Camila Galan de Paula | Universidade Federal do Vale do São Francisco (original) (raw)
Articles / Artigos by Camila Galan de Paula
Classificados Métis, 2024
Este texto propõe uma abordagem etnográfica sobre a relação entre tempo, história e materialidade... more Este texto propõe uma abordagem etnográfica sobre a
relação entre tempo, história e materialidade em uma
região rural de Coronel José Dias, no semiárido piauiense.
Através de conversas realizadas em campo sobre a água,
explora-se como os moradores articulam diferentes
“tempos”: um pretérito, marcado pelas “dificuldades”,
e outro mais próximo ao presente, caracterizado pelas
“facilidades”. A partir da exposição e análise desses
tempos e de suas qualidades, reflete-se sobre como
aparecem apartados nas histórias contadas. No entanto,
as conversas sobre o acesso à água de antes e de hoje
são acompanhadas de coisas que são mostradas, como
barris, cabaças, poços, cisternas. Em uma história mostrada,
defende-se, o passado se faz presente. Assim, este texto
constitui-se como uma reflexão etnográfica sobre os modos
de contar e de mostrar a história.
Enciclopédia de Antropologia, 2023
Trata-se de um verbete na Enciclopédia de Antropologia sobre o livro "O totemismo hoje" de Claude... more Trata-se de um verbete na Enciclopédia de Antropologia sobre o livro "O totemismo hoje" de Claude Lévi-Strauss
Revista de Antropologia, 2021
Este artigo busca nova análise para dados de campo e interpretações anteriores sobre a circulação... more Este artigo busca nova análise para dados de campo e interpretações anteriores sobre a circulação de produtos industrializados entre os Wajãpi no Amapá. O foco recai sobre a relação de tipo de imitador(a)-seguidores(as): os interlocutores em campo explicavam que algumas coisas eram amplamente compradas e usadas porque alguém teria comprado primeiro, e os demais, imitado esse iniciador. Em trabalhos anteriores, compreendi que tal processo poderia ser analisado à luz de discussões que estabelecem dois modos de circulação de mercadorias entre povos da América do Sul indígena, um relativo à magnificação de pessoas, outro à consanguinização e ao estabelecimento de relações simétricas. Aqui, busco reexaminar os dados à luz de interpretações das socialidades ameríndias que não partam de noções de propriedade e controle. Sugiro que a assimetria implicada no ato de iniciar uma moda possa ser entendida como a ocupação provisória de uma posição de "saliência".
Enciclopédia de Antropologia, 2016
RESUMO: Em aldeias wajãpi no Amapá, muitos rapazes e homens ostentam penteados à Neymar; mulheres... more RESUMO: Em aldeias wajãpi no Amapá, muitos rapazes e homens ostentam penteados à Neymar; mulheres jovens repartem os cabelos de lado; meninas pequenas trajam apenas calcinhas. Diversas práticas e ornatos que parecem à primeira vista ter seu uso oriundo nas cidades amapaenses remetem a relações de pessoas wajãpi com outros povos indígenas: os sutiãs inspirados nas mulheres wajãpi das aldeias do Camopi (Guiana Francesa), o lambadão xinguano. As imitações de práticas corporais e o uso de objetos cujas origens são atribuídas a outros grupos (indígenas e não indígenas) são profusos. Este artigo pretende explorar algumas considerações de meus interlocutores wajãpi a respeito de dinâmicas ligadas à aquisição e circulação desses objetos, roupas, modas e enfeites. Inicialmente analiso a ideia de imitação, a partir de um diálogo entre meus dados e a bibliografia acerca dos corpos ameríndios. A partir dessa dinâmica da imitação, revelam-se também certas relações sociopolíticas entre diversas pessoas e famílias wajãpi: imita-se aquilo que alguém fez primeiro; esses iniciadores, por sua vez, buscam diferenciar-se, fazendo preconceito ou disputa. ABSTRACT: In Wajãpi villages, several young men wear they hair inspired in (soccer player) Neymar's hairstyle. Young women part their hair sideways; female toddlers wear nothing but underpants. Many of these bodily practices and garments are related by the Wajãpi to exchange networks established with other Amerindian peoples. The use of bras was inspired by Wajãpi women on the French Guiana villages of Camopi, the musical genre lambadão was taught by Xingu peoples. Abundant are bodily practices and objects which imitation is attributed by the Wajãpi to other groups (Amerindians and non-indigenous ones). The article aims to analyze the acquisition and circulation of objects and clothes among the Wajãpi. I explore the idea of to imitate (imitar), analyzing data produced through fieldwork in the light of literature on South Amerindian bodies. The imitation dynamic casts light on certain sociopolitical relations among
Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani resident... more Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani residente no estado do Amapá – acerca da seleção de enfeites e peças de roupas para a fabricação de corpos corretos, dotados das disposições desejadas. A discussão centra-se (1) na noção de combinação entre determinadas roupas e enfeites e certos corpos fabricados – e inflexões de gênero e idade; (2) numa polêmica acerca do uso de calças jeans por mulheres jovens. O artigo explicita que não há consenso entre diferentes pessoas wajãpi acerca dos itens adequados a homens, mulheres, jovens ou velhos. Todos, no entanto, entendem ser importante selecionar criteriosamente os componentes de fabricação corporal.
In this article I follow Wajãpi peoples’ (Tupi-guaranian group, Brazil) statements regarding garment selection to fabricate adequate bodies, with correspondent correct temperaments. Discussions are centered on (1) the notion of combinar (to match, to harmonize), related to the link between the use of certain clothes and ornaments and the fabrication of certain bodies – constitutive of gender and age differences; (2) the controversy of young female Wajãpi wearing pants. The article highlights the lack of consensus among different Wajãpi people regarding items to be properly worn by women, men, youngsters and old people. However, there is consensus in the understanding that garment selection is to be carried out carefully, since it closely relates to body fabrication.
Primeiros Estudos, 2011
Este artigo tem por preocupação principal apresentar a proposição elaborada por James Leach sobre... more Este artigo tem por preocupação principal apresentar a proposição elaborada por James Leach sobre a existência de diferentes modos de criatividade em contextos distintos, baseando-se em sua definição alargada de criatividade. Com bases nessas proposições, buscaremos sugerir modos ameríndios de criatividade tomando como referência o artigo de Patrícia Rodrigues sobre a concepção javaé de criação e sua ênfase nas misturas entre princípios femininos e masculinos. Depois, seguindo caminhos mais tortuosos, gostaríamos de sugerir que o xamanismo amazônico
como técnica de construção de conhecimento, de comunicação e de tradução é também um modo ameríndio de criatividade, conforme sugerido pelos próprios autores em que nos baseamos. Tal modo de concepção e prática da criatividade entre populações ameríndias necessita da alteridade para a realização da criação. Nesse sentido, extrapolamos a ideia de que o xamã seja o mediador/criador por excelência nas socialidades sul-americanas, e propomos que os modos de criatividade nessa região sejam pensados como inseridos no que se convencionou denominar “predação ontológica”. Nosso intuito principal é o de aproximar a noção de modos de criatividade
proposta por Leach do debate sobre o americanismo tropical.
Proceedings / Trabalhos em Anais de Congressos by Camila Galan de Paula
Esta comunicação busca apresentar a circulação de mercadorias entre os Wajãpi no Amapá (povo de l... more Esta comunicação busca apresentar a circulação de mercadorias entre os Wajãpi no Amapá (povo de língua da família tupi-guarani) atentando-se aos momentos de (I) retenção/concentração e (II) movimento desses objetos e às modalidades de relação associadas a eles. O ponto de partida é a constatação, em diversos contextos indígenas - com atenção especial às terras baixas da América do Sul -, de que há dois modos de fazer os bens industrializados circular, que se associam a tentativas de (1) magnificação de pessoas e (2) manutenção da igualdade entre todos. Como procedimento, adota-se perspectiva comparativa, usando-se dados de etnografias sobre povos ameríndios. Em conjunto com o intento mais comparativo, apresenta-se o contexto wajãpi, valendo-se de iniciais observações de campo e de pesquisa bibliográfica. Emergem temas como o controle do ciúme, as estratégias adotadas para evitar a ampla distribuição das mercadorias, a generosidade associada ao prestígio, a aversão à avareza.
