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Papers by REVEC UFS
Revista de Estudos de Cultura (REVEC), 2024
A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU têm relevância em tod... more A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU têm relevância em todas as áreas da ciência, incluindo as ciências da linguagem. Como edição especial de 2024, a Revista de Estudos de Cultura (REVEC) apresenta o dossiê LINGUAGEM, EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: INTERSECÇÕES E PRÁTICAS PARA OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AGENDA 30 DA ONU, organizado por Raquel Meister Ko. Freitag, Elaine Maria Santos, Ádria dos Santos Gomes, Katherine de Albuquerque Mendonça, Lucas Santos Silva de Mello e Yann Dias da Silva Maia.
Composto por 13 artigos, o dossiê demonstra como as pesquisas nessa área se alinham com os ODS, especialmente nos contextos de educação de qualidade, redução das desigualdades, igualdade de gênero e promoção da paz. Os temas abordados incluem educação linguística intercultural, sociolinguística, ensino de gramática vinculado aos direitos humanos, inclusão de estudantes surdos, internacionalização do ensino superior, uso de tecnologias no ensino de línguas e análises literárias com enfoques de gênero e raça. Destacamos como as pesquisas em ciências da linguagem podem contribuir para as dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento sustentável, mesmo quando a Agenda 2030 não é o objetivo explícito. Nossa área reforça o compromisso contínuo com a educação de qualidade, redução das desigualdades e promoção da paz por meio dessas investigações.
Revista de Estudos de Cultura, 2024
O chamado longo século XIX, conceito ancorado numa compreensão dilatada do tempo cronológico e at... more O chamado longo século XIX, conceito ancorado numa compreensão dilatada do tempo cronológico e atenta às mudanças e questões de formação do mundo sociopolítico e do estabelecimento do capitalismo liberal, tem suscitado vigoroso interesse por novos temas e problemas e mesmo a revisitação a velhas questões. Ademais, tem sensibilizado e mobilizado historiadores com diferentes olhares, fontes e metodologias de pesquisa histórica, efetivando-se no aumento expressivo de obras, artigos, coletâneas, congressos e simpósios específicos sobre o período. Diante de tema de tamanha relevância, a Revista de Estudos de Cultura apresenta ao público o Dossiê O LONGO SÉCULO XIX NOS TRÓPICOS: POLÍTICA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL OITOCENTISTA, organizado por Edna Maria Matos Antônio (UFS) e Francisco Gleison da Costa Monteiro (UFPI), que reúne um conjunto de artigos produzidos por pesquisadore(a)s de várias parte do país em torno das dinâmicas administrativas, políticas, econômicas e sociais próprias à historicidade do período imperial brasileiro e suas questões. Convidamos também a todo(a)s para a leitura dos artigos do Fluxo Contínuo, que versam, nesta edição, sobre assuntos relativos a questões políticas, sociológicas, de gênero e educacionais.
Revista de Estudos de Cultura (REVEC), 2023
A internacionalização do Ensino Superior precisa ser entendida como um processo que extrapola as ... more A internacionalização do Ensino Superior precisa ser entendida como um processo que extrapola as ações de mobilidade acadêmica e inclui discussões voltadas para a integração da dimensão internacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão (KNIGHT, 2003), chegando até mesmo a ser entendida, por muitos pesquisadores, como a quarta missão das universidades (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2012). A ampliação das discussões nessa área ganharam fôlego com a inserção de temas como Internacionalização em Casa (BEELEN; WALENKAMP, 2018) e Internacionalização abrangente (HUDZIK, 2011), demonstrando a necessidade de envolvimento de toda a comunidade acadêmica e de reestruturação interna, para que ações mais sólidas possam ser implementadas. Nesse contexto, com a interconexão entre Internacionalização e plurilinguismo, o estreitamento de discussões entre as áreas de Relações Internacionais e os Departamentos de Letras Estrangeiras/Adicionais passou a ser cada vez mais intenso e preocupações com a criação e execução de Políticas e Planejamentos Linguísticos começaram a ser mais recorrentes, principalmente após o estímulo dado Pelo Programa Idiomas sem Fronteiras, em 2017, para que Políticas Linguísticas institucionais fossem criadas e apresentadas como pré-requisito indispensável para as IES interessadas no recredenciamento ao IsF. Diante do contexto apresentado, para este dossiê temático, convidamos pesquisadores/as que atuam na área da Linguística Aplicada (Crítica), da Sociolinguística, da Educação e de áreas afins a submeterem artigos/resenhas/entrevistas, que sejam textos inéditos e que, dentre outras possibilidades, estejam relacionados às seguintes temáticas: a) Internacionalização do Ensino Superior; b) políticas e planejamentos linguísticos; c) educação linguística; d) multilinguismo e plurilinguismo; e) Programa Idiomas sem Fronteiras e/ou Rede Andifes IsF; f) mobilidade acadêmica e PLE/PLA; g) inter/trans/multiculturalidade; h) formação de professores de línguas no contexto da internacionalização.
Revista de Estudos de Cultura (REVEC), 2023
A Revista de Estudos de Cultura (REVEC) apresenta sua mais nova edição, com o dossiê Élie Stéphen... more A Revista de Estudos de Cultura (REVEC) apresenta sua mais nova edição, com o dossiê Élie Stéphenson, escritos de guianidade, organizado pelo(a)s professore(a)s Dennys Silva-Reis (UFAC); Danielle Grace Almeida (UFRN) e Rosária Costa Ribeiro (UFAL). O dossiê apresenta 10 (dez) artigos e uma resenha sobre o escritor guianense de língua francesa Elie Stéphenson. Poeta, dramaturgo, romancista, contista, músico e militante, o autor tem vasta produção ainda desconhecida em território brasileiro e pouco pesquisada nos estudos francófonos. Assim, esta edição visa contribuir para que esta lacuna possa diminuir nos Estudos Literários. Este número traz também 6 (seis) artigos sobre temas variados na seção “Fluxo Contínuo”. Aproveitem a leitura.
Revista de Estudos de Cultura, 2022
Para finalizar este ano em que comemoramos o centenário de nascimento de José Saramago (1922-2010... more Para finalizar este ano em que comemoramos o centenário de nascimento de José Saramago (1922-2010), e em homenagem aos trinta anos da publicação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a REVEC apresenta ao público o dossiê “O Evangelho Segundo Saramago”, organizado pelos professores Jaime Bertoluci (Instituto de Estudos Avançados, USP) e Jean Pierre Chauvin (Escola de Comunicações e Artes, USP).
De acordo com os organizadores, as polêmicas em torno deste célebre romance dividiram a opinião pública e pautaram um debate acalorado de caráter moralista que se estendeu para além do Parlamento Português. Apesar das tentativas de boicote à circulação do livro, a obra ganhou repercussão internacional e pavimentou a conquista do Prêmio Nobel sete anos depois. Este dossiê apresenta alguns textos inéditos, decorrentes de uma série de palestras proferidas em dezembro de 2021 durante o webinário “O Evangelho Segundo Saramago” — patrocinado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo —, sendo enriquecido por contribuições de outros especialistas na obra do escritor. A iniciativa contou com o apoio da Fundação José Saramago e integrou as atividades comemorativas do centenário do autor. Na seção de Fluxo Contínuo, apresentamos cinco artigos de temática variada, abrangendo campos como a história cultural, a história da educação e direitos linguísticos.
Revista de Estudos de Cultura, 2022
Neste ano em que comemoramos 10 anos do Núcleo de Estudos de Cultura dea UFS, anunciamos a public... more Neste ano em que comemoramos 10 anos do Núcleo de Estudos de Cultura dea UFS, anunciamos a publicação da mais nova edição da REVEC (Revista de Estudos de Cultura): o dossiê “A epopeia nas Américas”, organizado por Christina Ramalho (Universidade Federal de Sergipe) e Juan Héctor Fuentes (Universidad de Buenos Aires).
O dossiê “A epopeia nas Américas” buscou reunir artigos com reflexões sobre obras épicas produzidas nas Américas, abrangendo expressões épicas em língua espanhola, francesa, inglesa e portuguesa, de modo a oferecer possibilidades de reconhecimento: de algumas matérias épicas presentes no contexto dessa produção; da presença de imagens míticas e sua relação com as heranças coloniais; das representações da história; das representações do heroísmo épico em diferentes contextos culturais e nacionais nos continentes americanos; e, de forma especial, das possíveis relações entre os modelos épicos homéricos e europeus em geral na configuração dessas obras, destacando processos como a intertextualidade, a emulação, o anacronismo e possíveis inovações que configurem traços específicos da epopeia nas Américas. Esta nova edição também traz artigos de temática variada, submetidos ao nosso fluxo contínuo. Aproveitem a leitura.
Revista de Estudos de Cultura, 2021
Na condição de gênero letrado surgido na Inglaterra do século XVI, o conceito de utopia designa u... more Na condição de gênero letrado surgido na Inglaterra do século XVI, o conceito de utopia designa um território insular regido por pressupostos datados. A categoria, em seguida, passou a designar diferentes projeções de natureza política que repensavam e/ou contrariavam o status quo. As distopias, por sua vez, retratam situações opressivas/violentas, pois elaboram ou amplificam expedientes como o uso da técnica, a alienação e o autoritarismo. Figurações utópicas e distópicas ganharam novo impulso no século XX, quando genocídios e autoritarismos impuseram reflexões de ordem variada sobre a vida em sociedade.
Com o presente dossiê, intitulado Projeções utópicas e distópicas na história, a REVEC (Revista de Estudos de Cultura) apresenta ao público um conjunto de artigos cujo objeto, ficcional ou não, atenta para o caráter arbitrário das escolhas humanas em seus diferentes desdobramentos.
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2021
A descida ao mundo dos mortos (katábasis entre os gregos, descensus entre os latinos) é um expedi... more A descida ao mundo dos mortos (katábasis entre os gregos, descensus entre os latinos) é um expediente ou um topói longevo que remonta aos anti- gos mesopotâmicos e egípcios. Sabemos disso desde o século XIX, quando arqueólogos desenterraram plaquinhas com cuneiformes e exploraram câmaras funerárias de antigos faraós. Episódios como a descida de Ishtar ao Kurnugu, a trajetória da barca solar e a batalha contra as forças do caos durante as horas noturnas, a catábase dos heróis gregos e romanos em busca de informações junto aos mortos, a viagem de Dante Alighieri pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, permitem que o estudioso se aproxime de descrições do mundo ctônico, do Hades, dos infernos, e consiga vislumbrar as expectativas e projeções datadas de uma determinada cultura, afinal, as características do além dizem muito sobre a maneira como esses povos concebiam a existência, o comportamento dos vivos e, portanto, o sentido da vida. Efetuada por meio de rituais mágicos, hecatombes ou ainda por intermédio de sonhos ou do favor divino, a descida à mansão dos ínferos poderia ser realizada por deuses, heróis, mas também por homens comuns. A catábase, ou o descensus, pode ser pensada também como metáfora da condição humana, como indício de uma grande provação ou sofrimento, como alegoria de uma jornada expiatória ou transformadora que revela os valores de uma época, como tópica artística capaz de evidenciar estilos ou aspectos estéticos das obras, bem como também de engrenagens sociais.
REVEC (Revista de Estudos de Cultura), 2020
A pandemia provocada pelo vírus Covid-19 reafirmou uma máxima da história da saúde, a de que as d... more A pandemia provocada pelo vírus Covid-19 reafirmou uma máxima da história da saúde, a de que as doenças são também fenômenos sociais. Assim, assistimos, desde os primeiros momentos e efeitos do fenômeno pandêmico a uma rápida resposta das ciências humanas no sentido de tentar interpretar como as sociedades reagiram às drásticas alterações que repercutiram nas esferas econômicas, políticas e culturais. Buscando explicar os traumas do tempo presente, foi necessário procurar qualquer experiência análoga, no passado, para um diálogo com os ineditismos que experimentávamos em 2020. Reflexo deste quadro que observamos no Brasil e em vários países é o dossiê que apresentamos à comunidade. Reunimos trabalhos em torno das doenças e epidemias, referente aos mais diversos períodos históricos e abordagens. De maneira multidisciplinar, cientistas da história, sociologia, psicologia, letras e pedagogia trouxeram à luz um variado conjunto de reflexões e propostas para a sociedade. Encontramos discussões sobre a presença das doenças na literatura e nos discursos presentes nos artigos “O desengano: Medicina acadêmica e curandeirismo em Sergipe no século XIX”, produzido por Amâncio Cardoso “Entre a biblioteca e a clínica: Patoogias no imaginário literário do naturalismo”, de Rodrigo Donizeti Mingotti “Doenças e distopias, doenças nas distopias, distopias nas doenças”, de Amanda Berchez e “Grandes males pedem grandes remédios: A peste num Sermão do padre Antônio Vieira” de Porfírio Pinto. Em torno das práticas de curar e suas instituições apresentamos os textos “Enfermidades e epidemias na América portuguesa: A companhia de Jesus e o combate às Doenças” e “Lepra, doença milenar: A profilaxia da lepra em Santa Catarina (1930-1940)”. O texto “Estratégias de família: Entre a interdição religiosa e a científica à prática da endogamia nas Minas Gerais em fins do século XIX”, de Gabriel Afonso Vieira Chagas, propõe um exame sobre o impacto social da produção do conhecimento médico da sociedade mineira. Uma reflexão panorâmica sobre a historiografia da saúde e escravidão nos é oferecida no artigo “Escritos sobre saúde e escravidão: A saúde dos escravizados, do pragmatismo senhorial no Brasil do século XIX ao novo domínio da história no século XX e XXI”, de Bárbara Barbosa dos Santos e Carlos de Oliveira Malaquias. As imbricações entre a saúde, ciência e a educação são costuradas nos textos “Modelos distintos e conciliações necessárias: Os cuidados com a saúde dos escolares (1910-1930)” dos autores Henrique Mendonça da Silva e Heloísa Helena Pimenta Rocha , “Acorrentado pela lepra: O leprosário de Marituba em meio às práticas de cura e educação (1940- 1970)” escrito por Moises Levy Pinto Cristo em parceria com Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França, e “A abordagem histórica da saúde em livros didáticos de ciência: um olhar para o PNLD/2017” produzido por Jéssica Amanda Lourenço dos Santos, Natália Lami Zanettini, Fabíola Rodrigues Oliveira do Nascimento e Rafael Cava Mori. A recente discussão que orbita a arquitetura da saúde está inscrita no estudo “Da casa de hospitalidade ao hospital: Arquitetura e saúde na Europa nos alvores da modernidade” por Joana Pinho. Sobre os conflitos e mazelas sociais intensificados pela pandemia de 2020, o artigo “Baile de máscara não é para preto de favela: Necropolítica, pandemia [NARCO]neopentecostalismo e resistência”, de Rosangela Hilário, Igor Ribeiro e Márcio Caetano, percorre as ambiências do Rio de Janeiro e lança luz sobre o lugar das populações marginalizadas frente as desigualdades e desarranjos da doença, que tornaram mais frágeis as condições dos que já experienciavam a vulnerabilidade. Este Dossiê cumpre a proposta inicial de acolher estudos interdisciplinares na perspectiva de oportunizar debates que perpassam a sociedade, as doenças e epidemias. Na convicção de que esses olhares transmitidos possam motivar outras e novas reflexões, desejamos a todos e todas uma boa leitura.
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2020
Representações letradas do terror podem ser identificadas em diferentes gêneros discursivos, nos ... more Representações letradas do terror podem ser identificadas em diferentes gêneros discursivos, nos mais variados registros estilísticos e formais. Do repertório da antiguidade ao corpus da literatura contemporânea, nos diferentes usos da tópica do locus horrendus, ou como elemento de sedução na estética romântica, expressões poéticas do terror aparecem em variadas práticas culturais eruditas passíveis de serem alcançadas pela história literária.
Considerada a presença de elementos terríficos nos poemas de Homero, nos romances góticos do século XVIII, e a afirmação de um gênero próprio no século XX - a “literatura de terror” -, o estudo da temática aponta para a longevidade de procedimentos, técnicas e dispositivos que se reconfiguram historicamente. As respectivas modalidades de recepção, que acompanham esta dinâmica de transformação, indicam como o construto retórico-poético mobilizado para o deleite e a instrução se converte em mecanismo literário de comoção psicológica. A perspectiva da longa duração sugere que a disposição para a excitação dos ânimos amparada pelo interesse do público é recorrente em diversas linhagens textuais nas quais o medo é representado, mas também indica que categorias como “obra”, “leitor” “texto” e “autoria” são tão instáveis quanto as expressões do terror impressas em nossa cultura letrada.
Neste dossiê da revista Revec, o terror é apreciado em variantes tão distintas quanto atraentes. Os artigos aqui reunidos são contribuições valiosas para a análise das formas desta matéria mutável, mas, ao que tudo indica, recorrente. Em “Construções do locus horrendus nas Historiae, de Tácito”, Frederico de Sousa Silva estuda alguns expedientes retóricos e estilísticos utilizados por Tácito na elaboração do Livro das Histórias. Sua atenção volta-se especialmente para as convenções que foram empregadas na formulação de loci horrendi, de lugares horrendos associados a acontecimentos do ano 69 de nossa era, momento de grandes disputas que desembocaram na guerra civil romana.
No segundo artigo, Jerry Santos Guimarães e Marcello Moreira analisam a tópica da covardia e sua associação com a “gente miúda” a partir de crônicas ibéricas escritas à época da Dinastia de Avis, atribuídas a Fernão Lopes, Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina. Para tanto, os autores foram buscar as características deste vício nos escritos de Aristóteles e Flávio Vegécio, mas também nas recomendações jurídicas presentes nas Siete Partidas, escritas no século XIII, e nas Ordenações Afonsinas, promulgadas no século XV.
No artigo “Demônios e heresia na ‘Relação da Missão da Serra da Ibiapaba’, do Padre Antônio Vieira”, Fernanda Cristina Santos recorre a um relato de Vieira sobre tentativas de catequizar os indígenas tabajaras, analisando a maneira como seus costumes e crenças foram relatados por meio de uma linguagem cristã e para a forma como o inaciano assinala a possibilidade de aliança entre indígenas e holandeses, o que poderia servir de obstáculo à missão catequética no Novo Mundo.
Em “The Mysteries of Udolpho: o sobrenatural como problema literário”, Lainister de Oliveira Esteves retoma e problematiza a recepção inicial do terceiro romance escrito pela escritora inglesa Ann Radcliffe, atentando-se para o debate sobre o sobrenatural e sua centralidade no desenvolvimento do romance e da crítica literária no século XVIII. O autor do artigo demonstra que a “maquinaria sobrenatural” ampara-se em códigos concebidos com vistas à recepção, ou seja, as críticas e diálogos subsidiados no século XVIII ajudaram a definir e redefinir as regras e possibilidades da imaginação ficcional, o que pressupõe o decoro, mas também o consumo de literatura e uma nova maneira de se conceber a ideia de autoria.
No texto “A ilha como locus horrendus e Edgar Allan Poe”, Cleber Felipe volta-se para o romance de Poe intitulado The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket (1838), que, dentre vários temas envolvendo motins, tempestades, ataques de animais selvagens, antropofagia, naufrágios etc., relata uma experiência vivenciada na sombria ilha de Tsalal. O autor avalia algumas leituras psicologizantes e biografistas, analisa as particularidades do romance e, em seguida, estuda a representação deste território insular e de seus habitantes levando-se em consideração dois lugares-comuns que Edgar Alan Poe retomou: a obrigação da hospitalidade e o locus horrendus.
O artigo de Daniel Augusto P. Silva e Júlio França, “Nas origens do romance e do gótico no Brasil: O terror radcliffeano em Teixeira e Sousa”, analisa algumas convenções góticas presentes nos romances O filho do pescador (1843) e Trades de um pintor ou As intrigas de um jesuíta (1847), ambos de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa. A foco da análise recaiu sobre um artifício, recorrente à época, denominado “sobrenatural explicado”, tradicionalmente relacionado a Ann Radcliffe.
Em “Deus, Natureza e Pátria: A Confederação dos Tamoios”, Jean Pierre Chauvin analisa a invenção, disposição e elocução do poema épico de Gonçalves de Magalhães e mapeia alguns lugares-comuns que amparam a formulação de cenários amenos e horrendos. O autor reconheceu que a obra em questão pode ser lida como uma epopeia, mas concebeu suas particularidades sem negligenciar o projeto político de D. Pedro II, as convenções românticas e outras particularidades históricas do século XIX.
No artigo “O Monstruoso em O Ouro do Reino: A Arte Monumental Generalizada de Wagner e Kandinsky e seu Páthos”, Marcus Mota discute a produção de afetos extremos por intermédio de obras multissensoriais, detendo-se sobretudo no diálogo entre Richard Wagner e Wassily Kandinsky.
Em “Sombras gótico-decadentistas em Esquifes, de Dario Veloso”, Hélder Brinate Castro analisa a faceta obscura e funesta do homem por meio da obra de Dario Veloso, investigando a criação de personagens cruéis e monstruosas que desafiam os limites entre o natural e o sobrenatural, entre a razão e a loucura.
Mónica Ganhão, no artigo “Ana Plácido e o terror da consciência feminina ‘Às Portas da Eternidade’”, analisa a atmosfera sombria e gótica presente em “Às Portas da Eternidade”, da romancista portuguesa oitocentista Ana Plácido, esposa do renomado literato Camilo Castelo Branco. A prática do suicídio, decorrente de uma desilusão amorosa, é o elemento chave deste drama psicológico feminino.
Em “O cotidiano macabro: elementos do terror no conto “El chico sucio”, de Mariana Enríquez”, por fim, Rodrigo de Freitas Faqueri e Daniele Ap. Pereira Zaratin analisam a presença do terror no conto “El chico sucio”, obra de 2016 escrita pela autora argentina Mariana Enríquez. O texto reflete sobre os lugares da miséria, da violência e das crenças populares se afinam aos procedimentos do gótico-terror-horror.
Assim dispostos, os artigos abordam os vários aspectos que fazem do terror elemento atraente para públicos de diferentes épocas e contextos. Boa leitura!
Cleber Vinicius do Amaral Felipe (INHIS-UFU)
Lainister de Oliveira Esteves (INHIS-UFU)
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019
Este dossiê vincula-se a um projeto de investigação e preparação da obra completa do Marquês de P... more Este dossiê vincula-se a um projeto de investigação e preparação da obra completa
do Marquês de Pombal, em 32 volumes criticamente anotados (“Para a construção de
um corpus pombalino: Part I – Os textos historiográficos do Marquês de Pombal” (FCT
– PTDC/HAR-HIS/32197/2017). O projeto busca fazer o levantamento de toda a obra
escrita do Marquês de Pombal ou por ele diretamente inspirada e preparar uma edição
criticamente anotada e atualizada, promovendo assim uma renovação dos estudos
pombalinos por meio de uma abordagem interdisciplinar, para além das visões parciais
motivadas pelas paixões polêmicas que ora desvalorizaram, ora supervalorizaram o
significado de sua ação. Foram compilados artigos relacionados aos escritos pombalinos
relativos à instrução pública, de modo geral, e ao ensino de Humanidades de modo
particular, responsáveis pelo que se convencionou chamar, na historiografia
educacional, de reformas pombalinas, bem como à sua repercussão no Brasil.
