Dulce Simões | Universidade Nova de Lisboa (original) (raw)
Books by Dulce Simões
Editora Regional de Estremadura, Dec 2021
Ochenta y cinco años después del golpe militar de 18 de julio de 1936, contra el gobierno legítim... more Ochenta y cinco años después del golpe militar de 18 de julio de 1936, contra el gobierno legítimo de la II República, las vidas destruidas por la guerra y por la dictadura subsecuente continúan motivando a los investigadores a discutir la represión y la solidaridad, la violencia y la afirmación humana, la hegemonía y la resistencia. Las memorias inéditas del carabinero Fermín Velázquez Vellarino, que en su singularidad representan la historia vivida por millares de represaliados republicanos, permiten entrar de modo ejemplar en los intersticios de vidas destruidas por la represión franquista, y conducen a terrenos en que la palabra «verdad» surge como un grito de revuelta contra la injusticia y el silencio a que fueran condenados los resistentes antifranquistas.
Edições Colibri, 2022
A partir de um estudo de caso a autora analisa, desde uma perspectiva histórica e etnográfica, as... more A partir de um estudo de caso a autora analisa, desde uma perspectiva histórica e etnográfica, as transformações económicas, políticas e sociais do mundo rural e as suas repercussões nas práticas e expressões culturais das comunidades raianas. Neste contexto, o Cante Alentejano adquire centralidade como expressão emblemática, inserido nos processos políticos de objectificação da cultura e nas formas de resistência à regulamentação e governação institucional. Desde uma perspectiva crítica a autora interroga a tensão progressiva entre os processos de patrimonialização e a criatividade social, a partir de um conjunto de manifestações culturais que reforçam o sentido do comum e a utopia de uma sociedade mais justa.
A partir de un estudio de caso, la autora analiza, desde una perspectiva histórica y etnográfica, las transformaciones económicas, políticas y sociales del mundo rural y sus repercusiones en las prácticas y expresiones culturales de las comunidades rayanas. En este contexto, el Cante Alentejano adquiere centralidad como expresión emblemática, inserta en los procesos políticos de cosificación de la cultura y en las formas de resistencia a la regulación y gobernanza institucional. Desde una perspectiva crítica, la autora cuestiona la tensión progresiva entre los procesos de patrimonialización y la creatividad social, a partir de un conjunto de manifestaciones culturales que refuerzan el sentido del común y la utopía de una sociedad más justa.
Tradisom, 2017
A publicação assinala o percurso dos cantadores de Vila Verde de Ficalho e do grupo coral Os Arra... more A publicação assinala o percurso dos cantadores de Vila Verde de Ficalho e do grupo coral Os Arraianos ao longo de oitenta anos de actividade. Ao longo dos tempos mudaram os cantadores, os contextos de actuação, os reportórios e as dinâmicas quotidianas, mas a prática persiste. O passado memorável pode ser recriado através de objectos palpáveis (expostos na vitrine da Sociedade Recreativa 1º de Dezembro) que representam a identidade do grupo, como símbolos duradouros da memória colectiva. Porque relembrar o passado é crucial para o nosso sentido de identidade; saber o que fomos confirma o que somos, e a nossa continuidade depende inteiramente da memória.
Esta obra integra-se no designado Plano de Salvaguarda do Cante Alentejano, e foi apoiada pelo Município de Serpa. As modas que a compõem representam simbolicamente o ciclo de vida das comunidades rurais alentejanas, entre o trabalho, o lazer e a festa, e expressam a arte, as estruturas sensíveis do pensamento e o saber recriado, na liberdade de romper amarras para construir o futuro.
Caleidoscópio, May 30, 2017
A fundação da Cooperativa de Consumo Piedense (CCP) remonta historicamente ao movimento associati... more A fundação da Cooperativa de Consumo Piedense (CCP) remonta historicamente ao movimento associativo do séc. XIX, vinculada a estratégias de sobrevivência económica que contribuíram para a construção de uma cultura de grupo. Durante o Estado Novo foi um espaço de referência cultural, de prestígio social, e um baluarte na luta contra o fascismo. A partir das memórias de um grupo de trinta sócios analisam-se as múltiplas dimensões da história, da organização administrativa, da composição socioeconómica e da resistência política no espaço da CCP. Na primeira parte questionando as estratégias económicas do presente etnográfico, assim como a dimensão simbólica das comemorações no processo de transmissão e conservação da memória colectiva. Na segunda atendendo às redes de sociabilidades locais e translocais que consolidam uma cultura de resistência. E na terceira com o enfoque nas políticas organizacionais numa perspectiva diacrónica, marcadas pelo conflito ideológico entre grupos socioprofissionais como factores de desenvolvimento e afirmação no movimento cooperativo nacional e internacional.
Diputacion de Badajoz, 2013
Esta obra ofrece una nueva evidencia empírica sobre las resistencias a la dominación, la solidari... more Esta obra ofrece una nueva evidencia empírica sobre las resistencias a la dominación, la solidaridad y cómo se entrecruzan estas con la soberanía de los Estados, particularmente las dictaduras ibéricas en los años 30 en un espacio fronterizo (Barrancos, Encinasola y Oliva de la Frontera) dominado por los flujos diversos que permitirán el desarrollo de otros movimientos durante y después de la Guerra Civil española. En el contexto de la memoria histórica la autora presenta y analiza la solidaridad de las clases populares con los refugiados republicanos y el periplo de algunos de ellos hasta Tarragona. Investigación de referencia para lo acontecido en esta guerra en la zona fronteriza hispano-portuguesa.
Edições Colibri, Sep 30, 2016
Alguns temas que se tratam nesta obra são apaixonantes, como a preocupação de Salazar pelo “contá... more Alguns temas que se tratam nesta obra são apaixonantes, como a preocupação de Salazar pelo “contágio” que podia vir de Espanha, através da fronteira política. Mas a maior virtude deste trabalho é oferecer uma nova realidade empírica sobre as resistências à dominação e as solidariedades, e como estas se entrecruzam com a soberania dos Estados, em particular com as ditaduras ibéricas dos anos de 1930, num espaço fronteiriço (entre Barrancos, Encinasola e Oliva de la Frontera) dominado por diversos fluxos durante e após a guerra civil espanhola.
Apenas Livros, 2011
Obra sobre uma programa de televisão, anterior ao «25 de Abril», que marcou a memória colectiva d... more Obra sobre uma programa de televisão, anterior ao «25 de Abril», que marcou a memória colectiva de uma geração de portugueses. Contém fotografias das diversas personagens criadas por Raul Solnado e de alguns entrevistados no programa. No final contém em anexo alguns dos poemas declamados e/ou cantados nessas memoráveis sessões.
Editora Regional de Extremadura, 2008
Barrancos forma parte de la mitología extremeña, como un referente que habla de la solidaridad y ... more Barrancos forma parte de la mitología extremeña, como un referente que habla de la solidaridad y el respeto a la dignidad humana más allá de cualquier circunstancia. Pero no se trata de un mito, sino de un hecho real, sucedido durante los primeros meses de la Guerra Civil, cuando centenares de extremeños encontraron refugio en el pueblo de Barrancos, junto a la frontera portuguesa -la Raya- del sur de Badajoz.
Edições Colibri, 2007
"Deve-se à autora desta obra o resgatar das memórias de portugueses e espanhóis que experienciara... more "Deve-se à autora desta obra o resgatar das memórias de portugueses e espanhóis que experienciaram a violência, o medo e a fome. Analisando-as e descrevendo-as sob o ponto de vista antropológico e histórico ajuda-nos, com o seu laborioso e metodológico trabalho, a entender os acontecimentos que marcaram a memória de homens e mulheres da raia.
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Papers by Dulce Simões
Cadernos CERU, 2023
Resumo: O canto polifónico alentejano é um dos exemplos significativos em que o passado se impõe ... more Resumo: O canto polifónico alentejano é um dos exemplos significativos em que o passado se impõe como elemento unificador de uma "comunidade de partilha" (RANCIÈRE, 2005), definida pela distribuição de espaços, tempos e tipos de atividades que determinaram a maneira de uma classe subalternizada comunicar e fazer política A ruralidade, como espaço da experiência, perpetua o passado e nos impede de descurar a memória do canto colectivo como prática de sociabilidade e de resistência política. E, apesar das novas gerações não terem experienciado a vida rural nem o trabalho agrícola, a voz poética assume a função unificadora que permite aos praticantes preservarem a memória colectiva.
Vértice, 2023
The April Revolution operated a profound transformation in Portuguese society, and allowed the em... more The April Revolution operated a profound transformation in Portuguese society, and allowed the emergence of new amateur theatrical groups, inserted in associations, collectivities, sports clubs and schools. In the period between 1974 and 1976, amateur theater emerged as a uniting force, with aesthetic-ideological projects shaped in texts and scenic readings woven in the process of transformation of society. Theatre at the service of the People and the Revolution, as a mission and a political project. In this article, I question the creative capacity of amateur theater during the Ongoing Revolutionary Period (PREC), taking as an object of study the group of Cultural Animation Theater of Almada (TACA), formed by students of technical schools, for whom theatre was a fertile ground for political awareness and collective experimentation.
Journal of Strategic Innovation and Sustainability , 2023
In recent decades we have seen the emergence of festive inventions as a factor of sustainable dev... more In recent decades we have seen the emergence of festive inventions as a factor of sustainable development in rural contexts, associated with the dissemination and promotion of cultural products and practices, expressing different motivations. In Portugal and Spain, the relationship between festivals, music, and sustainable development was the object of study, based on musical celebrations that allow the creation of formal networks and participatory models between cultural agents, musicians, and community members. With this text I intend to question the phenomenon of the festive invention in the Baixo Alentejo (Portugal) as a strategy of sustainable development, focusing on the Islamic Festival of Mértola and the "Noche Flamenca" of Barrancos, taking into account the motivations and impact of organized parties and promoted by municipalities and cultural agents, in the construction of possible futures.
AIBR Revista de Antropología Iberoamericana, 2022
The practice of cante alentejano has resisted the challenges of a rural society in constant trans... more The practice of cante alentejano has resisted the challenges of a rural society in constant transformation, in the progressive tension between experience and expectation. Experience intertwines diverse pasts of a built-in practice, represented, institutionalized, and transmitted by generations and institutions. Expectation is the present future, which can only be predicted from the experiences of its participants, whose action and social intervention are decisive for the continuity of this cultural practice. In this article, I question the power relations associated with the processes of institutionalization and patrimonialization of cultural practices, based on ethnography of historical contextualization of cante alentejano.
