Douglas Silveira Martini | Universidade Federal do Rio Grande do Sul (original) (raw)
Papers by Douglas Silveira Martini
PIXO - Revista de Arquitetura, Cidade e Contemporaneidade
Já em 1978, Francisco de Oliveira lançou a afirmação de que não existiam mais problemas agrários ... more Já em 1978, Francisco de Oliveira lançou a afirmação de que não existiam mais problemas agrários no Brasil, que "todo e qualquer problema hoje no Brasil é um problema urbano" (OLIVEIRA, 1978). Na margem oeste da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), próximo ao complexo industrial do Pólo Petroquímico do Sul, esse fenômeno parece se concretizar entre complexidades e contradições. Nessa região, junto às localidades dos municípios de Triunfo e Montenegro, são desenvolvidas atividades de comércio, serviço, extrativismo, silvicultura, indústria, logísticas, monoculturas, entre outras, que dão a ver, em um primeiro olhar, os reflexos de um processo de metropolização brasileira que ocorreu nas últimas décadas, e como consequência, uma intensa urbanização dessas paisagens. Olhando com atenção, em diferentes momentos, notamos uma ecologia em movimento: aterros, terraplanagens, concretagens e pavimentações moldando a paisagem, entre pássaros desorientados e répteis atropelados por uma velocidade violenta de transformações, onde um brutalismo arquitetônico parece sair de sua infância utópica e assumir uma maturidade catastrófica. O entra e sai de caminhões, logo pela manhã, deixa um rastro cinza, um pó de basalto que pinta tudo: as estradas, as folhas de acácia, os maricás, as paredes das casas. Walter Benjamin, nas "Teses sobre o conceito da história", de 1940, nos chama a atenção aos estilhaços e as ruínas que passam despercebidas pelas forças do progresso. Essas imagens, acumuladas ao longo de anos de pesquisa, são como trapos mundanos de uma paisagem arruinada, onde queremos contar parcialmente sobre os modos de resolver a vida que se dão apesar do desenvolvimento urbano, debaixo da sujeira do tapete da urbanização. "Montar, combinar, compor, cruzar, revelar o detalhe, dar relevância ao secundário, eis o segredo" (PESAVENTO, 2005, p. 64). Há muito mais paisagens do que podemos imaginar…
Indisciplinar, 2022
Este ensaio faz parte de uma experiência cartográfica vivida enquanto habitante e pesquisador, ... more Este ensaio faz parte de uma experiência cartográfica vivida enquanto habitante e pesquisador, cujo objetivo foi apreender e refletir sobre as paisagens às margens da BR-386, entre os municípios de Triunfo e Montenegro, a oeste da Região Metropolitana de Porto Alegre/RS (RMPA). Seguindo os rastros de um grande projeto de Aterro Industrial de escala metropolitana e regional na localidade de Pesqueiro, vou percebendo junto a vizinhas e vizinhos que poluição, gestão pública, arquitetura, animais
domésticos e planejamento urbano fazem parte de uma mesma malha que dá vida a uma paisagem que permanece implicada com os descartes que produzimos. Ao cartografar a malha de uma ecologia de descartes que conecta reciclagem, reutilização, conscientização, destinação e responsabilidade com os resíduos sólidos, encontrei uma paisagem de outras composições possíveis. A partir da montagem narrativa e visual de
histórias e práticas cotidianas que envolvem uma multiplicidade de saberes, vou percebendo os modos como os/as habitantes se responsabilizam pelos resíduos e descartes que produzem e vejo o lixo nas paisagens da região transformado em sucata, em gestos que atentam aos seus efeitos em meio a paisagem.
Indisciplinar, 2019
O presente artigo estrutura-se em quatro partes. A primeira aborda brevemente o contexto históri... more O presente artigo estrutura-se em quatro partes. A primeira aborda brevemente o contexto histórico de luta por moradia e infraestrutura realizada pelos moradores da Vila Dique, bairro popular localizado na Zona Norte do município de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. A segunda situa a luta pela permanência dos moradores no atual contexto de produção do espaço neoliberal da cidade, potencializado pelos grandes eventos esportivos. A terceira trata de elucidar o panorama atual dos processos de planejamento urbano, bem como os canais de participação já existentes em Porto Alegre, como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA) e o Orçamento Participativo (OP), buscando relacionar a atuação desses canais com o processo que vem ocorrendo na comunidade, onde moradores conjuntamente com o escritório modelo EMAV - Práticas Participativas Populares, da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e outros apoiadores, vêm dando corpo a um Plano Popular da Vila Dique. Discorremos também sobre o que entendemos ser um planejamento urbano participativo ou excludente e sobre organização e registros em projetos de extensão. A última parte aborda a construção da metodologia adotada para elaborar a primeira etapa do que seria um plano popular de urbanização que consiste de um diagnóstico para o entendimento coletivo da comunidade, descrevendo os passos e as abordagens pedagógicas utilizadas com o objetivo de tornar as dinâmicas participativas mais inclusivas e representativas.