Book Reviews by Camila Galan de Paula
Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2020
Resenha do livro REPETTO, Francesca. Uma arqueologia do apagamento: narrativas de desaparecimento... more Resenha do livro REPETTO, Francesca. Uma arqueologia do apagamento: narrativas de desaparecimento Charrúa no Uruguai. São Paulo: Hucitec: ANPOCS, 2019
Recursos didáticos by Camila Galan de Paula
USP Ensina Sociologia, 2014
Conference Presentations by Camila Galan de Paula
Abstract of paper presented at the 2022 American Anthropological Association Annual Meeting on 11... more Abstract of paper presented at the 2022 American Anthropological Association Annual Meeting on 11/09/2022 – Landscapes of Race panel
Poster apresentado na SALSA XI Sesquiannual Conference, Lima, Perú.
Dissertação de mestrado / Master's Thesis by Camila Galan de Paula
Esta pesquisa parte de preocupação inicial com a aquisição e circulação de bens industrializados ... more Esta pesquisa parte de preocupação inicial com a aquisição e circulação de bens industrializados por populações indígenas. A partir de pesquisa de campo com os Wajãpi no Amapá (grupo de língua tupi-guarani), seguem-se dois caminhos para lidar com a questão. O primeiro capítulo desta dissertação investiga o modo como os Wajãpi apreciam os objetos e os critérios usados para avaliar uma coisa como boa-bonita (ikatuwa) ou ruim-feia (nikatui). A partir das avaliações desses indígenas, recusa-se a divisão entre objetos industrializados versus manufaturados nas aldeias. As discussões sobre os critérios avaliativos centram-se: (i) na avaliação das coisas por algumas de suas qualidades sensíveis; (ii) na relação entre um objeto, seu processo produtivo, seu produtor e o material utilizado em sua confecção; (iii) na distinção entre “originais” e “importados” para os produtos comprados nas cidades; (iv) na facilidade de uso que certas coisas e técnicas apresentam. O segundo capítulo investiga a questão das vestimentas, enfocando as considerações dos Wajãpi sobre o uso de roupas adquiridas nas cidades em comparação a outros elementos de fabricação corporal usados há mais tempo – pinturas com urucum, jenipapo, resinas odorantes, uso de tangas e saias vermelhas, miçangas. Em diálogo com análises de outros antropólogos, abordo de diversas maneiras as considerações dos Wajãpi sobre a questão. Acompanho suas comparações entre o uso de roupas e de pinturas corporais na modulação de relações com outras gentes – “sobrenaturais” na divisão naturalista. Trato da articulação entre o uso de certas roupas e a fabricação de corpos adequados e belos, a partir das ideias de combinar e de vergonha. As ideias de imitação (wa’ã) e de acostumar-se (-jipokuwa) são também investigadas. Relaciono a imitação dos não indígenas e o costume de usar suas roupas a outras práticas de imitação realizadas pelos Wajãpi. Por fim, esboço uma compreensão sobre o modo como a busca por certos bens é fomentada também pelas relações entre iniciadores e seguidores. Para tanto, parto das ideias de fazer preconceito, desigualdade, ciúme, inveja. Perpassa esta dissertação a questão da corporalidade e da fabricação corporal. Objetos possuem corpos, têm suas partes nomeadas em paralelo às partes dos corpos de gente wajãpi e de outras gentes – animais e plantas, na divisão naturalista. Seguindo outros autores, apresento elementos para problematizar a divisão entre pessoas e coisas, a partir de investimento investigativo na questão da fabricação corporal – na confecção de objetos e de gente wajãpi.
