Marcus A . S . Wittmann | Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (original) (raw)
Papers by Marcus A . S . Wittmann
Cadernos do Leeparq, 2022
Ao olhar etnograficamente para as pesquisas arqueológicas efetuadas no âmbito do licenciamento am... more Ao olhar etnograficamente para as pesquisas arqueológicas efetuadas no âmbito do licenciamento ambiental, nota-se como a definição de patrimônio cultural material está em um campo de disputa entre estado, ciências e populações tradicionais. Esse artigo pretende expor os termos
dessa disputa através da análise de documentos legais e burocráticos, de relatórios técnicos de arqueologia para o licenciamento ambiental e de um estudo de caso: a retomada Mbya Guarani na Ponta do Arado (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil). Esse panorama mostra como a ciência
arqueológica pode ser constrangida por documentos burocráticos e legais, e como demandas políticas e territoriais de grupos indígenas atuam contra definições e práticas instituídas pelo estado, demonstrando suas incongruências e violências.
Revista de Arqueologia, 2022
O Antropoceno não afeta apenas a vida na Terra em uma escala climática e geológica, mas também po... more O Antropoceno não afeta apenas a vida na Terra em uma escala climática e geológica, mas também política e científica. Essa era é também a da feitiçaria do capitalismo, da captura de ciências e cientistas em discursos e práticas voltadas ao progresso cego em direção à expansão do capital, progresso esse fruto da degradação do meio ambiente, do etnocídio, da extinção e da destruição de lugares sagrados, paisagens e materiais do passado. Neste ensaio, aborda-se a participação da arqueologia nesse contexto e como ela vem construindo uma narrativa inofensiva acerca do passado, esvaziando territórios e paisagens de suas agências não humanas e, assim, abrindo espaço para novas paisagens e estratos de um futuro que está nos levando ao fim.
Proa: revista de antropologia e arte, 2021
Este artigo debate os cinemas indígenas através de sua recepção e agência frente ao público. Os r... more Este artigo debate os cinemas indígenas através de sua recepção e agência frente ao público. Os relatos e análises aqui tratados se baseiam na experiência dos autores de organizar um projeto voltado para os cinemas e as artes de povos originários no sul do país, a Mostra Tela Indígena. Nas quatro edições deste projeto, diversos filmes feitos no Brasil e nas Américas foram exibidos para um público composto tanto por não indígenas quanto por indígenas. Discutimos os cinemas e outras expressões artísticas na mostra já citada, tratando-os como uma agência que produz novos contatos e encontros. A circulação dessas obras, junto de seus criadores, mostra como a tela do cinema é um potente espaço de continuidade do fazer fílmico, de encontros e de realização de uma cosmocinepolítica. Nosso intuito, desse modo, é refletir sobre os espaços pelos quais os filmes circulam e como eles agenciam novos discursos, encontros e produções.
Anais do Seminário des alunes - PPGAS - MN/UFRJ, 2021
Esse trabalho se propõe a refletir sobre diferentes perspectivas acerca da Volta Grande do Xingu,... more Esse trabalho se propõe a refletir sobre diferentes perspectivas acerca da Volta Grande do Xingu, apresentando-a como um caleidoscópio, no qual diversas imagens, percepções, noções de terra e territorialidade, assim como de lutas, entram em contato e em conflito. Para isso, parte-se dos atores que habitam a região, desde os indígenas Yudja Juruna e as populações ribeirinhas, até a UHE Belo Monte e o discurso estatal e político que a envolve. Dessas multiplicidades de perspectivas e agências, formam-se diferentes imagens da Volta Grande do Xingu, seja sua formação pelo sopro do demiurgo Senã’ã, seja como território tradicional, ou sua reconfiguração pela Norte Energia como Trecho de Vazão Reduzida, como área de geração de energia, após o fechamento da barragem de Belo Monte. Uma perspectiva não reduz a outra, mas sim potencializa a multiplicidade da região, de seus atores e seus conflitos, sejam eles ontológicos ou políticos.
