Revista Latino-Americana de História | Unisinos (original) (raw)
Papers by Revista Latino-Americana de História
Revista Latino-Americana de História, 2021
Bruno Ferreira, também conhecido como Bruno Ferreira Kaingang, é uma importante referência intele... more Bruno Ferreira, também conhecido como Bruno Ferreira Kaingang, é uma importante referência intelectual e científica Kanhgág. Bruno é do clã Kamé "(...) possuidor de espírito forte, facilidade para intervir junto aos espíritos nas lutas Kaingang" (Ferreira, 2020, p. 14). Segundo ele nos conta, sua trajetória de lutas inicia quando tinha 8 anos ao frequentar a primeira escola, hoje "Escola Estadual Indígena Bento Pĩ Gog", setor Pedra Lisa na Terra Indígena do Guarita, pois, lá deveria somente falar o português para "civilizar-se", sentindo-se perdido porque não entendia o português, pois, foi criado com os avós falantes de kanhgág e para ele esse foi um grande marco em sua luta por reconhecimento dos próprios processos de ensino, bem como a valorização dos saberes, cultura e principalmente da língua kanhgág. Seu grande professor foi Albino Ferreira, "(...) meu pai, mesmo não falando a língua de seus antepassados, tem muito conhecimento e muitas vivências da cultura kaingang" (Ferreira, 2014, p.19), seu pai, por conta de uma proibição de seu avô, não pode aprender a língua Kanhgág, porém, "Sozinho na mata com meu pai, além de aprender as coisas da cultura milenar de meu povo, também fui aprendendo a falar português. O mais importante de tudo isso era que ele usava a natureza como espaço de aprendizado. Seu material didático estava livre, pronto e disponível na floresta." (Ferreira, 2014, p.19). Desse modo, Bruno intercalou os ensinamentos do pai, das pessoas na comunidade e da escola, ficando seis anos na "Pĩ Gog". Posteriormente foi estudar no município de Tenente Portela, um dos municípios que estão incrustados nas fronteiras da Terra Indígena, pois a escola da comunidade só oferecia estudo até a quarta série. Entre as maiores dificuldades, novamente, a obrigatoriedade da língua portuguesa: "(...) em 1980, uma professora de história percebeu que
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Onde você se esconde? Onde você se esconde, mulher Kaingáng? Tão bela entre os gentios Que nossa ... more Onde você se esconde? Onde você se esconde, mulher Kaingáng? Tão bela entre os gentios Que nossa própria nação não enxerga; Olhos tapados pela dor das derrotas! És beleza nascida ao descaso De nossa história e de nosso passado. Mas assim mesmo Tope te deu de presente a teu povo. O nosso mais belo presente. Em tuas mãos, trouxeste a chave de uma prisão, Sem cordas, ferrões ou grilhões. Não se esconda, minha bela... Nossa pele tem a mesma cor, nosso sangue o mesmo valor! Nós, considerados povos sofridos e embrutecidos e feios... Mostra a eles, minha bela, O tamanho da nossa educação, O tamanho da nossa beleza, concentrada num só rosto; No teu rosto queimado de sol! Pois somos muitos E somos diferentes, minha bela! Temos outro coração, outro peito e outro rosto... Nosso rosto no teu rosto; Lembra disso hoje e sempre! E então continua sorrindo Teu sorriso branco e largo, pois a beleza que tu carregas Mostra a beleza da tua luta de mulheres e homens Belos em suas diferenças!