Global connections in the history of consumer cooperation , c.1800-2000 14.30h-Keynote Conference... more Global connections in the history of consumer cooperation , c.1800-2000 14.30h-Keynote Conference Chair: Conceição Andrade Martins (ICS-UL) João Salazar Leite (CASES) Cooperativism in Portugal: precursors, António Sérgio and his legacy 16.15h-II Session: Consumer cooperatives experiences Chair: Amélia Branco (ISEG-UTL) Dulce Simões (IELT-UNL) Economic strategies, culture and political resistence: the Cooperativa de Consumo Piedense Manuel Belo Moreira (ISA-UTL) Milk Cooperatives, a protected cooperativism as political solution to conflicts of interest Álvaro Garrido (FE-UC) Mútua dos Pescadores: from a corporatist institutional frame to a cooperative profile Mónica Truninger (ICS-UL) Reconnecting producers and consumers: the case of an organic food cooperative in Lisbon 18.00h-Closure
Cahiers de civilisation espagnole contemporaine, 2017
Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares, 2012
Vértice, 2021
No concelho de Almada, à semelhança de outros contextos industriais do século xix, a classe oper... more No concelho de Almada, à semelhança de outros contextos industriais do
século xix, a classe operária encontrou no associativismo um instrumento de
emancipação social, de combate ao sistema capitalista e de oposição e resistência
à ditadura. Em 1893, o projecto cooperativo foi implementado na Cova da Piedade (Almada) por operários corticeiros e artesões, motivados pela concretização de um projecto económico, social e cultural que servisse a comunidade operária. Ao longo do processo histórico, anarco-sindicalistas e comunistas regeram os destinos da CCP, afrontando o Estado e substituindo-o com a criação de um sistema de aquisição de bens a crédito e retorno de lucros, assistência médica aos sócios e agregados familiares, subsídios de doença, de invalidez e de funeral, a criação de uma biblioteca, cursos profissionais e de cultura geral, e a organização de actividades culturais.
Memória, cultura e resistência Utopía revolucionaria y activismo feminista. Un caso (español) par... more Memória, cultura e resistência Utopía revolucionaria y activismo feminista. Un caso (español) para la reflexión Josepa Cucó Giner Espaços, sociabilidades e associativismo: primeiras notas sobre a biografia de Reis Antunes Paula Godinho Espaços e redes de resistência na Grande Lisboa: a memória da Primeira República o Estado Novo Maria Alice Samara Um olhar sobre a resistência cultural associativa Luís Filipe Maçarico Segundas vidas: fábricas requalificadas e fábricas apropriadas. Contributos para uma abordagem comparativa Mariana Rei Associativismo, cooperação e mutualismo As associações de socorros mútuos em Portugal (de finais do século XIX aos anos do século XX) Virgínia do Rosário Baptista Alianças resilientes: a ação coletiva institucionalizada no período liberal (1834-1934) Joana Dias Pereira Associativismo operário na sociedade liberal (1850-1860) João Lázaro Associativismo de «pequenos interesses» no final do século XIX: em Lisboa como cidades europeias? Daniel Alves Funcionalismo público: associativismo, mutualismo, sindicalismo e desagregação 1933) Joana Estorninho de Almeida Reflexões sobre o associativismo em Porto Alegre (1930-2012) Pompilio Locks Filho Imprensa e intervenção Redações abertas: fontes informativas e terreno de implantação dos jornais políticos Júlia Leitão de Barros Movimento operário brasileiro e o anarquismo no sindicato: divergências e debates em oz do Trabalhador (1913-1915) João Carlos Marques Sociabilidade e participação em rede Sindicatos na rede em Portugal. Uma análise da presença na Internet dos sindicatos d da saúde Paulo Marques Alves e Carlos Levezinho Mulheres, nternet e o conflito no Sara Ocidental Silvia Almenara Niebla Mobilização e acção colectiva A ação coletiva à escala individual: casos na AML Nuno Nunes, Rita d'Ávila Cachado e Otávio Raposo Da mobilização à ação: o caso português da iniciativa legislativa de cidadãos contra a precariedade laboral Carlos Alves terra, primos e até parentes afastados. Era um ponto de passagem para os que vinham de Alter. Ficavam ali uns meses, até arranjarem outro sítio, mas ficavam sempre com uma ligação. Depois, os meus pais alugaram um quarto na rua da Junqueira, ao pé de onde é hoje a universidade Lusíada. (…) Dormia num vão de escada, numa arrecadação, ao pé do quarto onde a minha mãe costurava, e aquela casinha era onde ela fazia as provas. (…) Dali passámos para a rua Luís de Camões, n.º 55, 3.º direito, no Alto de Santo Amaro, de onde voltámos para a Rua da Junqueira, n.º 386, para uma parte de casa, alugada a um velhote, reformado da fábrica do açúcar, chamado Manuel Gomes, que era o presidente da Sociedade Musical Alunos de Alves Rente." Esta primeira referência a uma coletividade popular será replicada sucessivamente ao longo da narração de vida, ecoando igualmente nos documentos do arquivo da polícia política portuguesa referentes a João Reis Antunes. "Outra atividade importante foi nas coletividades. O dono da casa onde eu morava, na rua da Junqueira, era um velhote, chamado Manuel Gomes, que era presidente da Sociedade Musical Alunos de Alves Rente, que fica na mesma rua e está agora a fazer cento e dezanove anos. Esse homem, digo eu hoje que era anarquista, foi quem me deu os primeiros livros proibidos, que não eram de política, mas livros sobre sexo, que eram considerados arrojados. Ele emprestava-me livros e estimulava-me a ler. Era um homem, que vinha do tempo do anarco-sindicalismo. Tinha trabalhado na fábrica do açúcar ao pé da estação dos comboios de Alcântara, onde está agora um condomínio. Então, quando tinha aí uns dez anos ia lá a essa coletividade, para o teatro e a uns bailaricos. Comecei a integrar-me na vida associativa. Ainda miúdo entrei em duas ou três peças." Embora em condições de ditadura, que haviam feito razia nas coletividades, infiltrando-as com elementos da Legião Portuguesa e outros sequazes do salazarismo, começara a surgir gente mais politizada, como dá conta um relatório de um agente da PSP que referirei. Apareciam estudantes e antigos militantes expulsos do Partido Comunista Português (PCP), sendo referido por João Reis Antunes o nome de Francisco Martins Rodrigues, bem como de outros militantes comunistas. "Em relação ao trabalho na coletividade (Sociedade Musical Alunos de Alves Rente) é interessante referir que nós, durante dois anos, estivemos na direcção. Foi uma fase bastante rica, porque tínhamos a biblioteca, cursos do primeiro ciclo e depois também do segundo, que eram dados por esses tais estudantes, que iam lá. Era uma escola nocturna onde, durante dois anos, operários, rapazes e raparigas, fizeram o liceu como externos. Tínhamos o teatro, Espaços, redes e sociabilidades 32 organizávamos cantorias e havia uma secção cultural, que depois foi atacada pela PIDE, que foi lá e levou os ficheiros todos. Por causa disso, a malta da secção cultural mudou-se para a Coletividade do Rio Seco onde fizemos algum trabalho na biblioteca e outras iniciativas." Nas coletividades, nesta fase, o intercâmbio era geracional e de classe: "(…) entre os mais velhos que transportavam a chama do conhecimento, tinham o valor da cultura, eram operários instruídos, não do ponto de vista da escola, mas eram cultos. A gente nova ouvia-os falar e ficava de boca aberta. "Este homem sabe tudo", pensávamos nós jovens, ao ouvir falar aqueles homens como o Manuel, do Rio Seco, que era um canteiro anarquista e outras pessoas. (…) Depois havia os jovens estudantes que iam lá e a gente também ficávamos de boca aberta a ouvi-los falar sobre o progresso, essas coisas. Além disso, era o exemplo que eles nos davam, ao dedicarem a vida, quer dizer os tempos livres, aos outros e isso era importante." "Por um lado, havia os mais velhos que eram uma riqueza da vida associativa, homens que dedicaram a vida, os chamados carolas, que viviam para as sociedades de cultura e recreio. Organizavam debates, conferências, espetáculos, desenvolver o teatro e as bibliotecas. Depois surgiram jovens estudantes, que queriam desempenhar um papel importante no desenvolvimento, no progresso da sociedade... das coletividades, junto da classe trabalhadora que as frequentava. Deu-se ali uma junção, um intercâmbio, que foi uma fase muito rica para mim e para as pessoas que a viveram naquela altura, que englobava milhares de pessoas..." Os conflitos viriam a surgir entre as direções de coletividades mais fiéis à política corporativa, que enquadravam gente da polícia política e membros da Legião Portuguesa, e uma nova geração: "Naquela altura, a coletividade estava praticamente expurgada, porque uns tinham sido expulsos, outros afastados. As assembleias gerais, aquilo ali eram autênticas batalhas entre a malta nova, de estudantes e tal e havia os outros, os tradicionalistas, que já lá estavam e não queriam sair daquilo e estavam contra que se fizesse, por exemplo, uma biblioteca." Alguns elementos da cultura expressiva da cidade de Lisboa, que o Estado Novo se encarregara de depurar, como o fado de contraste, que assinala e condena a desigualdade social e a repressão, são igualmente referidos:
Scripta Nova, 2022
The demarcation of the border is a fundamental part of the establishment of a frontier, but it ha... more The demarcation of the border is a fundamental part of the establishment of a frontier, but it has been very little studied. There is hardly any work on the issue, and in most of the work on borders it is resolved with a brief allusion to the frames or landmarks of which they consist. Demarcation is often interpreted as truly the end point of border fixation, and has a direct effect on the borderscape. But demarcation is a process in which states often encounter resistance from local populations, which shows the degree of their agreement or rejection of the border layout. We will approach this study in the case of the Spanish-Portuguese border the “line” (raya/raia), from the marking to the maintenance, at the local and state level.
Construção do Estado, Movimentos Sociais e Economia Política: Projetos e lutas por alternativas sistémicas na história contemporânea, 2020
O estudo que realizei em 2004-2005, do qual parto para a construção deste texto, procurou resgata... more O estudo que realizei em 2004-2005, do qual parto
para a construção deste texto, procurou resgatar as memórias de um grupo de associados como exemplos para as gerações vindouras, porque a consciência de lutar pela comunidade ideal é tão importante no presente como foi no passado, e sê-lo-á no futuro.