Organon, 2021
Este trabalho analisa a construção da autoria na obra A queda do céu: palavras de um xamã yanomam... more Este trabalho analisa a construção da autoria na obra A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, na perspectiva das múltiplas agências, atores e vozes configuradoras do discurso, o qual varia entre autobiografia, discurso político, tratado cosmopolítico e crítica xamânica. Em um primeiro momento, o artigo discute brevemente a noção de autoria na tradição ocidental, marcada pela individualidade e pela propriedade; em seguida, demonstra como essa concepção é elidida em A queda do céu, que vincula a autoria à noção de "virar outro", a partir do entrelaçamento de múltiplas vozes e imagens espirituais, resultando em uma polifonia da floresta.
Prefeitura de Porto Alegre/Secretaria Municipal da Cultura/Coordenação de Cinema e Audiovisual, 2021
Nessa produção quatro realizadores Mbya Guarani contam suas trajetórias, suas primeiras experiênc... more Nessa produção quatro realizadores Mbya Guarani contam suas trajetórias, suas primeiras experiências com o cinema e as diferentes maneiras que o audiovisual entrou e se faz presente nas terras indígenas. Patrícia Ferreira Para Yxapy, da Terra Indígena Ko’enju em São Miguel das Missões; Gerson Karaí Gomes, da Terra Indígena da Estiva em Viamão; Vhera Xunu, da Terra Indígena Itapuã em Viamão; e Pará Rete, da Terra Indígena do Cantagalo, também em Viamão. O texto apresenta uma lista com 22 produções audiovisuais realizadas por cineastas indígenas do Rio Grande do Sul.
Anuário Antropológico, 2019
Este artigo tem como objetivo mapear as redes sociotécnicas que compõem e são compostas ao longo ... more Este artigo tem como objetivo mapear as redes sociotécnicas que compõem e são compostas ao longo do processo de licenciamento ambiental, no que tange às práticas arqueológicas e aos trâmites burocráticos referentes a elas. Seguindo cientistas e suas práticas, burocratas e seus documentos, pode-se ver como a constituição do patrimônio arqueológico é um fenômeno entremeado por disputas políticas, tanto quanto por teorias e métodos científicos. Esta pesquisa é fruto de uma dissertação de mestrado, durante a qual foram entrevistados vinte e um arqueólogos de diferentes gerações e com diferentes experiências e cargos, além da análise de sessenta processos de arqueologia no licenciamento ambiental para diferentes
empreendimentos no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Revista Habitus, 2018
Este artigo se propõe a analisar a construção do conhecimento arqueológico referente à Luzia, o h... more Este artigo se propõe a analisar a construção do conhecimento arqueológico referente à Luzia, o hominídeo mais antigo encontrado no Brasil. Traçando os diferentes locais, tempos, métodos e teorias pelas quais o crânio do Hominídeo I, da Lapa Vermelha IV, passou, pretende-se mostrar como sua identidade, de primeira brasileira, foi formada pela arqueologia brasileira e pela mídia. Seguindo controvérsias e debates acerca de Luzia, desde sua descoberta na década de 1970 até a solidificação de sua identidade brasileira na década de 1990 e na manutenção e uso dessa verdade nota-se, atualmente, como Luzia foi constituída como um fato científico de grande relevância para a arqueologia brasileira e mundial. A implosão - conceito proposto por Haraway - do processo de construção do conhecimento e de extroversão deste sobre Luzia nos mostra como os conceitos de raça, etnicidade e nacionalidade são constituídos na e pela arqueologia brasileira.
Essa pesquisa de mestrado analisa as práticas da ciência arqueológica em projetos de licenciament... more Essa pesquisa de mestrado analisa as práticas da ciência arqueológica em projetos de licenciamento ambiental no Rio Grande do Sul. O licenciamento ambiental é um instrumento burocrático regido pelo estado para fiscalizar e legislar sobre as obras de engenharia que impactam de alguma forma o meio ambiente, populações e o patrimônio cultural brasileiro. Dentro dessa prática há diversos trâmites nos quais algumas áreas do conhecimento são necessárias, como a biologia, a antropologia, a geografia, a geologia e a arqueologia. Estas devem identificar e registrar as características da área onde será feito o empreendimento, apontando para as medidas a serem tomadas. A arqueologia gere nesse contexto os sítios e bens arqueológicos que podem ser encontrados no local e quais devem ser as deliberações adotadas para sua preservação in loco ou a efetuação de um salvamento dos mesmos, ou seja, uma escavação arqueológica e a guarda do material proveniente em alguma instituição.