Foi durante o governo pombalino que se institucionalizou o ensino de
humanidades em Portugal, bem como a instrução comercial e militar. Podemos dizer,
assim, que a governação pombalina foi um divisor de águas na história da educação de
Portugal e seus domínios, uma vez que, pela primeira vez, não só reformou o ensino das
línguas clássicas e institucionalizou o ensino da língua materna, com a regulamentação
das escolas menores, mas também o das línguas estrangeiras modernas, isto é, das então
chamadas “línguas vivas” (francês e inglês), que passaram a constar os planos de estudo
dos cursos recém-criados de instrução comercial e militar. Contudo, ao contrário do que
certa historiografia educacional faz acreditar, não havia, propriamente, uma política
pombalina de instrução pública, embora a conjuntura histórica e os problemas de ordem
prática que o ministro de D. José teve que enfrentar forçaram-no a tomar medidas
legislativas que, do ponto de vista educacional, iriam modificar fundamentalmente a
estrutura estabelecida pela tradição jesuítica, o que fez com que Portugal, em muitos
casos, tomasse a dianteira dos outros países da Europa nessa matéria.
Abrimos este dossiê com o artigo O PAPEL DA EDUCAÇÃO PARA A
EMERGÊNCIA DE UM HOMEM NOVO NA ÉPOCA DAS LUZES:
antecedentes teóricos e aplicações práticas no projeto político pombalino, escrito
por Susana Mourato Alves-Jesus. Nele, a autora discute a valorização da educação no
âmbito do pensamento português do século XVIII e o modo pelo qual a reflexão de
alguns autores ajudou à construção de um olhar peculiar sobre a educação enquanto
meio fundamental para a implementação de uma nova sociedade e de um renovado
sentido político. Os antecedentes teóricos trabalhados foram articulados com as amplas
reformas pombalinas do ensino, que intentaram, em certa medida, ainda que sob o signo
das suas idiossincrasias, afirmar o sentido racionalizante e modernizante que os ideais
educativo-pedagógicos da época postulavam.
Em seguida, em A OBLITERAÇÃO DE ARISTÓTELES NAS REFORMAS
POMBALINAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, Paula Carreira, tomando
como base a publicação do Compêndio Histórico do Estado da Universidade de
Coimbra (1771) e dos Estatutos de 1772, analisa o modo pelo qual a construção
propagandística pombalina de pendor antijesuítico aproveitou o debate intelectual que
se vinha consolidando, sobretudo desde o século XVII, para associar negativamente a
figura do estagirita aos Jesuítas, através do seu ensino de matiz escolástico. A
pesquisadora destaca que a influência do legado aristotélico no contexto medieval e
escolástico posterior constitui-se como argumento forte no combate ao edifício
pedagógico inaciano, sendo, por isso, repudiado pela política reformista de Pombal.
No texto O COMÉRCIO NAS REFORMAS POMBALINAS DA
INSTRUÇÃO, Thadeu Vinícius Souza Teles relaciona o comércio às reformas
empreendidas por Sebastião José de Carvalho e Melo na instrução pública, a partir de
fontes históricas, bibliográficas e documentais, de modo a compor um breve panorama
para facilitar a compreensão do lugar do comércio nas medidas pombalinas,
especialmente nas Aulas de Comércio. Notou-se que, na medida em que Pombal
priorizou o comércio nas iniciativas da instrução, ele educou o trabalho nacional e
fomentou uma das primeiras manifestações formais de instrução comercial na Europa.
Elaine Maria Santos, em AS REFORMAS POMBALINAS DA INSTRUÇÃO
PÚBLICA NO BRASIL: um caso de fracasso?, apresenta, de forma sucinta, as
principais peças legislativas do período pombalino no que se refere à instrução pública,
analisando as dificuldades de implantação das Reforma Pombalinas no Brasil e
discutindo sobre a eficácia das ações desenvolvidas em terras brasileiras. Após uma
análise da legislação e da bibliografia relacionada a essa temática, fica claro que, apesar
de não ter se estendido a todo o território Brasileiro, as reformas pombalinas não podem
ser consideradas como um caso de fracasso, uma vez que o sistema educacional vigente
é reflexo de muitas das determinações verificada no período josefino, que teve o
Marquês de Pombal como um de seus maiores expoentes.
O artigo OS LIVROS DIDÁTICOS NA CAPITANIA DA BAHIA ENTRE AS
REFORMAS POMBALINAS E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA (1759-
1822), escrito por Pablo Antonio Iglesias Magalhães, objetiva identificar e analisar os
livros didáticos que circularam na Capitania da Bahia, desde o início das reformas
pombalinas na educação portuguesa (1759) até a eclosão da Guerra de Independência
naquele território ultramarino. O autor comprova que os manuais escolares foram
pensados e produzidos como instrumentos políticos, usados para legitimar a
manutenção da administração, da língua, da religião e dos costumes metropolitanos
sobre a América portuguesa.
No caso de MULHERES SERGIPANAS NO PERÍODO POMBALINO: uma
análise a partir de inventários do século XVIII, Vera Maria dos Santos, Simone
Silveira Amorim e Ana Carla dos Santos Cardoso analisam a vida de três mulheres
da elite setecentista sergipana: Leonor Rodrigues Fraga (1752), Izabel de Barros Lima
(1753) e Maria Cardozo de Oliveira (1762). Para o estudo do comportamento das
famílias setecentistas sergipanas, na época pombalina, os inventários judiciais das três
mulheres mencionadas foram analisados à luz do “paradigma indiciário” de Ginzburg
(1989).
As questões relacionadas à capitania de São Paulo na segunda metade do século
XVIII são tratadas no artigo A APLICAÇÃO DOS PADRÕES DE ENSINO
PROPOSTOS PELO MARQUÊS DE POMBAL NA CAPITANIA DE SÃO
PAULO. Renata Ferreira Munhoz e Renata Ferreira Costa trabalharam com a
análise de um ofício manuscrito enviado pelo Morgado de Mateus ao Marquês de
Pombal, no qual o governador, de maneira metalinguística, aborda a sua produção
manuscrita autógrafa em sua secretaria de governo. A partir de documentação
manuscrita, inferem-se circunstâncias de cunho ideológico associadas à configuração da
reforma do ensino na capitania de São Paulo da segunda metade do século XVIII.
Em O ANTAGONISTA POMBAL E O DISCURSO DE DEFESA DA
FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO, Cristiane Tavares Fonseca de Moraes
Nunes destaca o papel do Marquês de Pombal em oposição ao protagonismo jesuítico
vigente e a construção de uma nova identidade nacional gestada sob a luz da ciência e
da razão, com lócus privilegiado para a Universidade de Coimbra, que assumiu a função
de força motriz do progresso, alicerçada na ciência e nos ideais iluministas que dariam
suporte a um projeto de nação.
Fechamos esta edição com o texto, escrito em inglês, MARQUIS OF POMBAL
WITHIN REPRESENTATIONS: an analysis of Brazilian scientific journals and
books, de Nayara Stefanie Mandarino Silva e Elaine Maria Santos. As autoras
apresentam os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento, na qual foram
levantados e analisados artigos científicos publicados em periódicos e escritos por
autores brasileiros sobre Pombal e, a partir deste levantamento, analisaram o modo pelo
qual ele é representado. A análise dos 341 textos encontrados mostra o Marquês de
Pombal, sob diversos ângulos, desde como proto-fundador do Brasil até o de destruidor
da educação, de modo a ser possível perceber como essas representações são
construídas e solidificadas com o tempo.
Tenham todos uma boa leitura.
Os organizadores
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019
A publicação XIV da Revec – Revista de Estudos de Cultura da UFS – Universidade Federal de Sergip... more A publicação XIV da Revec – Revista de Estudos de Cultura da UFS – Universidade Federal de Sergipe apresenta em 2020 o dossiê RELAÇÃO COM O SABER. Nele, propomos reflexões sobre uma questão antiga, que segundo Charlot (2005, p. 35-36) “atravessa a história da filosofia clássica, pelo menos até Hegel.
Buscando revisitar os fundamentos epistemológicos e metodológicos da pesquisa biográfica em educação, a pesquisadora Doutora em Ciências da Educação pela Université Paris VIII, Christine Delory-Momberger, abre a edição com LA CONSTRUCTION PARTAGEE D’UN SAVOIR DU SINGULIER que levanta questões sobre a natureza do saber reivindicado pela pesquisa biográfica e seu processo constitutivo. Nesse artigo a autora reafirma a especificidade e a centralidade do fato biográfico nos processos de individuação e socialização, questionando o campo de conhecimento aberto à pesquisa biográfica.
Em DIMENSÕES E PROPRIEDADES DA RELAÇÃO COM O SABER: o desenvolvimento de um sistema de sentidos, os Doutores Wellington Hermann (UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná), Marinez Meneghello Passos (UEL – Universidade Estadual de Londrina) e Sergio de Mello Arruda (UEL – Universidade Estadual de Londrina) desenvolvem novos elementos da noção de Relação com o Saber nomeados de propriedades matemáticas de reflexividade e a transitividade, articuladas para a constituição de um sistema de sentidos. Para tratar desses elementos e discutir a constituição do sistema de sentidos os pesquisadores utilizaram os resultados de uma investigação desenvolvida com estudantes de um curso de licenciatura em Matemática de uma universidade estadual paranaense.
Os resultados parciais de uma pesquisa de mestrado em andamento, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Sergipe (PPGECIMA/UFS) é o mote para A RELAÇÃO COM O SABER DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM UM PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA, assinado pela pesquisadora Maria Cristina Rosa (PPGECIMA/UFS) e pelas professoras Doutoras Denize da Silva Souza e Veleida Anahi da Silva, ambas docentes na UFS – Universidade Federal de Sergipe. O estudo analisa os sentidos e significados construídos por professores de matemática em “Oficinas de Matemática”, um projeto de extensão vinculado ao PPGECIMA/UFS para a formação continuada de professores da rede pública de alguns municípios do estado de Sergipe.
Do sul do Rio Grande do Sul é o artigo POR QUE ESTOU AQUI? O sentido dos estudantes em uma aula de matemática, assinado pelas professoras pesquisadoras Janice Rubira Silva (Universidade Federal de Pelotas – UFPEL) e Débora Pereira Laurino (Universidade Federal do Rio Grande – FURG). As análises a partir dos discursos de alunos do Ensino Fundamental de uma escola pública do município de Rio Grande/RS, produzidos em uma aula de Matemática e tratados segundo a Biologia do Conhecer e a teoria da Relação com o Saber, permitiram o entendimento de que o sentido atribuído pelos estudantes em estar na escola está pautado no desejo de conviver com os outros e fundado pela emoção do brincar, assim como na projeção de uma imagem social e/ou da obtenção de êxitos no ato de frequentar esse espaço.
Em ENSINO DE FÍSICA INTERDISCIPLINAR PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: a Relação com o Saber por meio da prática do Goalball, os pesquisadores Willdson Robson Silva do Nascimento (UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), Eanes dos Santos Correia (UFS) e os o professores Doutores Eder Pires de Camargo (UNESP) e Veleida Anahi da Silva (UFS) abordam o processo de construção de um ambiente pedagógico que potencializou o ensino de física para alunos com deficiência visual. A interdisciplinaridade entre o Ensino de Física e o Goalball, esporte criado para cegos, é apresentada como fenômeno social no processo de mobilização da aprendizagem dos alunos de uma escola estadual da capital sergipana.
A RELAÇÃO COM O SABER E O TEMPO PEDAGOGICAMENTE NECESSÁRIO: narrativas de experiência com a educação física escolar, de Luciana Venâncio, Professora Adjunta no Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do Ceará, discute a relação com o saber a partir das narrativas de duas mulheres negras em suas experiências com a educação física escolar. As participantes são ex-alunas de uma escola pública municipal de ensino fundamental, localizada no extremo da zona leste da cidade de São Paulo, em uma das regiões com os mais elevados níveis de desigualdades socioeconômicas (IBGE, 2010). Inicialmente é problematizada a relação com o saber na educação física escolar e a temporalidade das narrativas, estratégia metodológica que permitiu às participantes da investigação explicitar suas emoções, percepções e questões relacionadas à experiência, sem uma descrição linear do tempo cronológico vivido na escola.
Escrito por quatro pesquisadores da Universidade Federal do Ceará; Adriano Ferreira Nobre, Otoniel Carneiro Fernandes, Luiz Sanches Neto e Luciana Venâncio, o artigo REFLEXÕES SOBRE AS APROPRIAÇÕES DOS ELEMENTOS DA TEORIA DA RELAÇÃO COM O SABER NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR também levanta um questionamento sobre a educação física escolar, buscando identificar como a teoria da Relação com o Saber vem sendo compreendida em artigos publicados nessa área no repositório da Revista Movimento (2000-2018). A partir de seis artigos são descritos os contextos, modos e razões de apropriação dessa teoria na educação física, bem como os conceitos de mobilização, sentido e atividade, além da caracterização das figuras do aprender.
No artigo assinado por Eliene Nery Santana Enes Correio, Maria Celeste Reis Fernandes de Souza Correio, Thiago Martins Santos Correio e Renata Bernardes Faria Campos Correio, professores pesquisadores da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), são debatidas as aprendizagens ambientais a partir do desastre sociotécnico que foi o rompimento da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco/Vale-BHP Billiton em 2015, que destruiu vidas humanas e do rio Doce que corta a cidade de Governador Valadares, no estado de Minas Gerais, sudeste brasileiro. RELAÇAO COM O SABER E O RIO DOCE: a marca das aprendizagens relacionais e afetivas buscou compreender a relação que um grupo de jovens estudantes do Ensino Fundamental de escolas públicas dessa região estabelece com o rio Doce como objeto de saber. O rio é por eles entendido como lugar físico, mas também de representação e de produção de sentidos pelos sujeitos.
COMO ALUNOS DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ATRIBUEM SENTIDOS DE IR À ESCOLA dos pesquisadores Eanes dos Santos Correia (UFS), Willdson Robson Silva do Nascimento (UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), e dos professores Doutores Eder Pires de Camargo (UNESP) e Veleida Anahi da Silva (UFS) analisa os sentidos que alunos de um colégio público estadual da cidade de Aracaju/ SE atribuem à escola e ao estudo. Considerando a dimensão epistêmica, identitária e social dos estudantes, o sentido de ir à escola é para a aprendizagem de um determinado saber/disciplina, mas não apenas isso, pois eles também vão com a finalidade de passar de ano, tirar boa nota nas provas e também sair dela, ter um trabalho e/ou passar num curso superior, num futuro próximo.
Em NARRATIVAS DE ESTUDANTES BOLSISTAS: o sentido da universidade e a relação com o saber, as pesquisadoras Karina Sales Vieira (UFS) e Ana Maria Freitas Teixeira (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB) discutem a relação com o saber de estudantes de primeiro e segundo períodos do Centro Universitário AGES (UniAGES), no município de Paripiranga, no estado da Bahia. Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa de mestrado realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe que procurou compreender a relação estabelecida entre estudantes que ingressam em uma instituição privada de ensino superior e a formação universitária, mais especialmente a relação que estabelecem com o saber acadêmico.
No artigo que fecha o dossiê, assinado pelos Doutores João Paulo Camargo de Lima, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Sergio de Mello Arruda (UEL), Marinez Meneghello Passos (UEL) e Roberto Nardi (UNESP), intitulado A RELAÇÃO COM O SABER E A IDENTIDADE DOCENTE, os pesquisadores fazem algumas aproximações entre as pesquisas sobre a Identidade Docente e a temática da Relação com o Saber, de Bernard Charlot. Inicialmente são apresentadas as discussões sobre a Identidade do professor segundo a literatura internacional, sobretudo a de língua inglesa. Em seguida, os fundamentos da Relação com o Saber são então descritos em seu percurso histórico para, posteriormente, embasar uma leitura das principais ideias, questões e elementos que compõem os conceitos relacionados à identidade docente por meio da Relação com o Saber enquanto relação com o mundo, com o outro e consigo mesmo. Diante das aproximações e discussões realizadas nesse artigo é proposta uma possível definição de Identidade Docente a partir dos conceitos presentes em pesquisas fundamentadas na Relação com o Saber.
Os organizadores
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019
É com imensa satisfação que apresentamos mais um número da Revista de Estudos de Cultura, vincula... more É com imensa satisfação que apresentamos mais um número da Revista de Estudos de Cultura, vinculada à Universidade Federal de Sergipe. Desde a publicação de seu primeiro número, nossa equipe editorial sempre deixou claro que nosso propósito maior e mais relevante consiste na possibilidade de sermos um instrumento de ampla divulgação da produção acadêmica de pesquisadores (formados e em formação) brasileiros e internacionais que, de alguma forma, tomem os aspectos culturais em suas mais variadas formas como elemento de suas investigações.
Esse número que ora apresentamos agrega treze artigos submetidos em fluxo contínuo, ao longo do segundo semestre de 2018. Como não há uma temática pré-estabelecida, essa edição da REVEC oferta aos leitores e lei- toras uma ampla gama de temas que envolvem visões diversificadas de cultura em distintos contextos: direito, história, literatura, linguística, filologia, paleografia, Codicologia, filosofia, ensino, entre outros. Além disso, os artigos publicados reúnem resultados de pesquisas de 10 instituições diferentes, entre públicas e privadas, nacionais e internacionais.
Para começar, adentrando ao rol da literatura de Clarice Lispector, Ramon Ferreira Santana (UNIAGES), com seu artigo “Desconstruindo os estudos subalternos: uma leitura do conto “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector”, contribui para os debates acerca dos Estudos Subalternos, especialmente no que se refere aos modos como a questão da subalternidade é representada na Literatura Brasileira, considerando as propostas de Jacques Derrida relacionadas ao princípio da Desconstrução, muito utilizadas pelos Estudos Culturais dentro das suas vertentes mais basilares. O artigo intitulado “Dialética da cegueira”, da autoria de Jean Pierre Chauvin (USP), seguindo no campo da literatura, discute aspectos relacionados ao gênero, ao tema e à fatura de Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, propondo que o romance possa ser enfeixado como exemplar da ficção distópica, em diálogo com A Peste, de Albert Camus.
Já Wéllia Pimentel Santos (Universidad de Salamanca/ Espanha), em “História, Cultura e intolerância acerca das religiões de matrizes africanas no Brasil”, destaca as manifestações religiosas brasileiras e sua forte ligação com as de matriz africana, convergindo-se para apresentação de causas da intolerância religiosa. Em continuidade, Carla Eugenia Caldas Barros (UFS), em “Direito da música: reflexões sobre a lei de imunidade tributária musical constitucional brasileira” traz à tela revelações em que se contrapõem a história da música e a do direito bem como os devenires convergentes e divergentes dessa relação em tempos guia- dos pela internet.
Carlos Böes de Oliveira (University of New Mexico/ EUA) com o artigo “Conflitos à la carte: uma leitura do desviante na obra cinematográfica Estômago” problematiza a construção de uma identidade desviante na personagem Raimundo Nonato, protagonista do filme Estômago. Em cruzamentos interdisciplinares dos saberes antropológicos e a teoria do cinema, salienta o papel do conflito como instrumento de socialização e traz à tona conceitos sobre a posição do receptor acerca da própria narrativa e da construção cinematográfica.
Passando ao campo dos estudos (sócio)linguísticos, Silvana Silva de Farias Araújo (UEFS) e Siméia Daniele Silva do Carmo (UEFS) apresentam relevante investigação sobre a concordância verbal a partir de dados linguísticos de diferentes perfis, a fim de verificar se é possível analisar a distribuição da variável levando em conta a influência de fatores socioculturais e estruturais nessa variação no continuum sociolinguístico brasileiro no artigo intitulado “A concordância verbal com a primeira pessoa do plural no continuum socio- linguístico da Bahia”. Ainda em contexto baiano, em “A expressão variável do futuro e do condicional no semiárido baiano – comparando extremos sociais”, Franciane Rocha (UFOB) e Josane Moreira de Oliveira (UEFS/UFBA) apresentam um estudo realizado em dois extremos de localidade e escolaridade em Feira de Santana, Bahia, com o objetivo de obter um retrato sociolinguístico da produção do futuro e do condicional, considerando sua realidade polarizada tanto social quanto linguisticamente. Tomaram a produtividade da forma ir + infinitivo e a existência de outras formas de expressão do valor futuro na fala dos feirenses.
Na sequência, Lécio Barbosa de Assis (UESB) e Jorge Augusto Alves da Silva (UESB) em seu artigo “O papel da saliência fônica no uso variável da concordância nominal no português afro-brasileiro de Rio das Rãs”, norteados pelos princípios teórico-metodoló- gicos da Sociolinguística Variacionista, analisaram o princípio da saliência fônica na fala de 24 informantes do português afro-brasileiro da comunidade de Rio das Rãs, no município de Bom Jesus da Lapa-BA. Os resultados encontrados permitiram analisar a influência da saliência fônica na variação linguística da comunidade pesquisada, bem como, permitiu um estudo reflexivo- -comparativo com outras pesquisas sobre a variação linguística no Português Brasileiro (PB).
Ainda com estudo centrado em terras de Jorge Amado, Camila dos Santos Reis (UFS) e Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (UFS/UEFS) apresentam o artigo “A variação do léxico dos vaqueiros em Fátima-Bahia” em que, em uma perspectiva de investiga- ção término-lexical e variacionista, analisa os usos de termos específicos da atividade de vaqueiros da região fatimense.
No artigo “Referenciação, argumentação e práticas sociopolíticas: a construção do ethos de um ativista LGBT de Aracaju”, Samuel de Souza Matos (UFS) e Geralda de Oliveira Santos Lima (UFS) discutem sobre a construção do ethos do ativista LGBT da cidade de Aracaju/SE no que tange ao diálogo entre estudos da Referenciação e da argumentação retórica, apontando para uma articulação entre processos referenciais e lugares retóricos, estratégias essas atreladas aos contextos situacional e sócio-histórico amplo das lutas de ativistas LGBT.
Já Ana Claudia de Ataide Almeida Mota (UNIT) apre- senta um pequeno recorte da documentação produzida por Sóror Joanna Angélica de Jesus, religiosa baiana que viveu na cidade de Salvador entre os séculos XVIII-XIX, e se tornou uma importante personagem quando da independência da Bahia no artigo “Escritos da sóror Joanna Angélica de Jesus: Salvador (séculos XVIII e XIX)”. Ainda na esteira filológica, Damares Oliveira de Souza (UEFS) e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) no texto “Descrição dos aspectos paleográficos e codicológicos de um processo crime de roubo e estupro (1914)” apresentam uma breve descrição dos aspectos paleográficos e codicológicos do referido processo crime tendo por suporte suas edições facsimilar e semidiplomática. Desta forma, nessa incursão ao âmbito filológico-paleográfico-codicológico, con- tribuem para a leitura e interpretação de documentos manuscritos.
Por fim, criando uma ponte entre pressupostos da Linguística Cognitiva e o ensino de oralidade na perspectiva dos direitos humanos, André Luiz Faria (UESB) com seu artigo “Oralidade, Direitos Humanos e cognição” defende a ideia de que a conscientização de estruturas de conhecimento armazenadas na memó- ria pode desenvolver nos alunos, por intermédio de atividades com gêneros textuais orais, competências discursivas altamente determinantes em sua formação, de modo a dialogar com as demandas educacionais do século XXI, sobretudo com aquelas diretamente vinculadas à cidadania e aos direitos humanos.
Desse modo, esse conjunto de artigos, respeitando as idiossincrasias de abordagens e temáticas, nos permite aproveitar em múltiplas direções estudos que convergem sobre aspectos culturais.
Boa leitura a tod@s!