Editora Regional de Estremadura, Dec 2021
Ochenta y cinco años después del golpe militar de 18 de julio de 1936, contra el gobierno legítim... more Ochenta y cinco años después del golpe militar de 18 de julio de 1936, contra el gobierno legítimo de la II República, las vidas destruidas por la guerra y por la dictadura subsecuente continúan motivando a los investigadores a discutir la represión y la solidaridad, la violencia y la afirmación humana, la hegemonía y la resistencia. Las memorias inéditas del carabinero Fermín Velázquez Vellarino, que en su singularidad representan la historia vivida por millares de represaliados republicanos, permiten entrar de modo ejemplar en los intersticios de vidas destruidas por la represión franquista, y conducen a terrenos en que la palabra «verdad» surge como un grito de revuelta contra la injusticia y el silencio a que fueran condenados los resistentes antifranquistas.
Edições Colibri, 2022
A partir de um estudo de caso a autora analisa, desde uma perspectiva histórica e etnográfica, as... more A partir de um estudo de caso a autora analisa, desde uma perspectiva histórica e etnográfica, as transformações económicas, políticas e sociais do mundo rural e as suas repercussões nas práticas e expressões culturais das comunidades raianas. Neste contexto, o Cante Alentejano adquire centralidade como expressão emblemática, inserido nos processos políticos de objectificação da cultura e nas formas de resistência à regulamentação e governação institucional. Desde uma perspectiva crítica a autora interroga a tensão progressiva entre os processos de patrimonialização e a criatividade social, a partir de um conjunto de manifestações culturais que reforçam o sentido do comum e a utopia de uma sociedade mais justa.
A partir de un estudio de caso, la autora analiza, desde una perspectiva histórica y etnográfica, las transformaciones económicas, políticas y sociales del mundo rural y sus repercusiones en las prácticas y expresiones culturales de las comunidades rayanas. En este contexto, el Cante Alentejano adquiere centralidad como expresión emblemática, inserta en los procesos políticos de cosificación de la cultura y en las formas de resistencia a la regulación y gobernanza institucional. Desde una perspectiva crítica, la autora cuestiona la tensión progresiva entre los procesos de patrimonialización y la creatividad social, a partir de un conjunto de manifestaciones culturales que refuerzan el sentido del común y la utopía de una sociedad más justa.
Tradisom, 2017
A publicação assinala o percurso dos cantadores de Vila Verde de Ficalho e do grupo coral Os Arra... more A publicação assinala o percurso dos cantadores de Vila Verde de Ficalho e do grupo coral Os Arraianos ao longo de oitenta anos de actividade. Ao longo dos tempos mudaram os cantadores, os contextos de actuação, os reportórios e as dinâmicas quotidianas, mas a prática persiste. O passado memorável pode ser recriado através de objectos palpáveis (expostos na vitrine da Sociedade Recreativa 1º de Dezembro) que representam a identidade do grupo, como símbolos duradouros da memória colectiva. Porque relembrar o passado é crucial para o nosso sentido de identidade; saber o que fomos confirma o que somos, e a nossa continuidade depende inteiramente da memória.
Esta obra integra-se no designado Plano de Salvaguarda do Cante Alentejano, e foi apoiada pelo Município de Serpa. As modas que a compõem representam simbolicamente o ciclo de vida das comunidades rurais alentejanas, entre o trabalho, o lazer e a festa, e expressam a arte, as estruturas sensíveis do pensamento e o saber recriado, na liberdade de romper amarras para construir o futuro.
Caleidoscópio, May 30, 2017
A fundação da Cooperativa de Consumo Piedense (CCP) remonta historicamente ao movimento associati... more A fundação da Cooperativa de Consumo Piedense (CCP) remonta historicamente ao movimento associativo do séc. XIX, vinculada a estratégias de sobrevivência económica que contribuíram para a construção de uma cultura de grupo. Durante o Estado Novo foi um espaço de referência cultural, de prestígio social, e um baluarte na luta contra o fascismo. A partir das memórias de um grupo de trinta sócios analisam-se as múltiplas dimensões da história, da organização administrativa, da composição socioeconómica e da resistência política no espaço da CCP. Na primeira parte questionando as estratégias económicas do presente etnográfico, assim como a dimensão simbólica das comemorações no processo de transmissão e conservação da memória colectiva. Na segunda atendendo às redes de sociabilidades locais e translocais que consolidam uma cultura de resistência. E na terceira com o enfoque nas políticas organizacionais numa perspectiva diacrónica, marcadas pelo conflito ideológico entre grupos socioprofissionais como factores de desenvolvimento e afirmação no movimento cooperativo nacional e internacional.
Diputacion de Badajoz, 2013
Esta obra ofrece una nueva evidencia empírica sobre las resistencias a la dominación, la solidari... more Esta obra ofrece una nueva evidencia empírica sobre las resistencias a la dominación, la solidaridad y cómo se entrecruzan estas con la soberanía de los Estados, particularmente las dictaduras ibéricas en los años 30 en un espacio fronterizo (Barrancos, Encinasola y Oliva de la Frontera) dominado por los flujos diversos que permitirán el desarrollo de otros movimientos durante y después de la Guerra Civil española. En el contexto de la memoria histórica la autora presenta y analiza la solidaridad de las clases populares con los refugiados republicanos y el periplo de algunos de ellos hasta Tarragona. Investigación de referencia para lo acontecido en esta guerra en la zona fronteriza hispano-portuguesa.
Edições Colibri, Sep 30, 2016
Alguns temas que se tratam nesta obra são apaixonantes, como a preocupação de Salazar pelo “contá... more Alguns temas que se tratam nesta obra são apaixonantes, como a preocupação de Salazar pelo “contágio” que podia vir de Espanha, através da fronteira política. Mas a maior virtude deste trabalho é oferecer uma nova realidade empírica sobre as resistências à dominação e as solidariedades, e como estas se entrecruzam com a soberania dos Estados, em particular com as ditaduras ibéricas dos anos de 1930, num espaço fronteiriço (entre Barrancos, Encinasola e Oliva de la Frontera) dominado por diversos fluxos durante e após a guerra civil espanhola.
Apenas Livros, 2011
Obra sobre uma programa de televisão, anterior ao «25 de Abril», que marcou a memória colectiva d... more Obra sobre uma programa de televisão, anterior ao «25 de Abril», que marcou a memória colectiva de uma geração de portugueses. Contém fotografias das diversas personagens criadas por Raul Solnado e de alguns entrevistados no programa. No final contém em anexo alguns dos poemas declamados e/ou cantados nessas memoráveis sessões.
Editora Regional de Extremadura, 2008
Barrancos forma parte de la mitología extremeña, como un referente que habla de la solidaridad y ... more Barrancos forma parte de la mitología extremeña, como un referente que habla de la solidaridad y el respeto a la dignidad humana más allá de cualquier circunstancia. Pero no se trata de un mito, sino de un hecho real, sucedido durante los primeros meses de la Guerra Civil, cuando centenares de extremeños encontraron refugio en el pueblo de Barrancos, junto a la frontera portuguesa -la Raya- del sur de Badajoz.
Edições Colibri, 2007
"Deve-se à autora desta obra o resgatar das memórias de portugueses e espanhóis que experienciara... more "Deve-se à autora desta obra o resgatar das memórias de portugueses e espanhóis que experienciaram a violência, o medo e a fome. Analisando-as e descrevendo-as sob o ponto de vista antropológico e histórico ajuda-nos, com o seu laborioso e metodológico trabalho, a entender os acontecimentos que marcaram a memória de homens e mulheres da raia.
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Cadernos CERU, 2023
Resumo: O canto polifónico alentejano é um dos exemplos significativos em que o passado se impõe ... more Resumo: O canto polifónico alentejano é um dos exemplos significativos em que o passado se impõe como elemento unificador de uma "comunidade de partilha" (RANCIÈRE, 2005), definida pela distribuição de espaços, tempos e tipos de atividades que determinaram a maneira de uma classe subalternizada comunicar e fazer política A ruralidade, como espaço da experiência, perpetua o passado e nos impede de descurar a memória do canto colectivo como prática de sociabilidade e de resistência política. E, apesar das novas gerações não terem experienciado a vida rural nem o trabalho agrícola, a voz poética assume a função unificadora que permite aos praticantes preservarem a memória colectiva.
Vértice, 2023
The April Revolution operated a profound transformation in Portuguese society, and allowed the em... more The April Revolution operated a profound transformation in Portuguese society, and allowed the emergence of new amateur theatrical groups, inserted in associations, collectivities, sports clubs and schools. In the period between 1974 and 1976, amateur theater emerged as a uniting force, with aesthetic-ideological projects shaped in texts and scenic readings woven in the process of transformation of society. Theatre at the service of the People and the Revolution, as a mission and a political project. In this article, I question the creative capacity of amateur theater during the Ongoing Revolutionary Period (PREC), taking as an object of study the group of Cultural Animation Theater of Almada (TACA), formed by students of technical schools, for whom theatre was a fertile ground for political awareness and collective experimentation.
Journal of Strategic Innovation and Sustainability , 2023
In recent decades we have seen the emergence of festive inventions as a factor of sustainable dev... more In recent decades we have seen the emergence of festive inventions as a factor of sustainable development in rural contexts, associated with the dissemination and promotion of cultural products and practices, expressing different motivations. In Portugal and Spain, the relationship between festivals, music, and sustainable development was the object of study, based on musical celebrations that allow the creation of formal networks and participatory models between cultural agents, musicians, and community members. With this text I intend to question the phenomenon of the festive invention in the Baixo Alentejo (Portugal) as a strategy of sustainable development, focusing on the Islamic Festival of Mértola and the "Noche Flamenca" of Barrancos, taking into account the motivations and impact of organized parties and promoted by municipalities and cultural agents, in the construction of possible futures.
AIBR Revista de Antropología Iberoamericana, 2022
The practice of cante alentejano has resisted the challenges of a rural society in constant trans... more The practice of cante alentejano has resisted the challenges of a rural society in constant transformation, in the progressive tension between experience and expectation. Experience intertwines diverse pasts of a built-in practice, represented, institutionalized, and transmitted by generations and institutions. Expectation is the present future, which can only be predicted from the experiences of its participants, whose action and social intervention are decisive for the continuity of this cultural practice. In this article, I question the power relations associated with the processes of institutionalization and patrimonialization of cultural practices, based on ethnography of historical contextualization of cante alentejano.