Atualmente as pesquisas arqueológicas no licenciamento ambiental são o campo predominante de atuação dos arqueólogos no Brasil. Baseando-se principalmente nas teorias e métodos da antropologia da ciência, da tecnologia e da burocracia pretende-se analisar as redes sociotécnicas que emaranham arqueologia, burocracia, estado e iniciativa privada, as quais constituem e são constituídas de diferentes entidades, como o patrimônio, sítios arqueológicos e relatórios técnicos. A pesquisa, uma etnografia da prática arqueológica, abarcou entrevistas com vinte e um arqueólogos que atuam no licenciamento ambiental e a análise de projetos e relatórios referentes ao licenciamento de diversos empreendimentos no estado do Rio Grande do Sul. Este panorama abrange diferentes agentes humanos e não humanos que transitam nas redes sociotécnicas do licenciamento ambiental e da arqueologia, como os cientistas, os projetos e relatórios técnicos, os burocratas, suas burocracias e documentos, os sítios arqueológicos e o patrimônio, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), dentre outros. Ao regulamentar práticas científicas e relacionálas a etapas de projetos de engenharia, o licenciamento ambiental se mostra como uma ferramenta estatal de grande interesse político e analítico para a antropologia e para a arqueologia.
Combate Racismo Ambiental, 2018
Cadernos de Campo, São Paulo/USP, 2018
O saneamento básico, direito universal previsto por lei, não é constituído apenas por canos, esta... more O saneamento básico, direito universal previsto por lei, não é constituído apenas por canos, estações de tratamento, medidores, válvulas dentre outras partes materiais. Essa infraestrutura é também um terreno político, onde diferentes interesses, agentes, documentos, burocracias e saberes científicos estão emaranhados. O objetivo deste artigo é pensar a relação entre infraestrutura, no caso, o saneamento básico voltado para tratamento de esgoto, e o fazer científico. Analiso aqui processos referentes às pesquisas arqueológicas para o licenciamento ambiental desse tipo de empreendimento, mostrando como as diferentes esferas estatais, trâmites burocráticos, preocupações e interesses variados influenciam e são influenciados por esse jogo entre infraestrutura e ciência.
Anais da ReACT - Reunião de Antropologia da Ciência e Tecnologia, 2017
O licenciamento ambiental é um campo de disputas entre saberes, práticas e epistemologias diversa... more O licenciamento ambiental é um campo de disputas entre saberes, práticas e epistemologias diversas. Entra em jogo nesses processos tanto o discurso científico quanto o discurso estatal e de mercado, ficando omisso geralmente aquele das populações locais atingidas. Desta intricada relação materializam-se diferentes categorias e entidades. O presente artigo visa analisar a constituição dos conceitos de “patrimônio”, “bem cultural” e “potencial arqueológico” em projetos de licenciamento ambiental. Para isso, focamos nosso olhar nos produtos criados pelos arqueólogos nesse contexto: os relatórios técnicos. Todavia esses documentos não são uma mera construção através de saberes e fazeres científicos em campo e em laboratório, mas são constituídos por legislações que definem práticas e conceitos. A definição de patrimônio cultural brasileiro, no qual se insere os bens matérias e os sítios arqueológicos, pode ser mapeada desde o Estado Novo, tendo sua concepção variado e sendo mais complexificada ao longo do tempo. Conjuntamente com esses documentos trazemos uma etnografia da prática arqueológica, a qual pretende abordar a atuação de arqueólogos em diferentes contextos, desde os trabalhos de campo, de laboratório, as atividades de educação patrimonial, reuniões com empreendedores e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) dentre outros. Essa etnografia se baseia a partir de uma atuação em projetos de licenciamento ambiental e de entrevistas com arqueólogos que atuam nessa área no Rio Grande do Sul. A partir disso, analisamos como essas ações constituem as Redes Sóciotécnicas emaranhadas nesses relatórios técnicos, e como eles atuam como objetos de poder, de legitimidade e de diálogo entre a ciência arqueológica, o Estado e a Iniciativa Privada.