Papers by Camila Galan de Paula
ponto urbe, 2016
Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani resident... more Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani residente no estado do Amapá – acerca da seleção de enfeites e peças de roupas para a fabricação de corpos corretos, dotados das disposições desejadas. A discussão centra-se (1) na noção de combinação entre determinadas roupas e enfeites e certos corpos fabricados – e inflexões de gênero e idade; (2) numa polêmica acerca do uso de calças jeans por mulheres jovens. O artigo explicita que não há consenso entre diferentes pessoas wajãpi acerca dos itens adequados a homens, mulheres, jovens ou velhos. Todos, no entanto, entendem ser importante selecionar criteriosamente os componentes de fabricação corporal.
Books by Camila Galan de Paula
História dos Sertões: Conexões Coloniais, 2023
Capítulo de livro. Na região de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, há pessoas que reconhecem ... more Capítulo de livro.
Na região de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, há pessoas que reconhecem ter ascendentes indígenas, mas não existem presentemente na região processos de emergência étnica indígena. De que modo as pessoas fazem presente ou afastam seus antepassados indígenas em suas histórias familiares e relações cotidianas? Ter antepassados indígenas conforma diferenciações entre famílias? Estas perguntas gerais serão especificadas aqui em questões que relacionam processos de conformação de identidades e grupos a processos de territorialização. Indago como apreender as territorialidades articuladas a ascendentes indígenas quando não há movimentos contemporâneos de etnicidade e de territorialização. Apresento caminhos percorridos e hipóteses desenvolvidas em uma pesquisa de doutorado em antropologia social que está ainda em desenvolvimento (no ritmo e com as limitações impostos pela pandemia de COVID-19).
Povos indígenas no Brasil : 2017/2022 , 2023
Capítulo sobre povos indígenas no Piauí publicado no livro Povos indígenas no Brasil : 2017/2022,... more Capítulo sobre povos indígenas no Piauí publicado no livro Povos indígenas no Brasil : 2017/2022, editado pelo Instituto Socioambiental.
Classificados Métis, 2024
Este texto propõe uma abordagem etnográfica sobre a relação entre tempo, história e materialidade... more Este texto propõe uma abordagem etnográfica sobre a
relação entre tempo, história e materialidade em uma
região rural de Coronel José Dias, no semiárido piauiense.
Através de conversas realizadas em campo sobre a água,
explora-se como os moradores articulam diferentes
“tempos”: um pretérito, marcado pelas “dificuldades”,
e outro mais próximo ao presente, caracterizado pelas
“facilidades”. A partir da exposição e análise desses
tempos e de suas qualidades, reflete-se sobre como
aparecem apartados nas histórias contadas. No entanto,
as conversas sobre o acesso à água de antes e de hoje
são acompanhadas de coisas que são mostradas, como
barris, cabaças, poços, cisternas. Em uma história mostrada,
defende-se, o passado se faz presente. Assim, este texto
constitui-se como uma reflexão etnográfica sobre os modos
de contar e de mostrar a história.
Enciclopédia de Antropologia, 2023
Trata-se de um verbete na Enciclopédia de Antropologia sobre o livro "O totemismo hoje" de Claude... more Trata-se de um verbete na Enciclopédia de Antropologia sobre o livro "O totemismo hoje" de Claude Lévi-Strauss
Revista de Antropologia, 2021
Este artigo busca nova análise para dados de campo e interpretações anteriores sobre a circulação... more Este artigo busca nova análise para dados de campo e interpretações anteriores sobre a circulação de produtos industrializados entre os Wajãpi no Amapá. O foco recai sobre a relação de tipo de imitador(a)-seguidores(as): os interlocutores em campo explicavam que algumas coisas eram amplamente compradas e usadas porque alguém teria comprado primeiro, e os demais, imitado esse iniciador. Em trabalhos anteriores, compreendi que tal processo poderia ser analisado à luz de discussões que estabelecem dois modos de circulação de mercadorias entre povos da América do Sul indígena, um relativo à magnificação de pessoas, outro à consanguinização e ao estabelecimento de relações simétricas. Aqui, busco reexaminar os dados à luz de interpretações das socialidades ameríndias que não partam de noções de propriedade e controle. Sugiro que a assimetria implicada no ato de iniciar uma moda possa ser entendida como a ocupação provisória de uma posição de "saliência".