Global connections in the history of consumer cooperation , c.1800-2000 14.30h-Keynote Conference... more Global connections in the history of consumer cooperation , c.1800-2000 14.30h-Keynote Conference Chair: Conceição Andrade Martins (ICS-UL) João Salazar Leite (CASES) Cooperativism in Portugal: precursors, António Sérgio and his legacy 16.15h-II Session: Consumer cooperatives experiences Chair: Amélia Branco (ISEG-UTL) Dulce Simões (IELT-UNL) Economic strategies, culture and political resistence: the Cooperativa de Consumo Piedense Manuel Belo Moreira (ISA-UTL) Milk Cooperatives, a protected cooperativism as political solution to conflicts of interest Álvaro Garrido (FE-UC) Mútua dos Pescadores: from a corporatist institutional frame to a cooperative profile Mónica Truninger (ICS-UL) Reconnecting producers and consumers: the case of an organic food cooperative in Lisbon 18.00h-Closure
Cahiers de civilisation espagnole contemporaine, 2017
Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares, 2012
Vértice, 2021
No concelho de Almada, à semelhança de outros contextos industriais do século xix, a classe oper... more No concelho de Almada, à semelhança de outros contextos industriais do
século xix, a classe operária encontrou no associativismo um instrumento de
emancipação social, de combate ao sistema capitalista e de oposição e resistência
à ditadura. Em 1893, o projecto cooperativo foi implementado na Cova da Piedade (Almada) por operários corticeiros e artesões, motivados pela concretização de um projecto económico, social e cultural que servisse a comunidade operária. Ao longo do processo histórico, anarco-sindicalistas e comunistas regeram os destinos da CCP, afrontando o Estado e substituindo-o com a criação de um sistema de aquisição de bens a crédito e retorno de lucros, assistência médica aos sócios e agregados familiares, subsídios de doença, de invalidez e de funeral, a criação de uma biblioteca, cursos profissionais e de cultura geral, e a organização de actividades culturais.
Memória, cultura e resistência Utopía revolucionaria y activismo feminista. Un caso (español) par... more Memória, cultura e resistência Utopía revolucionaria y activismo feminista. Un caso (español) para la reflexión Josepa Cucó Giner Espaços, sociabilidades e associativismo: primeiras notas sobre a biografia de Reis Antunes Paula Godinho Espaços e redes de resistência na Grande Lisboa: a memória da Primeira República o Estado Novo Maria Alice Samara Um olhar sobre a resistência cultural associativa Luís Filipe Maçarico Segundas vidas: fábricas requalificadas e fábricas apropriadas. Contributos para uma abordagem comparativa Mariana Rei Associativismo, cooperação e mutualismo As associações de socorros mútuos em Portugal (de finais do século XIX aos anos do século XX) Virgínia do Rosário Baptista Alianças resilientes: a ação coletiva institucionalizada no período liberal (1834-1934) Joana Dias Pereira Associativismo operário na sociedade liberal (1850-1860) João Lázaro Associativismo de «pequenos interesses» no final do século XIX: em Lisboa como cidades europeias? Daniel Alves Funcionalismo público: associativismo, mutualismo, sindicalismo e desagregação 1933) Joana Estorninho de Almeida Reflexões sobre o associativismo em Porto Alegre (1930-2012) Pompilio Locks Filho Imprensa e intervenção Redações abertas: fontes informativas e terreno de implantação dos jornais políticos Júlia Leitão de Barros Movimento operário brasileiro e o anarquismo no sindicato: divergências e debates em oz do Trabalhador (1913-1915) João Carlos Marques Sociabilidade e participação em rede Sindicatos na rede em Portugal. Uma análise da presença na Internet dos sindicatos d da saúde Paulo Marques Alves e Carlos Levezinho Mulheres, nternet e o conflito no Sara Ocidental Silvia Almenara Niebla Mobilização e acção colectiva A ação coletiva à escala individual: casos na AML Nuno Nunes, Rita d'Ávila Cachado e Otávio Raposo Da mobilização à ação: o caso português da iniciativa legislativa de cidadãos contra a precariedade laboral Carlos Alves terra, primos e até parentes afastados. Era um ponto de passagem para os que vinham de Alter. Ficavam ali uns meses, até arranjarem outro sítio, mas ficavam sempre com uma ligação. Depois, os meus pais alugaram um quarto na rua da Junqueira, ao pé de onde é hoje a universidade Lusíada. (…) Dormia num vão de escada, numa arrecadação, ao pé do quarto onde a minha mãe costurava, e aquela casinha era onde ela fazia as provas. (…) Dali passámos para a rua Luís de Camões, n.º 55, 3.º direito, no Alto de Santo Amaro, de onde voltámos para a Rua da Junqueira, n.º 386, para uma parte de casa, alugada a um velhote, reformado da fábrica do açúcar, chamado Manuel Gomes, que era o presidente da Sociedade Musical Alunos de Alves Rente." Esta primeira referência a uma coletividade popular será replicada sucessivamente ao longo da narração de vida, ecoando igualmente nos documentos do arquivo da polícia política portuguesa referentes a João Reis Antunes. "Outra atividade importante foi nas coletividades. O dono da casa onde eu morava, na rua da Junqueira, era um velhote, chamado Manuel Gomes, que era presidente da Sociedade Musical Alunos de Alves Rente, que fica na mesma rua e está agora a fazer cento e dezanove anos. Esse homem, digo eu hoje que era anarquista, foi quem me deu os primeiros livros proibidos, que não eram de política, mas livros sobre sexo, que eram considerados arrojados. Ele emprestava-me livros e estimulava-me a ler. Era um homem, que vinha do tempo do anarco-sindicalismo. Tinha trabalhado na fábrica do açúcar ao pé da estação dos comboios de Alcântara, onde está agora um condomínio. Então, quando tinha aí uns dez anos ia lá a essa coletividade, para o teatro e a uns bailaricos. Comecei a integrar-me na vida associativa. Ainda miúdo entrei em duas ou três peças." Embora em condições de ditadura, que haviam feito razia nas coletividades, infiltrando-as com elementos da Legião Portuguesa e outros sequazes do salazarismo, começara a surgir gente mais politizada, como dá conta um relatório de um agente da PSP que referirei. Apareciam estudantes e antigos militantes expulsos do Partido Comunista Português (PCP), sendo referido por João Reis Antunes o nome de Francisco Martins Rodrigues, bem como de outros militantes comunistas. "Em relação ao trabalho na coletividade (Sociedade Musical Alunos de Alves Rente) é interessante referir que nós, durante dois anos, estivemos na direcção. Foi uma fase bastante rica, porque tínhamos a biblioteca, cursos do primeiro ciclo e depois também do segundo, que eram dados por esses tais estudantes, que iam lá. Era uma escola nocturna onde, durante dois anos, operários, rapazes e raparigas, fizeram o liceu como externos. Tínhamos o teatro, Espaços, redes e sociabilidades 32 organizávamos cantorias e havia uma secção cultural, que depois foi atacada pela PIDE, que foi lá e levou os ficheiros todos. Por causa disso, a malta da secção cultural mudou-se para a Coletividade do Rio Seco onde fizemos algum trabalho na biblioteca e outras iniciativas." Nas coletividades, nesta fase, o intercâmbio era geracional e de classe: "(…) entre os mais velhos que transportavam a chama do conhecimento, tinham o valor da cultura, eram operários instruídos, não do ponto de vista da escola, mas eram cultos. A gente nova ouvia-os falar e ficava de boca aberta. "Este homem sabe tudo", pensávamos nós jovens, ao ouvir falar aqueles homens como o Manuel, do Rio Seco, que era um canteiro anarquista e outras pessoas. (…) Depois havia os jovens estudantes que iam lá e a gente também ficávamos de boca aberta a ouvi-los falar sobre o progresso, essas coisas. Além disso, era o exemplo que eles nos davam, ao dedicarem a vida, quer dizer os tempos livres, aos outros e isso era importante." "Por um lado, havia os mais velhos que eram uma riqueza da vida associativa, homens que dedicaram a vida, os chamados carolas, que viviam para as sociedades de cultura e recreio. Organizavam debates, conferências, espetáculos, desenvolver o teatro e as bibliotecas. Depois surgiram jovens estudantes, que queriam desempenhar um papel importante no desenvolvimento, no progresso da sociedade... das coletividades, junto da classe trabalhadora que as frequentava. Deu-se ali uma junção, um intercâmbio, que foi uma fase muito rica para mim e para as pessoas que a viveram naquela altura, que englobava milhares de pessoas..." Os conflitos viriam a surgir entre as direções de coletividades mais fiéis à política corporativa, que enquadravam gente da polícia política e membros da Legião Portuguesa, e uma nova geração: "Naquela altura, a coletividade estava praticamente expurgada, porque uns tinham sido expulsos, outros afastados. As assembleias gerais, aquilo ali eram autênticas batalhas entre a malta nova, de estudantes e tal e havia os outros, os tradicionalistas, que já lá estavam e não queriam sair daquilo e estavam contra que se fizesse, por exemplo, uma biblioteca." Alguns elementos da cultura expressiva da cidade de Lisboa, que o Estado Novo se encarregara de depurar, como o fado de contraste, que assinala e condena a desigualdade social e a repressão, são igualmente referidos:
Scripta Nova, 2022
The demarcation of the border is a fundamental part of the establishment of a frontier, but it ha... more The demarcation of the border is a fundamental part of the establishment of a frontier, but it has been very little studied. There is hardly any work on the issue, and in most of the work on borders it is resolved with a brief allusion to the frames or landmarks of which they consist. Demarcation is often interpreted as truly the end point of border fixation, and has a direct effect on the borderscape. But demarcation is a process in which states often encounter resistance from local populations, which shows the degree of their agreement or rejection of the border layout. We will approach this study in the case of the Spanish-Portuguese border the “line” (raya/raia), from the marking to the maintenance, at the local and state level.