Revista Latino-Americana de História, 2021
As duas conversas foram realizadas na comunidade Kanhgág Por Fi Ga, nos anos de 2018 e 2019 para ... more As duas conversas foram realizadas na comunidade Kanhgág Por Fi Ga, nos anos de 2018 e 2019 para o trabalho de conclusão de curso (TCC) 4 em História do entrevistador. Reconhecendo que os movimentos dos kofã (mais velhos, idosos) e das lideranças influenciaram e foram decisivos para consolidação do território e de um projeto de organização Kanhgág na cidade de São Leopoldo/RS, o TCC teve como principais objetivos evidenciar narrativas sobre as trajetórias e experiências de vida dos kofã e das lideranças nessa comunidade. Desse modo, a primeira conversa teve como tema principal os anos de 1970 e a iniciação como liderança nas memórias do Dorva, apelido familiar de Dorvalino Cardoso, o Refej, 58 anos, nascido em 16 de Abril de 1964 em São Valentim, filho de Benta Cardoso e Jango Cardoso, casado com Adelar de Paula. Professor bilíngue Kanhgág/português do ensino fundamental da Escola localizada na comunidade kanhgág Por Fi Ga no município de São Leopoldo, Estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil. Graduado e mestre em educação. É grande referência intelectual para os kanhgág, na luta pela terra kanhgág, pela humanização da educação, por interculturalidade crítica e respeito à oralidade. Na segunda entrevista, Josme Konhko Fortes (in memoriam), nascido em 20 de agosto de 1976 em Nonoai, fala um pouco sobre sua trajetória até chegar em São Leopoldo, como foi essa vinda e de sua esposa. Konhko foi amigo, professor, pai, conselheiro, estudante. Referência para as novas gerações, incentivou e auxiliou os jovens kanhgág a concluírem seus estudos através das provas do Encceja, rendendo bons frutos até hoje. Acredita-se que a divulgação do pensamento kanhgág é uma importante contribuição para a afirmação e efetivação da ecologia do saberes. 1 Mestre em Políticas e Práticas Sociais (Unisinos) 2 Mestre em Educação (UFRGS) 3 Graduado em Pedagogia (Unisinos)/ *In memoriam-Josme faleceu precocemente em maio de 2020.
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Esse estudo assume uma característica biográfica e memorial, na qual apresenta-se a trajetória de... more Esse estudo assume uma característica biográfica e memorial, na qual apresenta-se a trajetória de vida do pesquisador, de sua infância até a vida adulta, da vida escolar até vida acadêmica. Discutem-se aspectos de sua cultura e de sua diferença em relação a outras culturas, de como os mais velhos educam e a forma que seus pais lhe educaram. O fio condutor do texto memorial exposto é a trajetória de vida do professor até sua inserção no ensino superior, evidenciando suas descontinuidades, poucas oportunidades e enfrentamentos pessoais para a realização de seu projeto.
Revista Latino-Americana de História, 2021
O presente artigo aborda a escola implementada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) junto ao... more O presente artigo aborda a escola implementada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) junto ao povo Kaingang, no período de 1940 a 1967, visando compreender a atuação da instituição escolar nas comunidades de Nonoai e Guarita (RS). Resulta de uma tese de doutorado e contou com pesquisa documental no arquivo do Museu do Índio (RJ), e com o registro de relatos orais dos kófa, velhos e velhas Kaingang. A análise dos documentos oficiais e a escuta às vozes dos kofá mostram que a escola, planejada pelo SPI com a intenção de “civilizar”, alfabetizar e difundir ensinamentos agrícolas e cívicos para transformar os indígenas em trabalhadores rurais e desenvolver neles um sentimento de nacionalidade não cumpriu totalmente sua finalidade. A escola efetivamente implementada em Nonoai e Guarita neste período foi fruto de disputas e negociações com as comunidades Kaingang, e os dados evidenciam seu alcance limitado diante do que foi inicialmente anunciado pelo SPI. Indícios apontam que foi a partir da década de 1970 que a escola se expandiu em número e em alcance às crianças.
