Eduardo A A Almeida | Universidade de São Paulo (original) (raw)

Papers by Eduardo A A Almeida

Research paper thumbnail of O caminhar na história da arte rumo a Paulo Nazareth: alguns pontos de parada e observação

Anais do IV Seminário de Estética e Crítica de Arte: políticas da recepção, 2021

O caminhar produz lugares. Então proponho, com este trabalho, um percurso crítico que passa por m... more O caminhar produz lugares. Então proponho, com este trabalho, um percurso crítico que passa por movimentos artísticos modernos e contemporâneos até chegar à empreitada do artista brasileiro Paulo Nazareth, que caminhou daqui aos Estados Unidos sem lavar os pés, acumulando neles a poeira da América Latina para deixá-la no rio Hudson, em Nova York. Retomaremos certa trajetória da arte que, de uma maneira ou de outra, buscou na experiência estética do caminhar um novo olhar para o mundo, no sentido de que caminhar possibilita experimentar, descrever, habitar, modificar e construir simbolicamente os espaços na medida em que se os atravessa. Essa trajetória, conforme o recorte aqui escolhido, se inicia com a pintura ao ar livre dos impressionistas, passa pelas visitas Dadá aos espaços banais da metrópole, pelas deambulações surrealistas em busca da cidade inconsciente, pelas derivas psicogeográficas situacionistas, que tinham o propósito de transformar efetivamente a realidade urbana, e pela transurbância dos stalkers italianos nos arredores vazios de Roma. Tudo para analisar como aquela caminhada de Paulo Nazareth dialoga com essa história da arte, com a história da América e com a sua própria história pessoal, numa proposta poética de revisão da perspectiva colonialista.

Research paper thumbnail of Ficções da história da arte:  hegemonias e devires, memórias e esquecimentos

Jornada de Pesquisa em Arte Unesp PPG IA - 3ª Edição Internacional - Anais 2019, 2019

Inspirado por excertos da exposição A Sociedade Cavalieri, do artista Pierre Lapalu, e em diálogo... more Inspirado por excertos da exposição A Sociedade Cavalieri, do artista Pierre Lapalu, e em diálogo com eles e com demais teóricos, este artigo pretende questionar certas maneiras de ver, pensar e fazer história da arte. Interroga, assim, o processo de legitimação nas narrativas hegemônicas, as noções de documento e arquivo, as inscrições possíveis de rastros e os apagamentos aos quais não se tem acesso (e que possivelmente contariam outras histórias). O artigo também investiga o que pode haver de ficcional nesse processo de produzir histórias da arte e sugere estratégias poéticas para tais narrativas, de modo que elas compartilhem características da própria arte que se deseja registrar.

Research paper thumbnail of I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível / I International Research Seminar: Poetic and Political Experiences of the Sensible

Cadernos de história da ciência Arte e Saúde, 2016

O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível... more O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível (GEPPPS), do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Estética e História da Arte (PGEHA), e um breve relato sobre o I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível, organizado por esse grupo em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, ambos da Universidade de São Paulo, realizado em 31 de agosto de 2015, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Research paper thumbnail of Arte como profanação de ciência - Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão

Congresso Internacional de Estética e História da Arte: Rompendo fronteiras: arte, sociedade, ciência e natureza, 2018

Que pressupostos científicos são colocados abaixo quando a imagem de uma antiga cartografia é apr... more Que pressupostos científicos são colocados abaixo quando a imagem de uma antiga cartografia é apropriada por Adriana Varejão, transfigurada e reapresentada como pintura? Toda uma movimentação estético-política decorre desse procedimento, que chamamos de “profanatório” para aludir ao conceito filosófico de Giorgio Agamben, o qual nos ajuda a analisar o gesto criativo da artista, certos instrumentos da arte e da ciência e a maneira como se estruturam imaginários de mundo no contemporâneo.

Palavras-chave: Teoria e crítica de arte. Estética e política. Arte contemporânea. História da arte. Adriana Varejão.

Research paper thumbnail of Inquietudes do contemporâneo: experimentações poéticas e políticas do sensível

Congresso Internacional de Estética e História da Arte: Rompendo fronteiras: arte, sociedade, ciência e natureza, 2018

As questões que emergem nos tempos atuais, com suas complexidades e contradições em relação à nor... more As questões que emergem nos tempos atuais, com suas complexidades e contradições em relação à normatização dos modos de vida, à supressão da diferença, ao achatamento da crítica e do pensamento produzem inquietudes e requerem, cada vez mais, pesquisas produzidas numa transdisciplinaridade que dissolva fronteiras entre campos de conhecimento. Apresentamos o Grupo de Experimentações e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível, que tem procurado desenvolver metodologias e frentes de trabalho para responder aos tensionamentos entre arte, sociedade, política e produção de subjetividade na atualidade.

Palavras-chave: Estética e política. Contemporâneo. Teoria e crítica de arte. Coletivos. Transdisciplinaridade.

