Paulo Miguel Rodrigues | Universidade da Madeira (original) (raw)
Papers by Paulo Miguel Rodrigues
Depois do vendaval napoleónico na Europa e, em particular, na Península Ibérica, cujas repercussõ... more Depois do vendaval napoleónico na Europa e, em particular, na Península Ibérica, cujas repercussões se estenderam ao mundo atlântico e ao espaço ibero-americano, o primeiro triénio liberal português (1820-1823) representou ascensão de uma nova realidade política e institucional no seio da Monarquia portuguesa, que se fez constitucional e parlamentar.
O processo de construção da nova Monarquia Constitucional, porém, não foi pacífico e, em última instância, em 1820, inaugurou-se um período de três décadas durante o qual a sociedade portuguesa viveu em permanente e multifacetado conflito.
A esta conflitualidade, não escapou a Ilha da Madeira, que depois de ter sido ocupada e tomada pelas tropas britânicas durante as guerras napoleónicas, também viu nascer e se desenvolver, durante esses anos, devido a múltiplos factores, a Ideia de Autonomia, com o sentido e a dimensão contemporânea de que hoje somos herdeiros.
Concluída a guerra, expulsos os franceses, mas permanecendo os britânicos no Reino, continuando a Corte portuguesa no Brasil, levantou-se também, então pela primeira vez, a questão da Adjacência da Ilha, que se tornou ainda mais premente após o eclodir do movimento liberal no Reino e da formação da Junta do Supremo Governo, que assumiu os destinos da nação.
Uma nação que era, desde 1816, um Reino Unido de Portugal e do Brasil e que, na perspectiva dos liberais portugueses, após Agosto de 1820, devia ter na cidade de Lisboa a sua metrópole.
Foi nesta conjuntura, de conflito aberto entre os Reinos de Portugal e do Brasil, que na Madeira se vão manifestar as questões da Autonomia, da Adjacência e também da Independência, sobre as quais nos vamos debruçar, analisando conceitos, opiniões, propostas, projectos e concretizações.
RESUMO: Na presente comunicação destacamos a importância da imprensa, não só na construção e divu... more RESUMO: Na presente comunicação destacamos a importância da imprensa, não só na construção e divulgação do ideário republicano, mas também na sua utilização para afirmar a especificidade madeirense e o seu sentimento autonomista, num tempo que se pretendia de regeneração e de ressurgimento nacionais.
PALAVRAS-CHAVE: Madeira - Autonomia - República - periódicos
ABSTRACT: This paper highlight the importance of the press, not only in the construction and dissemination of republican ideals, but also in its use to assert the specificity of Madeira and her autonomous feelings, at a time that was intended to be of national regeneration and rebirth.
KEYWORDS: Madeira – Autonomy – Republic - journals
A análise das relações entre a Ilha da Madeira e o Brasil durante o século XIX remete-nos para di... more A análise das relações entre a Ilha da Madeira e o Brasil durante o século XIX remete-nos para diversos aspectos da realidade insular madeirense e brasileira, não se podendo resumir, por isso, à tradicional temática das migrações, que tende a predominar nos trabalhos de investigação na área das Humanidades. Com a nossa comunicação, pretendemos destacar esses outros (novos) aspectos, demonstrando a sua relevância para a compreensão das relações luso-brasileiras, que têm na Madeira a sua pedra-de-toque. Neste sentido, ocupar-nos-emos da análise de um período-charneira marcado por uma crise multifacetada, sentida nas duas margens do Atlântico, aproveitando para reflectir também sobre algumas questões-chave (a adjacência, a mobilidade humana, as trocas interculturais) que emergiram durante o período investigado e que nos ajudam a compreender melhor as relações entre a Madeira e o Brasil (do cultural, ao económico, passando pelo político). Assim, o nosso ponto de partida situar-se-á em finais de 1807, data da fuga da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, acontecimento que contribuiu para a criação de um novo paradigma relacional entre a Madeira e o Brasil. Apresentaremos, portanto, uma breve síntese analítica, sobre três temas, sabendo que cada um deles é susceptível de um desenvolvimento mais aprofundado, mas que não cabe no âmbito deste Congresso. No fundo, cada um deles seria suficiente para outras tantas comunicações. As fontes consultadas encontram-se no ANTT (Lisboa), no Arquivo Regional da Madeira (Funchal) e no National Archives / Public Record Office (Londres).