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Neste artigo tecemos algumas considerações a respeito das atitudes linguísticas das m... more Neste artigo tecemos algumas considerações a respeito das atitudes linguísticas das mulheres Kaingang, moradores da TI-Apucaraninha, PR. Entendendo a língua como um importante fator de identidade cultural, apresentamos parte dos resultados de uma pesquisa, desenvolvida por uma pesquisadora Kaingang nativa e moradora da aldeia e outra não indígena, que trata a respeito das atitudes das falantes indígenas bilíngues, da já referida localidade, em relação ao uso das línguas Kaingang e Portuguesa, no espaço da aldeia. Para a discussão proposta, trazemos a análise de duas entrevistas, realizadas com falantes bilíngues, moradores da TI. A análise dos dados é sustentada pelos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociolinguística, em sua perspectiva macro. Como resultado podemos observar que as atitudes positivas em favor do Kaingang e a relação das mulheres com a língua vem contribuindo para a manutenção e vitalidade dessa língua, um meio de resistência e afirmação de identidade
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O artigo tem por objetivo realizar breve panorama histórico sobre o processo de ocupação e c... more O artigo tem por objetivo realizar breve panorama histórico sobre o processo de ocupação e colonização da região Oeste de São Paulo por companhias de exploração de terras e madeiras combinado ao avanço da frente agrícola cafeeira e pela expansão da rede ferroviária em direção ao chamado “sertão do Bauru” e seu impacto causado aos habitantes originários da região, dentre os quais os Kaingang que ocupavam porções territoriais localizadas entre os rios Tietê e seus afluentes, Paraná e Paranapanema, avançando as fronteiras em direção ao Mato Grosso e ao Paraná. Trata-se de um trabalho de retomada temática a partir da releitura de bibliografia pertinente à temática combinada com a pesquisa em jornais de época.
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Esse artigo apresenta a trajetória de Kasú Kanheró, kofã da etnia Kanhgág. Os Kanhgág do Rio Gran... more Esse artigo apresenta a trajetória de Kasú Kanheró, kofã da etnia Kanhgág. Os Kanhgág do Rio Grande do Sul estavam confinados às suas aldeias até a segunda metade do século XIX e impossibilitados de deixar suas comunidades. Em 1988 a constituição restituiu o direito de ir e vir, uma possibilidade de retorno aos projetos-de-vida Kanhgág. O trabalho é delineado pela etnografia, pela história oral na modalidade de trajetórias de vida e análise da indexação dos discursos captados e transcritos. Não obstante aos conflitos internos nas comunidades de origem, a migração dos Kanhgág das grandes áreas para os centros urbanos se deu através da possibilidade, com a constituição de 1988, de ocupação de novos espaços e de um retorno à transumância, aqui entendido como uma emergência que estava ausente.
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O presente estudo visa lançar um olhar sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na educação infa... more O presente estudo visa lançar um olhar sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na educação infantil de uma escola indígena no Estado do Paraná. Para tanto, é direcionado pelas seguintes problemáticas: como a educação infantil em escola indígena foi realizada em tempo de pandemia? E quais são as ações pós-pandemia? Para melhor compreensão deste contexto escolar foram investigadas as estratégias utilizadas, seus sucessos e insucessos. O recorte espacial se deu sobre uma escola indígena localizada na Terra Indígena Rio das Cobras –PR. A pesquisa apresenta abordagem qualitativa com delineamento exploratório, por meio de bibliografias, entrevistas e questionários semiabertos.
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Este artigo apresenta reflexões acerca das relações interculturais que podem atravessar a escrita... more Este artigo apresenta reflexões acerca das relações interculturais que podem atravessar a escrita acadêmica em coautoria, considerando o trançado entre culturas, línguas, entre o simbólico e o mitológico, densificado pelo movimento teórico-vivencial. No contexto de uma universidade comunitária (UNISC), de uma universidade pública (Unipampa) e de um grupo de pesquisa (Peabiru: educação ameríndia e interculturalidade UFRGS/UNISC), a relação entre pesquisadores indígenas e não indígenas fez emergir a Metodologia Vãfy, que convida a aproximar o que aparentemente não se junta: o mundo indígena e o não indígena. A narrativa de origem do povo Kaingang, que apresenta as metades clânicas kamé e kairú, inspira um desenho alternativo de produção acadêmica, cadenciado pelo protagonismo indígena que ensina a estar junto, construindo um campo de vivência intercultural que extrapola o espaço da universidade, reverberando nas relações humanas.
