Karine Narahara | University of North Texas (original) (raw)
Books by Karine Narahara
A resistência do povo Mapuche contra as invasões que sofreu sua população tem sido recorrentement... more A resistência do povo Mapuche contra as invasões que sofreu sua população tem sido recorrentemente destacada e interrogada na literatura acadêmica. A politização de aspectos culturais, espirituais e/ou filosóficos tem sido profusamente indagada como chave interpretativa da peculiar vontade de reorganização do povo Mapuche, especialmente nos últimos quarenta anos, no território mapuche ocupado pelo Estado nacional argentino.
Uma antropóloga afro-brasileira, ativista antifracking no Brasil, filha de Ògún, divindade do candomblé, contata, em 2014, representantes das comunidades mapuche do sul da Argentina e Chile, e a representantes da Confederación Mapuche de Neuquén. A inquieta a forma como lidam com a contaminação petroleira nos arredores de Vaca Muerta, primeiro poço de fraturamento hidráulico da América Latina. Convive com seus interlocutores/as; desde Neuquén capital se desloca com eles/as de uma comunidade a outra; compartilha suas experiências recentes de iniciação ritual no candomblé; seus anfitriões/ãs a olham e escutam, e lhes contam histórias.
Dessa conversação emerge uma conceitualização mapuche do território ou waj mapu. Uma malha cruzada por linhas e nós pelos quais circulam as forças ou pu newen que dão origem a todos os seres (im)perceptíveis, humanos e não humanos (pedras, montanhas etc.). Uma comunidade não é um conjunto de relações entre pessoas; é um conjunto de forças. A vida social implicaria um alinhamento humano aos fluxos de newen que circulam no território. Perceber e submeter-se a essas forças possibilita seu controle. A exploração petroleira afeta e desordena este delicado alinhamento mapuche aos newen. Porém, “quando o território necessita ser cuidado, ele desperta seus filhos”. E é o newen do território que origina a organização política da luta mapuche.
Apelando ao conceito de cosmopolítica, a autora nos introduz no magma onde os mundos e os seres (humanos e não humanos) emergem da relação que estabelecem com os newen que lhes dão forma e os lançam ao mogen (vida) que produzem o waj mapu mapuche.
Laura Zapata
IESCODE/UNPAZ - CAS/IDES
Special Issues by Karine Narahara
Revista Mediações, 2022
Despite the transformations through which anthropology has already gone through, the idea that an... more Despite the transformations through which anthropology has already gone through, the idea that anthropology takes place in the encounter with an “Other”, often distant spatially and “culturally” from the one who produces the ethnographic text, still prevails in the discipline. It unfolds from this that the anthropologist’s work is triggered by a physical displacement that takes him from his “home” to the “field”. This model has undergone a deeper destabilization with a greater presence, in recent years, of Black and Indigenous anthropologists in graduate programs in anthropology around the country. This proposal aims to bring together texts that contribute with reflections on contemporary ethnographic production, highlighting the tensions generated by the idea that anthropology is necessarily the product of the encounter with difference.
Keywords: anthropology; ethnography; fieldwork; other; alterity.
Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disciplina a ideia de que o fazer antropológico se dá no encontro com um “Outro”, muitas vezes distante espacialmente e “culturalmente” daquele que produz o texto etnográfico. Desdobra daí que o trabalho do antropólogo é disparado por um deslocamento físico que o leva da sua “casa” para o “campo”. Este modelo tem sofrido uma desestabilização ainda mais profunda com a maior presença, nos últimos anos, de antropólogos negros e indígenas nos cursos de pós-graduação em antropologia do país. No presente texto, apresentamos um panorama dessas questões, e como elas dialogam com a proposta do dossiê e os textos aqui publicados.
Palavras-chave: antropologia; etnografia; trabalho de campo; outro; alteridade.