Construção do Estado, Movimentos Sociais e Economia Política: Projetos e lutas por alternativas sistémicas na história contemporânea, 2020
O estudo que realizei em 2004-2005, do qual parto para a construção deste texto, procurou resgata... more O estudo que realizei em 2004-2005, do qual parto
para a construção deste texto, procurou resgatar as memórias de um grupo de associados como exemplos para as gerações vindouras, porque a consciência de lutar pela comunidade ideal é tão importante no presente como foi no passado, e sê-lo-á no futuro.
Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 2020
A palavra fim-das ideologias, da história, da racionalidade, do emprego, da possibi lidade de uma... more A palavra fim-das ideologias, da história, da racionalidade, do emprego, da possibi lidade de uma vida melhor-, tornou-se recorrente, à míngua da esperança. Essa ausência de confiança no futuro foi produzida através de um aparelho que, ao longo dos últimos trinta anos, toldou o ânimo e destruiu os sentidos do futuro, como nota David Graeber 6. Numa paráfrase do título da obra de David Lowenthal, The past is a foreign country 7 , Josep Fontana ressalta que o futuro também aparenta ser um país estranho, e o progresso é descartado, como se tivesse sido uma concessão dos grupos dominantes, e não o resultado de muitas lutas coletivas, de revoltas e revoluções 8. Essa viragem epistemológica, com impacto também ao nível dos métodos, é coetânea de mudanças sociais e históricas significativas. O neoliberalismo, uma transformação predatória no tardo-capitalismo, fez-se acompanhar por políticas agressivas, que atingiram a ecúmena, com reflexos diferenciados. A acompanhar estas mudanças económicas e políticas, desenvolveram-se construções sociais e mentais assentes na nostalgia e num passado imaginado, que, no limite, visavam restaurar um estado anterior da sociedade, numa conjuntura marcada por uma sensível perda colectiva. Essa guinada no conhecimento mereceu reflexões múltiplas por parte dos investigadores das ciências sociais e humanas, que se centraram nos usos do passado, como artefacto do presente 9 , sujeitos às relações de forças dentro das sociedades. Depois de uma quase descontinuidade da produção acerca da memória, após os textos fundacionais de Maurice Halbwachs 10 , publicados originalmente em 1925 e 1950, reapareceu um interesse pelo passado e uma nova forma de o olhar, que passa pela invenção de tradições 11 , pelos meios de memória e pelos lugares de memória 12 , por uma semântica dos tempos históricos que tornou mais relevante o presente contínuo que a construção do porvir. O presentismo 13 instalou-se, associado
Revista Memória em Rede, 2020
Ethnography shows us that people live in worlds with cultural meanings and in different material ... more Ethnography shows us that people live in worlds with cultural meanings and in different material circumstances, subjugated by neoliberal economic policies that liquidate hope for the future. But it also shows us that they outline their existence based on concrete realities and festive projects, as a strategy to resist the gradual destruction of their ways of life, using culture as a tool to imagine possible futures (Godinho 2017). The purpose of this text is to question the intentionality and motivation of the organizers of two festivals, creators of collective imagery that value the socioeconomic contexts of the places in which they are registered, and the social relations networks that materialize them.
Our Music/Our World: Wind Bands and Local Social Life, 2020
The cult / popular dichotomy established an epistemological and conceptual boundary between music... more The cult / popular dichotomy established an epistemological and conceptual boundary between musical universes that can be understood as elements of the same continuum, considering that the categories of acculturation, function and ritual are applicable both in the scope of classical music and of the so-called traditional or popular music. The commitment to declassification led me to think of musical practices as cultural tools for a sound system open to the dynamic aspects of social and cultural life in communities. In this sense, I share the importance of philharmonic practices with other musical practices, establishing relationships between two interpenetrating universes, that of the philharmonic bands and that of the “Cante Alentejano”, based on the experiences of men and women who participate in the configuration and organization of the sound land
Revista Memória em Rede, 2021
A inscrição do Cante Alentejano na Lista Representativa do Património Cultural e Imaterial da Hum... more A inscrição do Cante Alentejano na Lista Representativa do Património Cultural e Imaterial da Humanidade (LRPCIH) da UNESCO em novembro de 2014 criou expetativas nos detentores da herança cultural, que emanam da vontade coletiva pela dignificação de uma expressão cultural de homens e mulheres que têm formas próprias de acção e conquistas que lhes são imanentes. O passado impõe-se como elemento unificador de uma "comunidade de partilha", definida pela distribuição de espaços, tempos e tipos de atividade que determinaram a maneira de uma classe subalternizada comunicar e fazer política. Neste texto procuro analisar a tensão progressiva entre experiência e expetativa, a partir da multiplicidade de relações sociais e políticas inerentes à hierarquização e domínio dos saberes musicais e às características da sua organização no tempo e no espaço. Os tipos de mudanças incrementais e a apreensão de dados a respeito do canto alentejano, como forma de resistência, convidam a pensar quem define e manipula na contingência, e com que finalidade, os sistemas simbólicos em determinados tempos históricos.
Palavras-chave: Cante Alentejano; Cultura popular; Dominação e resistência.
Abstract The inclusion of CanteAlentejano in UNESCO's List of Cultural and Intangible Heritage of Humanity (LRPCIH) created expectations in holders of cultural heritage, whichemanate from the collective will for the dignification of a cultural expression of men and women who have their own forms of action and achievements that are immanent to them. The past imposes itself as a unifying element of a "sharing community", defined by the distribution of spaces, times and types of activities that determined the way for a subalternized class to communicate and make politics. In this text I try to analyze the progressive tension between experience and expectation, based on the multiplicity of social and political relations inherent to the hierarchy and mastery of musical knowledge and to the characteristics of its organization in time and
space. The types of incremental changes and the apprehension of data regarding Alentejo singing, as a form of resistance, invite us to think about who defines and manipulates contingency, and for what purpose, the symbolic systems of certain historical times.
Keywords: Cante Alentejano; Popular culture; Domination and resistance.
Trabalho realizado no âmbito do projeto pós doutoral "A cultura expressiva na fronteira luso-espanhola" (SFRH/BPD/89108/2012) financiado por fundos nacionais através da FCT-Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P., no âmbito da Norma Transitória DL 57/2016/cp1453/ct0047.
O PELOURINHO Boletín de Relaciones Transfronterizas, 24, 2020
Neste texto procuro reflectir sobre as metodologias e a produção do saber, a partir de dois caso... more Neste texto procuro reflectir sobre as metodologias e a produção do saber,
a partir de dois casos que estabelecem relações entre memórias, esquecimentos,
documentos e a escrita da história. Neles confronto documentos depositados
em arquivos históricos com memórias que desvendam vidas destruídas,
assumindo uma posição de compromisso que não impede a adesão aos princípios
do rigor, factualidade e “verdade” inerentes a qualquer tipo de trabalho
científico. O compromisso nasce da certeza que o fundamento das sociedades
democráticas, construídas após as ditaduras, radica no direito à verdade e à
justiça.
TRANS-Revista Transcultural de Música, 23, 2019
In the last decades, we have seen the emergence of festive invention as a factor of sustainable d... more In the last decades, we have seen the emergence of festive invention as a factor of sustainable development in rural contexts, associated to the dissemination and promotion of cultural products and practices, which express different motivations. In Portugal and Spain, the relation between festivals, music and sustainable development has become an object of study, drawing on musical celebrations that allow for the creation of informal networks and participatory models among cultural agents, musicians and community members. With this text, I intend to question the phenomenon of festive invention in Baixo Alentejo as a strategy for sustainable development focusing on Mértola's Islamic Festival and Barrancos' "Noche Flamenca". In my analysis I take into account the motivations and impact of festivals organized and promoted by municipalities and cultural agents, in the construction of possible futures.
Nas últimas décadas assistimos ao surgimento de invenções festivas como fator de desenvolvimento sustentável em contextos rurais, associadas à divulgação e promoção de produtos e práticas culturais, que expressam diferentes motivações. Em Portugal e Espanha a relação entre festas, música e desenvolvimento sustentável constituiu-se como objeto de estudo, a partir de celebrações musicais que permitem a criação de redes informais e modelos participativos entre agentes culturais, músicos e membros das comunidades. Com este texto pretendo questionar o fenómeno da invenção festiva na raia do Baixo Alentejo como estratégia de desenvolvimento sustentável, com o enfoque no Festival Islâmico de Mértola e na "Noche Flamenca" de Barrancos, atendendo às motivações e ao impacto de festas organizadas e promovidas por municípios e agentes culturais, na construção de futuros possíveis.
Análise Social, 2020
The processes of democratization of the Iberian societies initially opened a stage of liberation ... more The processes of democratization of the Iberian societies initially opened a stage of liberation from the memory of the dictatorial past to later adopt strategies of “reconciliation”, accompanied by the silencing of the Spanish Civil War (1936-1939) and the Portuguese Colonial War (1961-1974). In this text I question the politics of memory developed in the first decade of the transition to democracy, in Portugal and Spain, from the cases Os Anos do Século (1979) and Rocío (1980), as means of reproducing memories that defied the political, ecclesiastical and military powers, launched legal proceedings, mobilized the media and called public opinion to a debate on the right to freedom of expression.
Os processos de democratização das sociedades ibéricas abriram inicialmente uma etapa de libertação da memória do passado ditatorial para adotarem posteriormente estratégias de “reconciliação”, acompanhadas do silenciamento da guerra civil espanhola (1936-1939) e da guerra colonial portuguesa (1961-1974). Neste texto questiono as políticas da memória desenvolvidas na primeira década da transição para a democracia, em Portugal e Espanha, a partir dos casos Os Anos do Século (1979) e Rocío (1980), como meios de reprodução de memórias que afrontaram os poderes políticos, eclesiásticos e militares, desencadearam processos judiciais, mobilizaram os órgãos de comunicação social e convocaram a opinião pública para um debate sobre o direito à liberdade de expressão.
Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 60, 2020
"Popular culture", has been invoked as a magic formula whose effect would be sufficient to guara... more "Popular culture", has been invoked as a magic formula whose effect would be sufficient to guarantee the existence of reality (Revel 1989), and it is presented to us in an authoritative and up-to-date version of Intangible Cultural Heritage. In this text I discuss the patrimonialization processes as reproductions of modalities of holism applied to the collective that today occupy the place of what the folkorists of the past understood as the "people", from an ethnographic study conducted in the border of Baixo Alentejo, complemented by bibliographic and documentary sources. This is a first approach to issues related to the (re) production of the symbolic imaginary of Cante Alentejano, carried out within two research projects.