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2018
Em seu décimo segundo número, a REVEC (Revista de Estudos de Cultura da Universidade Federal de S... more Em seu décimo segundo número, a REVEC (Revista de Estudos de Cultura da Universidade Federal de Sergipe) congrega docentes e pesquisadores que discutem a interface historiográfica e cultural das Letras (conceito vigente até o final do século XVIII) e da Literatura (a partir do Romantismo). O objetivo deste Dossiê “Letras & História” é dar maior visibilidade à intersecção entre essas e outras áreas do conhecimento, especialmente porque, nos últimos trinta anos, estudos promovidos nas universidades brasileiras têm fomentado a realização de trabalhos de caráter interdisciplinar em diversas instituições. Assim, este número conta com pesquisadores de diversas localidades do país, o que ampliará, consistentemente, a rede de colaboradores dedicados ao tema (Letras e História) e permitirá consolidar novas parcerias institucionais, que estimulem discussões em torno da historiografia, na sua relação com as artes da palavra – a exemplo da retórica e da poética, bem como dos manuais de cortesania –, o estudo das leis, cartas, tratados, etc.
Desse modo, o primeiro artigo que compõe este Dossiê é o de Daniel Vec- chio Alves, que objetiva compreender como Aristóteles opera a síntese entre história e poética a partir da Retórica. Já Cleber Vinicius do Amaral Felipe investiga, em seu estudo, a catábase marítima de Baco n’Os lusíadas (1572) de Camões. Marcus De Martini e Isabel Scremin da Silva, por sua vez, debatem o gênero da História do Predestinado Peregrino e seu irmão Precito (1682), do jesuíta Alexandre de Gusmão (1629-1724), considerando os parâmetros teológico-políticos e retórico-poéticos que engendram a invenção, disposição e elocução dessa obra. Érica Araujo da Costa, em seu trabalho, trata das Lettres Portugaises Traduites en Français (1669) atribuí- das a Mariana Alcoforado, contrapondo as preceptivas retórico-poéticas seiscentistas à posterior crítica oitocentista acerca dessas Cartas Portuguesas. Por seu turno, Patrícia Bastos discute a presença do ut pictura poesis horaciano na composição dos retratos femininos da poesia satírica atribuída a Gregório de Matos. Já o artigo de Rodrigo Gomes de Oliveira Pinto
volta-se para A Doença (1777), de Domingos Caldas Barbosa, um poema de gênero misto em que se interceptam procedimentos compositivos da poesia lírica e da heroica.
Adentrando o século XIX, o trabalho de Jean Pierre Chauvin faz a leitura crítica de um poema em quadras da Marquesa de Alorna, também conhecida como Alcipe portuguesa, com base em critérios retórico-poéticos. E Caio Cesar Esteves de Souza apresenta uma reflexão sobre os mecanismos que a historiografia literária e a filologia/crítica textual empregam, desde o Oitocentos, para construir autores coloniais nas letras latino-americanas. Por sua vez, voltado para a reflexão acerca da literatura contemporânea, o trabalho de Lara Perussi analisa Conhecimento do inferno (1980), de Antônio Lobo Antunes, destacando o diálogo que o romance estabelece com a tradição literária portuguesa, sobretudo no que diz respeito à ressignificação da imagem do mar. Com foco na historiografia literária brasileira dos séculos XX e XXI, Gabriela Simões Pereira examina as perspectivas narrativas e historiográficas adotadas nas obras Do Barroco ao Modernismo – estudos de poesia brasileira (1967), de Péricles Eugênio da Silva Ramos, e Uma história da poesia brasileira (2007), de Alexei Bueno. Já o artigo de Marcelo Lachat e Maíra Ribeiro Maximiano dos Santos propõe uma discussão – não como ponte, mas como abismo – sobre poesia e história em Os lusíadas (1572), de Camões, e Uma viagem à Índia (2010), de Gonçalo M. Tavares. Encerrando este Dossiê, enfim, há o texto de Pedro Marques, um misto de ensaio poético e poesia ensaística, em que o autor discute e demonstra artifícios de composição em versos.
Agradecemos aos colaboradores a confiança em nosso trabalho. Esperamos que os artigos atendam às necessidades dos leitores à cata de ruínas letradas, aos quais este Dossiê é dedicado.
Os organizadores.
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA , 2018
É com essa intenção que organizamos este dossiê temático da Revista de Estudos de Cultura, da Uni... more É com essa intenção que organizamos este dossiê temático da Revista de Estudos de Cultura, da Universidade Federal de Sergipe, com o propósito de divulgar a produção acadêmica de pesquisadores de várias universidades brasileiras e estrangeira, expondo discussões acerca do léxico e da cultura em diferentes perspectivas teóricas e metodológicas.
Sendo assim, este número compila catorze artigos que tratam desde a concepção de cultura, passando por estudos diacrônicos e analíticos do léxico numa perspectiva cultural, sobre os quais segue um breve resumo.
O artigo “Olhar antropológico sobre a cultura – construções mosaicas”, de Leandro Gomes, apresenta visões e construções acerca da cultura através dos tempos, de acordo com a perspectiva teórico-metodológica da Antropologia, com o propósito de desenvolver uma discussão sobre as concepções etimológicas e ideológicas da epistemologia do conceito de cultura. Por meio desse referencial, o debate desenvolvido pelo autor contempla ainda a polifonia de (re)construção da concepção de cultura, considerando a complexidade do termo com suas intencionalidades internas, externas, individuais, coletivas e instrumentais.
O segundo artigo, “O códice Commentariumin apocalipsin (1047) e sua característica linguístico-cultural”, de Carolina Akie Ochiai Seixas Lima, demonstra com as características linguístico-culturais presentes no códice latino Commentarium in apocalipsin, enco- mendado por Fernando I e Dona Sancha, reis de Leão e Castela, como o texto analisado foi um instrumento de poder e persuasão para difundir e relacionar o poder dos monarcas cristãos com os preceitos do texto bíblico do Apocalipse, de modo a induzir o povo a crer no poder divino de reis e rainhas. Por meio da análise das iluminuras, a autora discute criticamente os aspectos linguístico-culturais que marcam as relações de poder existentes entre a monarquia cristã de Fernando I e D. Sancha e muçulmanos e judeus.
No terceiro artigo, “Esquema de ordenação de Hallig e Wartburg: uma avaliação de sua aplicação à análise lexical do português”, César Nardelli Cambraia aplica o esquema de ordenação de Hallig e Wartburg para a análise lexical do diário de Maurício Grabois, escrito durante a Guerra do Araguaia (1972-1973). Embasado nos fundamentos da lexicologia social de Matoré, Cambraia delimita uma hipótese de trabalho e seleciona, com o auxílio de ferramentas computacionais, os cinquenta itens lexicais mais frequentes no diário, com vistas a perceber se há uma correspondência desse léxico no esquema de ordenação de Hallig e Wartburg, provando que essa correspondência inexiste, pois cada cultura e cada época tem seu modo particular de organizar, ordenar e hierarquizar o seu patrimônio lexical.
Em “Unidades fraseológicas na obra Cascalho de Herberto Sales: uma breve discussão sobre os seus aspectos socioculturais”, de Antonio Marcos de Almeida Ribeiro, Liliane Lemos Santana Barreiros e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz, os autores realizam uma aná- lise sociocultural das fraseologias apresentadas na obra Cascalho, obra que retrata o léxico regional da Chapada Diamantina, na Bahia. Pautados no referencial teórico da fraseologia, os pesquisadores discutem o caráter sociocultural das unidades fraseológicas apresentadas nas falas dos personagens da obra, pois por meio dessas lexias é possível perceber ideologias, tradições e práticas que constituem o legado sociocultural da Chapada Diamantina.
Já em “As ofensas verbais na cultura estanciana do século XIX: um estudo sobre os processos-crimes do sul sergipano”, Sandro Marcío Drumond Alves Marengo, Augusto Petrônio Pereira, Mariana Augusta Conceição de Santana Fonseca e Marcos Mateus Cam- pos Mota Nunes apresentam a edição semidiplomática de um processo-crime de ofensa de 1986, ocorrido em Estância- SE. Pautadas na Lexicologia Social, as análises discutem acerca dos itens lexicais usados como ofensa versal e como esse léxico representa a violência da província de Sergipe no século XIX.
No sexto artigo, intitulado “Negrinha, coisa humana: o léxico referente às personagens Negrinha e Dona Iná- cia no conto de Monteiro Lobato”, Amanda Moreira de Amorim e Maria Helena de Paula realizaram uma aná- lise lexicológica no conto Negrinha, com base na teoria dos campos lexicais. A observação do corpus permitiu a composição de cinco campos lexicais que reúnem lexias referentes às personagens Negrinha e Dona Iná- cia e que evidenciam as distinções sociais, étnicas e culturais presentes no conto.
No artigo “Oxumaré e Xangô: a influência religiosa na substituição dos topônimos das ruas do bairro Jardim Sucupira em Feira de Santana-BA”, Natália Oliveira Nascimento e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz desenvolvem uma discussão acerca da substituição dos topônimos feirenses originados das religiões de matrizes áfricas. A partir da seleção de dois topônimos, as autoras concluem que essa substituição assume um caráter de apagamento da cultura negra por meio da renomeação dos espaços com topônimos que remetem a outras culturas.
“O léxico médico nos processos-crime de defloramento”, de Natália Larizza Sanches de Souza, Soraya Carvalho Souza Biller Teixeira, Rafaela Neres de Oliveira e Deyvison Moreira Santos, apresenta a edição filológica de dois processos-crime de defloramento ocorridos em 1893 e 1902, respectivamente, em Aracaju-SE. Depois da edição, é realizado o estudo termino- lógico do léxico médico presente nesses documentos, enfatizando o caráter social, histórico e cultural do léxico empregado pelos médicos na produção dos autos do processo.
No nono artigo, “A cultura do couro no Ceará: um estudo do campo lexical do seleiro”, Ticiane Rodrigues Nunes e Expedito Eloísio Ximenes investigam o léxico do artesão seleiro na perspectiva sociocultural e com a utilização da teoria dos campos lexicais. Os autores constituem o campo lexical cultura do seleiro a partir do corpus coletado em pesquisa etnográfica e discutem acerca das relações semânticas responsáveis pela estruturação do campo, de modo a enfatizar os aspectos linguístico-culturais expressões por meio do léxico do seleiro.
“O campo lexical da política e a criação neológica em textos jornalísticos publicados na Revista Veja”, de Elisângela dos Santos Silva Ribeiro, Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz e Liliane Lemos Santana Barreiros, busca refletir sobre a dinamicidade da língua por meio dos neologismos observados na Revista Veja. As autoras realizam uma análise dos neologismos para a delimitação do campo lexical da política em reportagens veiculadas em 2016, de modo a comprovar como o campo lexical da política amplia seu repertório lexical através das inovações lexicais de seu domínio discursivo.
Já no artigo “Derramamento de águas aos cântaros: um estudo léxico-semântico do vocabulário judaico em textos inquisitoriais do século XVI”, Ana Claudia de Ataíde Almeida Mota descreve, de acordo com a perspectiva léxico-semântica, os vocábulos presentes no Primeiro livro de Reconciliações e Confissões da Visitação do Santo Ofício à Bahia, de modo a constituir os campos semânticos e conceituais do léxico das culpas no âmbito do judaísmo. O léxico delimitado permite observar que as relações léxico-semânticas inventariadas são estabelecidas não apenas por elementos linguísticos, mas também extralinguísticos, divulgando, assim, as práticas do judaísmo.
“Toponímia e ambiente físico: a nomeação de comunidades rurais do sertão nordestino”, de Cézar Néri Santos, descreve e analisa os topônimos do município de Pariconha-AL, desenvolvendo uma análise toponímica dos registros fotográficos de uma pesquisa de campo, que relaciona a linguagem, a cultura e a geografia física para compreender como, de acordo com a classificação de Dick, os topônimos rurais de Pariconha-AL têm a sua nomeação motivada pela geografia natural do município. O autor conclui que a análise toponímica revela o caráter interdisciplinar dessa ciência, pois envolve aspectos linguísticos, geográficos e sócio-históricos imprimidos no léxico estudado.
O artigo “O léxico toponímico pela via filológica: o entrecruzar de língua, cultura e história”, de Bárbara Bezerra de Santana Pereira, desenvolve uma discussão em que reflete sobre a relação entre língua, cultura e história. Essa reflexão é baseada na análise filológica dos topônimos encontrados nas atas da câmara de vereadores de Tucano- BA (1987-1876), em que há uma diversidade desses topônimos, em consonância com a classificação de Dick (1990).
E o último artigo, intitulado “Marcas de inabilidade na escrita alfabética do escrivão jacobinense: um estudo sócio-histórico diacrônico”, de Luzineide Vieira de Sousa, realiza uma análise diacrônica dos desvios de escrita apresentados na redação de uma carta oficial de 1893, manuscrita por um escrivão da então vila de Jaco- bina-BA, que caracterizam a inabilidade do escriba para a produção de textos. No corpus analisado, a autora des- taca como marcas de inabilidade os elementos supragráficos e paleográficos, a segmentação gráfica, a repetição, os aspectos de aquisição da escrita e os fenômenos fono- lógicos; e conclui que essas ocorrências são influências do português popular brasileiro nos escritos da época, o que evidencia também a inabilidade do escrivão, pois são característicos do processo de aquisição da escrita.
Boa leitura a todos!
Organizadores do dossiê léxico e cultura:
Prof. Dr. Expedito Eloísio Ximenes (UECE)
Profa. Dra. Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) Prof. Dr. Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (UFS) Profa. Dra. Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2018
A questão referente à circulação, recepção e apropriação de culturas é latente em todas as épocas... more A questão referente à circulação, recepção e apropriação de culturas é latente em todas as épocas e tem na modernidade vários paradigmas, tanto na poesia quanto na música e nos costumes, com suas variações locais, regionais e nacionais, em contexto rural ou urbano (Burke, 2010). A história cultural, por sua vez, tal como a entende Chartier (2002, p. 16-17), tem como objeto principal “o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”. Assim, ela se constrói sobre três conceitos fundamentais: representação, prática e apropriação. São conceitos de grande funcionalidade para pensarmos o fenômeno que ora nos interessa – as relações entre música e identidade –, uma vez que problematiza as representações como espaços de luta ou disputa pelo poder do discurso, ao mesmo tempo em que deixa de conceber a recepção como uma ato meramente passivo, ou, quando muito, um fenômeno psicológico individual, seja para enfatizar o caráter criativo das práticas cotidianas (Certeau, 1998), seja para marcar a intervenção do leitor, espectador ou ouvinte da obra de arte. Por outro lado, não há como falar de circulação, recepção e apropriação de culturas sem levar em conta a ideia de uma cultura diaspórica, para falar como Hall (2006), uma vez que abrange discursos e manifestações políticas, artísticas e culturais de grupos sociais que têm uma espécie de dupla, ou híbrida pertença, embora tenham nascido e/ou crescido nos guetos e subúrbios de grandes cidades europeias ou norte-americanas. O objetivo deste dossiê é reunir artigos científicos sobre a matéria, no intuito de estabelecer uma periodização relacionada à circulação, recepção e apropriação de culturas estrangeiras no Brasil.
Este número da REVEC, dedicado ao tema “Música e Identidade”, nos Brinda com uma coletânea de artigos instigantes que abordam o tema sob várias perspectivas. Abrimos com o excelente texto de Adalberto Paranhos, A cruzada da purificação nacional contra a Bossa Nova: ecos de um debate, que busca, segundo o autor, evidenciar que ouvir Elomar falar equivale a comprar um bilhete para uma viagem sem volta rumo ao passado, pois suas palavras representam um eco tardio de argumentos esgrimidos por nacionalistas ferrenhos, a exemplo do pesquisador e jornalista José Ramos Tinhorão e outros. No rastro do sucesso da Bossa Nova, entre o fim dos anos 1950 e a década de 1960, a reação se instalou no país, dando início a uma verdadeira cruzada de purificação da música popular brasileira, uma versão à moda da casa de uma espécie de “nazismo cultural”. Escrito fora dos padrões acadêmicos mais ortodoxos, o artigo de Adalberto Paranhos, a partir da crítica às formulações de Elomar, trata do debate do período em torno da Bossa Nova.
Em Eu sou favela, sou/ Eu sou do gueto, sou”: música, identidade, território, Roberto Camargos analisa o modo como os rappers, em seus discursos musicais, contribuíram para o desenvolvimento de noções complexas de pertencimento identitário e territorial. Assim, investiga como alguns deles tencionaram representações, estigmas e duras experiências relacionadas às periferias e favelas, produzindo ideias e imagens positivadas e trabalhando, inclusive, em favor da autoestima de uma população muito numerosa.
“DE FLORES E CHÃOS: OUTRAS TRILHAS DE CAMINHANDO”, de Ravel Giordano Paz, analisa a canção “Pra não dizer que não falei das flores” (mais conhecida como “Caminhando”), do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, buscando ressituá-la em seu contexto histórico imediato e sopesando seu efetivo valor estético, no âmbito e para além desse contexto, a saber, o período imediatamente à instauração do Ato Institucional número 5 pelo regime militar que governava o Brasil.
“SOY LOCO POR TI, AMÉRICA”: TROPICALISMO, MÚSICA E IDENTIDADE LATINO-AMERICANA, aasinado por Éverton Santos e Christina Ramalho, faz uma abordagem do movimento tropicalista no Brasil, da relação entre a América Latina e a produção musical, no que diz respeito às representações identitárias da região, através de uma discussão acerca do viés engajado ou lírico-amoroso/ufanista que envolve a canção “Soy loco por ti, América”, composta por Gilberto Gil e Capinan e gravada por Caetano Veloso, pela primeira vez, em 1968. O artigo, assim, propõe-se a repensar o sentido da música latino-americana de protesto a partir da segunda metade do século XX.
Em seguida, IDENTIDADE E MEMÓRIA NOS VERSOS DA CANÇÃO: O DISCURSO DE ETNICIDADE PRESENTE EM NA LETRA DA CANÇÃO MÃE ÁFRICA, de Sara Rogéria Santos Barbosa, objetiva analisar a construção discursiva étnica negra presente na letra da canção Mãe África (SIVUCA; PINHEIRO, s/n, 1982), uma vez que esta traz em seu bojo traços memorialistas de fortalecimento identitário negro e de pertencimento. Tal sentimento de pertença é percebido na letra da canção a partir da narrativa de um passado não vivido pelo homem do século XX, mas recepcionado como parte de sua ancestralidade, de tal forma que o sentimento que aflora é de saudade de um tempo nunca vivido e um desejo de retornar a uma terra onde nunca esteve.
Carlos Cézar Mascarenhas de Souza, em Opereta verbal do drama cartesiano no teatro da imaginação tropical, aborda dois aspectos que se manifestam na escritura da prosa-poética Catatau, do escritor Paulo Leminski: a teatralidade e a musicalidade. Ao mesmo tempo, visa articular uma leitura interdisciplinar com as contribuições da Psicanálise freudo-lacaniana sobre o problema da “identidade” a partir do discurso enunciado pela personagem Renatus Cartesius, duplo ficcional do filósofo francês René Descartes que, segundo a narrativa desta ficção literária, teria vindo ao Brasil durante o governo de Maurício de Nassau no período das “Invasões Holandesas”, em Pernambuco.
Fechamos este dossiê com MÚSICA PARA DANÇAR NO BRASIL DA DITADURA: do samba ao soul, do soul à disco (1970-1979), escrito por Luiz Eduardo Olievira e Lázaro da Cruz Santos. O artigo, resultante de uma pesquisa de Inciação Científica, busca investigar os modos pelos quais a “soul music” e a cultura disco foram apropriadas no Brasil, sobretudo a partir de 1970, quando a sonoridade do soul como novo estilo musical já se fazia ver em “BR-3”, canção composta por Antonio Adolfo e Tibério Gaspar e vencedora do V Festival Internacional da Canção daquele ano, na voz de Tony Tornado e do Trio Ternura, até 1979, quando a febre da disco, ao tornar-se extremamente comercial e repetitiva, acabou condicionando, nos Estados Unidos, o movimento disco sucks. Por outro lado, no Brasil, 1979 é o ano em que ocorre a revogação dos instrumentos de exceção da ditadura, como o célebre AI-5, pelo Congresso nacional, e o retorno dos exilados, com a abertura política, criando um estado de coisas que possibilitou o restabelecimento do habeas corpus, da autonomia do judiciário e da liberdade – relativa – de imprensa. Nossa hipótese é de que a difusão e popularização da soul music e da cultura disco no Brasil foi um processo que, embora possa ser compreendido como uma imposição dos enlatados norte-americanos, cujo governo financiava a ditadura a que o país estava submetido desde o golpe militar de 1964, foi capaz de mostrar o seu potencial transgressor, especialmente na formação de identidades afirmativas do ponto de vista étnico.
Espero que você, leitor(a), leia com prazer esta coletânea preparada com muito carinho.
LUIZ EDUARDO OLIVEIRA
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2017
Nossa proposta nesse dossiê na Revista de Estudos da Cultura é agregar trabalhos que tenham como ... more Nossa proposta nesse dossiê na Revista de Estudos da Cultura é agregar trabalhos que tenham como foco a história da cultura escrita em suas mais variadas abordagens a fim de entrelaçar questões relativas ao texto escrito, sejam manuscritos, hipertextos digitais e impressos, e sua produção e circulação na história das sociedades.
O primeiro texto, intitulado A censura e as traduções portuguesas no século XVIII: a busca pela norma, Cláudio DeNipoti nos afirma que a estrutura de censura implantada pelo Marquês de Pombal empenhou-se em disciplinar os livros publicados tanto com relação ao universo de ideias quanto na definição de formas e estruturas de escrita. Ao mesmo tempo, com a explosão editorial em francês e o avanço disciplinar das ciências, derivados do Iluminismo, houve um aumento exponencial das traduções para o português. Seu artigo explora, a partir dos pareceres dos censores sobre as obras traduzidas, quais as definições que eles buscaram estabelecer para que as traduções fossem aprovadas, para além das questões de fé e do estado. Assim, buscando estabelecer séries documentais com os pareceres entre 1769 e 1794, o estudo pautou-se pelas recorrências discursivas dos censores como instâncias normativas do vernáculo.
O texto Sistemas de abreviaturas no Códice 132 do Aquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia, da autoria de Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães e Alícia Duhá Lose, nos leva ao conhecimento da riqueza de abreviaturas presentes no Códice 132, documento manuscrito do século XVIII, que foi adquirido em Portugal e doado ao Mosteiro de São Bento da Bahia por Cláudio de Britto Reis, advogado baiano autor de diversos livros sobre o Marquês de Pombal. Além de apresentar a riqueza de detalhes das questões relacionadas à ascenção política de Sebastião José de Carvalho e Mello, a administração do Império Português e aos feitos que se tornaram conhecidos como as Reformas Pombalinas, os autores também fizeram a identificação e a classificação de todas as abreviaturas de acordo com a proposta de Maurice Prou.
Na sequência, Elaine Brandão Santos e Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda apresentam a importância do Livro do Gado para o estudo sócio-histórico do português brasileiro, em especial, o do interior da Bahia. Em O Livro do Gado: fonte significativa para a recomposição sócio-histórica do português brasileiro, as autoras mostram como tal documento pode trazer grandes contribuições para a configuração linguística do período colonial, esclarecendo algumas questões sobre a penetração e difusão da língua escrita, ponto chave destacado para diagnosticar as vertentes culta e popular do Português do Brasil. Ainda em seu estudo, verificamos a questão do contato linguístico protagonizado pelos gentis, portugueses e africanos responsáveis pela complexa realidade sociolinguística brasileira atual, bem como a discussão sobre a origem do português popular brasileiro.