Research paper thumbnail of Relato de Encontro - I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível

O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível ... more O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível (GEPPPS), do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Estética e História da Arte (PGEHA), e um breve relato sobre o I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível, organizado por esse grupo em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, ambos da Universidade de São Paulo, realizado em 31 de agosto de 2015, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Research paper thumbnail of Humanidade ficcionada, humanidade profanada: Ron Mueck e Patricia Piccinini em São Paulo

Este artigo analisa algumas questões levantadas pelas exposições de Ron Mueck e Patricia Piccinin... more Este artigo analisa algumas questões levantadas pelas exposições de Ron Mueck e Patricia Piccinini realizadas na cidade de São Paulo entre 2014 e 2016, que apresentam características em comum. Foram recortados trabalhos que evidenciam a maneira como ambos os artistas ficcionam a realidade humana com objetivo de problematizar seus valores culturais, desde pressupostos cotidianos à ética nas biociências. A partir desse recorte é possível traçar linhas gerais sobre as exposições e sobre o objeto de pesquisa de cada artista, com destaque para o imaginário sobre o corpo. A análise se faz por meio de uma interlocução com teóricos e críticos contemporâneos, em especial com o conceito de profanação, segundo Giorgio Agamben, e o de real ficcionado, conforme Jacques Rancière.

PALAVRAS-CHAVE
Arte contemporânea. Ficção, real e realidade. Humanidade. Teoria e crítica de arte. Estética e política.

Research paper thumbnail of Silêncios na História (da Arte): as pistas do Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão

As histórias da humanidade se constituem daquilo que resta dos apagamentos, esquecimentos e silen... more As histórias da humanidade se constituem daquilo que resta dos apagamentos, esquecimentos e silenciamentos do vivido. Mas pode a arte visual colocar em xeque as narrativas hegemônicas da humanidade e insurgir com versões, personagens e perspectivas outras? Romper com certa ordenação do passado e do presente, sugerir desvios e linhas de fuga, abrir fissuras na solidez dos fatos? Ajudaria a pensar o que há de ficcional na História? Daria a ver apagamentos que produzem regimes estético-políticos? Minha hipótese é que sim: alguns trabalhos de arte podem provocar as certezas, abalar as estruturas, ouvir os silêncios. Ela se fundamenta na obra de Adriana Varejão, em especial no seu Mapa de Lopo Homem II, onde aquelas questões emergem como pistas a serem perseguidas. É o caminho investigativo que proponho aqui: descobrir aonde o mapa nos leva com sua violentada imagem de mundo, suas ordens e subversões.

Palavras-chave: História da Arte; Teoria e Crítica de Arte; Arte Contemporânea; Estética e Política; Pintura.

Research paper thumbnail of Paisagens de memória - entre visíveis e invisíveis, visibilidades e invisibilidades

Este artigo pretende discutir visibilidades e invisibilidades de imagens artísticas contemporânea... more Este artigo pretende discutir visibilidades e invisibilidades de imagens artísticas contemporâneas por meio da análise crítica do processo criativo de Felipe Góes, que pinta paisagens a partir de referenciais da sua memória e não busca necessariamente representar lugares específicos da realidade. Entre as principais questões que mobilizam esta investigação, citamos: o que ocorre, no sentido de reprodução de realidade, quando a referência da pintura não é mais a paisagem posta diante do artista, mas um registro subjetivo que habita a sua memória? Qual é a natureza dessa realidade que o artista se põe a retratar? O que as suas imagens dão a ver e o que permanece oculto? Que regimes de visibilidade e/ou invisibilidade são operados no processo? O que resta à inoperância? Qual é a relação com o real, tal como alguns pensadores contemporâneos o têm definido? De que maneira o visível se embate com o legível no processo de construção da história da arte? Esta análise se faz em diálogo com o artista, num passeio por suas paisagens pictóricas. Ela é acompanhada de breves incursões críticas que apontam caminhos investigativos, conforme sugerido por autores que compartilham inquietações semelhantes, em especial George Didi-Huberman, Giorgio Agamben e Hal Foster.

Palavras-chave: 1) Fundamentos e crítica da arte; 2) Criação artística; 3) Memória; 4) Imagem, visibilidade e invisibilidade; 5) Pintura contemporânea.

Research paper thumbnail of A seção de Criação na revista Interface: vinte anos de experimentação

Para celebrar os vinte anos da revista Interface, a equipe de Criação mergulhou no conjunto de ma... more Para celebrar os vinte anos da revista Interface, a equipe de Criação mergulhou no conjunto de materiais que foram publicados na seção de Criação desde o primeiro número da revista. O resultado é esta bricolagem de imagens, palavras e reflexões, que constituem recortes da multiplicidade de vozes que contam essa história. São tentativas de pensar a seção de Criação ontem e hoje, além de outros possíveis caminhos para a sua constante – e necessária – reinvenção.

Palavras-chave: Criação. Linguagens. Pesquisa em saúde. Interdisciplinaridade. Grupo de editoração.