Revista Área / Aberta, 2017
Este artigo apresenta o trabalho de pesquisa arqueológica realizada nos sítios Arthur Piassoli I ... more Este artigo apresenta o trabalho de pesquisa arqueológica realizada nos sítios Arthur Piassoli I e II, localizados no município de Timbé do Sul/SC. Os mesmos foram identificados, escavados e tiveram suas coleções arqueológicas analisadas durante as etapas de mitigação de impactos ambientais relacionados às obras de pavimentação e implantação da BR-285/RS/SC, trecho São José dos Ausentes/RS - Timbé do Sul/SC. Os resultados deste trabalho apontam que estes sítios representam áreas de atividade de manejo florestal em um sistema de assentamento caçador-coletor, acrescentando novos dados ao contexto pré-colonial do extremo-sul catarinense.
Anais da 30º Reunião Brasileira de Antropologia, 2016
A influência do mercado, do sistema capitalista e de políticas desenvolvimentistas na Ciência de ... more A influência do mercado, do sistema capitalista e de políticas desenvolvimentistas na Ciência de modo geral, não é nem novidade nem surpresa.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau de Pós-... more Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau de Pós-Graduado em Arqueologia Brasileira pelo Instituto de Arqueologia Brasileira e a Faculdade Redentor. Orientadora: Prof. Dra. Sheila Mendonça de Souza Belford Roxo, 2016 2 Resumo O presente trabalho de conclusão de curso pretende discutir a questão da morte e das práticas funerárias entre os Guarani da região sul do Brasil. Leva-se em conta tanto dados arqueológicos quanto etnológicos no que tange essa problemática. O objetivo é um diálogo entre duas formas distintas de analisar e obter dados a respeito desta temática a fim de obtermos um panorama mais amplo sobre esta questão, podendo notar continuidades, rupturas e sincretismos destas práticas ao longo do tempo. Questões éticas da pesquisa com restos humanos Guarani também são discutidos. Palavras-Chave: Arqueologia, Etnologia, Guarani.
Filme de mim mesmo: a multidimensionalidade do artista no filme Eu Não Estou Lá Graduado em Histó... more Filme de mim mesmo: a multidimensionalidade do artista no filme Eu Não Estou Lá Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Contato: wittmann.marcus@gmail.com. Resumo Neste artigo analisaremos o filme Eu Não Estou Lá, uma "falsa-biografia" de Bob Dylan, do diretor Todd Haynes. Afastamos-nos das análises da Escola de Frankfurt sobre o cinema como carro-chefe da Indústria Cultural, procurando em um contexto mais amplo as redes de interconexão da película. Assim, não apenas o filme em si é analisado, mas também seu contexto de produção e recepção. Através desse panorama poderíamos visualizar e entender o que nos parece ser o âmago do filme: o artista e sua multidimensionalidade.
This article pretends to make some considerations about the analysis of the phenomena of contact ... more This article pretends to make some considerations about the analysis of the phenomena of contact and the ethnicity of two indigenous groups, the Guarani and the Kaingang, of the north coast of Rio Grande do Sul, Brazil. In order to do that archaeological, anthropological and historical informations about those ethnic groups will be considered.
RESUMO: O presente artigo pretende analisar o imaginário construído sobre o indígena através do d... more RESUMO: O presente artigo pretende analisar o imaginário construído sobre o indígena através do discurso histórico sul-rio-grandense nas suas duas grandes matrizes: a matriz lusa e a matriz platina, buscando demonstrar pontos de convergência e divergência referentes ao papel dado aos índios pela historiografia, focando-se nos trabalhos de Moisés Velhinho e Carlos Teschauer. Além disso, procura-se analisar a continuidade desse discurso e fazer um breve estudo interdisciplinar da questão, abordando temas da História, da Antropologia, da Arqueologia e da Filosofia.