Syllabus by Karine Narahara
Through time, anthropological knowledge was built fundamentally based on the idea of alterity: on... more Through time, anthropological knowledge was built fundamentally based on the idea of alterity: on the idea that anthropology is the product of an analysis of an "Other"-distinct, sometimes radically, from the one that produces the ethnographic text. As much as this radical alterity marks the beginning of the discipline, and much has changed since then, the idea of otherness, in which difference prevails, as a basis for anthropological work persists. In more recent times, the greater presence of Black and Indigenous students and scholars in Brazilian universities has been raising new questions for the discipline in general, especially about the so-called "fieldwork". And many of these questions raise problems to the idea that anthropology is built on the encounter with this Other. The present course offers the possibility to think about the questions raised by the anthropological production of Black and Indigenous scholars. These reflections will be crossed throughout the course by questions related to the concept of the Other, on how it reflects modern-western thought more broadly, and how it has been elaborated by anthropology. For this purpose, in addition to a syllabus especially related to questions about fieldwork and ethnographic work, we will promote lectures by anthropologists and other scholars about their research experiences. **This syllabus can be changed throughout the course** **The students must attend at least 75% of the classes** **The course will have a mid-term and a final evaluation** 08.07.2019-Presentation of the Course 08.14.2019-The Construction of the "Other" (1)
Ao longo do tempo, o conhecimento antropológico construiu-se fundamentalmente com base na ideia d... more Ao longo do tempo, o conhecimento antropológico construiu-se fundamentalmente com base na ideia de outrem: na ideia de que a antropologia é o produto de uma análise sobre um "Outro"-diferente, e por vezes de maneira radical, daquele que produz o texto etnográfico. Por mais que essa alteridade radical marque em especial o início da disciplina, e que, obviamente, muito tenha mudado desde então, a ideia de uma relação de outridade, em que prevalece a diferença, como base do fazer antropológico persiste. Em tempos mais recentes, a maior presença de alunos e pesquisadores negros e indígenas nas universidades brasileiras vem colocando novas questões à disciplina de uma maneira geral, especialmente no que diz respeito ao chamado "trabalho de campo". E muitas dessas questões colocam problemas para a ideia de que a antropologia se constrói no encontro com esse Outro. Sendo assim, a presente disciplina propõe-se a pensar nas questões colocadas pela produção antropológica de pesquisadores negros e indígenas. Essas reflexões serão atravessadas ao longo de todo o curso por questões ligadas ao conceito de Outro, em como ele reflete o pensamento moderno-ocidental de uma maneira mais ampla, e como ele foi sendo tecido no interior da antropologia. Para isso, além de nos debruçarmos sobre uma bibliografia relacionada especialmente a questões sobre o trabalho de campo e o fazer etnográfico, contaremos com apresentações de antropólogos e outros pesquisadores sobre suas experiências de pesquisa ao longo da disciplina.
Papers by Karine Narahara
Mediações - Revista de Ciências Sociais
Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disci... more Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disciplina a ideia de que o fazer antropológico se dá no encontro com um “Outro”, muitas vezes distante espacialmente e “culturalmente” daquele que produz o texto etnográfico. Desdobra daí que o trabalho do antropólogo é disparado por um deslocamento físico que o leva da sua “casa” para o “campo”. Este modelo tem sofrido uma desestabilização ainda mais profunda com a maior presença, nos últimos anos, de antropólogos negros e indígenas nos cursos de pós-graduação em antropologia do país. No presente texto, apresentamos um panorama dessas questões, e como elas dialogam com a proposta do dossiê e os textos aqui publicados.
Paper presented on Panel 4 - Amerindian Perspectives on the Environment and the Future of Life: t... more Paper presented on Panel 4 - Amerindian Perspectives on the Environment and the Future of Life: territories, bodies and socialities in Indigenous South and Central America of XIII Biennal Conference of the Society for Anthropology of Lowland South America (SALSA), 2021.
Encruzilhadas Filosóficas, 2020
O capítulo é produto da minha tese de doutorado (NARAHARA, 2018), uma etnografia desenvolvida ent... more O capítulo é produto da minha tese de doutorado (NARAHARA, 2018), uma etnografia desenvolvida entre Mapuche que vivem na Patagônia Argentina. Especificamente neste texto, trago reflexões sobre como desenrolaram meus diálogos com os Mapuche, quase sempre mediados pelas minhas experiências enquanto uma mulher "afrobrasileira" e candomblecista.
Pensando a partir do conceito de Asili, elaborado por Marimba Ani, e em diálogo também com ideias... more Pensando a partir do conceito de Asili, elaborado por Marimba Ani, e em diálogo também com ideias de Ailton Krenak, trato do conceito de "crise ambiental" enquanto estruturante do Ocidente.