Research paper thumbnail of Estruturação do Self de Lygia Clark: uma terapia poética na ditadura militar brasileira

Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação ... more Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação da arte. Ela vai a Paris em fins da década de 1960 e desenvolve diversas proposições sensoriais que tocam o corpo, acessam memórias afetivas e provocam reações fisiopsíquicas de diversas ordens. Quando retorna ao Brasil, em meados da década seguinte, promove a transformação mais radical da sua obra: reúne seus experimentos sensoriais numa sistematização de método terapêutico, criando um território ambíguo entre arte e clínica. Este artigo procura investigar as afinidades desse seu empenho derradeiro com o contexto político do país, violentado pela ditadura militar.

Research paper thumbnail of Entre a figura e o abstrato: instâncias do pensamento

Por meio de texto e pintura, este artigo visa discutir a possibilidade de habitar certo intervalo... more Por meio de texto e pintura, este artigo visa discutir a possibilidade de habitar certo intervalo entre polos extremistas, e, a partir da estética, rever paradigmas dos pensamentos moderno e contemporâneo.

Research paper thumbnail of Sensibilização do público na Estruturação do Self de Lygia Clark

As proposições sensoriais de Lygia Clark deslocaram o objeto da sua arte para a reativação do cor... more As proposições sensoriais de Lygia Clark deslocaram o objeto da sua arte para a reativação do corpo como meio de apropriação perceptiva do mundo. O público passou a ser coautor da experiência artística, poética ou "sensível", participando ativamente do processo de criação da obra. Nos últimos dez anos de sua trajetória, Lygia aprofundou essa linha de trabalho com a Estruturação do Self, que teve na estimulação sensória dos corpos seu viés principal. Por meio da incorporação de objetos e processos criativos, assumiu uma posição política questionadora, além de buscar na sensorialidade um meio de tornar possíveis modos de existência diversos. Este artigo discute as ressonâncias do seu percurso na relação com o público e na história da arte. Aponta as interlocuções que sustentaram sua pesquisa, apresenta mobilizações no âmbito social e na aproximação da arte com processos de vida.

Palavras-chave: 1. Experiência estética; 2. Arte contemporânea; 3. Lygia Clark; 4. Arte e clínica; 5. Estruturação do Self.

Lygia Clark's sensitive propositions changed the focus of her art to the reactivation of the body as a perceptive apprehension of the world. The audience became co-author of her artistic, poetic or "sensitive" experience, participating of the creative process. In the last ten years of her life, Lygia went deeper in this work named Structuring of the Self, which was dedicated to a sensitive stimulation of the body. By incorporating objects and creative processes, Lygia's proposal take up a questioning political position, besides a tentative of make existences possible through sensorial experiences. This article discusses this proposal in relation with the ideia of audience and the history of art. It points out dialogues that supported her research, presents consequences in society and in the approach of art and processes of life.

Keywords: 1. Aesthetic experience; 2. Contemporary art; 3. Lygia Clark; 4. Art and clinic; 5. Structuring of the Self.

Research paper thumbnail of Aspectos da Estruturação do Self de Lygia Clark: Perspectivas Críticas

Esta pesquisa se dedica a questões conceituais da arte contemporânea implicadas na proposição in... more Esta pesquisa se dedica a questões conceituais da arte contemporânea implicadas na proposição intitulada Estruturação do Self, desenvolvida pela artista brasileira Lygia Clark entre 1978 e 1988, que se coloca num limite ambíguo entre a arte e a terapia. Por meio de perspectivas críticas é possível analisar determinados aspectos daquela experiência, seus desdobramentos, territórios e paradigmas, de modo a compreender melhor suas contribuições ao pensamento artístico contemporâneo. Esses aspectos dizem respeito à recepção estética da obra e sua relação com determinados públicos da arte; às maneiras de pensar e fazer arte; ao seu tempo; às possíveis aproximações com outros campos de conhecimento, tais como filosofia e psicologia; aos lugares em que a arte se apresenta (museu, galeria, ateliê, clínica); às questões éticas e políticas que movimenta; à produção crítica. Em suma, trata-se de perceber o que há de contemporâneo no trabalho de Lygia Clark e de revisitar o próprio pensamento artístico a partir dele.

Palavras-chave: Arte contemporânea brasileira; Teoria e crítica; Lygia Clark; Estruturação do Self.

Conference Presentations by Eduardo A A Almeida

Research paper thumbnail of Estruturação do self de Lygia Clark: uma terapia poética na ditadura militar brasileira

Anais do XXXVI Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte: Arte em Ação, Campinas-SP, 4-6 de outubro de 2016, 2017

Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação ... more Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação da arte. Ela vai a Paris em fins da década de 1960 e desenvolve diversas proposições sensoriais que tocam o corpo, acessam memórias afetivas e provocam reações fisiopsíquicas de diversas ordens. Quando retorna ao Brasil, em meados da década seguinte, promove a transformação mais radical da sua obra: reúne seus experimentos sensoriais numa sistematização de método terapêutico, criando um território ambíguo entre arte e clínica. Este artigo procura investigar as afinidades desse seu empenho derradeiro com o contexto político do país, violentado pela ditadura militar.