Enciclopédia de Antropologia, 2016
RESUMO: Em aldeias wajãpi no Amapá, muitos rapazes e homens ostentam penteados à Neymar; mulheres... more RESUMO: Em aldeias wajãpi no Amapá, muitos rapazes e homens ostentam penteados à Neymar; mulheres jovens repartem os cabelos de lado; meninas pequenas trajam apenas calcinhas. Diversas práticas e ornatos que parecem à primeira vista ter seu uso oriundo nas cidades amapaenses remetem a relações de pessoas wajãpi com outros povos indígenas: os sutiãs inspirados nas mulheres wajãpi das aldeias do Camopi (Guiana Francesa), o lambadão xinguano. As imitações de práticas corporais e o uso de objetos cujas origens são atribuídas a outros grupos (indígenas e não indígenas) são profusos. Este artigo pretende explorar algumas considerações de meus interlocutores wajãpi a respeito de dinâmicas ligadas à aquisição e circulação desses objetos, roupas, modas e enfeites. Inicialmente analiso a ideia de imitação, a partir de um diálogo entre meus dados e a bibliografia acerca dos corpos ameríndios. A partir dessa dinâmica da imitação, revelam-se também certas relações sociopolíticas entre diversas pessoas e famílias wajãpi: imita-se aquilo que alguém fez primeiro; esses iniciadores, por sua vez, buscam diferenciar-se, fazendo preconceito ou disputa. ABSTRACT: In Wajãpi villages, several young men wear they hair inspired in (soccer player) Neymar's hairstyle. Young women part their hair sideways; female toddlers wear nothing but underpants. Many of these bodily practices and garments are related by the Wajãpi to exchange networks established with other Amerindian peoples. The use of bras was inspired by Wajãpi women on the French Guiana villages of Camopi, the musical genre lambadão was taught by Xingu peoples. Abundant are bodily practices and objects which imitation is attributed by the Wajãpi to other groups (Amerindians and non-indigenous ones). The article aims to analyze the acquisition and circulation of objects and clothes among the Wajãpi. I explore the idea of to imitate (imitar), analyzing data produced through fieldwork in the light of literature on South Amerindian bodies. The imitation dynamic casts light on certain sociopolitical relations among
Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani resident... more Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani residente no estado do Amapá – acerca da seleção de enfeites e peças de roupas para a fabricação de corpos corretos, dotados das disposições desejadas. A discussão centra-se (1) na noção de combinação entre determinadas roupas e enfeites e certos corpos fabricados – e inflexões de gênero e idade; (2) numa polêmica acerca do uso de calças jeans por mulheres jovens. O artigo explicita que não há consenso entre diferentes pessoas wajãpi acerca dos itens adequados a homens, mulheres, jovens ou velhos. Todos, no entanto, entendem ser importante selecionar criteriosamente os componentes de fabricação corporal.
In this article I follow Wajãpi peoples’ (Tupi-guaranian group, Brazil) statements regarding garment selection to fabricate adequate bodies, with correspondent correct temperaments. Discussions are centered on (1) the notion of combinar (to match, to harmonize), related to the link between the use of certain clothes and ornaments and the fabrication of certain bodies – constitutive of gender and age differences; (2) the controversy of young female Wajãpi wearing pants. The article highlights the lack of consensus among different Wajãpi people regarding items to be properly worn by women, men, youngsters and old people. However, there is consensus in the understanding that garment selection is to be carried out carefully, since it closely relates to body fabrication.