Vinculando os estudos da História da Cultura Escrita à mudança linguística de cunho socioterminológico, Sandro Marcío Drumond Alves Marengo, em seu artigo Mudança linguística à luz da socioterminologia diacrônica: a História da Cultura Escrita como fator extralinguístico, apresenta resultados de uma pesquisa que teve como objeto a linguagem de especialidade militar, mais precisamente os postos de graduação que indicam as hierarquias dos homens que compõem o corpo de tropa. Os corpora foram dois manuais manuscritos (um setecentista e outro oitocentista) de tática de infantaria do Exército Português. A investigação analisou as diferenças no campo nocional Postos de graduação, com base no aporte teórico da socioterminologia em diálogo com a sociolinguística variacionista. O autor explica as diferenças de frequência dos termos a partir do discurso escrito dos corpora, coadunados com a noção de estilo dos agentes escreventes, da história social e militar portuguesa, tomados como constituintes da história da cultura escrita e alocados como possibilidade de serem interpretados como fatores extralinguísticos.
O quinto artigo, A relevância de corpora para o estudo do português popular brasileiro: cartas baianas do século XX, da autoria de Elane Santos e Santos e Silvana Silva de Farias Araújo, analisa o corpus constituído por cartas pessoais do século XX, escritas por sertanejos baianos de pouca escolaridade. Segundo as autoras, essa amostra contribui substancialmente para os estudos que almejam construir uma sócio-história do português brasileiro, por meio da história da cultura escrita, que reconhece a vertente popular do português, utilizada pela população de pouca escolaridade, e que por muito tempo foi considerada um “desvio” da norma padrão.
Já em A circulação de livros voltados para a alfabetização no sul no Mato Grosso, Thaise da Silva analisa a circulação de livros didáticos de alfabetização, também denominados de cartilhas, na escola primária da região conhecida como Colônia Agrícola Nacional de Dourados, localizada no extremo sul do estado de Mato Grosso, entre as décadas de 1950 e 1980. Sua pesquisa qualitativa de base documental, examinou documentos da 6ª Delegacia de Ensino Primário de Dourados e alguns livros destinados ao ensino das primeiras letras oriundos do acervo pessoal de professores que trabalhavam na região na época. A partir dos documentos investigados, buscou-se compreender a circulação de cartilhas localizadas nesta região do estado. Os resultados alcançados indicam que a circulação destes artefatos nesta região ora se assemelhava, ora se diferenciava das demais regiões do estado devido à influência do Governo Federal, que repercutia na educação, na cultura e no desenvolvimento local.
O artigo Cores da Escrita Sediciosa: distribuição social da escrita nos Movimentos Sediciosos da Bahia, de Minas Gerais e do Rio De Janeiro em finais do século XVIII, da autoria de André Moreno, nos mostra que, nos últimos anos, a partir de desdobramentos investigativos da história social linguística do Brasil, o interesse pela história da cultura escrita em nosso país tornou-se evidente, principalmente quando tratamos do subcampo que se debruçou em levantar e investigar os corpora diacrônicos do Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB). Sendo assim, o autor busca pautar a difusão social da escrita no Brasil em finais do período colonial, com base nos processos devassatórios da Conspiração dos Alfaiates, na Bahia, da Inconfidência Mineira, em Minas Gerais, e da Revolta dos Letrados, no Rio de Janeiro. A partir da variável cor, o artigo mostra como a escrita estava distribuída entre os envolvidos nas referidas sedições, com o objetivo de avaliar os perfis dos assinantes e dos não assinantes de cada um dos processos impetrados.
O texto que compõe o dossiê é Níveis de alfabetismo no território do sisal: estudo de um livro de registro de nascimento (1933-1934), da autoria de Huda da Silva Santiago e Adilson Silva, apresenta alguns índices de alfabetismo do Território do Sisal, no semiárido baiano, contribuindo com a busca de indícios acerca do processo de penetração e difusão da cultura escrita nessa região, na primeira metade do século XX. No âmbito da História da Cultura Escrita, forma específica da História Cultural, que enfatiza práticas de pessoas comuns, de anônimos, propõe-se uma abordagem que evidencie as produções dos que estão à margem da sociedade, relegados da história oficial. Nesse sentido, este estudo é motivado pela possibilidade de se encontrar a recorrência à prática de escrita por indivíduos oriundos da zona rural, espaço em que as escolas, nesse período, ainda não eram presentes.
Em seguida, Pedro Daniel dos Santos Souza assina Das muitas histórias a serem (re)construídas: história social linguística do brasil e história social da cultura escrita, em que reflete sobre as formas de aproximação da história social da cultura escrita a uma história social linguística do Brasil, apresentando uma síntese historiográfica pautada, sobretudo, nas proposições de Houaiss e Mattos e Silva. O autor traça um breve panorama da emergência de pesquisas que passaram a se preocupar com o modo como, em diferentes espaços e temporalidades, uma determinada realidade social é construída, pensada e “dada a ler”.
Em Prática de escritas de intelectuais negros no periódico “O Exemplo”, Ricardo Costa de Sousa, sob os pressupostos da História Cultural, procura discutir a prática de escritas de intelectuais negros no periódico O Exemplo, publicado e posto em circulação entre 1892 e 1930 em Porto Alegre – RS . Mais especificamente, sobre o que essas escritas contam a respeito da instrução.
O penúltimo artigo que compõe o nosso dossiê é Pensar, sentir e produzir: as construções do escrito e as estratégias de circulação de memórias naturalistas de luso-brasileiros no século XVIII, assinado por Daniela Casoni Moscato. Nesse artigo, a autora se fixa sobre alguns aspectos da composição de memórias de viagens filosóficas e selecionou um grupo de naturalistas luso-brasileiros de pós-Reformas Pombalinas: João da Silva Feijó, Manuel Arruda da Câmara, Alexandre Rodrigues Ferreira, Vieira Couto,Francisco José de Lacerda Almeida. Esses viajantes utilizaram em suas publicações alguns padrões narrativos e que, em certa medida, colaboraram em sua circulação e o texto que eles escreveram pode ser pensado como um produto científico e parte dos muitos dos instrumentos da “República das Ciências”.
Fechando nosso número, O leitor e a leitura do século XXI, de Lívia Borges Souza Magalhães, discute sobre as modificações no exercício da leitura e, por consequência, nos leitores. A autora faz um percurso histórico sobre a evolução da tecnologia computacional, uma análise sobre o texto no ambiente virtual, destacando o hipertexto e suas principais características e peculiaridades e, por fim, aborda sobre o mercado de leitura, avaliando desde as especulações até o cenário atual brasileiro.
Os editores
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2017
Neste oitavo número da Revista de Estudos de Cultura, trataremos de um tema muito caro aos pesqui... more Neste oitavo número da Revista de Estudos de Cultura, trataremos de um tema muito caro aos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Cultura da UFS: a história do ensino das línguas. Como afirmei num dos capítulos do livro A legislação pombalina sobre o ensino de línguas: suas implicações na educação brasileira (1757-1827), publicado em 2010, é possível construir uma história do ensino das línguas no Brasil a partir da legislação. Isso porque tal história, ao atentar para o processo de institucionalização do ensino de línguas, bem como de sua configuração como disciplina escolar no sistema educacional do país, tem como objetivo principal investigar o modo como se delineiam suas finalidades políticas, pedagógicas e culturais, para além do seu papel como instância de validação de um conjunto de conteúdos e métodos (re)elaborados ou facilitados para sua aprendizagem escolar no decorrer do tempo, como geralmente se pensa.
Nesse sentido, torna-se viável a investigação do modo pelo qual os próprios conceitos de língua e literatura se constituíram historicamente, uma vez que, através do estudo de certas peças legislativas, pode ser observado o papel que tais conceitos se configuraram nas políticas linguísticas e educacionais implementadas nos diferentes momentos históricos.
Assim, o estudo do seu processo de institucionalização, isto é, de sua oficialização, mediante as políticas educacionais do Estado, confunde-se com a análise da legislação promulgada por esse mesmo Estado, no intuito de apreender suas finalidades – que são ao mesmo tempo políticas, pedagógicas e culturais –, tal como se mostram no texto final da lei, a qual, por sua vez, resulta das práticas legislativas de vários agentes, ao mesmo tempo em que repercute seus fatores políticos, religiosos, econômicos e culturais.
Abrimos o nosso número com o artigo LANGUAGE TEACHING AND HISTORY OF EDUCATION: the Brazilian case, de minha autoria. Seu objetivo é evidenciar a correspondência e interdependência entre o ensino de línguas e a história da educação em geral e a história da educação brasileira em particular, no intuito de fornecer subsídios teóricos para o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre o tema.
Em seguida, temos o artigo O ensino de francês em Minas Gerais no século XIX: percursos de uma operação historiográfica ou maneiras de se fazer a história de uma disciplina escolar, de Rita Cristina Lima Lages. Aqui, a autora busca produzir uma história do ensino da língua francesa em Minas Gerais no século XIX, baseando-se, para isso, nos pressupostos de Michel de Certeau (2006). Nesse sentido, procura destacar o processo de configuração do objeto de pesquisa a partir da seleção de documentos, das combinações feitas, da construção dos mapas mentais, que se tornaram viáveis por meio de leituras prévias das teorias do campo.
Em O ensino de francês na américa portuguesa: a Academia Real Militar do Rio de Janeiro, Kate Constantino Oliveira faz uma análise dos 12 Títulos do documento que lançou o Estatuto de criação da Academia que, para além do objetivo pragmático, orientava uma instrução literária com o estudo das Línguas Estrangeiras. Tendo como suporte teórico Chervel e Compère (1999) e o conceito de disciplinas escolares, a autora busca mostrar a articulação do currículo humanístico ao científico e tecnológico desta instituição, assumindo o ensino de francês o status de língua de acesso ao conhecimento científico.
A produção da pesquisa histórica em educação com intelectuais: o caso da bibliografia de Carneiro Leão na reforma das línguas estrangeiras modernas (1930-1934) é o título do artigo assinado por Jonathas de Paula Chaguri e Maria Cristina Gomes Machado. Nele, os autores apresentam os resultados de uma pesquisa de doutoramento em educação, desenvolvida pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), cujo objetivo é analisar a reforma do ensino de língua estrangeira moderna no ensino secundário no Colégio D. Pedro II, entre os anos de 1930-1934, focalizando os aspectos relativos aos autores, à produção e à disseminação de pesquisas relacionadas acerca das ações educacionais do professor e intelectual brasileiro Antônio Carneiro Leão.
Em O método direto no brasil: análise de um livro didático, Rodrigo Belfort Gomes analisa a constituição de um livro didático quanto à sua conformidade com o novo método prescrito na legislação brasileira de 1931. Assim, através da análise do livro escolhido, An English Method, de 1939, o autor constata que, embora não seja completamente escrita nos moldes do método direto, a obra traz para a sala de aula elementos desse método como o trabalho com a oralidade e os símbolos fonéticos.
O inglês nos jornais oitocentistas: a escola (1877-1878), artigo de Elaine Maria Santos, discute a utilidade do uso de jornais em pesquisas históricas e apresenta as concepções educacionais encontradas no periódico A Escola, publicado no Rio de Janeiro nos anos de 1877 e 1878. Em sua primeira edição, os editores da revista atestaram ser a sua maior preocupação oferecer oportunidades de compartilhamento de informações que pudessem privilegiar a defesa dos direitos do magistério e a luta por melhores condições de trabalho, tendo sido priorizadas, nesta análise, as notícias relacionadas ao ensino de línguas e, mais especificamente, de inglês.
A institucionalização do ensino da língua espanhola na instrução comercial do Brasil (1905-1931), de Anselmo Guimarães, faz uma análise da legislação educacional, de relatórios oficiais e de textos publicados em periódicos entre 1905 e 1931. O recorte foi escolhido tendo em vista o Decreto n. 1.339, de 9 de janeiro de 1905, pelo qual a língua espanhola entrou pela primeira vez nos currículos formais brasileiros, e o Decreto n. 20.158, de 30 de junho de 1931, que (re)organizou o ensino comercial e suprimiu o ensino da língua espanhola dos seus currículos. Seu objetivo, segundo o autor, é identificar e analisar as finalidades políticas, pedagógicas e culturais do seu ensino em âmbito comercial.
Fechamos o nosso número com O ensino das línguas vivas nas aulas de comércio, de Thadeu Vinícius Souza Teles. Aqui, o autor estuda o ensino de línguas vivas nas Aulas de Comércio à luz de pensadores ilustrados como John Locke (1632-1704) e Luiz Antonio Verney (1713-1792) no cenário da necessidade portuguesa de aparelhar seus homens de negócio com as habilidades próprias da atividade comercial. A partir de levantamento bibliográfico e análise de conjunto documental composto por algumas peças legislativas, periódicos e compêndios, foram observadas manifestações do ensino de línguas estrangeiras nas Aulas de Comércio durante a ascensão das línguas vivas e o consequente declínio do Latim.
Espero que vocês gostem desta edição. Boa leitura para todo(a)s!
Luiz Eduardo Oliveira
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA , 2017
Desde que foi colocada para consulta pública, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fomentou re... more Desde que foi colocada para consulta pública, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fomentou reflexões e discussões na sociedade brasileira. Na primeira versão do texto, foram, segundo dados do próprio Ministério da Educação, mais de 12 milhões de contribuições ao documento e a área de Linguagens foi uma das que mais recebeu contribuições. Tal resultado evidencia que a concepção das diretrizes está longe do consenso, necessita de aprimoramento e que a sociedade está interessada no debate, pois, quando em vigor, a BNCC terá influência nos currículos não só da Educação Básica, mas também dos cursos de licenciatura, assim como na formação inicial e continuada de professores da Educação Básica e em políticas públicas, como as avaliações oficiais em larga escala e o Programa Nacional do Livro Didático.
Em sua terceira versão, o texto não pode ser considerado ainda definitivo e acabado. Há ainda muito o que discutir para amadurecer ainda mais os pressupostos subjacentes às diretrizes do documento. Com o intuito de contribuir para este propósito, esta edição da Revista de Estudos de Cultura reúne oito artigos que trazem análises sobre a BNCC e a área de Linguagens, subsidiando o debate e a proposição de ações.
Em O percurso histórico do ensino da língua portuguesa e os documentos oficiais: da lei 5692/71 à Base Nacional Curricular Comum (BNCC), Regina Godinho de Alcântara e Vanildo Stieg tematizam as modificações conceituais e metodológicas que tangem ao ensino da Língua Portuguesa na educação brasileira, buscando sua materialização nos discursos produzidos nos/pelos documentos oficiais que objetivaram balizar as práticas educacionais. Busca evidenciar as concepções de língua e linguagem que subsidiaram o ensino da Língua Portuguesa desde a Lei 5692/71 até a atual Base Nacional Curricular Comum (BNCC), no sentido da identificação e problematização de avanços, recorrências e retornos de conceitos/concepções e metodologias.
Em A literatura juvenil no ensino fundamental II: avanços e recuos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Raquel Sousa da Silva, Jhennefer Alves Macêdo e Daniela Maria Segabinazi partem das atuais discussões que sugerem práticas didático–metodológicas voltadas ao público escolar em processo de formação literária no século XXI e, em seu artigo, evidenciam a importância da BNCC na educação básica, porém, com a ressalva da necessidade de revisão de algumas práticas esboçadas no campo de atuação denominado práticas artísticas literárias.
Voltando aos antecedentes da BNCC, Joselita Júnia Viegas Vidotti analisa os objetivos de aprendizagem fixados no Referencial Curricular Rede Estadual de Ensino de Sergipe (2011), documento enviado ao MEC em 2015 quando do início das contribuições dos estados para a construção do documento Base Nacional Comum Curricular, em Objetivos culturais de aprendizagem de língua estrangeira na construção da BNCC: o caso de Sergipe. Ao cotejar os objetivos dos documentos com ênfase nas habilidades do eixo dimensão intercultural, o artigo evidencia as adjacências e lacunas na proposta de Sergipe.
Na convergência entre currículo e formação inicial de professores, Paulo Sergio Marchelli visa discutir a não factibilidade de muitas das transformações pretendidas para os cursos de licenciatura a partir da aprovação da BNCC, em Base Nacional Comum Curricular e formação de professores: o foco na organização interdisciplinar do ensino e aprendizagem. A análise empreendida evidencia que a BNCC poderá sim transformar a organização dos cursos de licenciatura, mas não pelo caminho da formação interdisciplinar, apontada como precípua.
Ensinar Línguas Começando pelo Plano de Curso é a proposta de José Carlos Paes de Almeida Filho, que apresenta um projeto em andamento na Universidade de Brasília, em uma experiência de tentar consolidar a prática fundamentada das materialidades em sua primeira estação, a dos planos e currículos para guia do ensino e aquisição das línguas de eleição que se afirmam no currículo recém aprovado para o Ensino Fundamental das escolas brasileiras pautado por uma Base Nacional Curricular Comum em processo de instalação.
Aproveitando a possibilidade de contribuição da sociedade civil na construção da BNCC, Isabel Cristina Michelan de Azevedo e Taysa Mercia dos Santos Souza Damaceno, em Desafios da BNCC em torno do ensino de língua portuguesa na educação básica discutem como a área de linguagens, e particularmente de língua portuguesa, é concebida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC); os fundamentos encontrados nele, bem como a maneira como se propõe a organização das práticas escolares. Também é destacado o entendimento dado à argumentação, por ser o ponto que norteia a redação do Enem ao final da Educação Básica. Com base em uma metodologia interpretativa e crítica, selecionamos quatro temáticas que foram analisadas a partir das declarações encontradas no documento preliminar da BNCC em comparação com orientações encontradas em outros documentos oficiais em vigência no Brasil e em referências teóricas.
Embora não tratem diretamente da BNCC, os dois últimos artigos que integram este dossiê trazem contribuições para o seu entendimento, a partir de duas realidades do ensino de línguas.
Uma é a experiência internacional apresentada em Enquadramento e funcionamento da disciplina de PLNM no sistema educativo português, em que Conceição Pereira discute o status da disciplina Português Língua Não Materna (PLNM), que é uma disciplina escolar que passou a integrar o currículo do Ensino Básico do Sistema Educativo Português a partir do ano letivo de 2006-2007 e do Ensino Secundário a partir de 2007-2008. Discutindo a questão dos direitos linguísticos, relacionando-os com os direitos à integração e à cidadania, o foco do artigo recai na legislação que regulamenta o PLNM, assim como nos seus documentos orientadores.
A outra realidade é o relato de pesquisa para saber quais as expectativas quanto a papéis a serem exercidos pelo Laboratório e atividades com que deveria se ocupar, apresentado em Laboratório de línguas: para quê e para quem?, de Simone Reis, Alex Alves Egido e Paula Kracker Francescon.
A sistematização destas análises no presente dossiê cumpre a função da universidade de espaço precípuo para o debate e a discussão, especialmente de um texto legal que afeta diretamente a rotina dos cursos de formação de professores como é o caso da BNCC. Esperamos que, a partir deste dossiê, sejam estimulados novos debates e propostas de ação, com atuação direta nos cursos de formação inicial e continuada de docentes na área de Linguagens.
Luiz Eduardo Oliveira
Raquel Meister Ko. Freitag
REVISTA E ESTUDOS DE CULTURA, 2016
Dando continuidade ao nosso dossiê sobre o tema Jesuítas e Ilustração: rupturas e continuidades, ... more Dando continuidade ao nosso dossiê sobre o tema Jesuítas e Ilustração: rupturas e continuidades, iniciamos o número seis de nossa Revista de Estudos de Cultura com Unidos num só corpo: jesuítas, continuidades e rupturas, de Ligia Bahia Mendonça. O artigo busca refletir sobre o legado dos jesuítas à Ilustração, abordando um momento pouco estudado na historiografia da Educação brasileira, que é a permanência dos jesuítas no Brasil pós Reforma Pombalina. Segundo a autora, a investigação identificou a importância dos jesuítas junto à Coroa portuguesa, analisando o “século das luzes” como inspirador da educação que a Ordem praticava e seguindo pistas de resistência e permanência da educação inaciana na cidade do Rio de Janeiro, bem como as estratégias e táticas utilizadas pelos religiosos para resistir à expulsão dos jesuítas do território lusitano ornado por Pombal.
Em O Padre Inácio Monteiro, entre a ruptura e a continuidade, Carlos Maduro pretende retratar o perfil do P.e Inácio Monteiro, um homem culto, de espírito moderno e pioneiro dos estudos científicos em Portugal. Conforme o autor, Inácio Monteiro mostra, de forma muito peculiar, uma outra perspectiva da Companhia de Jesus bastante conhecida dos diferentes estudiosos da Ordem de Santo Inácio, mas também convenientemente esquecida e oportunamente ignorada. A “expulsão dos jesuítas” como lugar-comum, de Jean Pierre Chauvin tenta relativizar alguns relatos sumários e imprecisos a respeito das dissensões entre a Coroa portuguesa e a Ordem da Companhia de Jesus. Assim, busca desabilitar fórmulas discursivas cristalizadas e orientadas pela brusca ruptura e o salvacionismo, as quais são personificados, no caso português, na figura de Sebastião José de Carvalho e Melo.
Paulo Assunção, por sua vez, em O colégio jesuítico da Bahia: entre a sua fundação e a invasão holandesa, destaca o processo de formação do Colégio da Bahia no decorrer do século XVI até o momento da invasão holandesa, dando ênfase à edificação do colégio e às necessidades materiais para o funcionamento da instituição. Em A herança jesuíta ressignificada no grande projeto da ilustração, Maria Regina Barcelos Bettiol busca mostrar que não houve apenas uma ruptura com o passado e sua tradição, mas, em certos aspectos, uma continuidade das ideias jesuítas adaptadas às transformações que ocorreram no contexto social e político da França do século XVIII. Já Fábio Falcão Oliveira, em História da educação: fronteira, missões e rupturas territoriais, busca perceber o fluxo do comércio na fronteira da Capitania de Mato Grosso, iniciando desde sua constituição até a chegada dos jesuítas portugueses. Assim, o autor pretende confrontar as duas bandeiras, a de Portugal e de Castela, tanto na possibilidade de granjear terras como num enfrentamento religioso que se deu não apenas nas terras espanholas, mas nas adjacências territoriais brasileiras com os jesuítas portugueses contra os castelhanos.
Em Os jesuítas e as reformas pombalinas: rupturas e continuidades, Luiz Eduardo Oliveira busca mostrar até que ponto as rupturas promovidas pelas reformas pombalinas significaram um rompimento ou continuidade com relação à pedagogia jesuítica. Gabrielle Cornelli, em Platão e os Guaranis: utopias transatlânticas na obra De Administratione guaranica comparata ad Rempublicam Platonis commentarius de José Manuel Peramás, dedica-se ao estudo da obra De Administratione guaranica comparate ad Republicam Platonis commentarius, escrita pelo jesuíta catalão José Manuel Peramás e publicada em 1793. A obra é concebida em polêmica com as utopias liberais e ilustradas modernas que o autor qualifica como epicuristas e desrespeitosas das santas instituições. Neste intento polêmico Peramás recupera a utopia política de Platão, expressa tanto na República como especialmente nas Leis.
Tenham todos uma excelente leitura.
