Breno Girotto | Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (original) (raw)
Book Reviews by Breno Girotto
Relações diplomáticas entre estados unidos e américa latina: hegemonia, protagonismo e autonomia., 2017
Resenha do livro América Latina X Estados Unidos: Uma Relação Turbulenta, de Joseph Tulchin
Papers by Breno Girotto
Fotografia documental e fotojornalismo na América Latina, 2022
O segundo governo de Porfírio Díaz, que durou entre 1884 e 1911, trouxe transformações para a soc... more O segundo governo de Porfírio Díaz, que durou entre 1884 e 1911, trouxe transformações para a sociedade e paisagem mexicana. A economia experimentou uma industrialização até então não vista no país, no campo político o presidente instituiu a Pax Porfirista, acordo entre as elites mexicanas que possibilitou um período de paz após grandes conturbações políticas, além do surgimento de novos atores sociais e políticos. A ferrovia foi a marca deste período com a chegada de empresas estadunidenses para ampliar a malha do país vizinho e com estas vieram fotógrafos com a missão de documentar o seu processo de expansão. Charles B. Waite, Winfield Scott e William Henry Jackson se dirigiram para o México e acompanharam a linha férrea pelo interior do país, fotografando paisagens naturais, urbanas, vilas e ruínas antigas. Trabalhando também para revistas mexicanas e estadunidenses, eles produziram imagens e representações do México natural e da sociedade porfirista. Este trabalho tem como objetivo apresentar os apontamentos iniciais da pesquisa.
Revista Faces da História, 2022
O cinema tem na história uma fonte inesgotável para seus filmes, representando personagens e even... more O cinema tem na história uma fonte inesgotável para seus filmes, representando personagens e eventos. Dentre estes eventos, um dos que mais chamou a atenção de Hollywood foi a Batalha do Álamo, travada em março de 1836 entre colonos texanos e o governo do México. Com uma produção vasta ao longo de quase um século, o conflito serviu de inspiração para diversos diretores, dentre eles John Wayne, sempre lembrado por suas atuações em filmes do gênero western. O Álamo, lançado em 1960, foi sua primeira experiência como diretor e a escolha deste tema não foi fortuita. O mito construído em torno deste conflito possui todos os elementos que Wayne julgava constituírem a América: a luta contra um governo tirânico e a defesa incondicional da liberdade. A hipótese explorada em nossa pesquisa pensa a Batalha do Álamo, um conflito entre colonos texanos rebelados contra o governo mexicano, como um evento fundador do Texas independente e apenas por extensão assimilado pelos Estados Unidos e alçado à categoria de mito nacional na lógica da produção de uma comunidade imagina nos moldes explorados por Benedict Anderson e Ernest Gellner. Este processo se evidencia no que o historiador argentino Fabio Nigra define como “situações invariáveis”, elementos presentes em filmes históricos para construir um discurso identitário-nacional. O presente artigo tem como objetivo analisar os elementos presentes no filme O Álamo que servem de base para a construção de uma identidade nacional estadunidense e como o cinema tem papel relevante neste processo.