Primeiros Estudos, 2011
Este artigo tem por preocupação principal apresentar a proposição elaborada por James Leach sobre... more Este artigo tem por preocupação principal apresentar a proposição elaborada por James Leach sobre a existência de diferentes modos de criatividade em contextos distintos, baseando-se em sua definição alargada de criatividade. Com bases nessas proposições, buscaremos sugerir modos ameríndios de criatividade tomando como referência o artigo de Patrícia Rodrigues sobre a concepção javaé de criação e sua ênfase nas misturas entre princípios femininos e masculinos. Depois, seguindo caminhos mais tortuosos, gostaríamos de sugerir que o xamanismo amazônico
como técnica de construção de conhecimento, de comunicação e de tradução é também um modo ameríndio de criatividade, conforme sugerido pelos próprios autores em que nos baseamos. Tal modo de concepção e prática da criatividade entre populações ameríndias necessita da alteridade para a realização da criação. Nesse sentido, extrapolamos a ideia de que o xamã seja o mediador/criador por excelência nas socialidades sul-americanas, e propomos que os modos de criatividade nessa região sejam pensados como inseridos no que se convencionou denominar “predação ontológica”. Nosso intuito principal é o de aproximar a noção de modos de criatividade
proposta por Leach do debate sobre o americanismo tropical.
Esta comunicação busca apresentar a circulação de mercadorias entre os Wajãpi no Amapá (povo de l... more Esta comunicação busca apresentar a circulação de mercadorias entre os Wajãpi no Amapá (povo de língua da família tupi-guarani) atentando-se aos momentos de (I) retenção/concentração e (II) movimento desses objetos e às modalidades de relação associadas a eles. O ponto de partida é a constatação, em diversos contextos indígenas - com atenção especial às terras baixas da América do Sul -, de que há dois modos de fazer os bens industrializados circular, que se associam a tentativas de (1) magnificação de pessoas e (2) manutenção da igualdade entre todos. Como procedimento, adota-se perspectiva comparativa, usando-se dados de etnografias sobre povos ameríndios. Em conjunto com o intento mais comparativo, apresenta-se o contexto wajãpi, valendo-se de iniciais observações de campo e de pesquisa bibliográfica. Emergem temas como o controle do ciúme, as estratégias adotadas para evitar a ampla distribuição das mercadorias, a generosidade associada ao prestígio, a aversão à avareza.
Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2020
Resenha do livro REPETTO, Francesca. Uma arqueologia do apagamento: narrativas de desaparecimento... more Resenha do livro REPETTO, Francesca. Uma arqueologia do apagamento: narrativas de desaparecimento Charrúa no Uruguai. São Paulo: Hucitec: ANPOCS, 2019
USP Ensina Sociologia, 2014
Abstract of paper presented at the 2022 American Anthropological Association Annual Meeting on 11... more Abstract of paper presented at the 2022 American Anthropological Association Annual Meeting on 11/09/2022 – Landscapes of Race panel
Poster apresentado na SALSA XI Sesquiannual Conference, Lima, Perú.