Impõe-se esclarecer que a minha área de especialidade é a História Política e Institucional, com ... more Impõe-se esclarecer que a minha área de especialidade é a História Política e Institucional, com algumas incursões pelas relações externas, em particular naquilo que diz respeito às ligações anglo-madeirenses. Não sou, portanto, especialista em História da Igreja, da Religião ou História Religiosa. Entenda-se, portanto, este texto, na fase em que ainda se encontra a nossa investigação, como um conjunto de notas e observações, uma primeira abordagem que se pretende que seja mais um contributo para o estudo e reflexão sobre a chamada Questão Kalley. Creio ser importante este breve esclarecimento, para que se tenha sempre presente que, por um lado, a História, como qualquer outro campo do saber, tem áreas de especialidade, tem especialistas em determinadas áreas (que não são donos delas); e que, por outro, não existem temas acabados, cuja investigação se possa considerar esgotada. Trata-se de uma afirmação trivial, mas cujo alcance por vezes se esquece no estudo da História, um campo do saber onde (ao contrário do que sucede em outras áreas) é por demais usual, senão mesmo de uma banalidade atroz, assistirmos à publicação de textos assinados por supostos " investigadores ", sem qualquer formação na área. O que aqui vamos fazer, portanto, a respeito da presença de Kalley na Madeira, é apenas uma análise que coloca a tónica na perspectiva da História Política , sabendo que estamos perante um tema da História da Madeira do século XIX que se deve inserir num quadro mais complexo e que se trata de uma questão com algumas aproximações no âmbito geral da História e, em particular, da História da religião, do pensamento religioso. É conveniente esclarecer que optámos por não mencionar neste texto a produção bibliográfica coeva e sobre aos acontecimentos, em particular aquela que foi produzida ainda em vida de Kalley. Fazê-lo seria tornar desnecessariamente extenso o aparato. Até porque a sua análise e discussão seria suficiente para um outro texto.
Carnets, Revista Electrónica de Estudos Franceses, Jan 1, 2012
Books by Paulo Miguel Rodrigues
Cabral do Nascimento. Escrever o mundo por detrás de um monóculo e a partir de um farol inaugura ... more Cabral do Nascimento. Escrever o mundo por detrás de um monóculo e a partir de um farol inaugura a colecção Tratuário. Percursos para a História da Cultura Madeirense, um projecto editorial resultante de uma parceria entre o UMa-CIERL e a Imprensa Académica da AAUMa. À semelhança do que ocorrerá com os números seguintes da colecção, o livro agora editado desdobra-se em dois volumes autónomos, mas complementares.
O volume I, impresso em papel, funciona como pórtico de entrada na obra de Cabral do Nascimento. O volume II, em formato e-book apenso ao volume I, constituirá o núcleo fundamental da edição. Nele se republicam, em versão digitalizada, textos de Cabral do Nascimento (Funchal, 22 Mar. 1897 – Lisboa, 2 Mar. 1978) editados sob sua assinatura civil ou sob assinaturas ficcionais por ele criadas. Incluem-se aqui artigos, entrevistas, crónicas, recensões à sua obra e notícias biográficas dados à estampa em publicações periódicas insulares e continentais, entre 1913 e 1937, assim como livros e projetos editoriais (jornais e revistas; antologias; traduções) publicados em vida do autor.
Reúne-se também neste e-book um conjunto de estudos e testemunhos de diversas autorias que tomam como objecto de reflexão e análise a obra e o percurso biográfico de João Cabral do Nascimento. Estes textos, mais do que pretenderem afirmar-se como leituras definitivas, uníssonas e absolutas do legado deixado por esse intelectual madeirense, devem antes ser recebidos como contributos heterogéneos ou até descoincidentes entre si, publicados com o propósito de funcionarem como catalisadores e pistas de investigação para novos trabalhos académicos ou (re)criativos.
Por outro lado, procurando anular a distância supostamente existente entre a obra de Cabral do Nascimento e o discurso artístico dos nossos dias, os dois volumes do livro integram ainda contributos de trabalhos criativos (artes visuais e música) de vários artistas contemporâneos que aceitaram o desafio de dialogar com textos de Cabral do Nascimento.