After neoconcrete phase, Lygia Clark starts working in people's participation during the act of creating art. She goes to Paris in the late 1960s and develops sensorial propositions that touch the body, access emotional memories and provoke various psychophysical reactions. When she returns to Brazil in the middle of the next decade, she promotes the most radical transformation of her work: Clark redrafts their sensorial experiments into a therapeutic method, creating an ambiguous territory between art and clinical practice. This article investigates the affinities between her last work and the sorrow of the military dictatorship.

Research paper thumbnail of Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão: feridas abertas na história (da arte) (PÔSTER)

Lopo Homem, navegador e cartógrafo português, produz uma das primeiras imagens do novo mundo em 1... more Lopo Homem, navegador e cartógrafo português, produz uma das primeiras imagens do novo mundo em 1519. Seu mapa mostra a África no centro e a Europa fora do eixo convencional, ambas rodeadas por um gigantesco continente, como se América, Antártida, Oceania e Ásia fossem uma só terra. Trata-se de uma tentativa inicial de localizar as regiões recém-descobertas, com a função política de organizar os interesses de expansão do reino de Portugal, e hoje sugere certo imaginário da época, num misto de ciência e misticismo.

Em seu Mapa de Lopo Homem II (2004), Adriana Varejão recupera aquela antiga cartografia e interfere na imagem, abrindo feridas e expondo a sua carne, num exercício que poderíamos chamar de profanador, se tomarmos emprestada a filosofia de Giorgio Agamben – a quem a profanação, para além do sentido religioso, implica restituir ao uso comum e rever significados intocáveis. Ao profanar o mapa, a artista põe em questão valores e crenças que formaram o imaginário brasileiro, assim como o próprio sentido de construção da história por meio das imagens. Com a materialidade da arte, ela acessa a imaterialidade da cultura e do real.

O organismo do mapa está exposto, mal suturado, como se uma ferida da época colonial se recusasse a fechar. Num sentido muito similar ao que Hal Foster associa à arte da apropriação, a qual revela ilusões implicadas nas imagens e pede ao observador que olhe criticamente através da superfície. Não para encontrar “a verdade” detrás, mas para perceber quais dispositivos sustentam a sua aparência, o seu semblante, a sua realidade.

Ao analisar criticamente o mapa é possível perguntar: quais são as feridas que permanecem abertas no novo mundo? De que maneira o processo de colonização ainda ameaça a sobrevivência do nosso organismo social? Que cicatrizes restaram como herança e não podem ser esquecidas? Qual é o comprometimento da cartografia com a realidade que representa? Que imaginário esses mapas consolidam, com suas formas de entender e classificar o mundo? Se os mapas funcionam como tecnologias de poder, quais territórios permanecem soterrados numa dada história (da arte)? De que maneira o procedimento de apropriação possibilita desconstruir ilusões e experimentar outras leituras da história?

Thesis Chapters by Eduardo A A Almeida

Research paper thumbnail of Profanação de uma imagem do mundo: Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão

Esta tese defende que a arte pode profanar o real ao produzir suas realidades poéticas. Ou seja: ... more Esta tese defende que a arte pode profanar o real ao produzir suas realidades poéticas. Ou seja: a criação artística detém a potência de destituir regimes de visibilidade, dizibilidade e pensabilidade, dando a eles novos usos e os devolvendo ao domínio dos homens. A principal questão é saber como isso ocorre. Quer dizer: quais são essas operações da arte capazes de desativar mecanismos de subjetivação ao mesmo tempo em que produzem outros? Como isso se realiza e que saberes pode-se recolher daí? Toda esta investigação parte da pintura Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão. Seguimos suas pistas na companhia de pensadores da arte, da ciência e da filosofia, com destaque para Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben, Jacques Lacan, Jacques Rancière, Jean Baudrillard e Hal Foster, de maneira a produzir uma teoria crítica que colabore com a interpretação da arte hoje, num viés estético e político. Se parece lugarcomum dizer que a arte produz transformações culturais, o ponto desta tese é ligeiramente diferente: saber como a experiência estética pode transgredir a simbolização, fazendo irromper significados que desconstruam estruturas culturais, atentando contra a idealização da realidade em seus valores morais, econômicos, sociais, intelectuais etc. Interessa a nós o aspecto inesperado da realização artística, seu teor de insurgência, seu flerte com o esquizo. Enfim, queremos olhar para o que pode haver de destrutivo, paradoxal ou desestruturante na elaboração poética promovida pela arte visual e que resistências se levantam contra o processo. Para isso, nos inspiramos no conceito de Real lacaniano. E dizemos que a conformação artística é o mapa que se traça sobre o território numa profanação do real: sistematização ficcional e ilusória, síntese posta como realidade, representação interpretativa necessariamente parcial, insuficiente, faltosa. Que não consegue ser viva como a experiência, mas a revive, recria, interpreta, representa e reapresenta, toma-a para si e formaliza, desenha contornos, acumula camadas, esquematiza estrategicamente conforme seus próprios jogos de poder.