Anais Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM), 2019
En el norte de la Patagonia Argentina el pueblo Mapuche convive hace décadas con la producción de... more En el norte de la Patagonia Argentina el pueblo Mapuche convive hace décadas con la producción de hidrocarburos en su territorio. La presencia de petroleras en Puel Mapu – como se refieren a la porción leste del territorio mas amplio que cruza la cordillera de los Andes – establece un grave escenario de contaminación y de problemas de salud (humana). Pero, esta presencia implica no solo una contaminación química del solo, de los ríos y los cuerpos mapuche: también impacta, de alguna manera, la circulación de los newen. Lo que los wigka (como llaman a los no Mapuche usurpadores) están haciendo para sacar gas y petróleo debajo de la tierra esta afectando al ordenamiento de fuerzas del mondo de manera mas amplia. Por eso, las practicas cosmopolíticas mapuche llevan para las arenas de conflictos no solo humanos, pero también fuerzas no humanas, de manera que las proprias ceremonias son parte de esa cosmopolítica. En el presente trabajo voy a explorar la manera con que los Mapuche se relacionan con las fuerzas del territorio, demostrando como esas practicas y posturas son parte de la cosmopolítica.
Artigo de divulgação científica publicado na Revista Coletiva, da Fundação Joaquim Nabuco.
Este artigo enfoca elementos da história de um seringal localizado na beira do rio Iaco, leste do... more Este artigo enfoca elementos da história de um seringal localizado na
beira do rio Iaco, leste do estado do Acre, a partir da narrativa de seus
moradores. Trata-se de um passado construído que aponta para a perda
da centralidade do cortar seringa no cotidiano das colocações, com a saída de cena dos patrões de antigamente e a desestruturação dos seringais empresa. Neste contexto, muitos grupos domésticos abandonaram o seringal, transferindo-se para a rua (áreas urbanas) ou para outras áreas rurais. Entretanto, muitos outros seguiram vivendo lá, indicando que outros fatores, além do econômico, foram levados em consideração.
Palavras-chave: Reserva extrativista, seringal, seringueiros, castanha do
Brasil, Amazônia, Acre, rio Iaco.
Capítulo publicado no livro "Territórios socioambientais em construção na Amazônia brasileira", o... more Capítulo publicado no livro "Territórios socioambientais em construção na Amazônia brasileira", organizado por Neide Esterci, Horácio Sant´ana Jr. e Maria José Teisserenc. O texto aborda o processo de construção de um Plano de Utilização (Acordo de Gestão) em uma Reserva Extrativista do Sul do Amazonas.
No seringal Porongaba, no leste do Acre, os grupos domésticos tem como principal fonte monetária ... more No seringal Porongaba, no leste do Acre, os grupos domésticos tem como principal fonte monetária o quebrar castanha. O escoamento da castanha fica a cargo dos patrões, que, diferente dos patrões de antigamente, não exercem monopólio sobre a compra de produtos extrativistas e venda de mercadorias. O criar gado, além de constituir uma importante forma de patrimônio transmitido entre gerações, possibilita aos grupos domésticos uma certa autonomia econômica e política, estabelecendo também diferenças de status. O presente artigo analisa o quebrar castanha e o criar gado enquanto atividades inseridas num ambiente social próprio da vida nas colocações, permitindo compreender por que se fazem presentes nesse seringal e como se complementam.
Neste capítulo, publicado na primeira coletânea brasileira sobre o fracking, prospectamos cenário... more Neste capítulo, publicado na primeira coletânea brasileira sobre o fracking, prospectamos cenários de impactos socioambientais da exploração de hidrocarbonetos não convencionais no Brasil, baseado em especial na experiência norte-americana.