Mundo Livre, 2017
Resenha de ULCHIN, Joseph S. América Latina X Estados Unidos: Uma Relação Turbulenta. São Paulo: ... more Resenha de ULCHIN, Joseph S. América Latina X Estados Unidos: Uma Relação Turbulenta. São Paulo: Contexto, 2016. 272p PURL: http://purl.oclc.org/r.ml/v3n1/r1
Anais Eletrônico do XIII Encontro Estadual de História: "História e mídias: narrativas em disputas", 2020
Os campos da história e cinema foram palco de embates recentemente. No caso da história, a onda d... more Os campos da história e cinema foram palco de embates recentemente. No caso da história, a onda de protestos antirracistas liderada pelo movimento “Black Lives Matter” levantou discussões sobre a memória e patrimônios de figuras reconhecidamente racistas e preconceituosas. Da mesma forma, o cinema, mídia cada vez mais presente no nosso cotidiano por conta da sua popularização a partir de plataformas de streaming como Netflix, Prime Video, dentre outras, também entraram na discussão sobre o racismo expresso em produções fílmicas. Filmes como E o Vento Levou (GONE WITH THE WIND, 1939) e animações dos estúdios Walt Disney foram acusados de representar de maneira degradante grupos minoritários como negros, mulheres e indígenas. Existem diversos exemplos de filme
Cinema e história são campos de disputa e embates desde seu surgimento. O potencial que ambos possuem para mobilizar e conquistar corações e mentes foi muito explorado ao longo do tempo em diferentes países e regimes políticos. No caso específico do cinema histórico isso se torna mais potente ainda por mesclar os dois campos em um a fim de supostamente reencenar fatos do passado. Com o passar das décadas e com a presença das produções audiovisuais cada vez mais no cotidiano,
Cinema e história sempre estiveram em proximidade, apesar da descoberta tardia dos filmes como fontes para a pesquisa histórica, através de seus temas. A história quando apropriada pelo cinema através dos filmes históricos (ou aqueles de gêneros que remetem a um passado fundador como é o caso do western) criam o que Marcos Napolitano define como efeito de realidade por passarem a impressão de que aquilo que foi encenado é de fato verídico e incontestável. Essa categoria de filmes é muito explorada pelo cinema por conta de seu aspecto prático em termos de produção por terem sido, digamos, já encenadas, e pelo apelo popular que estas representações criam nos espectadores. Eventos históricos criam um sentimento de pertencimento e identidade, possuindo um papel importante na constituição das nacionalidades.
O cinema estadunidense faz questão de lembrar os grandes eventos e heróis que que definem serem fundadores da sua nação. Um desses acontecimentos mais lembrado pela cinematografia do Estados Unidos é a Batalha Álamo, conflito travada em 1836 que desencadeou o processo de independência do Texas, antes uma província mexicana, e sua posterior anexação ao Estados Unidos. O que instiga sobre as produções acerca desta batalha é o fato de seus combatentes, cerca de 180 voluntários, muitos de origem estadunidense, serem completamente massacrados pelo exército regular do México, liderado pelo General Antonio López de Santa Anna. Certamente, atraídos por uma história de heroísmo e luta pela liberdade tipicamente estadunidense, os produtores e cineastas reencenaram a exaustão a batalha travada no forte Álamo. Foram 12 filmes produzidos desde 1911 até 2004 sobre o conflito ou seus personagens mais icônicos, como Davy Crockett.
Todas as produções fílmicas a respeito do Álamo tratam de uma batalha entre estadunidenses defensores dos valores democráticos e morais e mexicanos autoritários, cruéis e selvagens do outro. Dentre esta longa filmografia, o filme dirigido por John Wayne, conhecido ator de filmes do gênero western, merece destaque. Lançado em 1960, O Álamo (THE ALAMO, 1960) é o primeiro filme dirigido por Wayne e expressa muitas das suas convicções, como o conservadorismo político, o liberalismo econômico e seu entendimento do papel estadunidense na geopolítica global. Esta comunicação tem como objetivo discutir o papel do filme histórico na construção ideológica e identitária nacional a partir de O Álamo. Esta comunicação também é desdobramento da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista campus Assis-SP para a obtenção do título de mestre.