PIXO - Revista de Arquitetura, Cidade e Contemporaneidade
Já em 1978, Francisco de Oliveira lançou a afirmação de que não existiam mais problemas agrários ... more Já em 1978, Francisco de Oliveira lançou a afirmação de que não existiam mais problemas agrários no Brasil, que "todo e qualquer problema hoje no Brasil é um problema urbano" (OLIVEIRA, 1978). Na margem oeste da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), próximo ao complexo industrial do Pólo Petroquímico do Sul, esse fenômeno parece se concretizar entre complexidades e contradições. Nessa região, junto às localidades dos municípios de Triunfo e Montenegro, são desenvolvidas atividades de comércio, serviço, extrativismo, silvicultura, indústria, logísticas, monoculturas, entre outras, que dão a ver, em um primeiro olhar, os reflexos de um processo de metropolização brasileira que ocorreu nas últimas décadas, e como consequência, uma intensa urbanização dessas paisagens. Olhando com atenção, em diferentes momentos, notamos uma ecologia em movimento: aterros, terraplanagens, concretagens e pavimentações moldando a paisagem, entre pássaros desorientados e répteis atropelados por uma velocidade violenta de transformações, onde um brutalismo arquitetônico parece sair de sua infância utópica e assumir uma maturidade catastrófica. O entra e sai de caminhões, logo pela manhã, deixa um rastro cinza, um pó de basalto que pinta tudo: as estradas, as folhas de acácia, os maricás, as paredes das casas. Walter Benjamin, nas "Teses sobre o conceito da história", de 1940, nos chama a atenção aos estilhaços e as ruínas que passam despercebidas pelas forças do progresso. Essas imagens, acumuladas ao longo de anos de pesquisa, são como trapos mundanos de uma paisagem arruinada, onde queremos contar parcialmente sobre os modos de resolver a vida que se dão apesar do desenvolvimento urbano, debaixo da sujeira do tapete da urbanização. "Montar, combinar, compor, cruzar, revelar o detalhe, dar relevância ao secundário, eis o segredo" (PESAVENTO, 2005, p. 64). Há muito mais paisagens do que podemos imaginar…
Indisciplinar, 2022
Este ensaio faz parte de uma experiência cartográfica vivida enquanto habitante e pesquisador, ... more Este ensaio faz parte de uma experiência cartográfica vivida enquanto habitante e pesquisador, cujo objetivo foi apreender e refletir sobre as paisagens às margens da BR-386, entre os municípios de Triunfo e Montenegro, a oeste da Região Metropolitana de Porto Alegre/RS (RMPA). Seguindo os rastros de um grande projeto de Aterro Industrial de escala metropolitana e regional na localidade de Pesqueiro, vou percebendo junto a vizinhas e vizinhos que poluição, gestão pública, arquitetura, animais
domésticos e planejamento urbano fazem parte de uma mesma malha que dá vida a uma paisagem que permanece implicada com os descartes que produzimos. Ao cartografar a malha de uma ecologia de descartes que conecta reciclagem, reutilização, conscientização, destinação e responsabilidade com os resíduos sólidos, encontrei uma paisagem de outras composições possíveis. A partir da montagem narrativa e visual de
histórias e práticas cotidianas que envolvem uma multiplicidade de saberes, vou percebendo os modos como os/as habitantes se responsabilizam pelos resíduos e descartes que produzem e vejo o lixo nas paisagens da região transformado em sucata, em gestos que atentam aos seus efeitos em meio a paisagem.
Indisciplinar, 2019
O presente artigo estrutura-se em quatro partes. A primeira aborda brevemente o contexto históri... more O presente artigo estrutura-se em quatro partes. A primeira aborda brevemente o contexto histórico de luta por moradia e infraestrutura realizada pelos moradores da Vila Dique, bairro popular localizado na Zona Norte do município de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. A segunda situa a luta pela permanência dos moradores no atual contexto de produção do espaço neoliberal da cidade, potencializado pelos grandes eventos esportivos. A terceira trata de elucidar o panorama atual dos processos de planejamento urbano, bem como os canais de participação já existentes em Porto Alegre, como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA) e o Orçamento Participativo (OP), buscando relacionar a atuação desses canais com o processo que vem ocorrendo na comunidade, onde moradores conjuntamente com o escritório modelo EMAV - Práticas Participativas Populares, da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e outros apoiadores, vêm dando corpo a um Plano Popular da Vila Dique. Discorremos também sobre o que entendemos ser um planejamento urbano participativo ou excludente e sobre organização e registros em projetos de extensão. A última parte aborda a construção da metodologia adotada para elaborar a primeira etapa do que seria um plano popular de urbanização que consiste de um diagnóstico para o entendimento coletivo da comunidade, descrevendo os passos e as abordagens pedagógicas utilizadas com o objetivo de tornar as dinâmicas participativas mais inclusivas e representativas.