Master's Thesis by Karine Narahara
Em grande parte do sudoeste amazônico, no contexto do descenso econômico da borracha, observou-se... more Em grande parte do sudoeste amazônico, no contexto do descenso econômico da borracha, observou-se um esvaziamento dos seringais, especialmente dos centros, com a migração dos moradores para a margemou para as cidades. Entretanto, no seringal Porongaba no Médio Iaco, leste do Acre, área que faz parte de uma proposta de criação de uma Reserva Extrativista, praticamente todos os grupos domésticos residem no centro. Enfocando a análise dos circuitos de troca (intercâmbio mercantil) e de reciprocidade, relacionadas ao agroextrativismo, entre os grupos domésticos do seringal Porongaba a pesquisa busca
compreender as motivações que levam os moradores a permanecerem no seringal. A vida no centro e na margem são conectadas por diversos planos sociais, assim como a vida no seringal e na rua, demonstrando que existem outras delimitações sociais além daquela que estabelece o Porongaba enquanto propriedade privada. O quebrar castanha é a principal atividade em termos de geração de recursos financeiros, enquanto a criação de gado funciona como importante forma de patrimônio e de herança intergeracional. Inserido numa matriz de bens-significados própria do seringal o criar gado proporciona aos grupos domésticos uma certa autonomia política e econômica. O extrativismo de castanha, de borracha, a agricultura e a criação de animais estabelecem circuitos de troca e de reciprocidade que (re)criam laços entre os grupos domésticos, especialmente o dar – receber – retribuir dádivas. A caça de animais da mata também engendra relações de reciprocidade (vizinhança), atualizando vínculos entre os grupos domésticos. Nesses circuitos, ganham relevo as relações estabelecidas entre grupos domésticos aparentados, especialmente aquelas marcadas pela reciprocidade. Se o parentesco (marcadamente performativo) é, por um lado, a principal base sobre a qual os mecanismos de reciprocidade são estabelecidos, por outro lado, estes mecanismos (re)criam os laços de parentesco, viabilizando a vida entre a margem e o centro.
Artigos jornais by Karine Narahara
Os museus não são neutros na sua preservação da história. Na verdade, sem dúvida, eles são locais... more Os museus não são neutros na sua preservação da história. Na verdade, sem dúvida, eles são locais de esquecimento e fantasia. A forma como as exposições são construídas geralmente presume um público branco e privilegia o olhar branco. As paredes brancas significavam as escolhas dos brancos, sua agência, suas coleções museológicas e os esforços dos colonialistas. Para muitas pessoas brancas, as coleções são uma diversão agradável, uma visita nostálgica que evoca uma versão romantizada do Império (Sumaya Kassim).
A un mes del asesinato de Marielle Franco, en Brasil, Karine Narahara describe su sentir ante el ... more A un mes del asesinato de Marielle Franco, en Brasil, Karine Narahara describe su sentir ante el asesinato de otra mujer negra: " Entendí que la dificultad de llorar no era solo mía. Era colectiva. Cargamos un dolor ancestral. La sensación es que si empezamos a llorar estos dolores, no vamos a parar más. No sólo lloramos la pérdida de Marielle. Lloramos los dolores de una violencia racista secular que atraviesa generaciones " , expresa.
Ecologia de insetos by Karine Narahara
A resistência do povo Mapuche contra as invasões que sofreu sua população tem sido recorrentement... more A resistência do povo Mapuche contra as invasões que sofreu sua população tem sido recorrentemente destacada e interrogada na literatura acadêmica. A politização de aspectos culturais, espirituais e/ou filosóficos tem sido profusamente indagada como chave interpretativa da peculiar vontade de reorganização do povo Mapuche, especialmente nos últimos quarenta anos, no território mapuche ocupado pelo Estado nacional argentino.
Uma antropóloga afro-brasileira, ativista antifracking no Brasil, filha de Ògún, divindade do candomblé, contata, em 2014, representantes das comunidades mapuche do sul da Argentina e Chile, e a representantes da Confederación Mapuche de Neuquén. A inquieta a forma como lidam com a contaminação petroleira nos arredores de Vaca Muerta, primeiro poço de fraturamento hidráulico da América Latina. Convive com seus interlocutores/as; desde Neuquén capital se desloca com eles/as de uma comunidade a outra; compartilha suas experiências recentes de iniciação ritual no candomblé; seus anfitriões/ãs a olham e escutam, e lhes contam histórias.
Dessa conversação emerge uma conceitualização mapuche do território ou waj mapu. Uma malha cruzada por linhas e nós pelos quais circulam as forças ou pu newen que dão origem a todos os seres (im)perceptíveis, humanos e não humanos (pedras, montanhas etc.). Uma comunidade não é um conjunto de relações entre pessoas; é um conjunto de forças. A vida social implicaria um alinhamento humano aos fluxos de newen que circulam no território. Perceber e submeter-se a essas forças possibilita seu controle. A exploração petroleira afeta e desordena este delicado alinhamento mapuche aos newen. Porém, “quando o território necessita ser cuidado, ele desperta seus filhos”. E é o newen do território que origina a organização política da luta mapuche.
Apelando ao conceito de cosmopolítica, a autora nos introduz no magma onde os mundos e os seres (humanos e não humanos) emergem da relação que estabelecem com os newen que lhes dão forma e os lançam ao mogen (vida) que produzem o waj mapu mapuche.