Os editores
José Eduardo Franco
Karl Heinz Arenz
Luiz Eduardo Oliveira
Maria Regina Barcelos Bettiol
Revista de Estudos de Cultura (REVEC), 2024
A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU têm relevância em tod... more A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU têm relevância em todas as áreas da ciência, incluindo as ciências da linguagem. Como edição especial de 2024, a Revista de Estudos de Cultura (REVEC) apresenta o dossiê LINGUAGEM, EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: INTERSECÇÕES E PRÁTICAS PARA OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AGENDA 30 DA ONU, organizado por Raquel Meister Ko. Freitag, Elaine Maria Santos, Ádria dos Santos Gomes, Katherine de Albuquerque Mendonça, Lucas Santos Silva de Mello e Yann Dias da Silva Maia.
Composto por 13 artigos, o dossiê demonstra como as pesquisas nessa área se alinham com os ODS, especialmente nos contextos de educação de qualidade, redução das desigualdades, igualdade de gênero e promoção da paz. Os temas abordados incluem educação linguística intercultural, sociolinguística, ensino de gramática vinculado aos direitos humanos, inclusão de estudantes surdos, internacionalização do ensino superior, uso de tecnologias no ensino de línguas e análises literárias com enfoques de gênero e raça. Destacamos como as pesquisas em ciências da linguagem podem contribuir para as dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento sustentável, mesmo quando a Agenda 2030 não é o objetivo explícito. Nossa área reforça o compromisso contínuo com a educação de qualidade, redução das desigualdades e promoção da paz por meio dessas investigações.
Revista de Estudos de Cultura, 2024
O chamado longo século XIX, conceito ancorado numa compreensão dilatada do tempo cronológico e at... more O chamado longo século XIX, conceito ancorado numa compreensão dilatada do tempo cronológico e atenta às mudanças e questões de formação do mundo sociopolítico e do estabelecimento do capitalismo liberal, tem suscitado vigoroso interesse por novos temas e problemas e mesmo a revisitação a velhas questões. Ademais, tem sensibilizado e mobilizado historiadores com diferentes olhares, fontes e metodologias de pesquisa histórica, efetivando-se no aumento expressivo de obras, artigos, coletâneas, congressos e simpósios específicos sobre o período. Diante de tema de tamanha relevância, a Revista de Estudos de Cultura apresenta ao público o Dossiê O LONGO SÉCULO XIX NOS TRÓPICOS: POLÍTICA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO BRASIL OITOCENTISTA, organizado por Edna Maria Matos Antônio (UFS) e Francisco Gleison da Costa Monteiro (UFPI), que reúne um conjunto de artigos produzidos por pesquisadore(a)s de várias parte do país em torno das dinâmicas administrativas, políticas, econômicas e sociais próprias à historicidade do período imperial brasileiro e suas questões. Convidamos também a todo(a)s para a leitura dos artigos do Fluxo Contínuo, que versam, nesta edição, sobre assuntos relativos a questões políticas, sociológicas, de gênero e educacionais.
Revista de Estudos de Cultura (REVEC), 2023
A internacionalização do Ensino Superior precisa ser entendida como um processo que extrapola as ... more A internacionalização do Ensino Superior precisa ser entendida como um processo que extrapola as ações de mobilidade acadêmica e inclui discussões voltadas para a integração da dimensão internacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão (KNIGHT, 2003), chegando até mesmo a ser entendida, por muitos pesquisadores, como a quarta missão das universidades (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2012). A ampliação das discussões nessa área ganharam fôlego com a inserção de temas como Internacionalização em Casa (BEELEN; WALENKAMP, 2018) e Internacionalização abrangente (HUDZIK, 2011), demonstrando a necessidade de envolvimento de toda a comunidade acadêmica e de reestruturação interna, para que ações mais sólidas possam ser implementadas. Nesse contexto, com a interconexão entre Internacionalização e plurilinguismo, o estreitamento de discussões entre as áreas de Relações Internacionais e os Departamentos de Letras Estrangeiras/Adicionais passou a ser cada vez mais intenso e preocupações com a criação e execução de Políticas e Planejamentos Linguísticos começaram a ser mais recorrentes, principalmente após o estímulo dado Pelo Programa Idiomas sem Fronteiras, em 2017, para que Políticas Linguísticas institucionais fossem criadas e apresentadas como pré-requisito indispensável para as IES interessadas no recredenciamento ao IsF. Diante do contexto apresentado, para este dossiê temático, convidamos pesquisadores/as que atuam na área da Linguística Aplicada (Crítica), da Sociolinguística, da Educação e de áreas afins a submeterem artigos/resenhas/entrevistas, que sejam textos inéditos e que, dentre outras possibilidades, estejam relacionados às seguintes temáticas: a) Internacionalização do Ensino Superior; b) políticas e planejamentos linguísticos; c) educação linguística; d) multilinguismo e plurilinguismo; e) Programa Idiomas sem Fronteiras e/ou Rede Andifes IsF; f) mobilidade acadêmica e PLE/PLA; g) inter/trans/multiculturalidade; h) formação de professores de línguas no contexto da internacionalização.
Revista de Estudos de Cultura (REVEC), 2023
A Revista de Estudos de Cultura (REVEC) apresenta sua mais nova edição, com o dossiê Élie Stéphen... more A Revista de Estudos de Cultura (REVEC) apresenta sua mais nova edição, com o dossiê Élie Stéphenson, escritos de guianidade, organizado pelo(a)s professore(a)s Dennys Silva-Reis (UFAC); Danielle Grace Almeida (UFRN) e Rosária Costa Ribeiro (UFAL). O dossiê apresenta 10 (dez) artigos e uma resenha sobre o escritor guianense de língua francesa Elie Stéphenson. Poeta, dramaturgo, romancista, contista, músico e militante, o autor tem vasta produção ainda desconhecida em território brasileiro e pouco pesquisada nos estudos francófonos. Assim, esta edição visa contribuir para que esta lacuna possa diminuir nos Estudos Literários. Este número traz também 6 (seis) artigos sobre temas variados na seção “Fluxo Contínuo”. Aproveitem a leitura.
Revista de Estudos de Cultura, 2022
Para finalizar este ano em que comemoramos o centenário de nascimento de José Saramago (1922-2010... more Para finalizar este ano em que comemoramos o centenário de nascimento de José Saramago (1922-2010), e em homenagem aos trinta anos da publicação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a REVEC apresenta ao público o dossiê “O Evangelho Segundo Saramago”, organizado pelos professores Jaime Bertoluci (Instituto de Estudos Avançados, USP) e Jean Pierre Chauvin (Escola de Comunicações e Artes, USP).
De acordo com os organizadores, as polêmicas em torno deste célebre romance dividiram a opinião pública e pautaram um debate acalorado de caráter moralista que se estendeu para além do Parlamento Português. Apesar das tentativas de boicote à circulação do livro, a obra ganhou repercussão internacional e pavimentou a conquista do Prêmio Nobel sete anos depois. Este dossiê apresenta alguns textos inéditos, decorrentes de uma série de palestras proferidas em dezembro de 2021 durante o webinário “O Evangelho Segundo Saramago” — patrocinado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo —, sendo enriquecido por contribuições de outros especialistas na obra do escritor. A iniciativa contou com o apoio da Fundação José Saramago e integrou as atividades comemorativas do centenário do autor. Na seção de Fluxo Contínuo, apresentamos cinco artigos de temática variada, abrangendo campos como a história cultural, a história da educação e direitos linguísticos.
Revista de Estudos de Cultura, 2022
Neste ano em que comemoramos 10 anos do Núcleo de Estudos de Cultura dea UFS, anunciamos a public... more Neste ano em que comemoramos 10 anos do Núcleo de Estudos de Cultura dea UFS, anunciamos a publicação da mais nova edição da REVEC (Revista de Estudos de Cultura): o dossiê “A epopeia nas Américas”, organizado por Christina Ramalho (Universidade Federal de Sergipe) e Juan Héctor Fuentes (Universidad de Buenos Aires).
O dossiê “A epopeia nas Américas” buscou reunir artigos com reflexões sobre obras épicas produzidas nas Américas, abrangendo expressões épicas em língua espanhola, francesa, inglesa e portuguesa, de modo a oferecer possibilidades de reconhecimento: de algumas matérias épicas presentes no contexto dessa produção; da presença de imagens míticas e sua relação com as heranças coloniais; das representações da história; das representações do heroísmo épico em diferentes contextos culturais e nacionais nos continentes americanos; e, de forma especial, das possíveis relações entre os modelos épicos homéricos e europeus em geral na configuração dessas obras, destacando processos como a intertextualidade, a emulação, o anacronismo e possíveis inovações que configurem traços específicos da epopeia nas Américas. Esta nova edição também traz artigos de temática variada, submetidos ao nosso fluxo contínuo. Aproveitem a leitura.
Revista de Estudos de Cultura, 2021
Na condição de gênero letrado surgido na Inglaterra do século XVI, o conceito de utopia designa u... more Na condição de gênero letrado surgido na Inglaterra do século XVI, o conceito de utopia designa um território insular regido por pressupostos datados. A categoria, em seguida, passou a designar diferentes projeções de natureza política que repensavam e/ou contrariavam o status quo. As distopias, por sua vez, retratam situações opressivas/violentas, pois elaboram ou amplificam expedientes como o uso da técnica, a alienação e o autoritarismo. Figurações utópicas e distópicas ganharam novo impulso no século XX, quando genocídios e autoritarismos impuseram reflexões de ordem variada sobre a vida em sociedade.
Com o presente dossiê, intitulado Projeções utópicas e distópicas na história, a REVEC (Revista de Estudos de Cultura) apresenta ao público um conjunto de artigos cujo objeto, ficcional ou não, atenta para o caráter arbitrário das escolhas humanas em seus diferentes desdobramentos.
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2021
A descida ao mundo dos mortos (katábasis entre os gregos, descensus entre os latinos) é um expedi... more A descida ao mundo dos mortos (katábasis entre os gregos, descensus entre os latinos) é um expediente ou um topói longevo que remonta aos anti- gos mesopotâmicos e egípcios. Sabemos disso desde o século XIX, quando arqueólogos desenterraram plaquinhas com cuneiformes e exploraram câmaras funerárias de antigos faraós. Episódios como a descida de Ishtar ao Kurnugu, a trajetória da barca solar e a batalha contra as forças do caos durante as horas noturnas, a catábase dos heróis gregos e romanos em busca de informações junto aos mortos, a viagem de Dante Alighieri pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, permitem que o estudioso se aproxime de descrições do mundo ctônico, do Hades, dos infernos, e consiga vislumbrar as expectativas e projeções datadas de uma determinada cultura, afinal, as características do além dizem muito sobre a maneira como esses povos concebiam a existência, o comportamento dos vivos e, portanto, o sentido da vida. Efetuada por meio de rituais mágicos, hecatombes ou ainda por intermédio de sonhos ou do favor divino, a descida à mansão dos ínferos poderia ser realizada por deuses, heróis, mas também por homens comuns. A catábase, ou o descensus, pode ser pensada também como metáfora da condição humana, como indício de uma grande provação ou sofrimento, como alegoria de uma jornada expiatória ou transformadora que revela os valores de uma época, como tópica artística capaz de evidenciar estilos ou aspectos estéticos das obras, bem como também de engrenagens sociais.
REVEC (Revista de Estudos de Cultura), 2020
A pandemia provocada pelo vírus Covid-19 reafirmou uma máxima da história da saúde, a de que as d... more A pandemia provocada pelo vírus Covid-19 reafirmou uma máxima da história da saúde, a de que as doenças são também fenômenos sociais. Assim, assistimos, desde os primeiros momentos e efeitos do fenômeno pandêmico a uma rápida resposta das ciências humanas no sentido de tentar interpretar como as sociedades reagiram às drásticas alterações que repercutiram nas esferas econômicas, políticas e culturais. Buscando explicar os traumas do tempo presente, foi necessário procurar qualquer experiência análoga, no passado, para um diálogo com os ineditismos que experimentávamos em 2020. Reflexo deste quadro que observamos no Brasil e em vários países é o dossiê que apresentamos à comunidade. Reunimos trabalhos em torno das doenças e epidemias, referente aos mais diversos períodos históricos e abordagens. De maneira multidisciplinar, cientistas da história, sociologia, psicologia, letras e pedagogia trouxeram à luz um variado conjunto de reflexões e propostas para a sociedade. Encontramos discussões sobre a presença das doenças na literatura e nos discursos presentes nos artigos “O desengano: Medicina acadêmica e curandeirismo em Sergipe no século XIX”, produzido por Amâncio Cardoso “Entre a biblioteca e a clínica: Patoogias no imaginário literário do naturalismo”, de Rodrigo Donizeti Mingotti “Doenças e distopias, doenças nas distopias, distopias nas doenças”, de Amanda Berchez e “Grandes males pedem grandes remédios: A peste num Sermão do padre Antônio Vieira” de Porfírio Pinto. Em torno das práticas de curar e suas instituições apresentamos os textos “Enfermidades e epidemias na América portuguesa: A companhia de Jesus e o combate às Doenças” e “Lepra, doença milenar: A profilaxia da lepra em Santa Catarina (1930-1940)”. O texto “Estratégias de família: Entre a interdição religiosa e a científica à prática da endogamia nas Minas Gerais em fins do século XIX”, de Gabriel Afonso Vieira Chagas, propõe um exame sobre o impacto social da produção do conhecimento médico da sociedade mineira. Uma reflexão panorâmica sobre a historiografia da saúde e escravidão nos é oferecida no artigo “Escritos sobre saúde e escravidão: A saúde dos escravizados, do pragmatismo senhorial no Brasil do século XIX ao novo domínio da história no século XX e XXI”, de Bárbara Barbosa dos Santos e Carlos de Oliveira Malaquias. As imbricações entre a saúde, ciência e a educação são costuradas nos textos “Modelos distintos e conciliações necessárias: Os cuidados com a saúde dos escolares (1910-1930)” dos autores Henrique Mendonça da Silva e Heloísa Helena Pimenta Rocha , “Acorrentado pela lepra: O leprosário de Marituba em meio às práticas de cura e educação (1940- 1970)” escrito por Moises Levy Pinto Cristo em parceria com Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França, e “A abordagem histórica da saúde em livros didáticos de ciência: um olhar para o PNLD/2017” produzido por Jéssica Amanda Lourenço dos Santos, Natália Lami Zanettini, Fabíola Rodrigues Oliveira do Nascimento e Rafael Cava Mori. A recente discussão que orbita a arquitetura da saúde está inscrita no estudo “Da casa de hospitalidade ao hospital: Arquitetura e saúde na Europa nos alvores da modernidade” por Joana Pinho. Sobre os conflitos e mazelas sociais intensificados pela pandemia de 2020, o artigo “Baile de máscara não é para preto de favela: Necropolítica, pandemia [NARCO]neopentecostalismo e resistência”, de Rosangela Hilário, Igor Ribeiro e Márcio Caetano, percorre as ambiências do Rio de Janeiro e lança luz sobre o lugar das populações marginalizadas frente as desigualdades e desarranjos da doença, que tornaram mais frágeis as condições dos que já experienciavam a vulnerabilidade. Este Dossiê cumpre a proposta inicial de acolher estudos interdisciplinares na perspectiva de oportunizar debates que perpassam a sociedade, as doenças e epidemias. Na convicção de que esses olhares transmitidos possam motivar outras e novas reflexões, desejamos a todos e todas uma boa leitura.
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2020
Representações letradas do terror podem ser identificadas em diferentes gêneros discursivos, nos ... more Representações letradas do terror podem ser identificadas em diferentes gêneros discursivos, nos mais variados registros estilísticos e formais. Do repertório da antiguidade ao corpus da literatura contemporânea, nos diferentes usos da tópica do locus horrendus, ou como elemento de sedução na estética romântica, expressões poéticas do terror aparecem em variadas práticas culturais eruditas passíveis de serem alcançadas pela história literária.
Considerada a presença de elementos terríficos nos poemas de Homero, nos romances góticos do século XVIII, e a afirmação de um gênero próprio no século XX - a “literatura de terror” -, o estudo da temática aponta para a longevidade de procedimentos, técnicas e dispositivos que se reconfiguram historicamente. As respectivas modalidades de recepção, que acompanham esta dinâmica de transformação, indicam como o construto retórico-poético mobilizado para o deleite e a instrução se converte em mecanismo literário de comoção psicológica. A perspectiva da longa duração sugere que a disposição para a excitação dos ânimos amparada pelo interesse do público é recorrente em diversas linhagens textuais nas quais o medo é representado, mas também indica que categorias como “obra”, “leitor” “texto” e “autoria” são tão instáveis quanto as expressões do terror impressas em nossa cultura letrada.
Neste dossiê da revista Revec, o terror é apreciado em variantes tão distintas quanto atraentes. Os artigos aqui reunidos são contribuições valiosas para a análise das formas desta matéria mutável, mas, ao que tudo indica, recorrente. Em “Construções do locus horrendus nas Historiae, de Tácito”, Frederico de Sousa Silva estuda alguns expedientes retóricos e estilísticos utilizados por Tácito na elaboração do Livro das Histórias. Sua atenção volta-se especialmente para as convenções que foram empregadas na formulação de loci horrendi, de lugares horrendos associados a acontecimentos do ano 69 de nossa era, momento de grandes disputas que desembocaram na guerra civil romana.
No segundo artigo, Jerry Santos Guimarães e Marcello Moreira analisam a tópica da covardia e sua associação com a “gente miúda” a partir de crônicas ibéricas escritas à época da Dinastia de Avis, atribuídas a Fernão Lopes, Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina. Para tanto, os autores foram buscar as características deste vício nos escritos de Aristóteles e Flávio Vegécio, mas também nas recomendações jurídicas presentes nas Siete Partidas, escritas no século XIII, e nas Ordenações Afonsinas, promulgadas no século XV.
No artigo “Demônios e heresia na ‘Relação da Missão da Serra da Ibiapaba’, do Padre Antônio Vieira”, Fernanda Cristina Santos recorre a um relato de Vieira sobre tentativas de catequizar os indígenas tabajaras, analisando a maneira como seus costumes e crenças foram relatados por meio de uma linguagem cristã e para a forma como o inaciano assinala a possibilidade de aliança entre indígenas e holandeses, o que poderia servir de obstáculo à missão catequética no Novo Mundo.
Em “The Mysteries of Udolpho: o sobrenatural como problema literário”, Lainister de Oliveira Esteves retoma e problematiza a recepção inicial do terceiro romance escrito pela escritora inglesa Ann Radcliffe, atentando-se para o debate sobre o sobrenatural e sua centralidade no desenvolvimento do romance e da crítica literária no século XVIII. O autor do artigo demonstra que a “maquinaria sobrenatural” ampara-se em códigos concebidos com vistas à recepção, ou seja, as críticas e diálogos subsidiados no século XVIII ajudaram a definir e redefinir as regras e possibilidades da imaginação ficcional, o que pressupõe o decoro, mas também o consumo de literatura e uma nova maneira de se conceber a ideia de autoria.
No texto “A ilha como locus horrendus e Edgar Allan Poe”, Cleber Felipe volta-se para o romance de Poe intitulado The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket (1838), que, dentre vários temas envolvendo motins, tempestades, ataques de animais selvagens, antropofagia, naufrágios etc., relata uma experiência vivenciada na sombria ilha de Tsalal. O autor avalia algumas leituras psicologizantes e biografistas, analisa as particularidades do romance e, em seguida, estuda a representação deste território insular e de seus habitantes levando-se em consideração dois lugares-comuns que Edgar Alan Poe retomou: a obrigação da hospitalidade e o locus horrendus.
O artigo de Daniel Augusto P. Silva e Júlio França, “Nas origens do romance e do gótico no Brasil: O terror radcliffeano em Teixeira e Sousa”, analisa algumas convenções góticas presentes nos romances O filho do pescador (1843) e Trades de um pintor ou As intrigas de um jesuíta (1847), ambos de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa. A foco da análise recaiu sobre um artifício, recorrente à época, denominado “sobrenatural explicado”, tradicionalmente relacionado a Ann Radcliffe.
Em “Deus, Natureza e Pátria: A Confederação dos Tamoios”, Jean Pierre Chauvin analisa a invenção, disposição e elocução do poema épico de Gonçalves de Magalhães e mapeia alguns lugares-comuns que amparam a formulação de cenários amenos e horrendos. O autor reconheceu que a obra em questão pode ser lida como uma epopeia, mas concebeu suas particularidades sem negligenciar o projeto político de D. Pedro II, as convenções românticas e outras particularidades históricas do século XIX.
No artigo “O Monstruoso em O Ouro do Reino: A Arte Monumental Generalizada de Wagner e Kandinsky e seu Páthos”, Marcus Mota discute a produção de afetos extremos por intermédio de obras multissensoriais, detendo-se sobretudo no diálogo entre Richard Wagner e Wassily Kandinsky.
Em “Sombras gótico-decadentistas em Esquifes, de Dario Veloso”, Hélder Brinate Castro analisa a faceta obscura e funesta do homem por meio da obra de Dario Veloso, investigando a criação de personagens cruéis e monstruosas que desafiam os limites entre o natural e o sobrenatural, entre a razão e a loucura.
Mónica Ganhão, no artigo “Ana Plácido e o terror da consciência feminina ‘Às Portas da Eternidade’”, analisa a atmosfera sombria e gótica presente em “Às Portas da Eternidade”, da romancista portuguesa oitocentista Ana Plácido, esposa do renomado literato Camilo Castelo Branco. A prática do suicídio, decorrente de uma desilusão amorosa, é o elemento chave deste drama psicológico feminino.
Em “O cotidiano macabro: elementos do terror no conto “El chico sucio”, de Mariana Enríquez”, por fim, Rodrigo de Freitas Faqueri e Daniele Ap. Pereira Zaratin analisam a presença do terror no conto “El chico sucio”, obra de 2016 escrita pela autora argentina Mariana Enríquez. O texto reflete sobre os lugares da miséria, da violência e das crenças populares se afinam aos procedimentos do gótico-terror-horror.
Assim dispostos, os artigos abordam os vários aspectos que fazem do terror elemento atraente para públicos de diferentes épocas e contextos. Boa leitura!
Cleber Vinicius do Amaral Felipe (INHIS-UFU)
Lainister de Oliveira Esteves (INHIS-UFU)
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019
Este dossiê vincula-se a um projeto de investigação e preparação da obra completa do Marquês de P... more Este dossiê vincula-se a um projeto de investigação e preparação da obra completa
do Marquês de Pombal, em 32 volumes criticamente anotados (“Para a construção de
um corpus pombalino: Part I – Os textos historiográficos do Marquês de Pombal” (FCT
– PTDC/HAR-HIS/32197/2017). O projeto busca fazer o levantamento de toda a obra
escrita do Marquês de Pombal ou por ele diretamente inspirada e preparar uma edição
criticamente anotada e atualizada, promovendo assim uma renovação dos estudos
pombalinos por meio de uma abordagem interdisciplinar, para além das visões parciais
motivadas pelas paixões polêmicas que ora desvalorizaram, ora supervalorizaram o
significado de sua ação. Foram compilados artigos relacionados aos escritos pombalinos
relativos à instrução pública, de modo geral, e ao ensino de Humanidades de modo
particular, responsáveis pelo que se convencionou chamar, na historiografia
educacional, de reformas pombalinas, bem como à sua repercussão no Brasil.