Adriana Varejão
Arte contemporânea
Estética
História da arte
Pintura
Teoria e crítica de arte

Research paper thumbnail of O caminhar na história da arte rumo a Paulo Nazareth: alguns pontos de parada e observação

Anais do IV Seminário de Estética e Crítica de Arte: políticas da recepção, 2021

O caminhar produz lugares. Então proponho, com este trabalho, um percurso crítico que passa por m... more O caminhar produz lugares. Então proponho, com este trabalho, um percurso crítico que passa por movimentos artísticos modernos e contemporâneos até chegar à empreitada do artista brasileiro Paulo Nazareth, que caminhou daqui aos Estados Unidos sem lavar os pés, acumulando neles a poeira da América Latina para deixá-la no rio Hudson, em Nova York. Retomaremos certa trajetória da arte que, de uma maneira ou de outra, buscou na experiência estética do caminhar um novo olhar para o mundo, no sentido de que caminhar possibilita experimentar, descrever, habitar, modificar e construir simbolicamente os espaços na medida em que se os atravessa. Essa trajetória, conforme o recorte aqui escolhido, se inicia com a pintura ao ar livre dos impressionistas, passa pelas visitas Dadá aos espaços banais da metrópole, pelas deambulações surrealistas em busca da cidade inconsciente, pelas derivas psicogeográficas situacionistas, que tinham o propósito de transformar efetivamente a realidade urbana, e pela transurbância dos stalkers italianos nos arredores vazios de Roma. Tudo para analisar como aquela caminhada de Paulo Nazareth dialoga com essa história da arte, com a história da América e com a sua própria história pessoal, numa proposta poética de revisão da perspectiva colonialista.

Research paper thumbnail of Ficções da história da arte:  hegemonias e devires, memórias e esquecimentos

Jornada de Pesquisa em Arte Unesp PPG IA - 3ª Edição Internacional - Anais 2019, 2019

Inspirado por excertos da exposição A Sociedade Cavalieri, do artista Pierre Lapalu, e em diálogo... more Inspirado por excertos da exposição A Sociedade Cavalieri, do artista Pierre Lapalu, e em diálogo com eles e com demais teóricos, este artigo pretende questionar certas maneiras de ver, pensar e fazer história da arte. Interroga, assim, o processo de legitimação nas narrativas hegemônicas, as noções de documento e arquivo, as inscrições possíveis de rastros e os apagamentos aos quais não se tem acesso (e que possivelmente contariam outras histórias). O artigo também investiga o que pode haver de ficcional nesse processo de produzir histórias da arte e sugere estratégias poéticas para tais narrativas, de modo que elas compartilhem características da própria arte que se deseja registrar.

Research paper thumbnail of I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível / I International Research Seminar: Poetic and Political Experiences of the Sensible

Cadernos de história da ciência Arte e Saúde, 2016

O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível... more O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível (GEPPPS), do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Estética e História da Arte (PGEHA), e um breve relato sobre o I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível, organizado por esse grupo em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, ambos da Universidade de São Paulo, realizado em 31 de agosto de 2015, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Research paper thumbnail of Arte como profanação de ciência - Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão

Congresso Internacional de Estética e História da Arte: Rompendo fronteiras: arte, sociedade, ciência e natureza, 2018

Que pressupostos científicos são colocados abaixo quando a imagem de uma antiga cartografia é apr... more Que pressupostos científicos são colocados abaixo quando a imagem de uma antiga cartografia é apropriada por Adriana Varejão, transfigurada e reapresentada como pintura? Toda uma movimentação estético-política decorre desse procedimento, que chamamos de “profanatório” para aludir ao conceito filosófico de Giorgio Agamben, o qual nos ajuda a analisar o gesto criativo da artista, certos instrumentos da arte e da ciência e a maneira como se estruturam imaginários de mundo no contemporâneo.

Palavras-chave: Teoria e crítica de arte. Estética e política. Arte contemporânea. História da arte. Adriana Varejão.

Research paper thumbnail of Inquietudes do contemporâneo: experimentações poéticas e políticas do sensível

Congresso Internacional de Estética e História da Arte: Rompendo fronteiras: arte, sociedade, ciência e natureza, 2018

As questões que emergem nos tempos atuais, com suas complexidades e contradições em relação à nor... more As questões que emergem nos tempos atuais, com suas complexidades e contradições em relação à normatização dos modos de vida, à supressão da diferença, ao achatamento da crítica e do pensamento produzem inquietudes e requerem, cada vez mais, pesquisas produzidas numa transdisciplinaridade que dissolva fronteiras entre campos de conhecimento. Apresentamos o Grupo de Experimentações e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível, que tem procurado desenvolver metodologias e frentes de trabalho para responder aos tensionamentos entre arte, sociedade, política e produção de subjetividade na atualidade.

Palavras-chave: Estética e política. Contemporâneo. Teoria e crítica de arte. Coletivos. Transdisciplinaridade.