Anais dda XXXV Semana de História e VIII Ciclo Internacional de Estudos Antigos e Medievais "Narrativas de Poder e Resistências: construções e apropriações do passado", 2019
Resumo: Nesta comunicação apresentaremos as conclusões e resultados da dissertação intitulada A V... more Resumo: Nesta comunicação apresentaremos as conclusões e resultados da dissertação intitulada A Vitória dos Vencidos: Política e identidade norte-americana no filme O Álamo, de John Wayne, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista, campus Assis. Pode-se dizer que o filme O Álamo (1960) trata de duas dimensões temporais. A primeira diz respeito a batalha representada na película, a Batalha do Álamo, conflito travado em 1836 entre colonos oriundos de diversas regiões, dentre elas do Estados Unidos, e o governo mexicano pelo controle da província de Coahuila y Tejas. A região pouco explorada desde a colonização espanhola atraiu milhares de colonos quando o governo mexicano decidiu abrir a província para colonização em 1833. Pouco identificados com a cultura e identidade mexicana, estes estrangeiros exigiram maior autonomia da província texana e em 1836 decidiram declarar a independência da região. Entrando em conflito com o governo mexicano, o período ficou conhecido como Revolução do Texas. O movimento destes colonos torna a história do Texas mais um capítulo do grande movimento de avanço sobre a região oeste e sul do continente em busca de supostas "terras livres" a fim de conseguir mais territórios para especulação e formação de grandes latifúndios. A segunda dimensão temporal de O Álamo é o período que o filme foi dirigido e lançado, entre os anos 1959 e 1960, um momento particular em termos políticos, sociais e culturais para o Estados Unidos. Os anos 1960 é o período em que a sociedade estadunidense é confrontada por ela mesma, onde os momentos de crescimento e consolidação da sua classe média, o baby-boom do pós-guerra e todo o desenvolvimento econômico e expansão do consumo contrasta com movimentos sociais que buscam seus direitos, como o movimento feminista, a busca dos negros por direitos civis, movimento de contracultura e sua bandeira antiguerra. Dirigido e protagonizado por John Wayne, O Álamo é uma manifestação do conservadorismo estadunidense, dialogando mais com os anos 1950 do que com a nova década que estaria por vir. Wayne, um dos atores mais populares de Hollywood, criou o estereótipo do homem estadunidense de classe média caucasiano através de seus filmes de guerra e westerns. Temas como patriotismo e masculinidade são comuns em seus filmes, nos quais seus personagens deveriam defender a donzela indefesa e os valores da sociedade ocidental de perigos trazidos por asiáticos, índios e mexicanos. Em O Álamo, primeiro filme dirigido por Wayne, um grupo de colonos se revolta contra o governo do General Santa Anna e precisam defender o forte Álamo a fim de ganhar tempo para as tropas texanas insurgentes. O tom que John Wayne dá para o conflito é da luta de colonos pela liberdade que desejam formar uma república contra um governo tirano e despótico. Neste sentido, percebe-se um discurso, mesmo que velado, que faz alusão ao conflito da Guerra Fria, onde os colonos representariam o Estados Unidos na luta pelo "mundo livre" e o governo mexicano na figura do General Santa Anna representaria a opressão do bloco soviético.
Anais do XIII Encontro Internacional da ANPHLAC, 2018
O filme O Álamo, dirigido, produzido e estrelado por John Wayne, é uma das diversas versões para ... more O filme O Álamo, dirigido, produzido e estrelado por John Wayne, é uma das diversas versões para o cinema do conflito que levou a independência do Texas do governo mexicano, conhecido como Batalha do Álamo. O filme, lançado em 1960, revela muito sobre seu diretor, uma das maiores estrelas do cinema americano, notavelmente conhecido por protagonizar filmes do gênero western, e também conhecido por suas posições políticas. Entendemos que o filme, mais do que uma produção sobre um evento histórico passado, é um documento inestimável para compreendermos as estruturas políticas, sociais e culturais do período que é produzido. Dessa forma, O Álamo se torna um documento precioso para entender os anos de 1950 e 1960, anos coturbados para os Estados Unidos e o mundo, que viviam o contexto da Guerra Fria. O Objetivo desta comunicação é apresentar os resultados da pesquisa ainda em curso, assim como discutir possíveis perspectivas de trabalho.
XXIX Simpósio Nacional de História, 2017
O mito do Álamo é um dos mitos fundadores do Texas moderno e da identidade nacional americana, al... more O mito do Álamo é um dos mitos fundadores do Texas moderno e da identidade nacional americana, além de ser um episódio importante na relação do Estados Unidos com seu vizinho latino mais próximo, o México. Ocorrida entre 23 de fevereiro e 6 de março de 1836, a Batalha do Álamo está inserida no conflito como Revolução do Texas, que tornou o território do Texas um estado independente por 10 anos antes de se tornar o 28º estado da União. Os 13 dias de glória, como ficou conhecido a resistência do forte Álamo entram para a história do Estados Unidos como exemplo de dedicação a uma causa maior, a liberdade. Considerado a Termópilas do Texas, o valor da Batalha do Álamo como mito americano reside na entrega de seus combatentes, reforçando o mito do último sacrifício. Nenhum dos 183 revoltosos sobreviveram ao ataque das tropas mexicanas lideradas pelo então presidente mexicano Antônio Lopes de Santa Anna.