Foi durante o governo pombalino que se institucionalizou o ensino de
humanidades em Portugal, bem como a instrução comercial e militar. Podemos dizer,
assim, que a governação pombalina foi um divisor de águas na história da educação de
Portugal e seus domínios, uma vez que, pela primeira vez, não só reformou o ensino das
línguas clássicas e institucionalizou o ensino da língua materna, com a regulamentação
das escolas menores, mas também o das línguas estrangeiras modernas, isto é, das então
chamadas “línguas vivas” (francês e inglês), que passaram a constar os planos de estudo
dos cursos recém-criados de instrução comercial e militar. Contudo, ao contrário do que
certa historiografia educacional faz acreditar, não havia, propriamente, uma política
pombalina de instrução pública, embora a conjuntura histórica e os problemas de ordem
prática que o ministro de D. José teve que enfrentar forçaram-no a tomar medidas
legislativas que, do ponto de vista educacional, iriam modificar fundamentalmente a
estrutura estabelecida pela tradição jesuítica, o que fez com que Portugal, em muitos
casos, tomasse a dianteira dos outros países da Europa nessa matéria.
Abrimos este dossiê com o artigo O PAPEL DA EDUCAÇÃO PARA A
EMERGÊNCIA DE UM HOMEM NOVO NA ÉPOCA DAS LUZES:
antecedentes teóricos e aplicações práticas no projeto político pombalino, escrito
por Susana Mourato Alves-Jesus. Nele, a autora discute a valorização da educação no
âmbito do pensamento português do século XVIII e o modo pelo qual a reflexão de
alguns autores ajudou à construção de um olhar peculiar sobre a educação enquanto
meio fundamental para a implementação de uma nova sociedade e de um renovado
sentido político. Os antecedentes teóricos trabalhados foram articulados com as amplas
reformas pombalinas do ensino, que intentaram, em certa medida, ainda que sob o signo
das suas idiossincrasias, afirmar o sentido racionalizante e modernizante que os ideais
educativo-pedagógicos da época postulavam.
Em seguida, em A OBLITERAÇÃO DE ARISTÓTELES NAS REFORMAS
POMBALINAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, Paula Carreira, tomando
como base a publicação do Compêndio Histórico do Estado da Universidade de
Coimbra (1771) e dos Estatutos de 1772, analisa o modo pelo qual a construção
propagandística pombalina de pendor antijesuítico aproveitou o debate intelectual que
se vinha consolidando, sobretudo desde o século XVII, para associar negativamente a
figura do estagirita aos Jesuítas, através do seu ensino de matiz escolástico. A
pesquisadora destaca que a influência do legado aristotélico no contexto medieval e
escolástico posterior constitui-se como argumento forte no combate ao edifício
pedagógico inaciano, sendo, por isso, repudiado pela política reformista de Pombal.
No texto O COMÉRCIO NAS REFORMAS POMBALINAS DA
INSTRUÇÃO, Thadeu Vinícius Souza Teles relaciona o comércio às reformas
empreendidas por Sebastião José de Carvalho e Melo na instrução pública, a partir de
fontes históricas, bibliográficas e documentais, de modo a compor um breve panorama
para facilitar a compreensão do lugar do comércio nas medidas pombalinas,
especialmente nas Aulas de Comércio. Notou-se que, na medida em que Pombal
priorizou o comércio nas iniciativas da instrução, ele educou o trabalho nacional e
fomentou uma das primeiras manifestações formais de instrução comercial na Europa.
Elaine Maria Santos, em AS REFORMAS POMBALINAS DA INSTRUÇÃO
PÚBLICA NO BRASIL: um caso de fracasso?, apresenta, de forma sucinta, as
principais peças legislativas do período pombalino no que se refere à instrução pública,
analisando as dificuldades de implantação das Reforma Pombalinas no Brasil e
discutindo sobre a eficácia das ações desenvolvidas em terras brasileiras. Após uma
análise da legislação e da bibliografia relacionada a essa temática, fica claro que, apesar
de não ter se estendido a todo o território Brasileiro, as reformas pombalinas não podem
ser consideradas como um caso de fracasso, uma vez que o sistema educacional vigente
é reflexo de muitas das determinações verificada no período josefino, que teve o
Marquês de Pombal como um de seus maiores expoentes.
O artigo OS LIVROS DIDÁTICOS NA CAPITANIA DA BAHIA ENTRE AS
REFORMAS POMBALINAS E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA (1759-
1822), escrito por Pablo Antonio Iglesias Magalhães, objetiva identificar e analisar os
livros didáticos que circularam na Capitania da Bahia, desde o início das reformas
pombalinas na educação portuguesa (1759) até a eclosão da Guerra de Independência
naquele território ultramarino. O autor comprova que os manuais escolares foram
pensados e produzidos como instrumentos políticos, usados para legitimar a
manutenção da administração, da língua, da religião e dos costumes metropolitanos
sobre a América portuguesa.
No caso de MULHERES SERGIPANAS NO PERÍODO POMBALINO: uma
análise a partir de inventários do século XVIII, Vera Maria dos Santos, Simone
Silveira Amorim e Ana Carla dos Santos Cardoso analisam a vida de três mulheres
da elite setecentista sergipana: Leonor Rodrigues Fraga (1752), Izabel de Barros Lima
(1753) e Maria Cardozo de Oliveira (1762). Para o estudo do comportamento das
famílias setecentistas sergipanas, na época pombalina, os inventários judiciais das três
mulheres mencionadas foram analisados à luz do “paradigma indiciário” de Ginzburg
(1989).
As questões relacionadas à capitania de São Paulo na segunda metade do século
XVIII são tratadas no artigo A APLICAÇÃO DOS PADRÕES DE ENSINO
PROPOSTOS PELO MARQUÊS DE POMBAL NA CAPITANIA DE SÃO
PAULO. Renata Ferreira Munhoz e Renata Ferreira Costa trabalharam com a
análise de um ofício manuscrito enviado pelo Morgado de Mateus ao Marquês de
Pombal, no qual o governador, de maneira metalinguística, aborda a sua produção
manuscrita autógrafa em sua secretaria de governo. A partir de documentação
manuscrita, inferem-se circunstâncias de cunho ideológico associadas à configuração da
reforma do ensino na capitania de São Paulo da segunda metade do século XVIII.
Em O ANTAGONISTA POMBAL E O DISCURSO DE DEFESA DA
FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO, Cristiane Tavares Fonseca de Moraes
Nunes destaca o papel do Marquês de Pombal em oposição ao protagonismo jesuítico
vigente e a construção de uma nova identidade nacional gestada sob a luz da ciência e
da razão, com lócus privilegiado para a Universidade de Coimbra, que assumiu a função
de força motriz do progresso, alicerçada na ciência e nos ideais iluministas que dariam
suporte a um projeto de nação.
Fechamos esta edição com o texto, escrito em inglês, MARQUIS OF POMBAL
WITHIN REPRESENTATIONS: an analysis of Brazilian scientific journals and
books, de Nayara Stefanie Mandarino Silva e Elaine Maria Santos. As autoras
apresentam os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento, na qual foram
levantados e analisados artigos científicos publicados em periódicos e escritos por
autores brasileiros sobre Pombal e, a partir deste levantamento, analisaram o modo pelo
qual ele é representado. A análise dos 341 textos encontrados mostra o Marquês de
Pombal, sob diversos ângulos, desde como proto-fundador do Brasil até o de destruidor
da educação, de modo a ser possível perceber como essas representações são
construídas e solidificadas com o tempo.
Tenham todos uma boa leitura.
Os organizadores
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019
A publicação XIV da Revec – Revista de Estudos de Cultura da UFS – Universidade Federal de Sergip... more A publicação XIV da Revec – Revista de Estudos de Cultura da UFS – Universidade Federal de Sergipe apresenta em 2020 o dossiê RELAÇÃO COM O SABER. Nele, propomos reflexões sobre uma questão antiga, que segundo Charlot (2005, p. 35-36) “atravessa a história da filosofia clássica, pelo menos até Hegel.
Buscando revisitar os fundamentos epistemológicos e metodológicos da pesquisa biográfica em educação, a pesquisadora Doutora em Ciências da Educação pela Université Paris VIII, Christine Delory-Momberger, abre a edição com LA CONSTRUCTION PARTAGEE D’UN SAVOIR DU SINGULIER que levanta questões sobre a natureza do saber reivindicado pela pesquisa biográfica e seu processo constitutivo. Nesse artigo a autora reafirma a especificidade e a centralidade do fato biográfico nos processos de individuação e socialização, questionando o campo de conhecimento aberto à pesquisa biográfica.
Em DIMENSÕES E PROPRIEDADES DA RELAÇÃO COM O SABER: o desenvolvimento de um sistema de sentidos, os Doutores Wellington Hermann (UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná), Marinez Meneghello Passos (UEL – Universidade Estadual de Londrina) e Sergio de Mello Arruda (UEL – Universidade Estadual de Londrina) desenvolvem novos elementos da noção de Relação com o Saber nomeados de propriedades matemáticas de reflexividade e a transitividade, articuladas para a constituição de um sistema de sentidos. Para tratar desses elementos e discutir a constituição do sistema de sentidos os pesquisadores utilizaram os resultados de uma investigação desenvolvida com estudantes de um curso de licenciatura em Matemática de uma universidade estadual paranaense.
Os resultados parciais de uma pesquisa de mestrado em andamento, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal de Sergipe (PPGECIMA/UFS) é o mote para A RELAÇÃO COM O SABER DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM UM PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA, assinado pela pesquisadora Maria Cristina Rosa (PPGECIMA/UFS) e pelas professoras Doutoras Denize da Silva Souza e Veleida Anahi da Silva, ambas docentes na UFS – Universidade Federal de Sergipe. O estudo analisa os sentidos e significados construídos por professores de matemática em “Oficinas de Matemática”, um projeto de extensão vinculado ao PPGECIMA/UFS para a formação continuada de professores da rede pública de alguns municípios do estado de Sergipe.
Do sul do Rio Grande do Sul é o artigo POR QUE ESTOU AQUI? O sentido dos estudantes em uma aula de matemática, assinado pelas professoras pesquisadoras Janice Rubira Silva (Universidade Federal de Pelotas – UFPEL) e Débora Pereira Laurino (Universidade Federal do Rio Grande – FURG). As análises a partir dos discursos de alunos do Ensino Fundamental de uma escola pública do município de Rio Grande/RS, produzidos em uma aula de Matemática e tratados segundo a Biologia do Conhecer e a teoria da Relação com o Saber, permitiram o entendimento de que o sentido atribuído pelos estudantes em estar na escola está pautado no desejo de conviver com os outros e fundado pela emoção do brincar, assim como na projeção de uma imagem social e/ou da obtenção de êxitos no ato de frequentar esse espaço.
Em ENSINO DE FÍSICA INTERDISCIPLINAR PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: a Relação com o Saber por meio da prática do Goalball, os pesquisadores Willdson Robson Silva do Nascimento (UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), Eanes dos Santos Correia (UFS) e os o professores Doutores Eder Pires de Camargo (UNESP) e Veleida Anahi da Silva (UFS) abordam o processo de construção de um ambiente pedagógico que potencializou o ensino de física para alunos com deficiência visual. A interdisciplinaridade entre o Ensino de Física e o Goalball, esporte criado para cegos, é apresentada como fenômeno social no processo de mobilização da aprendizagem dos alunos de uma escola estadual da capital sergipana.
A RELAÇÃO COM O SABER E O TEMPO PEDAGOGICAMENTE NECESSÁRIO: narrativas de experiência com a educação física escolar, de Luciana Venâncio, Professora Adjunta no Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do Ceará, discute a relação com o saber a partir das narrativas de duas mulheres negras em suas experiências com a educação física escolar. As participantes são ex-alunas de uma escola pública municipal de ensino fundamental, localizada no extremo da zona leste da cidade de São Paulo, em uma das regiões com os mais elevados níveis de desigualdades socioeconômicas (IBGE, 2010). Inicialmente é problematizada a relação com o saber na educação física escolar e a temporalidade das narrativas, estratégia metodológica que permitiu às participantes da investigação explicitar suas emoções, percepções e questões relacionadas à experiência, sem uma descrição linear do tempo cronológico vivido na escola.
Escrito por quatro pesquisadores da Universidade Federal do Ceará; Adriano Ferreira Nobre, Otoniel Carneiro Fernandes, Luiz Sanches Neto e Luciana Venâncio, o artigo REFLEXÕES SOBRE AS APROPRIAÇÕES DOS ELEMENTOS DA TEORIA DA RELAÇÃO COM O SABER NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR também levanta um questionamento sobre a educação física escolar, buscando identificar como a teoria da Relação com o Saber vem sendo compreendida em artigos publicados nessa área no repositório da Revista Movimento (2000-2018). A partir de seis artigos são descritos os contextos, modos e razões de apropriação dessa teoria na educação física, bem como os conceitos de mobilização, sentido e atividade, além da caracterização das figuras do aprender.
No artigo assinado por Eliene Nery Santana Enes Correio, Maria Celeste Reis Fernandes de Souza Correio, Thiago Martins Santos Correio e Renata Bernardes Faria Campos Correio, professores pesquisadores da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), são debatidas as aprendizagens ambientais a partir do desastre sociotécnico que foi o rompimento da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco/Vale-BHP Billiton em 2015, que destruiu vidas humanas e do rio Doce que corta a cidade de Governador Valadares, no estado de Minas Gerais, sudeste brasileiro. RELAÇAO COM O SABER E O RIO DOCE: a marca das aprendizagens relacionais e afetivas buscou compreender a relação que um grupo de jovens estudantes do Ensino Fundamental de escolas públicas dessa região estabelece com o rio Doce como objeto de saber. O rio é por eles entendido como lugar físico, mas também de representação e de produção de sentidos pelos sujeitos.
COMO ALUNOS DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ATRIBUEM SENTIDOS DE IR À ESCOLA dos pesquisadores Eanes dos Santos Correia (UFS), Willdson Robson Silva do Nascimento (UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), e dos professores Doutores Eder Pires de Camargo (UNESP) e Veleida Anahi da Silva (UFS) analisa os sentidos que alunos de um colégio público estadual da cidade de Aracaju/ SE atribuem à escola e ao estudo. Considerando a dimensão epistêmica, identitária e social dos estudantes, o sentido de ir à escola é para a aprendizagem de um determinado saber/disciplina, mas não apenas isso, pois eles também vão com a finalidade de passar de ano, tirar boa nota nas provas e também sair dela, ter um trabalho e/ou passar num curso superior, num futuro próximo.
Em NARRATIVAS DE ESTUDANTES BOLSISTAS: o sentido da universidade e a relação com o saber, as pesquisadoras Karina Sales Vieira (UFS) e Ana Maria Freitas Teixeira (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB) discutem a relação com o saber de estudantes de primeiro e segundo períodos do Centro Universitário AGES (UniAGES), no município de Paripiranga, no estado da Bahia. Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa de mestrado realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe que procurou compreender a relação estabelecida entre estudantes que ingressam em uma instituição privada de ensino superior e a formação universitária, mais especialmente a relação que estabelecem com o saber acadêmico.
No artigo que fecha o dossiê, assinado pelos Doutores João Paulo Camargo de Lima, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Sergio de Mello Arruda (UEL), Marinez Meneghello Passos (UEL) e Roberto Nardi (UNESP), intitulado A RELAÇÃO COM O SABER E A IDENTIDADE DOCENTE, os pesquisadores fazem algumas aproximações entre as pesquisas sobre a Identidade Docente e a temática da Relação com o Saber, de Bernard Charlot. Inicialmente são apresentadas as discussões sobre a Identidade do professor segundo a literatura internacional, sobretudo a de língua inglesa. Em seguida, os fundamentos da Relação com o Saber são então descritos em seu percurso histórico para, posteriormente, embasar uma leitura das principais ideias, questões e elementos que compõem os conceitos relacionados à identidade docente por meio da Relação com o Saber enquanto relação com o mundo, com o outro e consigo mesmo. Diante das aproximações e discussões realizadas nesse artigo é proposta uma possível definição de Identidade Docente a partir dos conceitos presentes em pesquisas fundamentadas na Relação com o Saber.
Os organizadores
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019
É com imensa satisfação que apresentamos mais um número da Revista de Estudos de Cultura, vincula... more É com imensa satisfação que apresentamos mais um número da Revista de Estudos de Cultura, vinculada à Universidade Federal de Sergipe. Desde a publicação de seu primeiro número, nossa equipe editorial sempre deixou claro que nosso propósito maior e mais relevante consiste na possibilidade de sermos um instrumento de ampla divulgação da produção acadêmica de pesquisadores (formados e em formação) brasileiros e internacionais que, de alguma forma, tomem os aspectos culturais em suas mais variadas formas como elemento de suas investigações.
Esse número que ora apresentamos agrega treze artigos submetidos em fluxo contínuo, ao longo do segundo semestre de 2018. Como não há uma temática pré-estabelecida, essa edição da REVEC oferta aos leitores e lei- toras uma ampla gama de temas que envolvem visões diversificadas de cultura em distintos contextos: direito, história, literatura, linguística, filologia, paleografia, Codicologia, filosofia, ensino, entre outros. Além disso, os artigos publicados reúnem resultados de pesquisas de 10 instituições diferentes, entre públicas e privadas, nacionais e internacionais.
Para começar, adentrando ao rol da literatura de Clarice Lispector, Ramon Ferreira Santana (UNIAGES), com seu artigo “Desconstruindo os estudos subalternos: uma leitura do conto “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector”, contribui para os debates acerca dos Estudos Subalternos, especialmente no que se refere aos modos como a questão da subalternidade é representada na Literatura Brasileira, considerando as propostas de Jacques Derrida relacionadas ao princípio da Desconstrução, muito utilizadas pelos Estudos Culturais dentro das suas vertentes mais basilares. O artigo intitulado “Dialética da cegueira”, da autoria de Jean Pierre Chauvin (USP), seguindo no campo da literatura, discute aspectos relacionados ao gênero, ao tema e à fatura de Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, propondo que o romance possa ser enfeixado como exemplar da ficção distópica, em diálogo com A Peste, de Albert Camus.
Já Wéllia Pimentel Santos (Universidad de Salamanca/ Espanha), em “História, Cultura e intolerância acerca das religiões de matrizes africanas no Brasil”, destaca as manifestações religiosas brasileiras e sua forte ligação com as de matriz africana, convergindo-se para apresentação de causas da intolerância religiosa. Em continuidade, Carla Eugenia Caldas Barros (UFS), em “Direito da música: reflexões sobre a lei de imunidade tributária musical constitucional brasileira” traz à tela revelações em que se contrapõem a história da música e a do direito bem como os devenires convergentes e divergentes dessa relação em tempos guia- dos pela internet.
Carlos Böes de Oliveira (University of New Mexico/ EUA) com o artigo “Conflitos à la carte: uma leitura do desviante na obra cinematográfica Estômago” problematiza a construção de uma identidade desviante na personagem Raimundo Nonato, protagonista do filme Estômago. Em cruzamentos interdisciplinares dos saberes antropológicos e a teoria do cinema, salienta o papel do conflito como instrumento de socialização e traz à tona conceitos sobre a posição do receptor acerca da própria narrativa e da construção cinematográfica.
Passando ao campo dos estudos (sócio)linguísticos, Silvana Silva de Farias Araújo (UEFS) e Siméia Daniele Silva do Carmo (UEFS) apresentam relevante investigação sobre a concordância verbal a partir de dados linguísticos de diferentes perfis, a fim de verificar se é possível analisar a distribuição da variável levando em conta a influência de fatores socioculturais e estruturais nessa variação no continuum sociolinguístico brasileiro no artigo intitulado “A concordância verbal com a primeira pessoa do plural no continuum socio- linguístico da Bahia”. Ainda em contexto baiano, em “A expressão variável do futuro e do condicional no semiárido baiano – comparando extremos sociais”, Franciane Rocha (UFOB) e Josane Moreira de Oliveira (UEFS/UFBA) apresentam um estudo realizado em dois extremos de localidade e escolaridade em Feira de Santana, Bahia, com o objetivo de obter um retrato sociolinguístico da produção do futuro e do condicional, considerando sua realidade polarizada tanto social quanto linguisticamente. Tomaram a produtividade da forma ir + infinitivo e a existência de outras formas de expressão do valor futuro na fala dos feirenses.
Na sequência, Lécio Barbosa de Assis (UESB) e Jorge Augusto Alves da Silva (UESB) em seu artigo “O papel da saliência fônica no uso variável da concordância nominal no português afro-brasileiro de Rio das Rãs”, norteados pelos princípios teórico-metodoló- gicos da Sociolinguística Variacionista, analisaram o princípio da saliência fônica na fala de 24 informantes do português afro-brasileiro da comunidade de Rio das Rãs, no município de Bom Jesus da Lapa-BA. Os resultados encontrados permitiram analisar a influência da saliência fônica na variação linguística da comunidade pesquisada, bem como, permitiu um estudo reflexivo- -comparativo com outras pesquisas sobre a variação linguística no Português Brasileiro (PB).
Ainda com estudo centrado em terras de Jorge Amado, Camila dos Santos Reis (UFS) e Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (UFS/UEFS) apresentam o artigo “A variação do léxico dos vaqueiros em Fátima-Bahia” em que, em uma perspectiva de investiga- ção término-lexical e variacionista, analisa os usos de termos específicos da atividade de vaqueiros da região fatimense.
No artigo “Referenciação, argumentação e práticas sociopolíticas: a construção do ethos de um ativista LGBT de Aracaju”, Samuel de Souza Matos (UFS) e Geralda de Oliveira Santos Lima (UFS) discutem sobre a construção do ethos do ativista LGBT da cidade de Aracaju/SE no que tange ao diálogo entre estudos da Referenciação e da argumentação retórica, apontando para uma articulação entre processos referenciais e lugares retóricos, estratégias essas atreladas aos contextos situacional e sócio-histórico amplo das lutas de ativistas LGBT.
Já Ana Claudia de Ataide Almeida Mota (UNIT) apre- senta um pequeno recorte da documentação produzida por Sóror Joanna Angélica de Jesus, religiosa baiana que viveu na cidade de Salvador entre os séculos XVIII-XIX, e se tornou uma importante personagem quando da independência da Bahia no artigo “Escritos da sóror Joanna Angélica de Jesus: Salvador (séculos XVIII e XIX)”. Ainda na esteira filológica, Damares Oliveira de Souza (UEFS) e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) no texto “Descrição dos aspectos paleográficos e codicológicos de um processo crime de roubo e estupro (1914)” apresentam uma breve descrição dos aspectos paleográficos e codicológicos do referido processo crime tendo por suporte suas edições facsimilar e semidiplomática. Desta forma, nessa incursão ao âmbito filológico-paleográfico-codicológico, con- tribuem para a leitura e interpretação de documentos manuscritos.
Por fim, criando uma ponte entre pressupostos da Linguística Cognitiva e o ensino de oralidade na perspectiva dos direitos humanos, André Luiz Faria (UESB) com seu artigo “Oralidade, Direitos Humanos e cognição” defende a ideia de que a conscientização de estruturas de conhecimento armazenadas na memó- ria pode desenvolver nos alunos, por intermédio de atividades com gêneros textuais orais, competências discursivas altamente determinantes em sua formação, de modo a dialogar com as demandas educacionais do século XXI, sobretudo com aquelas diretamente vinculadas à cidadania e aos direitos humanos.
Desse modo, esse conjunto de artigos, respeitando as idiossincrasias de abordagens e temáticas, nos permite aproveitar em múltiplas direções estudos que convergem sobre aspectos culturais.
Boa leitura a tod@s!