Research paper thumbnail of Relato de Encontro - I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível

O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível ... more O texto que se segue apresenta o Grupo de Estudo e Pesquisa das Poéticas e Políticas do Sensível (GEPPPS), do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Estética e História da Arte (PGEHA), e um breve relato sobre o I Seminário Internacional de Pesquisa: Experiências Poéticas e Políticas do Sensível, organizado por esse grupo em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, ambos da Universidade de São Paulo, realizado em 31 de agosto de 2015, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Research paper thumbnail of Humanidade ficcionada, humanidade profanada: Ron Mueck e Patricia Piccinini em São Paulo

Este artigo analisa algumas questões levantadas pelas exposições de Ron Mueck e Patricia Piccinin... more Este artigo analisa algumas questões levantadas pelas exposições de Ron Mueck e Patricia Piccinini realizadas na cidade de São Paulo entre 2014 e 2016, que apresentam características em comum. Foram recortados trabalhos que evidenciam a maneira como ambos os artistas ficcionam a realidade humana com objetivo de problematizar seus valores culturais, desde pressupostos cotidianos à ética nas biociências. A partir desse recorte é possível traçar linhas gerais sobre as exposições e sobre o objeto de pesquisa de cada artista, com destaque para o imaginário sobre o corpo. A análise se faz por meio de uma interlocução com teóricos e críticos contemporâneos, em especial com o conceito de profanação, segundo Giorgio Agamben, e o de real ficcionado, conforme Jacques Rancière.

PALAVRAS-CHAVE
Arte contemporânea. Ficção, real e realidade. Humanidade. Teoria e crítica de arte. Estética e política.

Research paper thumbnail of Silêncios na História (da Arte): as pistas do Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão

As histórias da humanidade se constituem daquilo que resta dos apagamentos, esquecimentos e silen... more As histórias da humanidade se constituem daquilo que resta dos apagamentos, esquecimentos e silenciamentos do vivido. Mas pode a arte visual colocar em xeque as narrativas hegemônicas da humanidade e insurgir com versões, personagens e perspectivas outras? Romper com certa ordenação do passado e do presente, sugerir desvios e linhas de fuga, abrir fissuras na solidez dos fatos? Ajudaria a pensar o que há de ficcional na História? Daria a ver apagamentos que produzem regimes estético-políticos? Minha hipótese é que sim: alguns trabalhos de arte podem provocar as certezas, abalar as estruturas, ouvir os silêncios. Ela se fundamenta na obra de Adriana Varejão, em especial no seu Mapa de Lopo Homem II, onde aquelas questões emergem como pistas a serem perseguidas. É o caminho investigativo que proponho aqui: descobrir aonde o mapa nos leva com sua violentada imagem de mundo, suas ordens e subversões.

Palavras-chave: História da Arte; Teoria e Crítica de Arte; Arte Contemporânea; Estética e Política; Pintura.

Research paper thumbnail of Paisagens de memória - entre visíveis e invisíveis, visibilidades e invisibilidades

Este artigo pretende discutir visibilidades e invisibilidades de imagens artísticas contemporânea... more Este artigo pretende discutir visibilidades e invisibilidades de imagens artísticas contemporâneas por meio da análise crítica do processo criativo de Felipe Góes, que pinta paisagens a partir de referenciais da sua memória e não busca necessariamente representar lugares específicos da realidade. Entre as principais questões que mobilizam esta investigação, citamos: o que ocorre, no sentido de reprodução de realidade, quando a referência da pintura não é mais a paisagem posta diante do artista, mas um registro subjetivo que habita a sua memória? Qual é a natureza dessa realidade que o artista se põe a retratar? O que as suas imagens dão a ver e o que permanece oculto? Que regimes de visibilidade e/ou invisibilidade são operados no processo? O que resta à inoperância? Qual é a relação com o real, tal como alguns pensadores contemporâneos o têm definido? De que maneira o visível se embate com o legível no processo de construção da história da arte? Esta análise se faz em diálogo com o artista, num passeio por suas paisagens pictóricas. Ela é acompanhada de breves incursões críticas que apontam caminhos investigativos, conforme sugerido por autores que compartilham inquietações semelhantes, em especial George Didi-Huberman, Giorgio Agamben e Hal Foster.

Palavras-chave: 1) Fundamentos e crítica da arte; 2) Criação artística; 3) Memória; 4) Imagem, visibilidade e invisibilidade; 5) Pintura contemporânea.

Research paper thumbnail of A seção de Criação na revista Interface: vinte anos de experimentação

Para celebrar os vinte anos da revista Interface, a equipe de Criação mergulhou no conjunto de ma... more Para celebrar os vinte anos da revista Interface, a equipe de Criação mergulhou no conjunto de materiais que foram publicados na seção de Criação desde o primeiro número da revista. O resultado é esta bricolagem de imagens, palavras e reflexões, que constituem recortes da multiplicidade de vozes que contam essa história. São tentativas de pensar a seção de Criação ontem e hoje, além de outros possíveis caminhos para a sua constante – e necessária – reinvenção.

