanto a temática da irascibilidade diante de uma guerra longa e desgastante, que deu origem ao conflito entre Aquiles e Agamêmnon, quanto a perspectiva das mortes trágicas de Héctor e de Aquiles, centrais para a construção da trama. Em movimentos contínuos, a narrativa explora a dramaticidade da decisão de Aquiles em voltar ou não ao campo de batalha, dando a dimensão dos riscos que o mesmo precisa assumir em cada uma das possibili-dades. Movidos pela paixão, Pátroclo e Aquiles discutem e deliberam uma solução parcial – o uso da armadura de Aquiles por Pátroclo – que poderia salvar os Aqueus sem descumprir a promessa de Aquiles de não intervir até que as naus fossem incendiadas. Os destinos trágicos de Aquiles e de Pátroclo se mostram, neste momento, irreversíveis: suas decisões são fruto da perspectiva limitada do próprio destino, característica essencial da con-dição humana, e os conduzem, junto às intervenções e desígnios divinos, às mortes gloriosas mas carregadas de sofrimento que lhes estavam reservadas.

ABSTRACT The article discusses how in the sixteenth book of the Iliad (known as Patrocleia) the poet creates dramatic intensity using key elements of the narrative, giving special relevance to the episode, which is the main changing point in the plot of the poem. The increasing savagery in this book brings up both the issue of irascibility in front of a long and exhausting war, that had led to the conflict between Achilles and Agamemnon, as the prospect of the tragic deaths of Hector and Achilles, central to the building of the plot. In a continuous growing, the narrative explores the drama of the Achilles' decision to return or not to the battlefield, giving the size of the risks it must take in each of the possibilities. Driven by passion, Patroclus and Achilles discuss and deliberate a partial solution – the use of armor for Achilles Patroclus – which could save the Achaeans without undoing the Achilles promise not to intervene until the ships were set on fire. The tragic fates of Achilles and Patroclus shows itself at this irreversible: their decisions are the result of the limited perspective of their own destiny, essential characteristic of the human condition, and lead them along with divine interventions and plans, to the glorious but suffering deaths that were reserved for them.

Research paper thumbnail of Entre Poesia e Filosofia: O Caso de Heráclito de Éfeso

Research paper thumbnail of Jogos de linguagem e reflexividade em Heráclito de Éfeso (TESE - 2021)

Tese de Doutorado, 2021

Ao longo dos aproximadamente dois mil e quinhentos anos que nos separam de sua composição, como p... more Ao longo dos aproximadamente dois mil e quinhentos anos que nos separam de sua composição, como podemos perceber pelos testemunhos antigos, o texto de Heráclito de Éfeso tem sido objeto de muitas interpretações distintas. Apesar da sua diversidade, contudo, na maior parte delas foram reconhecidas tanto a qualidade poética da composição quanto a potencialidade filosófica das reflexões heraclíticas. Considerando essas duas dimensões do texto, esse trabalho se volta para seu entrelaçamento entre forma e conteúdo, entre jogos de linguagem e reflexividade. Pensando o texto como um todo e sua relação com seu contexto histórico, observa-se como, criticando as grandes referências e ressemantizando noções fundamentais da cultura intelectual de seu tempo, o efésio se apresenta como um competidor na arte da palavra, em um discurso que reafirma a unidade de todas as coisas enquanto uma realidade ao mesmo tempo inescapável e indecifrável; denunciando a alienação humana, mas também defendendo e induzindo o público a um exercício reflexivo. Desse modo, os jogos de linguagem se articulam com o conteúdo do discurso, criando uma rede de ressonâncias semânticas que sugere uma dinâmica contínua de reinterpretação dos significados. A “concisão e a gravidade” do seu estilo, como o definiu Diógenes Laércio (Livro IX, 5-9), nesse sentido, são entendidos como parte de uma densidade semântica, que entrelaça uma considerável gama de recursos poéticos em uma provocação filosófica sobre a própria linguagem, mas também sobre o pensamento e sobre o real. Em particular, destaca-se aqui a importância da reflexão sobre a linguagem e como ela se expande a partir das metáforas do falar e do escutar. Entendida enquanto exercício sintético (a partir da noção de lógos, a “palavra”) e interpretativo (a partir da noção de escuta), a linguagem se mostra como um instrumento ambíguo, mas também como caminho para uma sabedoria humana, marcada pelo exercício da reflexividade.