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Os povos indígenas brasileiros tem buscado revitalizar suas expressões culturais,... more Os povos indígenas brasileiros tem buscado revitalizar suas expressões culturais, mediante o registro em livros, fotografias, peças artísticas ou audiovisuais. A escrita das nossas línguas, a publicação das nossas histórias, a inserção no mundo da literatura e do audiovisual são ferramentas contemporâneas para visibilizar as lutas e a resistências dos povos indígenas. São iniciativas protagonizadas por indígenas, cuja autoria é pouco disseminada e esbarra na limitada difusão junto aos espaços de saber, onde contribuem para a superação da visão preconceituosa e colonizadora predominante em nossa aldeia global. A valorização das culturas indígenas é um movimento de protagonismo indígena. Apresentaremos iniciativas envolvendo anciãos mestres de cultura Kaingáng, artesãos, artistas, arte educadores, jovens, crianças e profissionais indígenas no contexto do Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, do Instituto Kaingáng, valorizando nossos saberes em contribuição à implementação da Lei 11.645/2008.
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O presente artigo, intitulado kanhgág Jykre Kar Filosofia, educação Kanhgág e a oralidade: uma a... more O presente artigo, intitulado kanhgág Jykre Kar Filosofia, educação
Kanhgág e a oralidade: uma abertura de caminhos, trata da organização social
do povo indígena Kanhgág/RS, sua história, educação, a escola indígena e sua
proposta indígena diferenciada, o bilinguismo, a inclusão e a
interculturalidade. Tem como objetivo registrar a oralidade para orientar meu
povo e os professores indígenas e não indígenas, que possuem interesse e
atuam nas escolas indígenas ou em temáticas sobre o mundo indígena. O
aporte teórico foi baseado nos escritos de outras pesquisas indígenas que
escreveram sobre esta temática. Foram ouvidas as pessoas mais velhas (Ti Si
Ag) e os pajés (Kujá), valorizando seus conhecimentos e suas sabedorias.
Destaco a importância de um pensar indígena, abrindo a compreensão de um
mundo povoado por diferentes culturas e. O mundo Kanhgág visitado,
vislumbrado com outros olhares. As trocas vivências. O trabalho propôs uma
abertura de caminhos, um diálogo que precisa continuar interculturais
precisam acontecer para que novas aprendizagens possam surgir.
Palavras-chave: Interculturalidade. Sabedoria. Conhecimento. Diálogo
Revista Latino-Americana de História, 2021
Apresentação Vol. 10, n.26: Espaços-tempos, saberes e vivências Kaingang
Revista Latino-Americana de História - Vol.10, n.26 (2021), 2021
O povo originário Kanhgág (kaingang) é habitante antigo de grandes territórios onde atualmente fi... more O povo originário Kanhgág (kaingang) é habitante antigo de grandes territórios onde atualmente ficam os Estados brasileiros conhecidos como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Com mais de 100 comunidades espalhadas por estes espaços, é o povo indígena mais numeroso no sul do país. Juntos, compartilham, além da língua materna, modos de enxergar, ensinar e viver o mundo de forma diversa dos não Kanhgág.
Pensando no povo Kanhgág e em suas formas de relação com o mundo, a edição nº26 da Revista Latino-Americana de História (RLAH), apresenta edição especial com 9 artigos que estão inseridos e/ ou apresentam pontos de vista e modos de ser Kanhgág, através da história, educação, sociologia, linguística, psicologia, antropologia, direito e geografia
Desse modo, essa edição pretende valorizar o povo Kanhgág, sua identidade, seus valores, seus conhecimentos e modos de viver, ensinar e aprender.
Coordenador:
Dr. Bruno Ferreira
Professor e formador kaingang, historiador
Doutor e Mestre em Educação – FACED/UFRGS
Publicado: 2022-01-21
Revista Latino-Americana de História - Vol.10, nº25 , 2021
Página8 pública, a relação da saúde com os processos de construção do Estado, e as relações entre... more Página8 pública, a relação da saúde com os processos de construção do Estado, e as relações entre instituições de saúde e as estruturas sociais, econômicas e políticas. São questões atuais que ainda hoje podem oferecer modelos para pensar as intervenções políticas e a questionar condutas em saúde pública.