Palavras-chave: Criação. Linguagens. Pesquisa em saúde. Interdisciplinaridade. Grupo de editoração.

Research paper thumbnail of Estruturação do Self de Lygia Clark: uma terapia poética na ditadura militar brasileira

Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação ... more Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação da arte. Ela vai a Paris em fins da década de 1960 e desenvolve diversas proposições sensoriais que tocam o corpo, acessam memórias afetivas e provocam reações fisiopsíquicas de diversas ordens. Quando retorna ao Brasil, em meados da década seguinte, promove a transformação mais radical da sua obra: reúne seus experimentos sensoriais numa sistematização de método terapêutico, criando um território ambíguo entre arte e clínica. Este artigo procura investigar as afinidades desse seu empenho derradeiro com o contexto político do país, violentado pela ditadura militar.

Research paper thumbnail of Entre a figura e o abstrato: instâncias do pensamento

Por meio de texto e pintura, este artigo visa discutir a possibilidade de habitar certo intervalo... more Por meio de texto e pintura, este artigo visa discutir a possibilidade de habitar certo intervalo entre polos extremistas, e, a partir da estética, rever paradigmas dos pensamentos moderno e contemporâneo.

Research paper thumbnail of Sensibilização do público na Estruturação do Self de Lygia Clark

As proposições sensoriais de Lygia Clark deslocaram o objeto da sua arte para a reativação do cor... more As proposições sensoriais de Lygia Clark deslocaram o objeto da sua arte para a reativação do corpo como meio de apropriação perceptiva do mundo. O público passou a ser coautor da experiência artística, poética ou "sensível", participando ativamente do processo de criação da obra. Nos últimos dez anos de sua trajetória, Lygia aprofundou essa linha de trabalho com a Estruturação do Self, que teve na estimulação sensória dos corpos seu viés principal. Por meio da incorporação de objetos e processos criativos, assumiu uma posição política questionadora, além de buscar na sensorialidade um meio de tornar possíveis modos de existência diversos. Este artigo discute as ressonâncias do seu percurso na relação com o público e na história da arte. Aponta as interlocuções que sustentaram sua pesquisa, apresenta mobilizações no âmbito social e na aproximação da arte com processos de vida.

Palavras-chave: 1. Experiência estética; 2. Arte contemporânea; 3. Lygia Clark; 4. Arte e clínica; 5. Estruturação do Self.

Lygia Clark's sensitive propositions changed the focus of her art to the reactivation of the body as a perceptive apprehension of the world. The audience became co-author of her artistic, poetic or "sensitive" experience, participating of the creative process. In the last ten years of her life, Lygia went deeper in this work named Structuring of the Self, which was dedicated to a sensitive stimulation of the body. By incorporating objects and creative processes, Lygia's proposal take up a questioning political position, besides a tentative of make existences possible through sensorial experiences. This article discusses this proposal in relation with the ideia of audience and the history of art. It points out dialogues that supported her research, presents consequences in society and in the approach of art and processes of life.

Keywords: 1. Aesthetic experience; 2. Contemporary art; 3. Lygia Clark; 4. Art and clinic; 5. Structuring of the Self.

Research paper thumbnail of Aspectos da Estruturação do Self de Lygia Clark: Perspectivas Críticas

Esta pesquisa se dedica a questões conceituais da arte contemporânea implicadas na proposição in... more Esta pesquisa se dedica a questões conceituais da arte contemporânea implicadas na proposição intitulada Estruturação do Self, desenvolvida pela artista brasileira Lygia Clark entre 1978 e 1988, que se coloca num limite ambíguo entre a arte e a terapia. Por meio de perspectivas críticas é possível analisar determinados aspectos daquela experiência, seus desdobramentos, territórios e paradigmas, de modo a compreender melhor suas contribuições ao pensamento artístico contemporâneo. Esses aspectos dizem respeito à recepção estética da obra e sua relação com determinados públicos da arte; às maneiras de pensar e fazer arte; ao seu tempo; às possíveis aproximações com outros campos de conhecimento, tais como filosofia e psicologia; aos lugares em que a arte se apresenta (museu, galeria, ateliê, clínica); às questões éticas e políticas que movimenta; à produção crítica. Em suma, trata-se de perceber o que há de contemporâneo no trabalho de Lygia Clark e de revisitar o próprio pensamento artístico a partir dele.

Palavras-chave: Arte contemporânea brasileira; Teoria e crítica; Lygia Clark; Estruturação do Self.

Research paper thumbnail of Estruturação do self de Lygia Clark: uma terapia poética na ditadura militar brasileira

Anais do XXXVI Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte: Arte em Ação, Campinas-SP, 4-6 de outubro de 2016, 2017

Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação ... more Após a fase neoconcreta, Lygia Clark se interessa pela participação do público no ato de criação da arte. Ela vai a Paris em fins da década de 1960 e desenvolve diversas proposições sensoriais que tocam o corpo, acessam memórias afetivas e provocam reações fisiopsíquicas de diversas ordens. Quando retorna ao Brasil, em meados da década seguinte, promove a transformação mais radical da sua obra: reúne seus experimentos sensoriais numa sistematização de método terapêutico, criando um território ambíguo entre arte e clínica. Este artigo procura investigar as afinidades desse seu empenho derradeiro com o contexto político do país, violentado pela ditadura militar.