Cadernos do Leeparq, 2022
Ao olhar etnograficamente para as pesquisas arqueológicas efetuadas no âmbito do licenciamento am... more Ao olhar etnograficamente para as pesquisas arqueológicas efetuadas no âmbito do licenciamento ambiental, nota-se como a definição de patrimônio cultural material está em um campo de disputa entre estado, ciências e populações tradicionais. Esse artigo pretende expor os termos
dessa disputa através da análise de documentos legais e burocráticos, de relatórios técnicos de arqueologia para o licenciamento ambiental e de um estudo de caso: a retomada Mbya Guarani na Ponta do Arado (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil). Esse panorama mostra como a ciência
arqueológica pode ser constrangida por documentos burocráticos e legais, e como demandas políticas e territoriais de grupos indígenas atuam contra definições e práticas instituídas pelo estado, demonstrando suas incongruências e violências.
Revista de Arqueologia, 2022
O Antropoceno não afeta apenas a vida na Terra em uma escala climática e geológica, mas também po... more O Antropoceno não afeta apenas a vida na Terra em uma escala climática e geológica, mas também política e científica. Essa era é também a da feitiçaria do capitalismo, da captura de ciências e cientistas em discursos e práticas voltadas ao progresso cego em direção à expansão do capital, progresso esse fruto da degradação do meio ambiente, do etnocídio, da extinção e da destruição de lugares sagrados, paisagens e materiais do passado. Neste ensaio, aborda-se a participação da arqueologia nesse contexto e como ela vem construindo uma narrativa inofensiva acerca do passado, esvaziando territórios e paisagens de suas agências não humanas e, assim, abrindo espaço para novas paisagens e estratos de um futuro que está nos levando ao fim.
Proa: revista de antropologia e arte, 2021
Este artigo debate os cinemas indígenas através de sua recepção e agência frente ao público. Os r... more Este artigo debate os cinemas indígenas através de sua recepção e agência frente ao público. Os relatos e análises aqui tratados se baseiam na experiência dos autores de organizar um projeto voltado para os cinemas e as artes de povos originários no sul do país, a Mostra Tela Indígena. Nas quatro edições deste projeto, diversos filmes feitos no Brasil e nas Américas foram exibidos para um público composto tanto por não indígenas quanto por indígenas. Discutimos os cinemas e outras expressões artísticas na mostra já citada, tratando-os como uma agência que produz novos contatos e encontros. A circulação dessas obras, junto de seus criadores, mostra como a tela do cinema é um potente espaço de continuidade do fazer fílmico, de encontros e de realização de uma cosmocinepolítica. Nosso intuito, desse modo, é refletir sobre os espaços pelos quais os filmes circulam e como eles agenciam novos discursos, encontros e produções.
Anais do Seminário des alunes - PPGAS - MN/UFRJ, 2021
Esse trabalho se propõe a refletir sobre diferentes perspectivas acerca da Volta Grande do Xingu,... more Esse trabalho se propõe a refletir sobre diferentes perspectivas acerca da Volta Grande do Xingu, apresentando-a como um caleidoscópio, no qual diversas imagens, percepções, noções de terra e territorialidade, assim como de lutas, entram em contato e em conflito. Para isso, parte-se dos atores que habitam a região, desde os indígenas Yudja Juruna e as populações ribeirinhas, até a UHE Belo Monte e o discurso estatal e político que a envolve. Dessas multiplicidades de perspectivas e agências, formam-se diferentes imagens da Volta Grande do Xingu, seja sua formação pelo sopro do demiurgo Senã’ã, seja como território tradicional, ou sua reconfiguração pela Norte Energia como Trecho de Vazão Reduzida, como área de geração de energia, após o fechamento da barragem de Belo Monte. Uma perspectiva não reduz a outra, mas sim potencializa a multiplicidade da região, de seus atores e seus conflitos, sejam eles ontológicos ou políticos.