A "cultura popular", invocada como uma fórmula mágica cujo efeito seria suficiente para garantir a existência de uma realidade (Revel 1989), surge-nos numa versão autorizada e atualizada de Património Cultural Imaterial. Neste texto interrogo os processos de patrimonialização como repro-duções das modalidades de holismo aplicadas a coletivos que ocupam hoje o lugar do "povo" dos folcloristas do passado, a partir de uma etnografia localizada na raia do Baixo Alentejo, complementada por fontes bibliográficas e documentais. Trata-se de uma primeira abordagem a questões relacionadas com a (re)produção de imaginários simbólicos do cante alentejano, realizada no âmbito de dois projetos de investigação.
A partir de uma etnografia extensiva e intensiva realizada na raia do Baixo Alentejo, entrelaçada... more A partir de uma etnografia extensiva e intensiva realizada na raia do Baixo Alentejo, entrelaçada com fontes documentais e bibliográficas trago ao debate a "cultura popular" como construção social em permanente atualização, para questionar os processos que atribuem visibilidade e invisibilidade a práticas musicais, tomando por eixo central a ação das mulheres na preservação do cante alentejano.
As festas são espaços de encontro e identificação, com capacidade de estimular imaginários e repr... more As festas são espaços de encontro e identificação, com capacidade de estimular imaginários e representações culturais que se transformam em lugares, no sentido existencial e fenomenológico do termo. A espacialidade das emoções, o sentimento e o afecto permitem compreender a interação entre as pessoas e os lugares, por meio da memória coletiva e de rituais e símbolos que atribuem sentido e significado à vida das comunidades. Nesta comunicação, trago ao debate as geografias emocionais e as solidariedades intergeracionais num espaço rural e fronteiriço, tomando como objectos empíricos as festas patronais de Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo) e Rosal de la Frontera (Andaluzia).
Esta comunicação é uma primeira abordagem ao estudo da actividade teatral no concelho de Almada, ... more Esta comunicação é uma primeira abordagem ao estudo da actividade teatral no concelho de Almada, enquanto espaço de sociabilidades e instrumento de consciencialização política na produção de uma cultura operária. Numa perspectiva diacrónica, desde finais do século XIX que o teatro de amadores ocupa um lugar importante na história do movimento operário, como projecto político e social de emancipação da classe operária. O facto da arte cénica ter a particularidade de combinar espectáculo e ensino despertou o interesse dos anarquistas, que elaboraram as bases para a criação de uma “dramaturgia operária”. No II Congresso Socialista da Região Sul, realizado em Outubro de 1914, os socialistas também integraram o teatro no programa político dedicado à educação, com o objectivo de estimularem o gosto por obras teatrais de caráter social, dramático ou cómico, e a criação de grupos cénicos formados por operários. As primeiras obras seguiram o modelo de teatro social, por meio de uma literatura de expressão operária que permitiu romper com a tradição e a ruralidade, sob a forma de farsa, drama, monólogo, romance ou poesia. Neste sentido, importa compreender a actividade teatral em associações e coletividades, pela ação de anarquistas, socialistas e comunistas, como meio de consciencialização política ao serviço da luta do movimento operário, e a sua importância na construção de uma cultura de resistência.
Global cultural homogenization (Tomlinson 1999) brought about resistance movements that were rein... more Global cultural homogenization (Tomlinson 1999) brought about resistance movements that were reinforced by local and social networks. The vindication of cultural identity engages with multiple fields of conflict, involving the production of meaning through cultural production (Castells 1997). In this context, we witness a trend of recovery of both “popular culture”, led by local and translocal groups. In the past few decades, “traditional” and “celtic” music festivals proliferated in Northern Portugal. These have been commonly targeted at urban audiences, especially consumers of alternative cultural products that they view as anti-hegemonic. In the rural community of Santulhão, the Traditional and Celtic Music Festival represents tradition and modernity through music performance, strengthening ties between the community and its Diaspora. Music contributes to restoring local identity, while simultaneously involving the local population in a global context. This paper analyzes the Festival of Santulhão as a social space (Bourdieu 1989), questioning the different uses and meanings given to traditional music by the social agents.
A sublevação de 18 de Julho de 1936 em Espanha, que se transformou numa guerra civil, desencadeou... more A sublevação de 18 de Julho de 1936 em Espanha, que se transformou numa guerra civil, desencadeou paixões e acções arrebatadas, gerou violências e injustiças, forjou ódios e apelou a heroísmos individuais e colectivos, mobilizou intelectuais, escritores, poetas, artistas, homens e mulheres de todo o mundo na luta contra o fascismo. A dimensão política, social e humana do conflito originou uma inesgotável bibliografia historiográfica, literária e poética publicada por europeus e norte americanos. Escritores como George Orwell, Ernest Heminguay e André Malraux, e poetas como Pablo Neruda, Frederico Garcia Lorca e António Machado perpetuaram uma visão romântica da guerra, entretecendo a luta contra o fascismo com a coragem, a dignidade humana e a esperança num mundo mais justo e igualitário. Neste contexto a música teve um papel fulcral, como veículo ideológico e de propaganda política que não serviu apenas para a mobilização em torno de um ideal, mas para construir fortes vínculos identitários entre diferentes grupos. As canções dos vencidos debateram-se durante décadas entre a memória e o esquecimento, circunscritas à transmissão oral no espaço privado até à reconquista do espaço público. Parte deste repertório foi gravado em Espanha e fora de Espanha, reinterpretado, transmitido oralmente e novamente registado e reutilizado sobre novos suportes e contextos, num processo de permanente resignificação. Algumas canções, pelas suas características textuais e estilísticas ou pelo seu posterior devir histórico em diferentes conflitos, continuam a circular pela sociedade globalizada como símbolo de resistência política. Nesta comunicação não pretendo enumerar a diversidade deste amplo repertório, mas destacar a forma como estas canções foram transformadas e apropriadas por diferentes grupos, para reforçar os laços entre um passado identitário e um presente significante.
As fronteiras são lugares contraditórios de cultura e poder, onde os processos homólogos de centr... more As fronteiras são lugares contraditórios de cultura e poder, onde os processos homólogos de centralização do Estado e homogeneização nacional são descontinuados, devido à diversidade cultural das zonas fronteiriças. As “fronteiras da cultura”, quase tão fortes como as estruturas de controlo do Estado, podem competir e subverter as “fronteiras da política”, em função da força relativa do Estado e dos laços culturais que unem, ou dividem, as populações das zonas fronteiriças (Wilson e Donnan, 1998:11). Ao longo do processo histórico, a mobilidade entre populações de um e de outro lado da fronteira luso-espanhola resultante de conflitos entre os estados ibéricos, ou de interesses de grupos e de indivíduos, consolidaram num tempo longo as relações culturais entre portugueses e espanhóis. A mobilidade assinala a procura de alternativas de sobrevivência económica, em que o contrabando representou a actividade mais significativa, mas também a procura de refúgio, em que os fluxos de refugiados da guerra civil de Espanha representaram o maior êxodo do século XX. Nesta comunicação tomamos como objecto empírico e historiográfico o caso dos refugiados republicanos em Portugal durante a guerra civil de Espanha, e em particular o caso de Barrancos, colocando o enfoque analítico nas relações fronteiriças, e nas estratégias de resistência dos actores sociais, como praxis culturais modeladas pelos processos sociopolíticos das histórias ibéricas.
Nesta comunicação discutimos os “usos da memória”, tomando como objecto empírico e historiográfic... more Nesta comunicação discutimos os “usos da memória”, tomando como objecto empírico e historiográfico o caso dos refugiados republicanos em Portugal durante a guerra civil de Espanha, e em particular o caso de Barrancos. O caso de Barrancos, permaneceu silenciado e omitido da história de ambos os países durante as ditaduras ibéricas, representando uma memória colectiva circunscrita à vida dos seus protagonistas e testemunhas, mas a sua mediatização transformou-o num “objecto histórico”. Em 2009 o governo regional da Extremadura atribuiu ao município de Barrancos o seu máximo galardão, a Medalha da Extremadura, como símbolo de reconhecimento e gratidão pela solidariedade e acolhimento a todos os estremenhos forçados a fugir do seu País em virtude de conflitos sociais e políticos. Neste caso, a mediatização mobilizou uma correlação de forças políticas de ambos os lados da fronteira, inscrevendo a memória do acontecimento na história contemporânea portuguesa e espanhola, numa versão legitimadora do presente, demonstrando como a memória representa simbolicamente um instrumento de poder.
O sentimento de perda estabelece uma continuidade na vida descontínua dos refugiados de ontem e d... more O sentimento de perda estabelece uma continuidade na vida descontínua dos refugiados de ontem e de hoje, sem estatuto de seres sociais por perderem as relações que fundem a vida social, assim como um conjunto de pessoas e bens que lhe dão sentido, como a terra, a casa, os familiares, os amigos, os haveres e o trabalho. Como seres errantes, em espera, não possuem mais do que a “vie nue” (Agier, 2003:94), vivendo dependentes do apoio humanitário vinculado aos interesses das grandes potências internacionais. Perante esta realidade, o estatuto de refugiado definido na Convenção de Genebra de 1951, cuja importância reside na sua definição universal, pode revelar-se insuficiente para responder ao drama actual dos refugiados no mundo, embora sirva para tranquilizar consciências.