Drafts by Paulo Miguel Rodrigues
Depois do vendaval napoleónico na Europa e, em particular, na Península Ibérica, cujas repercussõ... more Depois do vendaval napoleónico na Europa e, em particular, na Península Ibérica, cujas repercussões se estenderam ao mundo atlântico e ao espaço ibero-americano, o primeiro triénio liberal português (1820-1823) representou ascensão de uma nova realidade política e institucional no seio da Monarquia portuguesa, que se fez constitucional e parlamentar.
O processo de construção da nova Monarquia Constitucional, porém, não foi pacífico e, em última instância, em 1820, inaugurou-se um período de três décadas durante o qual a sociedade portuguesa viveu em permanente e multifacetado conflito.
A esta conflitualidade, não escapou a Ilha da Madeira, que depois de ter sido ocupada e tomada pelas tropas britânicas durante as guerras napoleónicas, também viu nascer e se desenvolver, durante esses anos, devido a múltiplos factores, a Ideia de Autonomia, com o sentido e a dimensão contemporânea de que hoje somos herdeiros.
Concluída a guerra, expulsos os franceses, mas permanecendo os britânicos no Reino, continuando a Corte portuguesa no Brasil, levantou-se também, então pela primeira vez, a questão da Adjacência da Ilha, que se tornou ainda mais premente após o eclodir do movimento liberal no Reino e da formação da Junta do Supremo Governo, que assumiu os destinos da nação.
Uma nação que era, desde 1816, um Reino Unido de Portugal e do Brasil e que, na perspectiva dos liberais portugueses, após Agosto de 1820, devia ter na cidade de Lisboa a sua metrópole.
Foi nesta conjuntura, de conflito aberto entre os Reinos de Portugal e do Brasil, que na Madeira se vão manifestar as questões da Autonomia, da Adjacência e também da Independência, sobre as quais nos vamos debruçar, analisando conceitos, opiniões, propostas, projectos e concretizações.
RESUMO: Na presente comunicação destacamos a importância da imprensa, não só na construção e divu... more RESUMO: Na presente comunicação destacamos a importância da imprensa, não só na construção e divulgação do ideário republicano, mas também na sua utilização para afirmar a especificidade madeirense e o seu sentimento autonomista, num tempo que se pretendia de regeneração e de ressurgimento nacionais.
PALAVRAS-CHAVE: Madeira - Autonomia - República - periódicos
ABSTRACT: This paper highlight the importance of the press, not only in the construction and dissemination of republican ideals, but also in its use to assert the specificity of Madeira and her autonomous feelings, at a time that was intended to be of national regeneration and rebirth.
KEYWORDS: Madeira – Autonomy – Republic - journals
A análise das relações entre a Ilha da Madeira e o Brasil durante o século XIX remete-nos para di... more A análise das relações entre a Ilha da Madeira e o Brasil durante o século XIX remete-nos para diversos aspectos da realidade insular madeirense e brasileira, não se podendo resumir, por isso, à tradicional temática das migrações, que tende a predominar nos trabalhos de investigação na área das Humanidades. Com a nossa comunicação, pretendemos destacar esses outros (novos) aspectos, demonstrando a sua relevância para a compreensão das relações luso-brasileiras, que têm na Madeira a sua pedra-de-toque. Neste sentido, ocupar-nos-emos da análise de um período-charneira marcado por uma crise multifacetada, sentida nas duas margens do Atlântico, aproveitando para reflectir também sobre algumas questões-chave (a adjacência, a mobilidade humana, as trocas interculturais) que emergiram durante o período investigado e que nos ajudam a compreender melhor as relações entre a Madeira e o Brasil (do cultural, ao económico, passando pelo político). Assim, o nosso ponto de partida situar-se-á em finais de 1807, data da fuga da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, acontecimento que contribuiu para a criação de um novo paradigma relacional entre a Madeira e o Brasil. Apresentaremos, portanto, uma breve síntese analítica, sobre três temas, sabendo que cada um deles é susceptível de um desenvolvimento mais aprofundado, mas que não cabe no âmbito deste Congresso. No fundo, cada um deles seria suficiente para outras tantas comunicações. As fontes consultadas encontram-se no ANTT (Lisboa), no Arquivo Regional da Madeira (Funchal) e no National Archives / Public Record Office (Londres).