Revista Latino-Americana de História, 2021
Bruno Ferreira, também conhecido como Bruno Ferreira Kaingang, é uma importante referência intele... more Bruno Ferreira, também conhecido como Bruno Ferreira Kaingang, é uma importante referência intelectual e científica Kanhgág. Bruno é do clã Kamé "(...) possuidor de espírito forte, facilidade para intervir junto aos espíritos nas lutas Kaingang" (Ferreira, 2020, p. 14). Segundo ele nos conta, sua trajetória de lutas inicia quando tinha 8 anos ao frequentar a primeira escola, hoje "Escola Estadual Indígena Bento Pĩ Gog", setor Pedra Lisa na Terra Indígena do Guarita, pois, lá deveria somente falar o português para "civilizar-se", sentindo-se perdido porque não entendia o português, pois, foi criado com os avós falantes de kanhgág e para ele esse foi um grande marco em sua luta por reconhecimento dos próprios processos de ensino, bem como a valorização dos saberes, cultura e principalmente da língua kanhgág. Seu grande professor foi Albino Ferreira, "(...) meu pai, mesmo não falando a língua de seus antepassados, tem muito conhecimento e muitas vivências da cultura kaingang" (Ferreira, 2014, p.19), seu pai, por conta de uma proibição de seu avô, não pode aprender a língua Kanhgág, porém, "Sozinho na mata com meu pai, além de aprender as coisas da cultura milenar de meu povo, também fui aprendendo a falar português. O mais importante de tudo isso era que ele usava a natureza como espaço de aprendizado. Seu material didático estava livre, pronto e disponível na floresta." (Ferreira, 2014, p.19). Desse modo, Bruno intercalou os ensinamentos do pai, das pessoas na comunidade e da escola, ficando seis anos na "Pĩ Gog". Posteriormente foi estudar no município de Tenente Portela, um dos municípios que estão incrustados nas fronteiras da Terra Indígena, pois a escola da comunidade só oferecia estudo até a quarta série. Entre as maiores dificuldades, novamente, a obrigatoriedade da língua portuguesa: "(...) em 1980, uma professora de história percebeu que
Revista Latino-Americana de História, 2021
Onde você se esconde? Onde você se esconde, mulher Kaingáng? Tão bela entre os gentios Que nossa ... more Onde você se esconde? Onde você se esconde, mulher Kaingáng? Tão bela entre os gentios Que nossa própria nação não enxerga; Olhos tapados pela dor das derrotas! És beleza nascida ao descaso De nossa história e de nosso passado. Mas assim mesmo Tope te deu de presente a teu povo. O nosso mais belo presente. Em tuas mãos, trouxeste a chave de uma prisão, Sem cordas, ferrões ou grilhões. Não se esconda, minha bela... Nossa pele tem a mesma cor, nosso sangue o mesmo valor! Nós, considerados povos sofridos e embrutecidos e feios... Mostra a eles, minha bela, O tamanho da nossa educação, O tamanho da nossa beleza, concentrada num só rosto; No teu rosto queimado de sol! Pois somos muitos E somos diferentes, minha bela! Temos outro coração, outro peito e outro rosto... Nosso rosto no teu rosto; Lembra disso hoje e sempre! E então continua sorrindo Teu sorriso branco e largo, pois a beleza que tu carregas Mostra a beleza da tua luta de mulheres e homens Belos em suas diferenças!