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2018
Em seu décimo segundo número, a REVEC (Revista de Estudos de Cultura da Universidade Federal de S... more Em seu décimo segundo número, a REVEC (Revista de Estudos de Cultura da Universidade Federal de Sergipe) congrega docentes e pesquisadores que discutem a interface historiográfica e cultural das Letras (conceito vigente até o final do século XVIII) e da Literatura (a partir do Romantismo). O objetivo deste Dossiê “Letras & História” é dar maior visibilidade à intersecção entre essas e outras áreas do conhecimento, especialmente porque, nos últimos trinta anos, estudos promovidos nas universidades brasileiras têm fomentado a realização de trabalhos de caráter interdisciplinar em diversas instituições. Assim, este número conta com pesquisadores de diversas localidades do país, o que ampliará, consistentemente, a rede de colaboradores dedicados ao tema (Letras e História) e permitirá consolidar novas parcerias institucionais, que estimulem discussões em torno da historiografia, na sua relação com as artes da palavra – a exemplo da retórica e da poética, bem como dos manuais de cortesania –, o estudo das leis, cartas, tratados, etc.
Desse modo, o primeiro artigo que compõe este Dossiê é o de Daniel Vec- chio Alves, que objetiva compreender como Aristóteles opera a síntese entre história e poética a partir da Retórica. Já Cleber Vinicius do Amaral Felipe investiga, em seu estudo, a catábase marítima de Baco n’Os lusíadas (1572) de Camões. Marcus De Martini e Isabel Scremin da Silva, por sua vez, debatem o gênero da História do Predestinado Peregrino e seu irmão Precito (1682), do jesuíta Alexandre de Gusmão (1629-1724), considerando os parâmetros teológico-políticos e retórico-poéticos que engendram a invenção, disposição e elocução dessa obra. Érica Araujo da Costa, em seu trabalho, trata das Lettres Portugaises Traduites en Français (1669) atribuí- das a Mariana Alcoforado, contrapondo as preceptivas retórico-poéticas seiscentistas à posterior crítica oitocentista acerca dessas Cartas Portuguesas. Por seu turno, Patrícia Bastos discute a presença do ut pictura poesis horaciano na composição dos retratos femininos da poesia satírica atribuída a Gregório de Matos. Já o artigo de Rodrigo Gomes de Oliveira Pinto
volta-se para A Doença (1777), de Domingos Caldas Barbosa, um poema de gênero misto em que se interceptam procedimentos compositivos da poesia lírica e da heroica.
Adentrando o século XIX, o trabalho de Jean Pierre Chauvin faz a leitura crítica de um poema em quadras da Marquesa de Alorna, também conhecida como Alcipe portuguesa, com base em critérios retórico-poéticos. E Caio Cesar Esteves de Souza apresenta uma reflexão sobre os mecanismos que a historiografia literária e a filologia/crítica textual empregam, desde o Oitocentos, para construir autores coloniais nas letras latino-americanas. Por sua vez, voltado para a reflexão acerca da literatura contemporânea, o trabalho de Lara Perussi analisa Conhecimento do inferno (1980), de Antônio Lobo Antunes, destacando o diálogo que o romance estabelece com a tradição literária portuguesa, sobretudo no que diz respeito à ressignificação da imagem do mar. Com foco na historiografia literária brasileira dos séculos XX e XXI, Gabriela Simões Pereira examina as perspectivas narrativas e historiográficas adotadas nas obras Do Barroco ao Modernismo – estudos de poesia brasileira (1967), de Péricles Eugênio da Silva Ramos, e Uma história da poesia brasileira (2007), de Alexei Bueno. Já o artigo de Marcelo Lachat e Maíra Ribeiro Maximiano dos Santos propõe uma discussão – não como ponte, mas como abismo – sobre poesia e história em Os lusíadas (1572), de Camões, e Uma viagem à Índia (2010), de Gonçalo M. Tavares. Encerrando este Dossiê, enfim, há o texto de Pedro Marques, um misto de ensaio poético e poesia ensaística, em que o autor discute e demonstra artifícios de composição em versos.
Agradecemos aos colaboradores a confiança em nosso trabalho. Esperamos que os artigos atendam às necessidades dos leitores à cata de ruínas letradas, aos quais este Dossiê é dedicado.
Os organizadores.
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA , 2018
É com essa intenção que organizamos este dossiê temático da Revista de Estudos de Cultura, da Uni... more É com essa intenção que organizamos este dossiê temático da Revista de Estudos de Cultura, da Universidade Federal de Sergipe, com o propósito de divulgar a produção acadêmica de pesquisadores de várias universidades brasileiras e estrangeira, expondo discussões acerca do léxico e da cultura em diferentes perspectivas teóricas e metodológicas.
Sendo assim, este número compila catorze artigos que tratam desde a concepção de cultura, passando por estudos diacrônicos e analíticos do léxico numa perspectiva cultural, sobre os quais segue um breve resumo.
O artigo “Olhar antropológico sobre a cultura – construções mosaicas”, de Leandro Gomes, apresenta visões e construções acerca da cultura através dos tempos, de acordo com a perspectiva teórico-metodológica da Antropologia, com o propósito de desenvolver uma discussão sobre as concepções etimológicas e ideológicas da epistemologia do conceito de cultura. Por meio desse referencial, o debate desenvolvido pelo autor contempla ainda a polifonia de (re)construção da concepção de cultura, considerando a complexidade do termo com suas intencionalidades internas, externas, individuais, coletivas e instrumentais.
O segundo artigo, “O códice Commentariumin apocalipsin (1047) e sua característica linguístico-cultural”, de Carolina Akie Ochiai Seixas Lima, demonstra com as características linguístico-culturais presentes no códice latino Commentarium in apocalipsin, enco- mendado por Fernando I e Dona Sancha, reis de Leão e Castela, como o texto analisado foi um instrumento de poder e persuasão para difundir e relacionar o poder dos monarcas cristãos com os preceitos do texto bíblico do Apocalipse, de modo a induzir o povo a crer no poder divino de reis e rainhas. Por meio da análise das iluminuras, a autora discute criticamente os aspectos linguístico-culturais que marcam as relações de poder existentes entre a monarquia cristã de Fernando I e D. Sancha e muçulmanos e judeus.
No terceiro artigo, “Esquema de ordenação de Hallig e Wartburg: uma avaliação de sua aplicação à análise lexical do português”, César Nardelli Cambraia aplica o esquema de ordenação de Hallig e Wartburg para a análise lexical do diário de Maurício Grabois, escrito durante a Guerra do Araguaia (1972-1973). Embasado nos fundamentos da lexicologia social de Matoré, Cambraia delimita uma hipótese de trabalho e seleciona, com o auxílio de ferramentas computacionais, os cinquenta itens lexicais mais frequentes no diário, com vistas a perceber se há uma correspondência desse léxico no esquema de ordenação de Hallig e Wartburg, provando que essa correspondência inexiste, pois cada cultura e cada época tem seu modo particular de organizar, ordenar e hierarquizar o seu patrimônio lexical.
Em “Unidades fraseológicas na obra Cascalho de Herberto Sales: uma breve discussão sobre os seus aspectos socioculturais”, de Antonio Marcos de Almeida Ribeiro, Liliane Lemos Santana Barreiros e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz, os autores realizam uma aná- lise sociocultural das fraseologias apresentadas na obra Cascalho, obra que retrata o léxico regional da Chapada Diamantina, na Bahia. Pautados no referencial teórico da fraseologia, os pesquisadores discutem o caráter sociocultural das unidades fraseológicas apresentadas nas falas dos personagens da obra, pois por meio dessas lexias é possível perceber ideologias, tradições e práticas que constituem o legado sociocultural da Chapada Diamantina.
Já em “As ofensas verbais na cultura estanciana do século XIX: um estudo sobre os processos-crimes do sul sergipano”, Sandro Marcío Drumond Alves Marengo, Augusto Petrônio Pereira, Mariana Augusta Conceição de Santana Fonseca e Marcos Mateus Cam- pos Mota Nunes apresentam a edição semidiplomática de um processo-crime de ofensa de 1986, ocorrido em Estância- SE. Pautadas na Lexicologia Social, as análises discutem acerca dos itens lexicais usados como ofensa versal e como esse léxico representa a violência da província de Sergipe no século XIX.
No sexto artigo, intitulado “Negrinha, coisa humana: o léxico referente às personagens Negrinha e Dona Iná- cia no conto de Monteiro Lobato”, Amanda Moreira de Amorim e Maria Helena de Paula realizaram uma aná- lise lexicológica no conto Negrinha, com base na teoria dos campos lexicais. A observação do corpus permitiu a composição de cinco campos lexicais que reúnem lexias referentes às personagens Negrinha e Dona Iná- cia e que evidenciam as distinções sociais, étnicas e culturais presentes no conto.
No artigo “Oxumaré e Xangô: a influência religiosa na substituição dos topônimos das ruas do bairro Jardim Sucupira em Feira de Santana-BA”, Natália Oliveira Nascimento e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz desenvolvem uma discussão acerca da substituição dos topônimos feirenses originados das religiões de matrizes áfricas. A partir da seleção de dois topônimos, as autoras concluem que essa substituição assume um caráter de apagamento da cultura negra por meio da renomeação dos espaços com topônimos que remetem a outras culturas.
“O léxico médico nos processos-crime de defloramento”, de Natália Larizza Sanches de Souza, Soraya Carvalho Souza Biller Teixeira, Rafaela Neres de Oliveira e Deyvison Moreira Santos, apresenta a edição filológica de dois processos-crime de defloramento ocorridos em 1893 e 1902, respectivamente, em Aracaju-SE. Depois da edição, é realizado o estudo termino- lógico do léxico médico presente nesses documentos, enfatizando o caráter social, histórico e cultural do léxico empregado pelos médicos na produção dos autos do processo.
No nono artigo, “A cultura do couro no Ceará: um estudo do campo lexical do seleiro”, Ticiane Rodrigues Nunes e Expedito Eloísio Ximenes investigam o léxico do artesão seleiro na perspectiva sociocultural e com a utilização da teoria dos campos lexicais. Os autores constituem o campo lexical cultura do seleiro a partir do corpus coletado em pesquisa etnográfica e discutem acerca das relações semânticas responsáveis pela estruturação do campo, de modo a enfatizar os aspectos linguístico-culturais expressões por meio do léxico do seleiro.
“O campo lexical da política e a criação neológica em textos jornalísticos publicados na Revista Veja”, de Elisângela dos Santos Silva Ribeiro, Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz e Liliane Lemos Santana Barreiros, busca refletir sobre a dinamicidade da língua por meio dos neologismos observados na Revista Veja. As autoras realizam uma análise dos neologismos para a delimitação do campo lexical da política em reportagens veiculadas em 2016, de modo a comprovar como o campo lexical da política amplia seu repertório lexical através das inovações lexicais de seu domínio discursivo.
Já no artigo “Derramamento de águas aos cântaros: um estudo léxico-semântico do vocabulário judaico em textos inquisitoriais do século XVI”, Ana Claudia de Ataíde Almeida Mota descreve, de acordo com a perspectiva léxico-semântica, os vocábulos presentes no Primeiro livro de Reconciliações e Confissões da Visitação do Santo Ofício à Bahia, de modo a constituir os campos semânticos e conceituais do léxico das culpas no âmbito do judaísmo. O léxico delimitado permite observar que as relações léxico-semânticas inventariadas são estabelecidas não apenas por elementos linguísticos, mas também extralinguísticos, divulgando, assim, as práticas do judaísmo.
“Toponímia e ambiente físico: a nomeação de comunidades rurais do sertão nordestino”, de Cézar Néri Santos, descreve e analisa os topônimos do município de Pariconha-AL, desenvolvendo uma análise toponímica dos registros fotográficos de uma pesquisa de campo, que relaciona a linguagem, a cultura e a geografia física para compreender como, de acordo com a classificação de Dick, os topônimos rurais de Pariconha-AL têm a sua nomeação motivada pela geografia natural do município. O autor conclui que a análise toponímica revela o caráter interdisciplinar dessa ciência, pois envolve aspectos linguísticos, geográficos e sócio-históricos imprimidos no léxico estudado.
O artigo “O léxico toponímico pela via filológica: o entrecruzar de língua, cultura e história”, de Bárbara Bezerra de Santana Pereira, desenvolve uma discussão em que reflete sobre a relação entre língua, cultura e história. Essa reflexão é baseada na análise filológica dos topônimos encontrados nas atas da câmara de vereadores de Tucano- BA (1987-1876), em que há uma diversidade desses topônimos, em consonância com a classificação de Dick (1990).
E o último artigo, intitulado “Marcas de inabilidade na escrita alfabética do escrivão jacobinense: um estudo sócio-histórico diacrônico”, de Luzineide Vieira de Sousa, realiza uma análise diacrônica dos desvios de escrita apresentados na redação de uma carta oficial de 1893, manuscrita por um escrivão da então vila de Jaco- bina-BA, que caracterizam a inabilidade do escriba para a produção de textos. No corpus analisado, a autora des- taca como marcas de inabilidade os elementos supragráficos e paleográficos, a segmentação gráfica, a repetição, os aspectos de aquisição da escrita e os fenômenos fono- lógicos; e conclui que essas ocorrências são influências do português popular brasileiro nos escritos da época, o que evidencia também a inabilidade do escrivão, pois são característicos do processo de aquisição da escrita.
Boa leitura a todos!
Organizadores do dossiê léxico e cultura:
Prof. Dr. Expedito Eloísio Ximenes (UECE)
Profa. Dra. Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) Prof. Dr. Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (UFS) Profa. Dra. Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2018
A questão referente à circulação, recepção e apropriação de culturas é latente em todas as épocas... more A questão referente à circulação, recepção e apropriação de culturas é latente em todas as épocas e tem na modernidade vários paradigmas, tanto na poesia quanto na música e nos costumes, com suas variações locais, regionais e nacionais, em contexto rural ou urbano (Burke, 2010). A história cultural, por sua vez, tal como a entende Chartier (2002, p. 16-17), tem como objeto principal “o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”. Assim, ela se constrói sobre três conceitos fundamentais: representação, prática e apropriação. São conceitos de grande funcionalidade para pensarmos o fenômeno que ora nos interessa – as relações entre música e identidade –, uma vez que problematiza as representações como espaços de luta ou disputa pelo poder do discurso, ao mesmo tempo em que deixa de conceber a recepção como uma ato meramente passivo, ou, quando muito, um fenômeno psicológico individual, seja para enfatizar o caráter criativo das práticas cotidianas (Certeau, 1998), seja para marcar a intervenção do leitor, espectador ou ouvinte da obra de arte. Por outro lado, não há como falar de circulação, recepção e apropriação de culturas sem levar em conta a ideia de uma cultura diaspórica, para falar como Hall (2006), uma vez que abrange discursos e manifestações políticas, artísticas e culturais de grupos sociais que têm uma espécie de dupla, ou híbrida pertença, embora tenham nascido e/ou crescido nos guetos e subúrbios de grandes cidades europeias ou norte-americanas. O objetivo deste dossiê é reunir artigos científicos sobre a matéria, no intuito de estabelecer uma periodização relacionada à circulação, recepção e apropriação de culturas estrangeiras no Brasil.
Este número da REVEC, dedicado ao tema “Música e Identidade”, nos Brinda com uma coletânea de artigos instigantes que abordam o tema sob várias perspectivas. Abrimos com o excelente texto de Adalberto Paranhos, A cruzada da purificação nacional contra a Bossa Nova: ecos de um debate, que busca, segundo o autor, evidenciar que ouvir Elomar falar equivale a comprar um bilhete para uma viagem sem volta rumo ao passado, pois suas palavras representam um eco tardio de argumentos esgrimidos por nacionalistas ferrenhos, a exemplo do pesquisador e jornalista José Ramos Tinhorão e outros. No rastro do sucesso da Bossa Nova, entre o fim dos anos 1950 e a década de 1960, a reação se instalou no país, dando início a uma verdadeira cruzada de purificação da música popular brasileira, uma versão à moda da casa de uma espécie de “nazismo cultural”. Escrito fora dos padrões acadêmicos mais ortodoxos, o artigo de Adalberto Paranhos, a partir da crítica às formulações de Elomar, trata do debate do período em torno da Bossa Nova.
Em Eu sou favela, sou/ Eu sou do gueto, sou”: música, identidade, território, Roberto Camargos analisa o modo como os rappers, em seus discursos musicais, contribuíram para o desenvolvimento de noções complexas de pertencimento identitário e territorial. Assim, investiga como alguns deles tencionaram representações, estigmas e duras experiências relacionadas às periferias e favelas, produzindo ideias e imagens positivadas e trabalhando, inclusive, em favor da autoestima de uma população muito numerosa.
“DE FLORES E CHÃOS: OUTRAS TRILHAS DE CAMINHANDO”, de Ravel Giordano Paz, analisa a canção “Pra não dizer que não falei das flores” (mais conhecida como “Caminhando”), do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, buscando ressituá-la em seu contexto histórico imediato e sopesando seu efetivo valor estético, no âmbito e para além desse contexto, a saber, o período imediatamente à instauração do Ato Institucional número 5 pelo regime militar que governava o Brasil.
“SOY LOCO POR TI, AMÉRICA”: TROPICALISMO, MÚSICA E IDENTIDADE LATINO-AMERICANA, aasinado por Éverton Santos e Christina Ramalho, faz uma abordagem do movimento tropicalista no Brasil, da relação entre a América Latina e a produção musical, no que diz respeito às representações identitárias da região, através de uma discussão acerca do viés engajado ou lírico-amoroso/ufanista que envolve a canção “Soy loco por ti, América”, composta por Gilberto Gil e Capinan e gravada por Caetano Veloso, pela primeira vez, em 1968. O artigo, assim, propõe-se a repensar o sentido da música latino-americana de protesto a partir da segunda metade do século XX.
Em seguida, IDENTIDADE E MEMÓRIA NOS VERSOS DA CANÇÃO: O DISCURSO DE ETNICIDADE PRESENTE EM NA LETRA DA CANÇÃO MÃE ÁFRICA, de Sara Rogéria Santos Barbosa, objetiva analisar a construção discursiva étnica negra presente na letra da canção Mãe África (SIVUCA; PINHEIRO, s/n, 1982), uma vez que esta traz em seu bojo traços memorialistas de fortalecimento identitário negro e de pertencimento. Tal sentimento de pertença é percebido na letra da canção a partir da narrativa de um passado não vivido pelo homem do século XX, mas recepcionado como parte de sua ancestralidade, de tal forma que o sentimento que aflora é de saudade de um tempo nunca vivido e um desejo de retornar a uma terra onde nunca esteve.
Carlos Cézar Mascarenhas de Souza, em Opereta verbal do drama cartesiano no teatro da imaginação tropical, aborda dois aspectos que se manifestam na escritura da prosa-poética Catatau, do escritor Paulo Leminski: a teatralidade e a musicalidade. Ao mesmo tempo, visa articular uma leitura interdisciplinar com as contribuições da Psicanálise freudo-lacaniana sobre o problema da “identidade” a partir do discurso enunciado pela personagem Renatus Cartesius, duplo ficcional do filósofo francês René Descartes que, segundo a narrativa desta ficção literária, teria vindo ao Brasil durante o governo de Maurício de Nassau no período das “Invasões Holandesas”, em Pernambuco.
Fechamos este dossiê com MÚSICA PARA DANÇAR NO BRASIL DA DITADURA: do samba ao soul, do soul à disco (1970-1979), escrito por Luiz Eduardo Olievira e Lázaro da Cruz Santos. O artigo, resultante de uma pesquisa de Inciação Científica, busca investigar os modos pelos quais a “soul music” e a cultura disco foram apropriadas no Brasil, sobretudo a partir de 1970, quando a sonoridade do soul como novo estilo musical já se fazia ver em “BR-3”, canção composta por Antonio Adolfo e Tibério Gaspar e vencedora do V Festival Internacional da Canção daquele ano, na voz de Tony Tornado e do Trio Ternura, até 1979, quando a febre da disco, ao tornar-se extremamente comercial e repetitiva, acabou condicionando, nos Estados Unidos, o movimento disco sucks. Por outro lado, no Brasil, 1979 é o ano em que ocorre a revogação dos instrumentos de exceção da ditadura, como o célebre AI-5, pelo Congresso nacional, e o retorno dos exilados, com a abertura política, criando um estado de coisas que possibilitou o restabelecimento do habeas corpus, da autonomia do judiciário e da liberdade – relativa – de imprensa. Nossa hipótese é de que a difusão e popularização da soul music e da cultura disco no Brasil foi um processo que, embora possa ser compreendido como uma imposição dos enlatados norte-americanos, cujo governo financiava a ditadura a que o país estava submetido desde o golpe militar de 1964, foi capaz de mostrar o seu potencial transgressor, especialmente na formação de identidades afirmativas do ponto de vista étnico.
Espero que você, leitor(a), leia com prazer esta coletânea preparada com muito carinho.
LUIZ EDUARDO OLIVEIRA
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2017
Nossa proposta nesse dossiê na Revista de Estudos da Cultura é agregar trabalhos que tenham como ... more Nossa proposta nesse dossiê na Revista de Estudos da Cultura é agregar trabalhos que tenham como foco a história da cultura escrita em suas mais variadas abordagens a fim de entrelaçar questões relativas ao texto escrito, sejam manuscritos, hipertextos digitais e impressos, e sua produção e circulação na história das sociedades.
O primeiro texto, intitulado A censura e as traduções portuguesas no século XVIII: a busca pela norma, Cláudio DeNipoti nos afirma que a estrutura de censura implantada pelo Marquês de Pombal empenhou-se em disciplinar os livros publicados tanto com relação ao universo de ideias quanto na definição de formas e estruturas de escrita. Ao mesmo tempo, com a explosão editorial em francês e o avanço disciplinar das ciências, derivados do Iluminismo, houve um aumento exponencial das traduções para o português. Seu artigo explora, a partir dos pareceres dos censores sobre as obras traduzidas, quais as definições que eles buscaram estabelecer para que as traduções fossem aprovadas, para além das questões de fé e do estado. Assim, buscando estabelecer séries documentais com os pareceres entre 1769 e 1794, o estudo pautou-se pelas recorrências discursivas dos censores como instâncias normativas do vernáculo.
O texto Sistemas de abreviaturas no Códice 132 do Aquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia, da autoria de Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães e Alícia Duhá Lose, nos leva ao conhecimento da riqueza de abreviaturas presentes no Códice 132, documento manuscrito do século XVIII, que foi adquirido em Portugal e doado ao Mosteiro de São Bento da Bahia por Cláudio de Britto Reis, advogado baiano autor de diversos livros sobre o Marquês de Pombal. Além de apresentar a riqueza de detalhes das questões relacionadas à ascenção política de Sebastião José de Carvalho e Mello, a administração do Império Português e aos feitos que se tornaram conhecidos como as Reformas Pombalinas, os autores também fizeram a identificação e a classificação de todas as abreviaturas de acordo com a proposta de Maurice Prou.
Na sequência, Elaine Brandão Santos e Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda apresentam a importância do Livro do Gado para o estudo sócio-histórico do português brasileiro, em especial, o do interior da Bahia. Em O Livro do Gado: fonte significativa para a recomposição sócio-histórica do português brasileiro, as autoras mostram como tal documento pode trazer grandes contribuições para a configuração linguística do período colonial, esclarecendo algumas questões sobre a penetração e difusão da língua escrita, ponto chave destacado para diagnosticar as vertentes culta e popular do Português do Brasil. Ainda em seu estudo, verificamos a questão do contato linguístico protagonizado pelos gentis, portugueses e africanos responsáveis pela complexa realidade sociolinguística brasileira atual, bem como a discussão sobre a origem do português popular brasileiro.