O que chama atenção sobre a questão do Álamo é a diferença quanto a produção da memória de ambas as partes envolvidas no conflito. Enquanto a produção mexicana sobre o conflito é limitada a alguns estudos sobre a questão de fronteira entre México e Estados Unidos no século XIX, a produção norte-americana é vasta sobre o conflito, que inclui estudos acadêmicos, livros de ficção, quadrinhos, músicas, séries para a TV e principalmente filmes. A produção fílmica em específico é vasta. Desde os primeiros anos do cinema foram produzido filmes sobre a batalha ou sobre personagens que participaram do conflito. The Immortal Alamo, de Gaston Méliès, produzido em 1911, foi o primeiro filme sobre o conflito. Em 1916, D. W. Griffith, diretor de Nascimento de uma Nação, produziu o The Martyrs of the Alamo. Em 1926, foi lançado o Crockett at the fall of the Alamo, dirigido por Robert Bradburry, e em 1936 foi lançado The Heroes of the Alamo, de Harry Fraser. Durante a década de 1950, foram produzidos três filmes sobre o Álamo ou seus personagens, são eles: The man from the Alamo (1953), The Last Command (1954), The first texan (1956) e Davy Crockett, king of the wild frontier (1955). Em 1960 John Wayne produziu, dirigiu e estrelou The Alamo, que tinha como objetivo reproduzir toda a glória da batalha e passar uma visão não tão estereotipada dos mexicanos. E o último filme produzido sobre o conflito foi The Alamo, de John Lee Hancock, lançado em 2004.
Esta apresentação tem como objetivo expor o levantamento feito pela pesquisa ainda em andamento sobre os filmes que tratam da batalha do Álamo e como este conflito é representado no cinema norte americano.
Relações diplomáticas entre estados unidos e américa latina: hegemonia, protagonismo e autonomia., 2017
Resenha do livro América Latina X Estados Unidos: Uma Relação Turbulenta, de Joseph Tulchin
Fotografia documental e fotojornalismo na América Latina, 2022
O segundo governo de Porfírio Díaz, que durou entre 1884 e 1911, trouxe transformações para a soc... more O segundo governo de Porfírio Díaz, que durou entre 1884 e 1911, trouxe transformações para a sociedade e paisagem mexicana. A economia experimentou uma industrialização até então não vista no país, no campo político o presidente instituiu a Pax Porfirista, acordo entre as elites mexicanas que possibilitou um período de paz após grandes conturbações políticas, além do surgimento de novos atores sociais e políticos. A ferrovia foi a marca deste período com a chegada de empresas estadunidenses para ampliar a malha do país vizinho e com estas vieram fotógrafos com a missão de documentar o seu processo de expansão. Charles B. Waite, Winfield Scott e William Henry Jackson se dirigiram para o México e acompanharam a linha férrea pelo interior do país, fotografando paisagens naturais, urbanas, vilas e ruínas antigas. Trabalhando também para revistas mexicanas e estadunidenses, eles produziram imagens e representações do México natural e da sociedade porfirista. Este trabalho tem como objetivo apresentar os apontamentos iniciais da pesquisa.