Organon, 2021
Este trabalho analisa a construção da autoria na obra A queda do céu: palavras de um xamã yanomam... more Este trabalho analisa a construção da autoria na obra A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, na perspectiva das múltiplas agências, atores e vozes configuradoras do discurso, o qual varia entre autobiografia, discurso político, tratado cosmopolítico e crítica xamânica. Em um primeiro momento, o artigo discute brevemente a noção de autoria na tradição ocidental, marcada pela individualidade e pela propriedade; em seguida, demonstra como essa concepção é elidida em A queda do céu, que vincula a autoria à noção de "virar outro", a partir do entrelaçamento de múltiplas vozes e imagens espirituais, resultando em uma polifonia da floresta.
Prefeitura de Porto Alegre/Secretaria Municipal da Cultura/Coordenação de Cinema e Audiovisual, 2021
Nessa produção quatro realizadores Mbya Guarani contam suas trajetórias, suas primeiras experiênc... more Nessa produção quatro realizadores Mbya Guarani contam suas trajetórias, suas primeiras experiências com o cinema e as diferentes maneiras que o audiovisual entrou e se faz presente nas terras indígenas. Patrícia Ferreira Para Yxapy, da Terra Indígena Ko’enju em São Miguel das Missões; Gerson Karaí Gomes, da Terra Indígena da Estiva em Viamão; Vhera Xunu, da Terra Indígena Itapuã em Viamão; e Pará Rete, da Terra Indígena do Cantagalo, também em Viamão. O texto apresenta uma lista com 22 produções audiovisuais realizadas por cineastas indígenas do Rio Grande do Sul.
Anuário Antropológico, 2019
Este artigo tem como objetivo mapear as redes sociotécnicas que compõem e são compostas ao longo ... more Este artigo tem como objetivo mapear as redes sociotécnicas que compõem e são compostas ao longo do processo de licenciamento ambiental, no que tange às práticas arqueológicas e aos trâmites burocráticos referentes a elas. Seguindo cientistas e suas práticas, burocratas e seus documentos, pode-se ver como a constituição do patrimônio arqueológico é um fenômeno entremeado por disputas políticas, tanto quanto por teorias e métodos científicos. Esta pesquisa é fruto de uma dissertação de mestrado, durante a qual foram entrevistados vinte e um arqueólogos de diferentes gerações e com diferentes experiências e cargos, além da análise de sessenta processos de arqueologia no licenciamento ambiental para diferentes
empreendimentos no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Revista Habitus, 2018
Este artigo se propõe a analisar a construção do conhecimento arqueológico referente à Luzia, o h... more Este artigo se propõe a analisar a construção do conhecimento arqueológico referente à Luzia, o hominídeo mais antigo encontrado no Brasil. Traçando os diferentes locais, tempos, métodos e teorias pelas quais o crânio do Hominídeo I, da Lapa Vermelha IV, passou, pretende-se mostrar como sua identidade, de primeira brasileira, foi formada pela arqueologia brasileira e pela mídia. Seguindo controvérsias e debates acerca de Luzia, desde sua descoberta na década de 1970 até a solidificação de sua identidade brasileira na década de 1990 e na manutenção e uso dessa verdade nota-se, atualmente, como Luzia foi constituída como um fato científico de grande relevância para a arqueologia brasileira e mundial. A implosão - conceito proposto por Haraway - do processo de construção do conhecimento e de extroversão deste sobre Luzia nos mostra como os conceitos de raça, etnicidade e nacionalidade são constituídos na e pela arqueologia brasileira.
Essa pesquisa de mestrado analisa as práticas da ciência arqueológica em projetos de licenciament... more Essa pesquisa de mestrado analisa as práticas da ciência arqueológica em projetos de licenciamento ambiental no Rio Grande do Sul. O licenciamento ambiental é um instrumento burocrático regido pelo estado para fiscalizar e legislar sobre as obras de engenharia que impactam de alguma forma o meio ambiente, populações e o patrimônio cultural brasileiro. Dentro dessa prática há diversos trâmites nos quais algumas áreas do conhecimento são necessárias, como a biologia, a antropologia, a geografia, a geologia e a arqueologia. Estas devem identificar e registrar as características da área onde será feito o empreendimento, apontando para as medidas a serem tomadas. A arqueologia gere nesse contexto os sítios e bens arqueológicos que podem ser encontrados no local e quais devem ser as deliberações adotadas para sua preservação in loco ou a efetuação de um salvamento dos mesmos, ou seja, uma escavação arqueológica e a guarda do material proveniente em alguma instituição.