Impõe-se esclarecer que a minha área de especialidade é a História Política e Institucional, com ... more Impõe-se esclarecer que a minha área de especialidade é a História Política e Institucional, com algumas incursões pelas relações externas, em particular naquilo que diz respeito às ligações anglo-madeirenses. Não sou, portanto, especialista em História da Igreja, da Religião ou História Religiosa. Entenda-se, portanto, este texto, na fase em que ainda se encontra a nossa investigação, como um conjunto de notas e observações, uma primeira abordagem que se pretende que seja mais um contributo para o estudo e reflexão sobre a chamada Questão Kalley. Creio ser importante este breve esclarecimento, para que se tenha sempre presente que, por um lado, a História, como qualquer outro campo do saber, tem áreas de especialidade, tem especialistas em determinadas áreas (que não são donos delas); e que, por outro, não existem temas acabados, cuja investigação se possa considerar esgotada. Trata-se de uma afirmação trivial, mas cujo alcance por vezes se esquece no estudo da História, um campo do saber onde (ao contrário do que sucede em outras áreas) é por demais usual, senão mesmo de uma banalidade atroz, assistirmos à publicação de textos assinados por supostos " investigadores ", sem qualquer formação na área. O que aqui vamos fazer, portanto, a respeito da presença de Kalley na Madeira, é apenas uma análise que coloca a tónica na perspectiva da História Política , sabendo que estamos perante um tema da História da Madeira do século XIX que se deve inserir num quadro mais complexo e que se trata de uma questão com algumas aproximações no âmbito geral da História e, em particular, da História da religião, do pensamento religioso. É conveniente esclarecer que optámos por não mencionar neste texto a produção bibliográfica coeva e sobre aos acontecimentos, em particular aquela que foi produzida ainda em vida de Kalley. Fazê-lo seria tornar desnecessariamente extenso o aparato. Até porque a sua análise e discussão seria suficiente para um outro texto.
Carnets, Revista Electrónica de Estudos Franceses, Jan 1, 2012
Cabral do Nascimento. Escrever o mundo por detrás de um monóculo e a partir de um farol inaugura ... more Cabral do Nascimento. Escrever o mundo por detrás de um monóculo e a partir de um farol inaugura a colecção Tratuário. Percursos para a História da Cultura Madeirense, um projecto editorial resultante de uma parceria entre o UMa-CIERL e a Imprensa Académica da AAUMa. À semelhança do que ocorrerá com os números seguintes da colecção, o livro agora editado desdobra-se em dois volumes autónomos, mas complementares.
O volume I, impresso em papel, funciona como pórtico de entrada na obra de Cabral do Nascimento. O volume II, em formato e-book apenso ao volume I, constituirá o núcleo fundamental da edição. Nele se republicam, em versão digitalizada, textos de Cabral do Nascimento (Funchal, 22 Mar. 1897 – Lisboa, 2 Mar. 1978) editados sob sua assinatura civil ou sob assinaturas ficcionais por ele criadas. Incluem-se aqui artigos, entrevistas, crónicas, recensões à sua obra e notícias biográficas dados à estampa em publicações periódicas insulares e continentais, entre 1913 e 1937, assim como livros e projetos editoriais (jornais e revistas; antologias; traduções) publicados em vida do autor.
Reúne-se também neste e-book um conjunto de estudos e testemunhos de diversas autorias que tomam como objecto de reflexão e análise a obra e o percurso biográfico de João Cabral do Nascimento. Estes textos, mais do que pretenderem afirmar-se como leituras definitivas, uníssonas e absolutas do legado deixado por esse intelectual madeirense, devem antes ser recebidos como contributos heterogéneos ou até descoincidentes entre si, publicados com o propósito de funcionarem como catalisadores e pistas de investigação para novos trabalhos académicos ou (re)criativos.
Por outro lado, procurando anular a distância supostamente existente entre a obra de Cabral do Nascimento e o discurso artístico dos nossos dias, os dois volumes do livro integram ainda contributos de trabalhos criativos (artes visuais e música) de vários artistas contemporâneos que aceitaram o desafio de dialogar com textos de Cabral do Nascimento.