Cad. CERU vol.20 no.2 São Paulo, Dec 2009
""O Carnaval, como tema milenário do “mundo às avessas”, propicia práticas rituais de inversão as... more ""O Carnaval, como tema milenário do “mundo às avessas”, propicia práticas rituais de inversão assinalando um tempo de utopia, por isso todas as formas e símbolos da linguagem carnavalesca estão impregnados de lirismo e da consciência sobre a relatividade da verdade e do poder. Este tipo de pensamento, disfarçado de forma alegórica, revela uma declaração explicitamente revolucionária, pela crítica e negação da ordem social. Até ao 25 de Abril os versos das Estudantinas passavam pelo crivo da censura do Regedor e eram ditos pelas ruas no domingo e na terça-feira gorda. As Estudantinas, acompanhadas de música e cantigas, falando do que de bom e de mau foi feito ao longo do ano, visavam directa ou indirectamente algumas pessoas. Com os fluxos migratórios a partir da década de 60 as Estudantinas perderam a continuidade, sendo recuperadas em 1992 por iniciativa da Junta de Freguesia da Amareleja. Ao promover o primeiro concurso de Danças/Estudantinas na tentativa de reavivar a “tradição”, contou com a participação de cinco grupos. Anos depois estabeleceu um roteiro pela vila, assinalando os locais de actuação. Nos últimos anos, as Estudantinas da Amareleja suscitaram o interesse de grupos da Granja, de Santo Amador, de Moura e de Santo Aleixo da Restauração que desfilam na terça-feira gorda pelas ruas da vila. Todavia, os grupos amarelejenses não se revêm nas performances dos vizinhos, que caracterizam de "folcloristas", defendendo uma tradição que é sua. A concertina, as pandeiretas e as castanholas são os instrumentos estruturantes, aos quais se juntam violas, caixas, bombos ou trompetes conforme a criatividade de cada agrupamento. Na manhã de terça-feira os grupos da Amareleja percorrem as ruas da vila criando o seu roteiro de actuações, que coincidem no Lar de Idosos, frente à Casa do Povo e SFUMA, e no Largo do Regato. Na parte da tarde a concentração e actuação de todos os grupos inicia-se junto da Igreja Matriz, seguindo-se o desfile e actuações frente à Junta de Freguesia, nas 4 esquinas e por fim no Largo do Regato, para onde converge o público (locais e forasteiros).
Os grupos são constituídos por familiares e amigos que partilham uma prática cultural herdada dos pais e avós. Por isso, quase todos os intervenientes evocam algum familiar com o qual se estrearam nas Estudantinas, e começaram tão jovens como aqueles que vimos nos grupos da Hortense Serrano, do Carlos Prazeres e do Manuel Valente. As competências musicais e vocais dos participantes, aliada à criatividade dos versos, fazem do processo de criação das Estudantinas um tempo de convívio e cumplicidade entre os elementos dos grupos. Tudo começa pela escolha do tema musical, ao qual se ajustam os versos, em função das temáticas sociais escolhidas. A rima é particularmente apreciada pelos mais idosos, que ainda não reconhecem nos jovens as qualidades atribuídas ao saudoso Luís Perico. Os temas de crítica social enlaçam as problemáticas locais com a crise global, refletindo uma visão do mundo de falsas promessas eleitorais, de alterações de valores e perdas de direitos sociais. A Junta de Freguesia da Amareleja apoia os grupos com 150€, e oferecia um jantar, que este ano foi substituído por “petiscar”… como dizem os versos da Estudantina do Carlos Prazeres. Excerto das actuações dos grupos de Estudantinas de Manuel Estevão, de Manuel Valente, de Hortense Serrano e de Carlos Prazeres.""
O grupo foi constituido em Moura, em Janeiro de 2012, reunindo as vozes de Margarida Oliveira, na... more O grupo foi constituido em Moura, em Janeiro de 2012, reunindo as vozes de Margarida Oliveira, natural de Barrancos, e José Rico, natural de Beja; com a guitarra de António Palma e o cajon de Miguel Dinis, naturais de Moura. Margarida é estudante de Agromomia na Universidade de Évora e tem formação musical de guitarra clássica e voz do Conservatório Regional do Alentejo - Delegação de Moura. José é músico na Sociedade Filarmónica União Musical "Os Amarelos" em Moura. António é estudante de Economia no ISEG, em Lisboa, e tal como Miguel são músicos autodidactas. O repertório escolhido pelo grupo entrelaça as rumbas e sevillanas com o fado e a música popular brasileira. Neste video registamos excertos do espectáculo realizado no âmbito do projecto pós-doc “A cultura expressiva na fronteira luso-espanhola:continuidade histórica e processos de transformação socioculturais, agentes e repertórios na construção de identidades”,
O grupo é constituído por dez elementos, naturais da Amareleja (Baixo Alentejo): André Caçador (t... more O grupo é constituído por dez elementos, naturais da Amareleja (Baixo Alentejo): André Caçador (trompete), David Moreira (tuba), Fábio Monteiro (saxofone alto), Flávio Bolrão (trombone), Gilberto Modesto (percussão), Hélio Martins (trompete), João Martins (saxofone barítono), Jorge Ferreira (percussão), José Simões (trompa) e Nelson Santana (saxofone tenor). Todos os elementos iniciaram a sua formação musical na Sociedade Filarmónica Musical Amarelejense (SFUMA), e actualmente são licenciados em Música (Interpretação) pela Universidade de Évora e alunos do Conservatório Regional de Beja. Para além de músicos na Banda Filarmónica Amarelejense, este grupo de amigos resolveu criar um projecto musical inspirado numa Jazz Band pertencente à (SFUMA), que teve grande êxito na década de 1940 animando festas e bailes, com o nome de "Caprichosos d'Amareleja". A nova formação nasceu em Dezembro de 2012, e escolheu um reportório que entrelaça êxitos da música popular portuguesa e internacional, com os clássicos pasodobles. "Os Caprichosos", apesar de serem uma banda muito recente são reconhecidos pela qualidade musical do seu trabalho, e requisitados para enumeras actuações em Portugal e em Espanha. Por iniciativa da Câmara Municipal de Moura integram o DVD dos grupos musicais do concelho, que será lançado em Setembro de 2013. Registo audiovisual realizado no âmbito do projecto pós-doc “A cultura expressiva na fronteira luso-espanhola: continuidade histórica e processos de transformação socioculturais, agentes e repertórios na construção de identidades”.
Actuação da Banda de Gaitas São Tiago de Cardielos, na 1ª fase do XXIII Campeonato da Liga Galega... more Actuação da Banda de Gaitas São Tiago de Cardielos, na 1ª fase do XXIII Campeonato da Liga Galega de Bandas de Gaitas. Pazo de Congresos de Santiago de Compostela, 23 de Março de 2013. Registo realizado no ãmbito do projecto: “O celtismo e as suas repercussões na música na Galiza e no Norte de Portugal” (INET-MD/FCSH-UNL)
Inauguração da Exposição Fotográfica de Arnaldo Carvalho, no âmbito da 10ª Edição do Encontro Reg... more Inauguração da Exposição Fotográfica de Arnaldo Carvalho, no âmbito da 10ª Edição do Encontro Regional de Gaiterios organizado pelo Centro Cultural e Recreativo da Pena, claustros da Câmara Municipal de Cantanhede, de 6 a 30 de Abril de 2013. Trabalho de campo realizado para o projecto de investigação "O celtismo e as suas repercusssões na música na Galiza e no Norte de Portugal", (INET-MD/FCSH-UNL).
O Festival de Música Tradicional e Celta nasceu em 2001 por iniciativa de Domingos Rosário (Juiz ... more O Festival de Música Tradicional e Celta nasceu em 2001 por iniciativa de Domingos Rosário (Juiz das Festas), inspirado pelo Festival Intercéltico de Sendim. O mote do festival: "Já Chegaram os gaiteiros" reveste-se de particular significado, pela presença de gaiteiros da região de Terras de Miranda, e pela criação do grupo "Gaiteiros da Terra" dirigido por por Ruben Rosário. Em 2012 actuaram no Festival de Santulhão: Las Çarandas, Quinteto Reis, Sebastião Antunes Trio e Galandum Galundaina. Registo realizado no âmbito do “O celtismo e as suas repercussões na música na Galiza e no Norte de Portugal” (INET-MD/FCSH-UNL).
Actuação da Banda de Gaitas São Bernardo de Aveiro, no III Certamen Celtibérico. Memorial Gabino ... more Actuação da Banda de Gaitas São Bernardo de Aveiro, no III Certamen Celtibérico. Memorial Gabino García. Manzaneda (Ourense), a 29 de Julho de 2012. Os jovens gaiteiros Ana Catarina Damas Carvalho e José António Dinis Fernandes da Banda de Gaitas de São Bernardo foram agraciados pelo Município de Aveiro, com a Medalha de Mérito, em Maio do mesmo ano. Realizado no âmbito do projecto: "O celtismo e as suas repercussões na musica na Galiza e no Norte de Portugal" (INET-MD/FCSH-UNL)
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O património histórico e cultural colocado ao serviço do turismo desempenha neste processo o pape... more O património histórico e cultural colocado ao serviço do turismo desempenha neste processo o papel de actor principal de uma “sociedade do espectáculo”, em que as populações parecem servir de figurantes. Os usos políticos da cultura, associados ao conceito de património, transformaram os bens culturais das comunidades em desdobramentos de espectáculo, na passagem do simbólico ao virtual, atribuindo preços a coisas que na realidade nunca foram produzidas como mercadorias.
Los nuevos flujos de refugiados sirven para discutir las fronteras políticas y las solidaridades ... more Los nuevos flujos de refugiados sirven para discutir las fronteras políticas y las solidaridades locales, a partir del caso de los refugiados de la guerra civil española. Ya que tanto hoy como ayer los refugiados transportan el estigma de “indeseados”, de seres condenados a la marginalización social. Y la construcción social del “otro” (“terrorista” o “comunista”) permanece en el discurso hegemónico de cada época, de manera a impedirnos de pensar que los éxodos de las guerras no representan una migración de personas de un lugar a otro, porque los refugiados no son migrantes ni escogerán la movilidad.