Laura Zapata
IESCODE/UNPAZ - CAS/IDES
Revista Mediações, 2022
Despite the transformations through which anthropology has already gone through, the idea that an... more Despite the transformations through which anthropology has already gone through, the idea that anthropology takes place in the encounter with an “Other”, often distant spatially and “culturally” from the one who produces the ethnographic text, still prevails in the discipline. It unfolds from this that the anthropologist’s work is triggered by a physical displacement that takes him from his “home” to the “field”. This model has undergone a deeper destabilization with a greater presence, in recent years, of Black and Indigenous anthropologists in graduate programs in anthropology around the country. This proposal aims to bring together texts that contribute with reflections on contemporary ethnographic production, highlighting the tensions generated by the idea that anthropology is necessarily the product of the encounter with difference.
Keywords: anthropology; ethnography; fieldwork; other; alterity.
Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disciplina a ideia de que o fazer antropológico se dá no encontro com um “Outro”, muitas vezes distante espacialmente e “culturalmente” daquele que produz o texto etnográfico. Desdobra daí que o trabalho do antropólogo é disparado por um deslocamento físico que o leva da sua “casa” para o “campo”. Este modelo tem sofrido uma desestabilização ainda mais profunda com a maior presença, nos últimos anos, de antropólogos negros e indígenas nos cursos de pós-graduação em antropologia do país. No presente texto, apresentamos um panorama dessas questões, e como elas dialogam com a proposta do dossiê e os textos aqui publicados.
Palavras-chave: antropologia; etnografia; trabalho de campo; outro; alteridade.
Through time, anthropological knowledge was built fundamentally based on the idea of alterity: on... more Through time, anthropological knowledge was built fundamentally based on the idea of alterity: on the idea that anthropology is the product of an analysis of an "Other"-distinct, sometimes radically, from the one that produces the ethnographic text. As much as this radical alterity marks the beginning of the discipline, and much has changed since then, the idea of otherness, in which difference prevails, as a basis for anthropological work persists. In more recent times, the greater presence of Black and Indigenous students and scholars in Brazilian universities has been raising new questions for the discipline in general, especially about the so-called "fieldwork". And many of these questions raise problems to the idea that anthropology is built on the encounter with this Other. The present course offers the possibility to think about the questions raised by the anthropological production of Black and Indigenous scholars. These reflections will be crossed throughout the course by questions related to the concept of the Other, on how it reflects modern-western thought more broadly, and how it has been elaborated by anthropology. For this purpose, in addition to a syllabus especially related to questions about fieldwork and ethnographic work, we will promote lectures by anthropologists and other scholars about their research experiences. **This syllabus can be changed throughout the course** **The students must attend at least 75% of the classes** **The course will have a mid-term and a final evaluation** 08.07.2019-Presentation of the Course 08.14.2019-The Construction of the "Other" (1)
Ao longo do tempo, o conhecimento antropológico construiu-se fundamentalmente com base na ideia d... more Ao longo do tempo, o conhecimento antropológico construiu-se fundamentalmente com base na ideia de outrem: na ideia de que a antropologia é o produto de uma análise sobre um "Outro"-diferente, e por vezes de maneira radical, daquele que produz o texto etnográfico. Por mais que essa alteridade radical marque em especial o início da disciplina, e que, obviamente, muito tenha mudado desde então, a ideia de uma relação de outridade, em que prevalece a diferença, como base do fazer antropológico persiste. Em tempos mais recentes, a maior presença de alunos e pesquisadores negros e indígenas nas universidades brasileiras vem colocando novas questões à disciplina de uma maneira geral, especialmente no que diz respeito ao chamado "trabalho de campo". E muitas dessas questões colocam problemas para a ideia de que a antropologia se constrói no encontro com esse Outro. Sendo assim, a presente disciplina propõe-se a pensar nas questões colocadas pela produção antropológica de pesquisadores negros e indígenas. Essas reflexões serão atravessadas ao longo de todo o curso por questões ligadas ao conceito de Outro, em como ele reflete o pensamento moderno-ocidental de uma maneira mais ampla, e como ele foi sendo tecido no interior da antropologia. Para isso, além de nos debruçarmos sobre uma bibliografia relacionada especialmente a questões sobre o trabalho de campo e o fazer etnográfico, contaremos com apresentações de antropólogos e outros pesquisadores sobre suas experiências de pesquisa ao longo da disciplina.