Revista Faces da História, 2022
O cinema tem na história uma fonte inesgotável para seus filmes, representando personagens e even... more O cinema tem na história uma fonte inesgotável para seus filmes, representando personagens e eventos. Dentre estes eventos, um dos que mais chamou a atenção de Hollywood foi a Batalha do Álamo, travada em março de 1836 entre colonos texanos e o governo do México. Com uma produção vasta ao longo de quase um século, o conflito serviu de inspiração para diversos diretores, dentre eles John Wayne, sempre lembrado por suas atuações em filmes do gênero western. O Álamo, lançado em 1960, foi sua primeira experiência como diretor e a escolha deste tema não foi fortuita. O mito construído em torno deste conflito possui todos os elementos que Wayne julgava constituírem a América: a luta contra um governo tirânico e a defesa incondicional da liberdade. A hipótese explorada em nossa pesquisa pensa a Batalha do Álamo, um conflito entre colonos texanos rebelados contra o governo mexicano, como um evento fundador do Texas independente e apenas por extensão assimilado pelos Estados Unidos e alçado à categoria de mito nacional na lógica da produção de uma comunidade imagina nos moldes explorados por Benedict Anderson e Ernest Gellner. Este processo se evidencia no que o historiador argentino Fabio Nigra define como “situações invariáveis”, elementos presentes em filmes históricos para construir um discurso identitário-nacional. O presente artigo tem como objetivo analisar os elementos presentes no filme O Álamo que servem de base para a construção de uma identidade nacional estadunidense e como o cinema tem papel relevante neste processo.
Mundo Livre, 2017
Resenha de ULCHIN, Joseph S. América Latina X Estados Unidos: Uma Relação Turbulenta. São Paulo: ... more Resenha de ULCHIN, Joseph S. América Latina X Estados Unidos: Uma Relação Turbulenta. São Paulo: Contexto, 2016. 272p PURL: http://purl.oclc.org/r.ml/v3n1/r1
Anais Eletrônico do XIII Encontro Estadual de História: "História e mídias: narrativas em disputas", 2020
Os campos da história e cinema foram palco de embates recentemente. No caso da história, a onda d... more Os campos da história e cinema foram palco de embates recentemente. No caso da história, a onda de protestos antirracistas liderada pelo movimento “Black Lives Matter” levantou discussões sobre a memória e patrimônios de figuras reconhecidamente racistas e preconceituosas. Da mesma forma, o cinema, mídia cada vez mais presente no nosso cotidiano por conta da sua popularização a partir de plataformas de streaming como Netflix, Prime Video, dentre outras, também entraram na discussão sobre o racismo expresso em produções fílmicas. Filmes como E o Vento Levou (GONE WITH THE WIND, 1939) e animações dos estúdios Walt Disney foram acusados de representar de maneira degradante grupos minoritários como negros, mulheres e indígenas. Existem diversos exemplos de filme
Cinema e história são campos de disputa e embates desde seu surgimento. O potencial que ambos possuem para mobilizar e conquistar corações e mentes foi muito explorado ao longo do tempo em diferentes países e regimes políticos. No caso específico do cinema histórico isso se torna mais potente ainda por mesclar os dois campos em um a fim de supostamente reencenar fatos do passado. Com o passar das décadas e com a presença das produções audiovisuais cada vez mais no cotidiano,
Cinema e história sempre estiveram em proximidade, apesar da descoberta tardia dos filmes como fontes para a pesquisa histórica, através de seus temas. A história quando apropriada pelo cinema através dos filmes históricos (ou aqueles de gêneros que remetem a um passado fundador como é o caso do western) criam o que Marcos Napolitano define como efeito de realidade por passarem a impressão de que aquilo que foi encenado é de fato verídico e incontestável. Essa categoria de filmes é muito explorada pelo cinema por conta de seu aspecto prático em termos de produção por terem sido, digamos, já encenadas, e pelo apelo popular que estas representações criam nos espectadores. Eventos históricos criam um sentimento de pertencimento e identidade, possuindo um papel importante na constituição das nacionalidades.
O cinema estadunidense faz questão de lembrar os grandes eventos e heróis que que definem serem fundadores da sua nação. Um desses acontecimentos mais lembrado pela cinematografia do Estados Unidos é a Batalha Álamo, conflito travada em 1836 que desencadeou o processo de independência do Texas, antes uma província mexicana, e sua posterior anexação ao Estados Unidos. O que instiga sobre as produções acerca desta batalha é o fato de seus combatentes, cerca de 180 voluntários, muitos de origem estadunidense, serem completamente massacrados pelo exército regular do México, liderado pelo General Antonio López de Santa Anna. Certamente, atraídos por uma história de heroísmo e luta pela liberdade tipicamente estadunidense, os produtores e cineastas reencenaram a exaustão a batalha travada no forte Álamo. Foram 12 filmes produzidos desde 1911 até 2004 sobre o conflito ou seus personagens mais icônicos, como Davy Crockett.