Revista Latino-Americana de História, 2021
As duas conversas foram realizadas na comunidade Kanhgág Por Fi Ga, nos anos de 2018 e 2019 para ... more As duas conversas foram realizadas na comunidade Kanhgág Por Fi Ga, nos anos de 2018 e 2019 para o trabalho de conclusão de curso (TCC) 4 em História do entrevistador. Reconhecendo que os movimentos dos kofã (mais velhos, idosos) e das lideranças influenciaram e foram decisivos para consolidação do território e de um projeto de organização Kanhgág na cidade de São Leopoldo/RS, o TCC teve como principais objetivos evidenciar narrativas sobre as trajetórias e experiências de vida dos kofã e das lideranças nessa comunidade. Desse modo, a primeira conversa teve como tema principal os anos de 1970 e a iniciação como liderança nas memórias do Dorva, apelido familiar de Dorvalino Cardoso, o Refej, 58 anos, nascido em 16 de Abril de 1964 em São Valentim, filho de Benta Cardoso e Jango Cardoso, casado com Adelar de Paula. Professor bilíngue Kanhgág/português do ensino fundamental da Escola localizada na comunidade kanhgág Por Fi Ga no município de São Leopoldo, Estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil. Graduado e mestre em educação. É grande referência intelectual para os kanhgág, na luta pela terra kanhgág, pela humanização da educação, por interculturalidade crítica e respeito à oralidade. Na segunda entrevista, Josme Konhko Fortes (in memoriam), nascido em 20 de agosto de 1976 em Nonoai, fala um pouco sobre sua trajetória até chegar em São Leopoldo, como foi essa vinda e de sua esposa. Konhko foi amigo, professor, pai, conselheiro, estudante. Referência para as novas gerações, incentivou e auxiliou os jovens kanhgág a concluírem seus estudos através das provas do Encceja, rendendo bons frutos até hoje. Acredita-se que a divulgação do pensamento kanhgág é uma importante contribuição para a afirmação e efetivação da ecologia do saberes. 1 Mestre em Políticas e Práticas Sociais (Unisinos) 2 Mestre em Educação (UFRGS) 3 Graduado em Pedagogia (Unisinos)/ *In memoriam-Josme faleceu precocemente em maio de 2020.
Revista Latino-Americana de História, 2021
Esse estudo assume uma característica biográfica e memorial, na qual apresenta-se a trajetória de... more Esse estudo assume uma característica biográfica e memorial, na qual apresenta-se a trajetória de vida do pesquisador, de sua infância até a vida adulta, da vida escolar até vida acadêmica. Discutem-se aspectos de sua cultura e de sua diferença em relação a outras culturas, de como os mais velhos educam e a forma que seus pais lhe educaram. O fio condutor do texto memorial exposto é a trajetória de vida do professor até sua inserção no ensino superior, evidenciando suas descontinuidades, poucas oportunidades e enfrentamentos pessoais para a realização de seu projeto.
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O presente artigo aborda a escola implementada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) junto ao... more O presente artigo aborda a escola implementada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) junto ao povo Kaingang, no período de 1940 a 1967, visando compreender a atuação da instituição escolar nas comunidades de Nonoai e Guarita (RS). Resulta de uma tese de doutorado e contou com pesquisa documental no arquivo do Museu do Índio (RJ), e com o registro de relatos orais dos kófa, velhos e velhas Kaingang. A análise dos documentos oficiais e a escuta às vozes dos kofá mostram que a escola, planejada pelo SPI com a intenção de “civilizar”, alfabetizar e difundir ensinamentos agrícolas e cívicos para transformar os indígenas em trabalhadores rurais e desenvolver neles um sentimento de nacionalidade não cumpriu totalmente sua finalidade. A escola efetivamente implementada em Nonoai e Guarita neste período foi fruto de disputas e negociações com as comunidades Kaingang, e os dados evidenciam seu alcance limitado diante do que foi inicialmente anunciado pelo SPI. Indícios apontam que foi a partir da década de 1970 que a escola se expandiu em número e em alcance às crianças.