Mediações - Revista de Ciências Sociais
Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disci... more Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disciplina a ideia de que o fazer antropológico se dá no encontro com um “Outro”, muitas vezes distante espacialmente e “culturalmente” daquele que produz o texto etnográfico. Desdobra daí que o trabalho do antropólogo é disparado por um deslocamento físico que o leva da sua “casa” para o “campo”. Este modelo tem sofrido uma desestabilização ainda mais profunda com a maior presença, nos últimos anos, de antropólogos negros e indígenas nos cursos de pós-graduação em antropologia do país. No presente texto, apresentamos um panorama dessas questões, e como elas dialogam com a proposta do dossiê e os textos aqui publicados.
Paper presented on Panel 4 - Amerindian Perspectives on the Environment and the Future of Life: t... more Paper presented on Panel 4 - Amerindian Perspectives on the Environment and the Future of Life: territories, bodies and socialities in Indigenous South and Central America of XIII Biennal Conference of the Society for Anthropology of Lowland South America (SALSA), 2021.
Encruzilhadas Filosóficas, 2020
O capítulo é produto da minha tese de doutorado (NARAHARA, 2018), uma etnografia desenvolvida ent... more O capítulo é produto da minha tese de doutorado (NARAHARA, 2018), uma etnografia desenvolvida entre Mapuche que vivem na Patagônia Argentina. Especificamente neste texto, trago reflexões sobre como desenrolaram meus diálogos com os Mapuche, quase sempre mediados pelas minhas experiências enquanto uma mulher "afrobrasileira" e candomblecista.
Pensando a partir do conceito de Asili, elaborado por Marimba Ani, e em diálogo também com ideias... more Pensando a partir do conceito de Asili, elaborado por Marimba Ani, e em diálogo também com ideias de Ailton Krenak, trato do conceito de "crise ambiental" enquanto estruturante do Ocidente.
Anais Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM), 2019
En el norte de la Patagonia Argentina el pueblo Mapuche convive hace décadas con la producción de... more En el norte de la Patagonia Argentina el pueblo Mapuche convive hace décadas con la producción de hidrocarburos en su territorio. La presencia de petroleras en Puel Mapu – como se refieren a la porción leste del territorio mas amplio que cruza la cordillera de los Andes – establece un grave escenario de contaminación y de problemas de salud (humana). Pero, esta presencia implica no solo una contaminación química del solo, de los ríos y los cuerpos mapuche: también impacta, de alguna manera, la circulación de los newen. Lo que los wigka (como llaman a los no Mapuche usurpadores) están haciendo para sacar gas y petróleo debajo de la tierra esta afectando al ordenamiento de fuerzas del mondo de manera mas amplia. Por eso, las practicas cosmopolíticas mapuche llevan para las arenas de conflictos no solo humanos, pero también fuerzas no humanas, de manera que las proprias ceremonias son parte de esa cosmopolítica. En el presente trabajo voy a explorar la manera con que los Mapuche se relacionan con las fuerzas del territorio, demostrando como esas practicas y posturas son parte de la cosmopolítica.
Artigo de divulgação científica publicado na Revista Coletiva, da Fundação Joaquim Nabuco.
Este artigo enfoca elementos da história de um seringal localizado na beira do rio Iaco, leste do... more Este artigo enfoca elementos da história de um seringal localizado na
beira do rio Iaco, leste do estado do Acre, a partir da narrativa de seus
moradores. Trata-se de um passado construído que aponta para a perda
da centralidade do cortar seringa no cotidiano das colocações, com a saída de cena dos patrões de antigamente e a desestruturação dos seringais empresa. Neste contexto, muitos grupos domésticos abandonaram o seringal, transferindo-se para a rua (áreas urbanas) ou para outras áreas rurais. Entretanto, muitos outros seguiram vivendo lá, indicando que outros fatores, além do econômico, foram levados em consideração.
Palavras-chave: Reserva extrativista, seringal, seringueiros, castanha do
Brasil, Amazônia, Acre, rio Iaco.
Capítulo publicado no livro "Territórios socioambientais em construção na Amazônia brasileira", o... more Capítulo publicado no livro "Territórios socioambientais em construção na Amazônia brasileira", organizado por Neide Esterci, Horácio Sant´ana Jr. e Maria José Teisserenc. O texto aborda o processo de construção de um Plano de Utilização (Acordo de Gestão) em uma Reserva Extrativista do Sul do Amazonas.