Todas as produções fílmicas a respeito do Álamo tratam de uma batalha entre estadunidenses defensores dos valores democráticos e morais e mexicanos autoritários, cruéis e selvagens do outro. Dentre esta longa filmografia, o filme dirigido por John Wayne, conhecido ator de filmes do gênero western, merece destaque. Lançado em 1960, O Álamo (THE ALAMO, 1960) é o primeiro filme dirigido por Wayne e expressa muitas das suas convicções, como o conservadorismo político, o liberalismo econômico e seu entendimento do papel estadunidense na geopolítica global. Esta comunicação tem como objetivo discutir o papel do filme histórico na construção ideológica e identitária nacional a partir de O Álamo. Esta comunicação também é desdobramento da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista campus Assis-SP para a obtenção do título de mestre.
Anais dda XXXV Semana de História e VIII Ciclo Internacional de Estudos Antigos e Medievais "Narrativas de Poder e Resistências: construções e apropriações do passado", 2019
Resumo: Nesta comunicação apresentaremos as conclusões e resultados da dissertação intitulada A V... more Resumo: Nesta comunicação apresentaremos as conclusões e resultados da dissertação intitulada A Vitória dos Vencidos: Política e identidade norte-americana no filme O Álamo, de John Wayne, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista, campus Assis. Pode-se dizer que o filme O Álamo (1960) trata de duas dimensões temporais. A primeira diz respeito a batalha representada na película, a Batalha do Álamo, conflito travado em 1836 entre colonos oriundos de diversas regiões, dentre elas do Estados Unidos, e o governo mexicano pelo controle da província de Coahuila y Tejas. A região pouco explorada desde a colonização espanhola atraiu milhares de colonos quando o governo mexicano decidiu abrir a província para colonização em 1833. Pouco identificados com a cultura e identidade mexicana, estes estrangeiros exigiram maior autonomia da província texana e em 1836 decidiram declarar a independência da região. Entrando em conflito com o governo mexicano, o período ficou conhecido como Revolução do Texas. O movimento destes colonos torna a história do Texas mais um capítulo do grande movimento de avanço sobre a região oeste e sul do continente em busca de supostas "terras livres" a fim de conseguir mais territórios para especulação e formação de grandes latifúndios. A segunda dimensão temporal de O Álamo é o período que o filme foi dirigido e lançado, entre os anos 1959 e 1960, um momento particular em termos políticos, sociais e culturais para o Estados Unidos. Os anos 1960 é o período em que a sociedade estadunidense é confrontada por ela mesma, onde os momentos de crescimento e consolidação da sua classe média, o baby-boom do pós-guerra e todo o desenvolvimento econômico e expansão do consumo contrasta com movimentos sociais que buscam seus direitos, como o movimento feminista, a busca dos negros por direitos civis, movimento de contracultura e sua bandeira antiguerra. Dirigido e protagonizado por John Wayne, O Álamo é uma manifestação do conservadorismo estadunidense, dialogando mais com os anos 1950 do que com a nova década que estaria por vir. Wayne, um dos atores mais populares de Hollywood, criou o estereótipo do homem estadunidense de classe média caucasiano através de seus filmes de guerra e westerns. Temas como patriotismo e masculinidade são comuns em seus filmes, nos quais seus personagens deveriam defender a donzela indefesa e os valores da sociedade ocidental de perigos trazidos por asiáticos, índios e mexicanos. Em O Álamo, primeiro filme dirigido por Wayne, um grupo de colonos se revolta contra o governo do General Santa Anna e precisam defender o forte Álamo a fim de ganhar tempo para as tropas texanas insurgentes. O tom que John Wayne dá para o conflito é da luta de colonos pela liberdade que desejam formar uma república contra um governo tirano e despótico. Neste sentido, percebe-se um discurso, mesmo que velado, que faz alusão ao conflito da Guerra Fria, onde os colonos representariam o Estados Unidos na luta pelo "mundo livre" e o governo mexicano na figura do General Santa Anna representaria a opressão do bloco soviético.