Revista Latino-Americana de História, 2021
Neste artigo tecemos algumas considerações a respeito das atitudes linguísticas das m... more Neste artigo tecemos algumas considerações a respeito das atitudes linguísticas das mulheres Kaingang, moradores da TI-Apucaraninha, PR. Entendendo a língua como um importante fator de identidade cultural, apresentamos parte dos resultados de uma pesquisa, desenvolvida por uma pesquisadora Kaingang nativa e moradora da aldeia e outra não indígena, que trata a respeito das atitudes das falantes indígenas bilíngues, da já referida localidade, em relação ao uso das línguas Kaingang e Portuguesa, no espaço da aldeia. Para a discussão proposta, trazemos a análise de duas entrevistas, realizadas com falantes bilíngues, moradores da TI. A análise dos dados é sustentada pelos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociolinguística, em sua perspectiva macro. Como resultado podemos observar que as atitudes positivas em favor do Kaingang e a relação das mulheres com a língua vem contribuindo para a manutenção e vitalidade dessa língua, um meio de resistência e afirmação de identidade
Revista Latino-Americana de História, 2021
O artigo tem por objetivo realizar breve panorama histórico sobre o processo de ocupação e c... more O artigo tem por objetivo realizar breve panorama histórico sobre o processo de ocupação e colonização da região Oeste de São Paulo por companhias de exploração de terras e madeiras combinado ao avanço da frente agrícola cafeeira e pela expansão da rede ferroviária em direção ao chamado “sertão do Bauru” e seu impacto causado aos habitantes originários da região, dentre os quais os Kaingang que ocupavam porções territoriais localizadas entre os rios Tietê e seus afluentes, Paraná e Paranapanema, avançando as fronteiras em direção ao Mato Grosso e ao Paraná. Trata-se de um trabalho de retomada temática a partir da releitura de bibliografia pertinente à temática combinada com a pesquisa em jornais de época.
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Esse artigo apresenta a trajetória de Kasú Kanheró, kofã da etnia Kanhgág. Os Kanhgág do Rio Gran... more Esse artigo apresenta a trajetória de Kasú Kanheró, kofã da etnia Kanhgág. Os Kanhgág do Rio Grande do Sul estavam confinados às suas aldeias até a segunda metade do século XIX e impossibilitados de deixar suas comunidades. Em 1988 a constituição restituiu o direito de ir e vir, uma possibilidade de retorno aos projetos-de-vida Kanhgág. O trabalho é delineado pela etnografia, pela história oral na modalidade de trajetórias de vida e análise da indexação dos discursos captados e transcritos. Não obstante aos conflitos internos nas comunidades de origem, a migração dos Kanhgág das grandes áreas para os centros urbanos se deu através da possibilidade, com a constituição de 1988, de ocupação de novos espaços e de um retorno à transumância, aqui entendido como uma emergência que estava ausente.
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O presente estudo visa lançar um olhar sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na educação infa... more O presente estudo visa lançar um olhar sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na educação infantil de uma escola indígena no Estado do Paraná. Para tanto, é direcionado pelas seguintes problemáticas: como a educação infantil em escola indígena foi realizada em tempo de pandemia? E quais são as ações pós-pandemia? Para melhor compreensão deste contexto escolar foram investigadas as estratégias utilizadas, seus sucessos e insucessos. O recorte espacial se deu sobre uma escola indígena localizada na Terra Indígena Rio das Cobras –PR. A pesquisa apresenta abordagem qualitativa com delineamento exploratório, por meio de bibliografias, entrevistas e questionários semiabertos.
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Este artigo apresenta reflexões acerca das relações interculturais que podem atravessar a escrita... more Este artigo apresenta reflexões acerca das relações interculturais que podem atravessar a escrita acadêmica em coautoria, considerando o trançado entre culturas, línguas, entre o simbólico e o mitológico, densificado pelo movimento teórico-vivencial. No contexto de uma universidade comunitária (UNISC), de uma universidade pública (Unipampa) e de um grupo de pesquisa (Peabiru: educação ameríndia e interculturalidade UFRGS/UNISC), a relação entre pesquisadores indígenas e não indígenas fez emergir a Metodologia Vãfy, que convida a aproximar o que aparentemente não se junta: o mundo indígena e o não indígena. A narrativa de origem do povo Kaingang, que apresenta as metades clânicas kamé e kairú, inspira um desenho alternativo de produção acadêmica, cadenciado pelo protagonismo indígena que ensina a estar junto, construindo um campo de vivência intercultural que extrapola o espaço da universidade, reverberando nas relações humanas.