Atualmente as pesquisas arqueológicas no licenciamento ambiental são o campo predominante de atuação dos arqueólogos no Brasil. Baseando-se principalmente nas teorias e métodos da antropologia da ciência, da tecnologia e da burocracia pretende-se analisar as redes sociotécnicas que emaranham arqueologia, burocracia, estado e iniciativa privada, as quais constituem e são constituídas de diferentes entidades, como o patrimônio, sítios arqueológicos e relatórios técnicos. A pesquisa, uma etnografia da prática arqueológica, abarcou entrevistas com vinte e um arqueólogos que atuam no licenciamento ambiental e a análise de projetos e relatórios referentes ao licenciamento de diversos empreendimentos no estado do Rio Grande do Sul. Este panorama abrange diferentes agentes humanos e não humanos que transitam nas redes sociotécnicas do licenciamento ambiental e da arqueologia, como os cientistas, os projetos e relatórios técnicos, os burocratas, suas burocracias e documentos, os sítios arqueológicos e o patrimônio, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), dentre outros. Ao regulamentar práticas científicas e relacionálas a etapas de projetos de engenharia, o licenciamento ambiental se mostra como uma ferramenta estatal de grande interesse político e analítico para a antropologia e para a arqueologia.
Combate Racismo Ambiental, 2018
Cadernos de Campo, São Paulo/USP, 2018
O saneamento básico, direito universal previsto por lei, não é constituído apenas por canos, esta... more O saneamento básico, direito universal previsto por lei, não é constituído apenas por canos, estações de tratamento, medidores, válvulas dentre outras partes materiais. Essa infraestrutura é também um terreno político, onde diferentes interesses, agentes, documentos, burocracias e saberes científicos estão emaranhados. O objetivo deste artigo é pensar a relação entre infraestrutura, no caso, o saneamento básico voltado para tratamento de esgoto, e o fazer científico. Analiso aqui processos referentes às pesquisas arqueológicas para o licenciamento ambiental desse tipo de empreendimento, mostrando como as diferentes esferas estatais, trâmites burocráticos, preocupações e interesses variados influenciam e são influenciados por esse jogo entre infraestrutura e ciência.
Anais da ReACT - Reunião de Antropologia da Ciência e Tecnologia, 2017
O licenciamento ambiental é um campo de disputas entre saberes, práticas e epistemologias diversa... more O licenciamento ambiental é um campo de disputas entre saberes, práticas e epistemologias diversas. Entra em jogo nesses processos tanto o discurso científico quanto o discurso estatal e de mercado, ficando omisso geralmente aquele das populações locais atingidas. Desta intricada relação materializam-se diferentes categorias e entidades. O presente artigo visa analisar a constituição dos conceitos de “patrimônio”, “bem cultural” e “potencial arqueológico” em projetos de licenciamento ambiental. Para isso, focamos nosso olhar nos produtos criados pelos arqueólogos nesse contexto: os relatórios técnicos. Todavia esses documentos não são uma mera construção através de saberes e fazeres científicos em campo e em laboratório, mas são constituídos por legislações que definem práticas e conceitos. A definição de patrimônio cultural brasileiro, no qual se insere os bens matérias e os sítios arqueológicos, pode ser mapeada desde o Estado Novo, tendo sua concepção variado e sendo mais complexificada ao longo do tempo. Conjuntamente com esses documentos trazemos uma etnografia da prática arqueológica, a qual pretende abordar a atuação de arqueólogos em diferentes contextos, desde os trabalhos de campo, de laboratório, as atividades de educação patrimonial, reuniões com empreendedores e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) dentre outros. Essa etnografia se baseia a partir de uma atuação em projetos de licenciamento ambiental e de entrevistas com arqueólogos que atuam nessa área no Rio Grande do Sul. A partir disso, analisamos como essas ações constituem as Redes Sóciotécnicas emaranhadas nesses relatórios técnicos, e como eles atuam como objetos de poder, de legitimidade e de diálogo entre a ciência arqueológica, o Estado e a Iniciativa Privada.