Esta conferência pretende interrogar a hipertrofia dos estudos sobre a memória, que corresponde a... more Esta conferência pretende interrogar a hipertrofia dos estudos sobre a memória, que corresponde a um estado do saber e das sociedades, sobretudo desde os anos de 1980, quando o optimismo se diluiu e o futuro pareceu tornar-se passado. Essa viragem, coetânea de mudanças ao nível das sociedades, requer uma reflexão em torno dos usos do passado, como artefacto do presente (Lowenthal, 1985), sujeitos às relações de forças dentro das sociedades. A actual obsessão do passado é uma resposta substitutiva às urgências do presente ou, mesmo, uma recusa do futuro (Rousso, 1994: 280). Pretende interrogar-se a relação com as fontes que falam, que questione a teoria e os métodos, entre a memória e a história oral, numa abordagem em que os saberes de fronteira de várias disciplinas têm de ser convocados. Terreno não pacificado, a memória continua a ser um interessante problema para as ciências sociais. Intensificou-se como objeto de estudo, materializado em formatos de património, no decurso dos anos 1980. Conquanto memórias traumáticas com as dos fascismos e do nazismo pudessem ter sido alvo de um trabalho anterior dos investigadores, e que a memória tenha hoje o estatuto de religião civil do mundo ocidental, o processo de passagem de memória fraca a memória forte não foi imediato (Traverso, 2005:54-59). Quando a topolatria se tornou central, por que razões se ergueram lugares de memória, ao mesmo tempo que desapareciam os meios de memória? Que dificuldades surgem na criação de lugares de memória de situações conflituais? Como se recorda o trauma e o acontecimento? Quando adquiriu a memória tal centralidade nas Ciências Sociais? Estudamos cada vez mais a memória porque as sociedades se ressentem de uma ausência de esperança? Que relação estabelece o presentismo, como denegação do devir, com os usos da memória? Qual a conexão entre a experiência e a expectativa, e quanto (e qual…) passado se resgata para o futuro? Num tempo em que se tornou ecuménico o património, que relação estabelece a memória com ele, entre a beleza do morto e novos caminhos? Qual o papel da cultura na construção de uma força material das ideias? Em processos de exibição e musealização do passado, como lidamos com a memória das ditaduras e os processos de transição para as democracias? Que espaço se consagra ao devir na pesquisa em ciências sociais? Esta conferência resulta do trabalho realizado no seminário com o mesmo nome, no âmbito do Instituto de História Contemporânea e do INET-md (NOVA FCSH), congregando investigadores juniores e seniores. Beneficia do aprofundamento dos saberes no âmbito de um conjunto de relações internacionais estabelecidas pelos investigadores. Assim, congrega colegas de vários centros europeus, da Universidade Federal do Ceará e da Red(e) Ibero-Americana Resistência e/y Memória, trazendo até Lisboa investigadores de várias proveniências disciplinares, no domínio das ciências sociais.
O objectivo deste Colóquio Internacional é partilhar o conhecimento produzido em diversos project... more O objectivo deste Colóquio Internacional é partilhar o conhecimento produzido em diversos projectos científicos que unem centros de investigação em Portugal e universidades estrangeiras, levados a cabo na última década, que serviram e continuam a servir para formar investigadores e divulgar os resultados das suas investigações. Constitui, portanto, o final e o começo de diferentes formas de interrogar o caminho seguido por um conjunto de festas e cerimónias, que foram e são alvo de abordagem especializada, entre a história, a sociologia, a antropologia, os estudos artísticos, os estudos culturais e a etnomusicologia.
O objectivo deste Encontro Internacional é partilhar o conhecimento produzido em vários projectos... more O objectivo deste Encontro Internacional é partilhar o conhecimento produzido em vários projectos científicos levados a cabo na última década, que serviram para formar investigadores e divulgar os resultados das suas investigações em publicações que circulam no âmbito académico e fora dele. Constitui, portanto, o final de um caminho e uma abertura para novos modos de ver as fronteiras. Num longo passado, as populações que habitaram as fronteiras integraram redes informais, que competiam com o campo de actuação estatal, e desenvolveram modos de vida que incorporam identificações contraditórias, expressas numa vida local com uma mistura de traços culturais delineados de um e de outro lado da fronteira. A fronteira tem uma dimensão associada aos fluxos que a cruzam, dolorosos ou fruídos, entre o refúgio e o turismo, e remetem para culturas de orla, que enquadram o escapismo e a luta contra os Estados. As construções políticas e culturais centradas nos limites remeteram para a relação entre centros e periferias, assente em realidades complexas e multidimensionadas, que se articulam de forma diversa no espaço e no tempo, assumindo características específicas nos terrenos coloniais. O campo relacional fronteiriço, que compreende um conjunto de laços em que a economia local e as sociabilidades geradas se desenvolveram numa zona de influência complexa, comporta modos de vida que inserem a transgressão na rotina, em que a definição de uma identificação nacional integra um processo social contínuo de delimitação conjuntural dos amigos e dos inimigos. Os Estados-nação da modernidade dotaram-se de um conjunto de mecanismos destinados a garantir a sobreposição da lealdade a um centro, relativamente a outras mais localizadas. Por outro lado, as populações fronteiriças responderam com um conjunto de práticas possíveis, delineadas frequentemente a partir de uma cultura de resistência aos centros de poder. Desses cruzamentos, nas fronteiras ibéricas e em diálogo com outras fronteiras mundiais, fará eco este Encontro, que juntará em Lisboa investigadores que, de modo disperso, têm trabalhado sobre o tema.
O Colóquio Internacional «Memória, Cultura e Devir - Teoria e Caminhos para as Ciências Sociai... more O Colóquio Internacional «Memória, Cultura e Devir - Teoria e Caminhos para as Ciências Sociais», organizado por Paula Godinho (Departamento de Antropologia e IHC/FCSH/NOVA), Dulce Simões (INET-md/FCSH/NOVA), Maria Alice Samara (IHC/FCSH/NOVA) e Isabel Lopes Cardoso (CHAIA/UÉvora)
resulta de dois anos de trabalho no Seminário «Memória, Cultura e Devir», realizado no âmbito do IHC/FCSH/NOVA, e do conhecimento adquirido em dois Encontros da Red(e) Ibero-Americana Resistência e/y Memória (RIARM) realizados em Lisboa (2013) e em Buenos Aires (2015). Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, de 30 de Maio a 1 de Junho de 2016.
A exposição “Refugiados no Alentejo durante o século XX”, organizada pelo Arquivo Municipal de Év... more A exposição “Refugiados no Alentejo durante o século XX”, organizada pelo Arquivo Municipal de Évora, pretendeu dar a conhecer à generalidade da população diferentes processos de acolhimento na região do Alentejo, de pessoas que, em consequência de conflitos político-militares, tiveram de deixar as suas casas, os seus amigos e as suas famílias.
Pretende-se estimular a capacidade para interrogar e debater as questões inerentes à memória, ao ... more Pretende-se estimular a capacidade para interrogar e debater as questões inerentes à memória, ao recurso a fontes orais e iconográficas e aos processos de patrimonialização, tendo em atenção as técnicas de abordagem e tratamento dos dados na recolha de relatos, narrações, imagens e histórias de vida e de família, bem como à reconstituição de referentes. Visa uma reflexão sobre as implicações dos usos da memória, dos fenómenos de emblematização e das práticas do património em sociedades, conjunturas e situações diferenciadas, a partir das ferramentas de um leque disciplinar variado, no âmbito das ciências sociais e humanas. Finalmente, pretende-se discutir, sob o pano de fundo de autores clássicos das ciências sociais e humanas, as recentes abordagens das utilizações da memória, da amnésia, da hipermnésia, do património material e imaterial e dos processos de musealização.
Trata-se de uma Jornada de investigação, onde se apresentam resultados de pesquisa, trabalhos em ... more Trata-se de uma Jornada de investigação, onde se apresentam resultados de pesquisa, trabalhos em curso e projectos em fase de discussão. Entrelaçando várias ciências sociais e humanas, com o olhar crítico da história, da antropologia, da sociologia, da etnomusicologia, o principal objectivo das jornadas é debater ideias, teorias e metodologias, entre futuros passados e tempos inéditos. No final do dia, Nadejda Tilhou apresenta e suscita a discussão em torno do seu filme “Nós, operárias da Sogantal”, sobre as 48 operarias que após o 25 de Abril ocupam as instalações da fabrica, exigindo melhores condições laborais. Trinta anos depois, é uma historia esquecida, que merece mesmo ser vista.
It is a research seminar, where research results, works in progress and projects under discussion are presented. Intertwining various social and human sciences, with the critical eye of history, anthropology, sociology, ethnomusicology, the main objective of the seminar is to debate ideas, theories and methodologies, between past futures and unprecedented times. At the end of the day, Nadejda Tilhou will present and raise discussion on her film "Nós, operárias da Sogantal", about the 48 workers whom after the 25th of April occupied the factory facilities, demanding better working conditions. Thirty years later, it is a forgotten story that deserves to be seen.
Pretende-se estimular a capacidade para interrogar e debater as questões inerentes à memória, ao ... more Pretende-se estimular a capacidade para interrogar e debater as questões inerentes à memória, ao recurso a fontes orais e iconográficas e aos processos de patrimonialização, tendo em atenção as técnicas de abordagem e tratamento dos dados na recolha de relatos, narrações, imagens e histórias de vida e de família, bem como à reconstituição de referentes. Visa uma reflexão sobre as implicações dos usos da memória, dos fenómenos de emblematização e das práticas do património em sociedades, conjunturas e situações diferenciadas, a partir das ferramentas de um leque disciplinar variado, no âmbito das ciências sociais e humanas. Finalmente, pretende-se discutir, sob o pano de fundo de autores clássicos das ciências sociais e humanas, as recentes abordagens das utilizações da memória, da amnésia, da hipermnésia, do património material e imaterial e dos processos de musealização.
1. Usos da memória e práticas do património: questões teórico-metodológicas e conceitos (Paula Godinho).
2. Da prática da história oral (Alice Samara).
3. Cruzar fontes iconográficas e orais: (des/re/)construir a memória (Isabel Lopes Cardoso).
4. Os silêncios da História e a recuperação da memória: o caso da guerra civil espanhola (Dulce Simões).
5. Espaço e memória: Lisboa da Resistência (Alice Samara).
6. Da difícil assunção da palavra ao recurso artístico e literário: efeitos da e/i/migração (Isabel Lopes Cardoso)
7. Usos e abusos da tradição: folclorismo e objectificação (Dulce Simões).
8. Entre políticas de identidade e práticas da cultura: celtismo, emblematização e mercantilização (Paula Godinho).
Pretende-se estimular a capacidade para interrogar e debater as questões inerentes à memória, ao ... more Pretende-se estimular a capacidade para interrogar e debater as questões inerentes à memória, ao recurso a fontes orais e aos e aos processos de patrimonialização, tendo em atenção as técnicas de abordagem e tratamento dos dados na recolha de relatos, narrações e histórias de vida e de família, bem como à reconstituição de referentes. Visa uma reflexão sobre as implicações dos usos da memória, dos fenómenos de emblematização e das práticas do património em sociedades, conjunturas e situações diferenciadas, a partir das ferramentas de um leque disciplinar variado, no âmbito das ciências sociais e humanas. Finalmente, pretende-se discutir, sob o pano de fundo de autores clássicos das ciências sociais e humanas, as recentes abordagens das utilizações da memória, da amnésia, da hipermnésia, do património material e imaterial e dos processos de musealização.