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Os povos indígenas brasileiros tem buscado revitalizar suas expressões culturais,... more Os povos indígenas brasileiros tem buscado revitalizar suas expressões culturais, mediante o registro em livros, fotografias, peças artísticas ou audiovisuais. A escrita das nossas línguas, a publicação das nossas histórias, a inserção no mundo da literatura e do audiovisual são ferramentas contemporâneas para visibilizar as lutas e a resistências dos povos indígenas. São iniciativas protagonizadas por indígenas, cuja autoria é pouco disseminada e esbarra na limitada difusão junto aos espaços de saber, onde contribuem para a superação da visão preconceituosa e colonizadora predominante em nossa aldeia global. A valorização das culturas indígenas é um movimento de protagonismo indígena. Apresentaremos iniciativas envolvendo anciãos mestres de cultura Kaingáng, artesãos, artistas, arte educadores, jovens, crianças e profissionais indígenas no contexto do Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, do Instituto Kaingáng, valorizando nossos saberes em contribuição à implementação da Lei 11.645/2008.
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O presente artigo, intitulado kanhgág Jykre Kar Filosofia, educação Kanhgág e a oralidade: uma a... more O presente artigo, intitulado kanhgág Jykre Kar Filosofia, educação
Kanhgág e a oralidade: uma abertura de caminhos, trata da organização social
do povo indígena Kanhgág/RS, sua história, educação, a escola indígena e sua
proposta indígena diferenciada, o bilinguismo, a inclusão e a
interculturalidade. Tem como objetivo registrar a oralidade para orientar meu
povo e os professores indígenas e não indígenas, que possuem interesse e
atuam nas escolas indígenas ou em temáticas sobre o mundo indígena. O
aporte teórico foi baseado nos escritos de outras pesquisas indígenas que
escreveram sobre esta temática. Foram ouvidas as pessoas mais velhas (Ti Si
Ag) e os pajés (Kujá), valorizando seus conhecimentos e suas sabedorias.
Destaco a importância de um pensar indígena, abrindo a compreensão de um
mundo povoado por diferentes culturas e. O mundo Kanhgág visitado,
vislumbrado com outros olhares. As trocas vivências. O trabalho propôs uma
abertura de caminhos, um diálogo que precisa continuar interculturais
precisam acontecer para que novas aprendizagens possam surgir.
Palavras-chave: Interculturalidade. Sabedoria. Conhecimento. Diálogo
Revista Latino-Americana de História, 2021
Apresentação Vol. 10, n.26: Espaços-tempos, saberes e vivências Kaingang
Revista Latino-Americana de História - Vol.10, n.26 (2021), 2021
O povo originário Kanhgág (kaingang) é habitante antigo de grandes territórios onde atualmente fi... more O povo originário Kanhgág (kaingang) é habitante antigo de grandes territórios onde atualmente ficam os Estados brasileiros conhecidos como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Com mais de 100 comunidades espalhadas por estes espaços, é o povo indígena mais numeroso no sul do país. Juntos, compartilham, além da língua materna, modos de enxergar, ensinar e viver o mundo de forma diversa dos não Kanhgág.
Pensando no povo Kanhgág e em suas formas de relação com o mundo, a edição nº26 da Revista Latino-Americana de História (RLAH), apresenta edição especial com 9 artigos que estão inseridos e/ ou apresentam pontos de vista e modos de ser Kanhgág, através da história, educação, sociologia, linguística, psicologia, antropologia, direito e geografia
Desse modo, essa edição pretende valorizar o povo Kanhgág, sua identidade, seus valores, seus conhecimentos e modos de viver, ensinar e aprender.
Coordenador:
Dr. Bruno Ferreira
Professor e formador kaingang, historiador
Doutor e Mestre em Educação – FACED/UFRGS
Publicado: 2022-01-21
Revista Latino-Americana de História - Vol.10, nº25 , 2021
Página8 pública, a relação da saúde com os processos de construção do Estado, e as relações entre... more Página8 pública, a relação da saúde com os processos de construção do Estado, e as relações entre instituições de saúde e as estruturas sociais, econômicas e políticas. São questões atuais que ainda hoje podem oferecer modelos para pensar as intervenções políticas e a questionar condutas em saúde pública.