No seringal Porongaba, no leste do Acre, os grupos domésticos tem como principal fonte monetária ... more No seringal Porongaba, no leste do Acre, os grupos domésticos tem como principal fonte monetária o quebrar castanha. O escoamento da castanha fica a cargo dos patrões, que, diferente dos patrões de antigamente, não exercem monopólio sobre a compra de produtos extrativistas e venda de mercadorias. O criar gado, além de constituir uma importante forma de patrimônio transmitido entre gerações, possibilita aos grupos domésticos uma certa autonomia econômica e política, estabelecendo também diferenças de status. O presente artigo analisa o quebrar castanha e o criar gado enquanto atividades inseridas num ambiente social próprio da vida nas colocações, permitindo compreender por que se fazem presentes nesse seringal e como se complementam.
Neste capítulo, publicado na primeira coletânea brasileira sobre o fracking, prospectamos cenário... more Neste capítulo, publicado na primeira coletânea brasileira sobre o fracking, prospectamos cenários de impactos socioambientais da exploração de hidrocarbonetos não convencionais no Brasil, baseado em especial na experiência norte-americana.
Em grande parte do sudoeste amazônico, no contexto do descenso econômico da borracha, observou-se... more Em grande parte do sudoeste amazônico, no contexto do descenso econômico da borracha, observou-se um esvaziamento dos seringais, especialmente dos centros, com a migração dos moradores para a margemou para as cidades. Entretanto, no seringal Porongaba no Médio Iaco, leste do Acre, área que faz parte de uma proposta de criação de uma Reserva Extrativista, praticamente todos os grupos domésticos residem no centro. Enfocando a análise dos circuitos de troca (intercâmbio mercantil) e de reciprocidade, relacionadas ao agroextrativismo, entre os grupos domésticos do seringal Porongaba a pesquisa busca
compreender as motivações que levam os moradores a permanecerem no seringal. A vida no centro e na margem são conectadas por diversos planos sociais, assim como a vida no seringal e na rua, demonstrando que existem outras delimitações sociais além daquela que estabelece o Porongaba enquanto propriedade privada. O quebrar castanha é a principal atividade em termos de geração de recursos financeiros, enquanto a criação de gado funciona como importante forma de patrimônio e de herança intergeracional. Inserido numa matriz de bens-significados própria do seringal o criar gado proporciona aos grupos domésticos uma certa autonomia política e econômica. O extrativismo de castanha, de borracha, a agricultura e a criação de animais estabelecem circuitos de troca e de reciprocidade que (re)criam laços entre os grupos domésticos, especialmente o dar – receber – retribuir dádivas. A caça de animais da mata também engendra relações de reciprocidade (vizinhança), atualizando vínculos entre os grupos domésticos. Nesses circuitos, ganham relevo as relações estabelecidas entre grupos domésticos aparentados, especialmente aquelas marcadas pela reciprocidade. Se o parentesco (marcadamente performativo) é, por um lado, a principal base sobre a qual os mecanismos de reciprocidade são estabelecidos, por outro lado, estes mecanismos (re)criam os laços de parentesco, viabilizando a vida entre a margem e o centro.
Os museus não são neutros na sua preservação da história. Na verdade, sem dúvida, eles são locais... more Os museus não são neutros na sua preservação da história. Na verdade, sem dúvida, eles são locais de esquecimento e fantasia. A forma como as exposições são construídas geralmente presume um público branco e privilegia o olhar branco. As paredes brancas significavam as escolhas dos brancos, sua agência, suas coleções museológicas e os esforços dos colonialistas. Para muitas pessoas brancas, as coleções são uma diversão agradável, uma visita nostálgica que evoca uma versão romantizada do Império (Sumaya Kassim).
A un mes del asesinato de Marielle Franco, en Brasil, Karine Narahara describe su sentir ante el ... more A un mes del asesinato de Marielle Franco, en Brasil, Karine Narahara describe su sentir ante el asesinato de otra mujer negra: " Entendí que la dificultad de llorar no era solo mía. Era colectiva. Cargamos un dolor ancestral. La sensación es que si empezamos a llorar estos dolores, no vamos a parar más. No sólo lloramos la pérdida de Marielle. Lloramos los dolores de una violencia racista secular que atraviesa generaciones " , expresa.