Anais do XIII Encontro Internacional da ANPHLAC, 2018
O filme O Álamo, dirigido, produzido e estrelado por John Wayne, é uma das diversas versões para ... more O filme O Álamo, dirigido, produzido e estrelado por John Wayne, é uma das diversas versões para o cinema do conflito que levou a independência do Texas do governo mexicano, conhecido como Batalha do Álamo. O filme, lançado em 1960, revela muito sobre seu diretor, uma das maiores estrelas do cinema americano, notavelmente conhecido por protagonizar filmes do gênero western, e também conhecido por suas posições políticas. Entendemos que o filme, mais do que uma produção sobre um evento histórico passado, é um documento inestimável para compreendermos as estruturas políticas, sociais e culturais do período que é produzido. Dessa forma, O Álamo se torna um documento precioso para entender os anos de 1950 e 1960, anos coturbados para os Estados Unidos e o mundo, que viviam o contexto da Guerra Fria. O Objetivo desta comunicação é apresentar os resultados da pesquisa ainda em curso, assim como discutir possíveis perspectivas de trabalho.
XXIX Simpósio Nacional de História, 2017
O mito do Álamo é um dos mitos fundadores do Texas moderno e da identidade nacional americana, al... more O mito do Álamo é um dos mitos fundadores do Texas moderno e da identidade nacional americana, além de ser um episódio importante na relação do Estados Unidos com seu vizinho latino mais próximo, o México. Ocorrida entre 23 de fevereiro e 6 de março de 1836, a Batalha do Álamo está inserida no conflito como Revolução do Texas, que tornou o território do Texas um estado independente por 10 anos antes de se tornar o 28º estado da União. Os 13 dias de glória, como ficou conhecido a resistência do forte Álamo entram para a história do Estados Unidos como exemplo de dedicação a uma causa maior, a liberdade. Considerado a Termópilas do Texas, o valor da Batalha do Álamo como mito americano reside na entrega de seus combatentes, reforçando o mito do último sacrifício. Nenhum dos 183 revoltosos sobreviveram ao ataque das tropas mexicanas lideradas pelo então presidente mexicano Antônio Lopes de Santa Anna.
O que chama atenção sobre a questão do Álamo é a diferença quanto a produção da memória de ambas as partes envolvidas no conflito. Enquanto a produção mexicana sobre o conflito é limitada a alguns estudos sobre a questão de fronteira entre México e Estados Unidos no século XIX, a produção norte-americana é vasta sobre o conflito, que inclui estudos acadêmicos, livros de ficção, quadrinhos, músicas, séries para a TV e principalmente filmes. A produção fílmica em específico é vasta. Desde os primeiros anos do cinema foram produzido filmes sobre a batalha ou sobre personagens que participaram do conflito. The Immortal Alamo, de Gaston Méliès, produzido em 1911, foi o primeiro filme sobre o conflito. Em 1916, D. W. Griffith, diretor de Nascimento de uma Nação, produziu o The Martyrs of the Alamo. Em 1926, foi lançado o Crockett at the fall of the Alamo, dirigido por Robert Bradburry, e em 1936 foi lançado The Heroes of the Alamo, de Harry Fraser. Durante a década de 1950, foram produzidos três filmes sobre o Álamo ou seus personagens, são eles: The man from the Alamo (1953), The Last Command (1954), The first texan (1956) e Davy Crockett, king of the wild frontier (1955). Em 1960 John Wayne produziu, dirigiu e estrelou The Alamo, que tinha como objetivo reproduzir toda a glória da batalha e passar uma visão não tão estereotipada dos mexicanos. E o último filme produzido sobre o conflito foi The Alamo, de John Lee Hancock, lançado em 2004.
Esta apresentação tem como objetivo expor o levantamento feito pela pesquisa ainda em andamento sobre os filmes que tratam da batalha do Álamo e como este conflito é representado no cinema norte americano.