Esta pesquisa parte de preocupação inicial com a aquisição e circulação de bens industrializados ... more Esta pesquisa parte de preocupação inicial com a aquisição e circulação de bens industrializados por populações indígenas. A partir de pesquisa de campo com os Wajãpi no Amapá (grupo de língua tupi-guarani), seguem-se dois caminhos para lidar com a questão. O primeiro capítulo desta dissertação investiga o modo como os Wajãpi apreciam os objetos e os critérios usados para avaliar uma coisa como boa-bonita (ikatuwa) ou ruim-feia (nikatui). A partir das avaliações desses indígenas, recusa-se a divisão entre objetos industrializados versus manufaturados nas aldeias. As discussões sobre os critérios avaliativos centram-se: (i) na avaliação das coisas por algumas de suas qualidades sensíveis; (ii) na relação entre um objeto, seu processo produtivo, seu produtor e o material utilizado em sua confecção; (iii) na distinção entre “originais” e “importados” para os produtos comprados nas cidades; (iv) na facilidade de uso que certas coisas e técnicas apresentam. O segundo capítulo investiga a questão das vestimentas, enfocando as considerações dos Wajãpi sobre o uso de roupas adquiridas nas cidades em comparação a outros elementos de fabricação corporal usados há mais tempo – pinturas com urucum, jenipapo, resinas odorantes, uso de tangas e saias vermelhas, miçangas. Em diálogo com análises de outros antropólogos, abordo de diversas maneiras as considerações dos Wajãpi sobre a questão. Acompanho suas comparações entre o uso de roupas e de pinturas corporais na modulação de relações com outras gentes – “sobrenaturais” na divisão naturalista. Trato da articulação entre o uso de certas roupas e a fabricação de corpos adequados e belos, a partir das ideias de combinar e de vergonha. As ideias de imitação (wa’ã) e de acostumar-se (-jipokuwa) são também investigadas. Relaciono a imitação dos não indígenas e o costume de usar suas roupas a outras práticas de imitação realizadas pelos Wajãpi. Por fim, esboço uma compreensão sobre o modo como a busca por certos bens é fomentada também pelas relações entre iniciadores e seguidores. Para tanto, parto das ideias de fazer preconceito, desigualdade, ciúme, inveja. Perpassa esta dissertação a questão da corporalidade e da fabricação corporal. Objetos possuem corpos, têm suas partes nomeadas em paralelo às partes dos corpos de gente wajãpi e de outras gentes – animais e plantas, na divisão naturalista. Seguindo outros autores, apresento elementos para problematizar a divisão entre pessoas e coisas, a partir de investimento investigativo na questão da fabricação corporal – na confecção de objetos e de gente wajãpi.
ponto urbe, 2016
Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani resident... more Este artigo segue algumas considerações de pessoas wajãpi – grupo de língua tupi-guarani residente no estado do Amapá – acerca da seleção de enfeites e peças de roupas para a fabricação de corpos corretos, dotados das disposições desejadas. A discussão centra-se (1) na noção de combinação entre determinadas roupas e enfeites e certos corpos fabricados – e inflexões de gênero e idade; (2) numa polêmica acerca do uso de calças jeans por mulheres jovens. O artigo explicita que não há consenso entre diferentes pessoas wajãpi acerca dos itens adequados a homens, mulheres, jovens ou velhos. Todos, no entanto, entendem ser importante selecionar criteriosamente os componentes de fabricação corporal.
História dos Sertões: Conexões Coloniais, 2023
Capítulo de livro. Na região de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, há pessoas que reconhecem ... more Capítulo de livro.
Na região de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, há pessoas que reconhecem ter ascendentes indígenas, mas não existem presentemente na região processos de emergência étnica indígena. De que modo as pessoas fazem presente ou afastam seus antepassados indígenas em suas histórias familiares e relações cotidianas? Ter antepassados indígenas conforma diferenciações entre famílias? Estas perguntas gerais serão especificadas aqui em questões que relacionam processos de conformação de identidades e grupos a processos de territorialização. Indago como apreender as territorialidades articuladas a ascendentes indígenas quando não há movimentos contemporâneos de etnicidade e de territorialização. Apresento caminhos percorridos e hipóteses desenvolvidas em uma pesquisa de doutorado em antropologia social que está ainda em desenvolvimento (no ritmo e com as limitações impostos pela pandemia de COVID-19).
Povos indígenas no Brasil : 2017/2022 , 2023
Capítulo sobre povos indígenas no Piauí publicado no livro Povos indígenas no Brasil : 2017/2022,... more Capítulo sobre povos indígenas no Piauí publicado no livro Povos indígenas no Brasil : 2017/2022, editado pelo Instituto Socioambiental.