Vinculando os estudos da História da Cultura Escrita à mudança linguística de cunho socioterminológico, Sandro Marcío Drumond Alves Marengo, em seu artigo Mudança linguística à luz da socioterminologia diacrônica: a História da Cultura Escrita como fator extralinguístico, apresenta resultados de uma pesquisa que teve como objeto a linguagem de especialidade militar, mais precisamente os postos de graduação que indicam as hierarquias dos homens que compõem o corpo de tropa. Os corpora foram dois manuais manuscritos (um setecentista e outro oitocentista) de tática de infantaria do Exército Português. A investigação analisou as diferenças no campo nocional Postos de graduação, com base no aporte teórico da socioterminologia em diálogo com a sociolinguística variacionista. O autor explica as diferenças de frequência dos termos a partir do discurso escrito dos corpora, coadunados com a noção de estilo dos agentes escreventes, da história social e militar portuguesa, tomados como constituintes da história da cultura escrita e alocados como possibilidade de serem interpretados como fatores extralinguísticos.
O quinto artigo, A relevância de corpora para o estudo do português popular brasileiro: cartas baianas do século XX, da autoria de Elane Santos e Santos e Silvana Silva de Farias Araújo, analisa o corpus constituído por cartas pessoais do século XX, escritas por sertanejos baianos de pouca escolaridade. Segundo as autoras, essa amostra contribui substancialmente para os estudos que almejam construir uma sócio-história do português brasileiro, por meio da história da cultura escrita, que reconhece a vertente popular do português, utilizada pela população de pouca escolaridade, e que por muito tempo foi considerada um “desvio” da norma padrão.
Já em A circulação de livros voltados para a alfabetização no sul no Mato Grosso, Thaise da Silva analisa a circulação de livros didáticos de alfabetização, também denominados de cartilhas, na escola primária da região conhecida como Colônia Agrícola Nacional de Dourados, localizada no extremo sul do estado de Mato Grosso, entre as décadas de 1950 e 1980. Sua pesquisa qualitativa de base documental, examinou documentos da 6ª Delegacia de Ensino Primário de Dourados e alguns livros destinados ao ensino das primeiras letras oriundos do acervo pessoal de professores que trabalhavam na região na época. A partir dos documentos investigados, buscou-se compreender a circulação de cartilhas localizadas nesta região do estado. Os resultados alcançados indicam que a circulação destes artefatos nesta região ora se assemelhava, ora se diferenciava das demais regiões do estado devido à influência do Governo Federal, que repercutia na educação, na cultura e no desenvolvimento local.
O artigo Cores da Escrita Sediciosa: distribuição social da escrita nos Movimentos Sediciosos da Bahia, de Minas Gerais e do Rio De Janeiro em finais do século XVIII, da autoria de André Moreno, nos mostra que, nos últimos anos, a partir de desdobramentos investigativos da história social linguística do Brasil, o interesse pela história da cultura escrita em nosso país tornou-se evidente, principalmente quando tratamos do subcampo que se debruçou em levantar e investigar os corpora diacrônicos do Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB). Sendo assim, o autor busca pautar a difusão social da escrita no Brasil em finais do período colonial, com base nos processos devassatórios da Conspiração dos Alfaiates, na Bahia, da Inconfidência Mineira, em Minas Gerais, e da Revolta dos Letrados, no Rio de Janeiro. A partir da variável cor, o artigo mostra como a escrita estava distribuída entre os envolvidos nas referidas sedições, com o objetivo de avaliar os perfis dos assinantes e dos não assinantes de cada um dos processos impetrados.
O texto que compõe o dossiê é Níveis de alfabetismo no território do sisal: estudo de um livro de registro de nascimento (1933-1934), da autoria de Huda da Silva Santiago e Adilson Silva, apresenta alguns índices de alfabetismo do Território do Sisal, no semiárido baiano, contribuindo com a busca de indícios acerca do processo de penetração e difusão da cultura escrita nessa região, na primeira metade do século XX. No âmbito da História da Cultura Escrita, forma específica da História Cultural, que enfatiza práticas de pessoas comuns, de anônimos, propõe-se uma abordagem que evidencie as produções dos que estão à margem da sociedade, relegados da história oficial. Nesse sentido, este estudo é motivado pela possibilidade de se encontrar a recorrência à prática de escrita por indivíduos oriundos da zona rural, espaço em que as escolas, nesse período, ainda não eram presentes.
Em seguida, Pedro Daniel dos Santos Souza assina Das muitas histórias a serem (re)construídas: história social linguística do brasil e história social da cultura escrita, em que reflete sobre as formas de aproximação da história social da cultura escrita a uma história social linguística do Brasil, apresentando uma síntese historiográfica pautada, sobretudo, nas proposições de Houaiss e Mattos e Silva. O autor traça um breve panorama da emergência de pesquisas que passaram a se preocupar com o modo como, em diferentes espaços e temporalidades, uma determinada realidade social é construída, pensada e “dada a ler”.
Em Prática de escritas de intelectuais negros no periódico “O Exemplo”, Ricardo Costa de Sousa, sob os pressupostos da História Cultural, procura discutir a prática de escritas de intelectuais negros no periódico O Exemplo, publicado e posto em circulação entre 1892 e 1930 em Porto Alegre – RS . Mais especificamente, sobre o que essas escritas contam a respeito da instrução.
O penúltimo artigo que compõe o nosso dossiê é Pensar, sentir e produzir: as construções do escrito e as estratégias de circulação de memórias naturalistas de luso-brasileiros no século XVIII, assinado por Daniela Casoni Moscato. Nesse artigo, a autora se fixa sobre alguns aspectos da composição de memórias de viagens filosóficas e selecionou um grupo de naturalistas luso-brasileiros de pós-Reformas Pombalinas: João da Silva Feijó, Manuel Arruda da Câmara, Alexandre Rodrigues Ferreira, Vieira Couto,Francisco José de Lacerda Almeida. Esses viajantes utilizaram em suas publicações alguns padrões narrativos e que, em certa medida, colaboraram em sua circulação e o texto que eles escreveram pode ser pensado como um produto científico e parte dos muitos dos instrumentos da “República das Ciências”.
Fechando nosso número, O leitor e a leitura do século XXI, de Lívia Borges Souza Magalhães, discute sobre as modificações no exercício da leitura e, por consequência, nos leitores. A autora faz um percurso histórico sobre a evolução da tecnologia computacional, uma análise sobre o texto no ambiente virtual, destacando o hipertexto e suas principais características e peculiaridades e, por fim, aborda sobre o mercado de leitura, avaliando desde as especulações até o cenário atual brasileiro.
Os editores
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2017
Neste oitavo número da Revista de Estudos de Cultura, trataremos de um tema muito caro aos pesqui... more Neste oitavo número da Revista de Estudos de Cultura, trataremos de um tema muito caro aos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Cultura da UFS: a história do ensino das línguas. Como afirmei num dos capítulos do livro A legislação pombalina sobre o ensino de línguas: suas implicações na educação brasileira (1757-1827), publicado em 2010, é possível construir uma história do ensino das línguas no Brasil a partir da legislação. Isso porque tal história, ao atentar para o processo de institucionalização do ensino de línguas, bem como de sua configuração como disciplina escolar no sistema educacional do país, tem como objetivo principal investigar o modo como se delineiam suas finalidades políticas, pedagógicas e culturais, para além do seu papel como instância de validação de um conjunto de conteúdos e métodos (re)elaborados ou facilitados para sua aprendizagem escolar no decorrer do tempo, como geralmente se pensa.
Nesse sentido, torna-se viável a investigação do modo pelo qual os próprios conceitos de língua e literatura se constituíram historicamente, uma vez que, através do estudo de certas peças legislativas, pode ser observado o papel que tais conceitos se configuraram nas políticas linguísticas e educacionais implementadas nos diferentes momentos históricos.
Assim, o estudo do seu processo de institucionalização, isto é, de sua oficialização, mediante as políticas educacionais do Estado, confunde-se com a análise da legislação promulgada por esse mesmo Estado, no intuito de apreender suas finalidades – que são ao mesmo tempo políticas, pedagógicas e culturais –, tal como se mostram no texto final da lei, a qual, por sua vez, resulta das práticas legislativas de vários agentes, ao mesmo tempo em que repercute seus fatores políticos, religiosos, econômicos e culturais.
Abrimos o nosso número com o artigo LANGUAGE TEACHING AND HISTORY OF EDUCATION: the Brazilian case, de minha autoria. Seu objetivo é evidenciar a correspondência e interdependência entre o ensino de línguas e a história da educação em geral e a história da educação brasileira em particular, no intuito de fornecer subsídios teóricos para o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre o tema.
Em seguida, temos o artigo O ensino de francês em Minas Gerais no século XIX: percursos de uma operação historiográfica ou maneiras de se fazer a história de uma disciplina escolar, de Rita Cristina Lima Lages. Aqui, a autora busca produzir uma história do ensino da língua francesa em Minas Gerais no século XIX, baseando-se, para isso, nos pressupostos de Michel de Certeau (2006). Nesse sentido, procura destacar o processo de configuração do objeto de pesquisa a partir da seleção de documentos, das combinações feitas, da construção dos mapas mentais, que se tornaram viáveis por meio de leituras prévias das teorias do campo.
Em O ensino de francês na américa portuguesa: a Academia Real Militar do Rio de Janeiro, Kate Constantino Oliveira faz uma análise dos 12 Títulos do documento que lançou o Estatuto de criação da Academia que, para além do objetivo pragmático, orientava uma instrução literária com o estudo das Línguas Estrangeiras. Tendo como suporte teórico Chervel e Compère (1999) e o conceito de disciplinas escolares, a autora busca mostrar a articulação do currículo humanístico ao científico e tecnológico desta instituição, assumindo o ensino de francês o status de língua de acesso ao conhecimento científico.
A produção da pesquisa histórica em educação com intelectuais: o caso da bibliografia de Carneiro Leão na reforma das línguas estrangeiras modernas (1930-1934) é o título do artigo assinado por Jonathas de Paula Chaguri e Maria Cristina Gomes Machado. Nele, os autores apresentam os resultados de uma pesquisa de doutoramento em educação, desenvolvida pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), cujo objetivo é analisar a reforma do ensino de língua estrangeira moderna no ensino secundário no Colégio D. Pedro II, entre os anos de 1930-1934, focalizando os aspectos relativos aos autores, à produção e à disseminação de pesquisas relacionadas acerca das ações educacionais do professor e intelectual brasileiro Antônio Carneiro Leão.
Em O método direto no brasil: análise de um livro didático, Rodrigo Belfort Gomes analisa a constituição de um livro didático quanto à sua conformidade com o novo método prescrito na legislação brasileira de 1931. Assim, através da análise do livro escolhido, An English Method, de 1939, o autor constata que, embora não seja completamente escrita nos moldes do método direto, a obra traz para a sala de aula elementos desse método como o trabalho com a oralidade e os símbolos fonéticos.
O inglês nos jornais oitocentistas: a escola (1877-1878), artigo de Elaine Maria Santos, discute a utilidade do uso de jornais em pesquisas históricas e apresenta as concepções educacionais encontradas no periódico A Escola, publicado no Rio de Janeiro nos anos de 1877 e 1878. Em sua primeira edição, os editores da revista atestaram ser a sua maior preocupação oferecer oportunidades de compartilhamento de informações que pudessem privilegiar a defesa dos direitos do magistério e a luta por melhores condições de trabalho, tendo sido priorizadas, nesta análise, as notícias relacionadas ao ensino de línguas e, mais especificamente, de inglês.
A institucionalização do ensino da língua espanhola na instrução comercial do Brasil (1905-1931), de Anselmo Guimarães, faz uma análise da legislação educacional, de relatórios oficiais e de textos publicados em periódicos entre 1905 e 1931. O recorte foi escolhido tendo em vista o Decreto n. 1.339, de 9 de janeiro de 1905, pelo qual a língua espanhola entrou pela primeira vez nos currículos formais brasileiros, e o Decreto n. 20.158, de 30 de junho de 1931, que (re)organizou o ensino comercial e suprimiu o ensino da língua espanhola dos seus currículos. Seu objetivo, segundo o autor, é identificar e analisar as finalidades políticas, pedagógicas e culturais do seu ensino em âmbito comercial.
Fechamos o nosso número com O ensino das línguas vivas nas aulas de comércio, de Thadeu Vinícius Souza Teles. Aqui, o autor estuda o ensino de línguas vivas nas Aulas de Comércio à luz de pensadores ilustrados como John Locke (1632-1704) e Luiz Antonio Verney (1713-1792) no cenário da necessidade portuguesa de aparelhar seus homens de negócio com as habilidades próprias da atividade comercial. A partir de levantamento bibliográfico e análise de conjunto documental composto por algumas peças legislativas, periódicos e compêndios, foram observadas manifestações do ensino de línguas estrangeiras nas Aulas de Comércio durante a ascensão das línguas vivas e o consequente declínio do Latim.
Espero que vocês gostem desta edição. Boa leitura para todo(a)s!
Luiz Eduardo Oliveira
REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA , 2017
Desde que foi colocada para consulta pública, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fomentou re... more Desde que foi colocada para consulta pública, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fomentou reflexões e discussões na sociedade brasileira. Na primeira versão do texto, foram, segundo dados do próprio Ministério da Educação, mais de 12 milhões de contribuições ao documento e a área de Linguagens foi uma das que mais recebeu contribuições. Tal resultado evidencia que a concepção das diretrizes está longe do consenso, necessita de aprimoramento e que a sociedade está interessada no debate, pois, quando em vigor, a BNCC terá influência nos currículos não só da Educação Básica, mas também dos cursos de licenciatura, assim como na formação inicial e continuada de professores da Educação Básica e em políticas públicas, como as avaliações oficiais em larga escala e o Programa Nacional do Livro Didático.
Em sua terceira versão, o texto não pode ser considerado ainda definitivo e acabado. Há ainda muito o que discutir para amadurecer ainda mais os pressupostos subjacentes às diretrizes do documento. Com o intuito de contribuir para este propósito, esta edição da Revista de Estudos de Cultura reúne oito artigos que trazem análises sobre a BNCC e a área de Linguagens, subsidiando o debate e a proposição de ações.
Em O percurso histórico do ensino da língua portuguesa e os documentos oficiais: da lei 5692/71 à Base Nacional Curricular Comum (BNCC), Regina Godinho de Alcântara e Vanildo Stieg tematizam as modificações conceituais e metodológicas que tangem ao ensino da Língua Portuguesa na educação brasileira, buscando sua materialização nos discursos produzidos nos/pelos documentos oficiais que objetivaram balizar as práticas educacionais. Busca evidenciar as concepções de língua e linguagem que subsidiaram o ensino da Língua Portuguesa desde a Lei 5692/71 até a atual Base Nacional Curricular Comum (BNCC), no sentido da identificação e problematização de avanços, recorrências e retornos de conceitos/concepções e metodologias.
Em A literatura juvenil no ensino fundamental II: avanços e recuos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Raquel Sousa da Silva, Jhennefer Alves Macêdo e Daniela Maria Segabinazi partem das atuais discussões que sugerem práticas didático–metodológicas voltadas ao público escolar em processo de formação literária no século XXI e, em seu artigo, evidenciam a importância da BNCC na educação básica, porém, com a ressalva da necessidade de revisão de algumas práticas esboçadas no campo de atuação denominado práticas artísticas literárias.
Voltando aos antecedentes da BNCC, Joselita Júnia Viegas Vidotti analisa os objetivos de aprendizagem fixados no Referencial Curricular Rede Estadual de Ensino de Sergipe (2011), documento enviado ao MEC em 2015 quando do início das contribuições dos estados para a construção do documento Base Nacional Comum Curricular, em Objetivos culturais de aprendizagem de língua estrangeira na construção da BNCC: o caso de Sergipe. Ao cotejar os objetivos dos documentos com ênfase nas habilidades do eixo dimensão intercultural, o artigo evidencia as adjacências e lacunas na proposta de Sergipe.
Na convergência entre currículo e formação inicial de professores, Paulo Sergio Marchelli visa discutir a não factibilidade de muitas das transformações pretendidas para os cursos de licenciatura a partir da aprovação da BNCC, em Base Nacional Comum Curricular e formação de professores: o foco na organização interdisciplinar do ensino e aprendizagem. A análise empreendida evidencia que a BNCC poderá sim transformar a organização dos cursos de licenciatura, mas não pelo caminho da formação interdisciplinar, apontada como precípua.
Ensinar Línguas Começando pelo Plano de Curso é a proposta de José Carlos Paes de Almeida Filho, que apresenta um projeto em andamento na Universidade de Brasília, em uma experiência de tentar consolidar a prática fundamentada das materialidades em sua primeira estação, a dos planos e currículos para guia do ensino e aquisição das línguas de eleição que se afirmam no currículo recém aprovado para o Ensino Fundamental das escolas brasileiras pautado por uma Base Nacional Curricular Comum em processo de instalação.
Aproveitando a possibilidade de contribuição da sociedade civil na construção da BNCC, Isabel Cristina Michelan de Azevedo e Taysa Mercia dos Santos Souza Damaceno, em Desafios da BNCC em torno do ensino de língua portuguesa na educação básica discutem como a área de linguagens, e particularmente de língua portuguesa, é concebida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC); os fundamentos encontrados nele, bem como a maneira como se propõe a organização das práticas escolares. Também é destacado o entendimento dado à argumentação, por ser o ponto que norteia a redação do Enem ao final da Educação Básica. Com base em uma metodologia interpretativa e crítica, selecionamos quatro temáticas que foram analisadas a partir das declarações encontradas no documento preliminar da BNCC em comparação com orientações encontradas em outros documentos oficiais em vigência no Brasil e em referências teóricas.
Embora não tratem diretamente da BNCC, os dois últimos artigos que integram este dossiê trazem contribuições para o seu entendimento, a partir de duas realidades do ensino de línguas.
Uma é a experiência internacional apresentada em Enquadramento e funcionamento da disciplina de PLNM no sistema educativo português, em que Conceição Pereira discute o status da disciplina Português Língua Não Materna (PLNM), que é uma disciplina escolar que passou a integrar o currículo do Ensino Básico do Sistema Educativo Português a partir do ano letivo de 2006-2007 e do Ensino Secundário a partir de 2007-2008. Discutindo a questão dos direitos linguísticos, relacionando-os com os direitos à integração e à cidadania, o foco do artigo recai na legislação que regulamenta o PLNM, assim como nos seus documentos orientadores.
A outra realidade é o relato de pesquisa para saber quais as expectativas quanto a papéis a serem exercidos pelo Laboratório e atividades com que deveria se ocupar, apresentado em Laboratório de línguas: para quê e para quem?, de Simone Reis, Alex Alves Egido e Paula Kracker Francescon.
A sistematização destas análises no presente dossiê cumpre a função da universidade de espaço precípuo para o debate e a discussão, especialmente de um texto legal que afeta diretamente a rotina dos cursos de formação de professores como é o caso da BNCC. Esperamos que, a partir deste dossiê, sejam estimulados novos debates e propostas de ação, com atuação direta nos cursos de formação inicial e continuada de docentes na área de Linguagens.
Luiz Eduardo Oliveira
Raquel Meister Ko. Freitag
REVISTA E ESTUDOS DE CULTURA, 2016
Dando continuidade ao nosso dossiê sobre o tema Jesuítas e Ilustração: rupturas e continuidades, ... more Dando continuidade ao nosso dossiê sobre o tema Jesuítas e Ilustração: rupturas e continuidades, iniciamos o número seis de nossa Revista de Estudos de Cultura com Unidos num só corpo: jesuítas, continuidades e rupturas, de Ligia Bahia Mendonça. O artigo busca refletir sobre o legado dos jesuítas à Ilustração, abordando um momento pouco estudado na historiografia da Educação brasileira, que é a permanência dos jesuítas no Brasil pós Reforma Pombalina. Segundo a autora, a investigação identificou a importância dos jesuítas junto à Coroa portuguesa, analisando o “século das luzes” como inspirador da educação que a Ordem praticava e seguindo pistas de resistência e permanência da educação inaciana na cidade do Rio de Janeiro, bem como as estratégias e táticas utilizadas pelos religiosos para resistir à expulsão dos jesuítas do território lusitano ornado por Pombal.
Em O Padre Inácio Monteiro, entre a ruptura e a continuidade, Carlos Maduro pretende retratar o perfil do P.e Inácio Monteiro, um homem culto, de espírito moderno e pioneiro dos estudos científicos em Portugal. Conforme o autor, Inácio Monteiro mostra, de forma muito peculiar, uma outra perspectiva da Companhia de Jesus bastante conhecida dos diferentes estudiosos da Ordem de Santo Inácio, mas também convenientemente esquecida e oportunamente ignorada. A “expulsão dos jesuítas” como lugar-comum, de Jean Pierre Chauvin tenta relativizar alguns relatos sumários e imprecisos a respeito das dissensões entre a Coroa portuguesa e a Ordem da Companhia de Jesus. Assim, busca desabilitar fórmulas discursivas cristalizadas e orientadas pela brusca ruptura e o salvacionismo, as quais são personificados, no caso português, na figura de Sebastião José de Carvalho e Melo.
Paulo Assunção, por sua vez, em O colégio jesuítico da Bahia: entre a sua fundação e a invasão holandesa, destaca o processo de formação do Colégio da Bahia no decorrer do século XVI até o momento da invasão holandesa, dando ênfase à edificação do colégio e às necessidades materiais para o funcionamento da instituição. Em A herança jesuíta ressignificada no grande projeto da ilustração, Maria Regina Barcelos Bettiol busca mostrar que não houve apenas uma ruptura com o passado e sua tradição, mas, em certos aspectos, uma continuidade das ideias jesuítas adaptadas às transformações que ocorreram no contexto social e político da França do século XVIII. Já Fábio Falcão Oliveira, em História da educação: fronteira, missões e rupturas territoriais, busca perceber o fluxo do comércio na fronteira da Capitania de Mato Grosso, iniciando desde sua constituição até a chegada dos jesuítas portugueses. Assim, o autor pretende confrontar as duas bandeiras, a de Portugal e de Castela, tanto na possibilidade de granjear terras como num enfrentamento religioso que se deu não apenas nas terras espanholas, mas nas adjacências territoriais brasileiras com os jesuítas portugueses contra os castelhanos.
Em Os jesuítas e as reformas pombalinas: rupturas e continuidades, Luiz Eduardo Oliveira busca mostrar até que ponto as rupturas promovidas pelas reformas pombalinas significaram um rompimento ou continuidade com relação à pedagogia jesuítica. Gabrielle Cornelli, em Platão e os Guaranis: utopias transatlânticas na obra De Administratione guaranica comparata ad Rempublicam Platonis commentarius de José Manuel Peramás, dedica-se ao estudo da obra De Administratione guaranica comparate ad Republicam Platonis commentarius, escrita pelo jesuíta catalão José Manuel Peramás e publicada em 1793. A obra é concebida em polêmica com as utopias liberais e ilustradas modernas que o autor qualifica como epicuristas e desrespeitosas das santas instituições. Neste intento polêmico Peramás recupera a utopia política de Platão, expressa tanto na República como especialmente nas Leis.
Tenham todos uma excelente leitura.
Os editores
José Eduardo Franco
Karl Heinz Arenz
Luiz Eduardo Oliveira
Maria Regina Barcelos Bettiol