Revista Área / Aberta, 2017
Este artigo apresenta o trabalho de pesquisa arqueológica realizada nos sítios Arthur Piassoli I ... more Este artigo apresenta o trabalho de pesquisa arqueológica realizada nos sítios Arthur Piassoli I e II, localizados no município de Timbé do Sul/SC. Os mesmos foram identificados, escavados e tiveram suas coleções arqueológicas analisadas durante as etapas de mitigação de impactos ambientais relacionados às obras de pavimentação e implantação da BR-285/RS/SC, trecho São José dos Ausentes/RS - Timbé do Sul/SC. Os resultados deste trabalho apontam que estes sítios representam áreas de atividade de manejo florestal em um sistema de assentamento caçador-coletor, acrescentando novos dados ao contexto pré-colonial do extremo-sul catarinense.
Anais da 30º Reunião Brasileira de Antropologia, 2016
A influência do mercado, do sistema capitalista e de políticas desenvolvimentistas na Ciência de ... more A influência do mercado, do sistema capitalista e de políticas desenvolvimentistas na Ciência de modo geral, não é nem novidade nem surpresa.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau de Pós-... more Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de grau de Pós-Graduado em Arqueologia Brasileira pelo Instituto de Arqueologia Brasileira e a Faculdade Redentor. Orientadora: Prof. Dra. Sheila Mendonça de Souza Belford Roxo, 2016 2 Resumo O presente trabalho de conclusão de curso pretende discutir a questão da morte e das práticas funerárias entre os Guarani da região sul do Brasil. Leva-se em conta tanto dados arqueológicos quanto etnológicos no que tange essa problemática. O objetivo é um diálogo entre duas formas distintas de analisar e obter dados a respeito desta temática a fim de obtermos um panorama mais amplo sobre esta questão, podendo notar continuidades, rupturas e sincretismos destas práticas ao longo do tempo. Questões éticas da pesquisa com restos humanos Guarani também são discutidos. Palavras-Chave: Arqueologia, Etnologia, Guarani.
Filme de mim mesmo: a multidimensionalidade do artista no filme Eu Não Estou Lá Graduado em Histó... more Filme de mim mesmo: a multidimensionalidade do artista no filme Eu Não Estou Lá Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Contato: wittmann.marcus@gmail.com. Resumo Neste artigo analisaremos o filme Eu Não Estou Lá, uma "falsa-biografia" de Bob Dylan, do diretor Todd Haynes. Afastamos-nos das análises da Escola de Frankfurt sobre o cinema como carro-chefe da Indústria Cultural, procurando em um contexto mais amplo as redes de interconexão da película. Assim, não apenas o filme em si é analisado, mas também seu contexto de produção e recepção. Através desse panorama poderíamos visualizar e entender o que nos parece ser o âmago do filme: o artista e sua multidimensionalidade.
This article pretends to make some considerations about the analysis of the phenomena of contact ... more This article pretends to make some considerations about the analysis of the phenomena of contact and the ethnicity of two indigenous groups, the Guarani and the Kaingang, of the north coast of Rio Grande do Sul, Brazil. In order to do that archaeological, anthropological and historical informations about those ethnic groups will be considered.
RESUMO: O presente artigo pretende analisar o imaginário construído sobre o indígena através do d... more RESUMO: O presente artigo pretende analisar o imaginário construído sobre o indígena através do discurso histórico sul-rio-grandense nas suas duas grandes matrizes: a matriz lusa e a matriz platina, buscando demonstrar pontos de convergência e divergência referentes ao papel dado aos índios pela historiografia, focando-se nos trabalhos de Moisés Velhinho e Carlos Teschauer. Além disso, procura-se analisar a continuidade desse discurso e fazer um breve estudo interdisciplinar da questão, abordando temas da História, da Antropologia, da Arqueologia e da Filosofia.
Espaço Ameríndio, 2018
Resenha do livro de Rubens Valente "Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indíg... more Resenha do livro de Rubens Valente "Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na Ditadura"
Espaço Ameríndio, 2016
Resenha do livro "A Queda do Céu: palavras de um Xamã Yanomami" de Davi Kopenawa e Bruce Albert.