After neoconcrete phase, Lygia Clark starts working in people's participation during the act of creating art. She goes to Paris in the late 1960s and develops sensorial propositions that touch the body, access emotional memories and provoke various psychophysical reactions. When she returns to Brazil in the middle of the next decade, she promotes the most radical transformation of her work: Clark redrafts their sensorial experiments into a therapeutic method, creating an ambiguous territory between art and clinical practice. This article investigates the affinities between her last work and the sorrow of the military dictatorship.

Research paper thumbnail of Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão: feridas abertas na história (da arte) (PÔSTER)

Lopo Homem, navegador e cartógrafo português, produz uma das primeiras imagens do novo mundo em 1... more Lopo Homem, navegador e cartógrafo português, produz uma das primeiras imagens do novo mundo em 1519. Seu mapa mostra a África no centro e a Europa fora do eixo convencional, ambas rodeadas por um gigantesco continente, como se América, Antártida, Oceania e Ásia fossem uma só terra. Trata-se de uma tentativa inicial de localizar as regiões recém-descobertas, com a função política de organizar os interesses de expansão do reino de Portugal, e hoje sugere certo imaginário da época, num misto de ciência e misticismo.

Em seu Mapa de Lopo Homem II (2004), Adriana Varejão recupera aquela antiga cartografia e interfere na imagem, abrindo feridas e expondo a sua carne, num exercício que poderíamos chamar de profanador, se tomarmos emprestada a filosofia de Giorgio Agamben – a quem a profanação, para além do sentido religioso, implica restituir ao uso comum e rever significados intocáveis. Ao profanar o mapa, a artista põe em questão valores e crenças que formaram o imaginário brasileiro, assim como o próprio sentido de construção da história por meio das imagens. Com a materialidade da arte, ela acessa a imaterialidade da cultura e do real.

O organismo do mapa está exposto, mal suturado, como se uma ferida da época colonial se recusasse a fechar. Num sentido muito similar ao que Hal Foster associa à arte da apropriação, a qual revela ilusões implicadas nas imagens e pede ao observador que olhe criticamente através da superfície. Não para encontrar “a verdade” detrás, mas para perceber quais dispositivos sustentam a sua aparência, o seu semblante, a sua realidade.

Ao analisar criticamente o mapa é possível perguntar: quais são as feridas que permanecem abertas no novo mundo? De que maneira o processo de colonização ainda ameaça a sobrevivência do nosso organismo social? Que cicatrizes restaram como herança e não podem ser esquecidas? Qual é o comprometimento da cartografia com a realidade que representa? Que imaginário esses mapas consolidam, com suas formas de entender e classificar o mundo? Se os mapas funcionam como tecnologias de poder, quais territórios permanecem soterrados numa dada história (da arte)? De que maneira o procedimento de apropriação possibilita desconstruir ilusões e experimentar outras leituras da história?

Research paper thumbnail of Profanação de uma imagem do mundo: Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão

Esta tese defende que a arte pode profanar o real ao produzir suas realidades poéticas. Ou seja: ... more Esta tese defende que a arte pode profanar o real ao produzir suas realidades poéticas. Ou seja: a criação artística detém a potência de destituir regimes de visibilidade, dizibilidade e pensabilidade, dando a eles novos usos e os devolvendo ao domínio dos homens. A principal questão é saber como isso ocorre. Quer dizer: quais são essas operações da arte capazes de desativar mecanismos de subjetivação ao mesmo tempo em que produzem outros? Como isso se realiza e que saberes pode-se recolher daí? Toda esta investigação parte da pintura Mapa de Lopo Homem II, de Adriana Varejão. Seguimos suas pistas na companhia de pensadores da arte, da ciência e da filosofia, com destaque para Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben, Jacques Lacan, Jacques Rancière, Jean Baudrillard e Hal Foster, de maneira a produzir uma teoria crítica que colabore com a interpretação da arte hoje, num viés estético e político. Se parece lugarcomum dizer que a arte produz transformações culturais, o ponto desta tese é ligeiramente diferente: saber como a experiência estética pode transgredir a simbolização, fazendo irromper significados que desconstruam estruturas culturais, atentando contra a idealização da realidade em seus valores morais, econômicos, sociais, intelectuais etc. Interessa a nós o aspecto inesperado da realização artística, seu teor de insurgência, seu flerte com o esquizo. Enfim, queremos olhar para o que pode haver de destrutivo, paradoxal ou desestruturante na elaboração poética promovida pela arte visual e que resistências se levantam contra o processo. Para isso, nos inspiramos no conceito de Real lacaniano. E dizemos que a conformação artística é o mapa que se traça sobre o território numa profanação do real: sistematização ficcional e ilusória, síntese posta como realidade, representação interpretativa necessariamente parcial, insuficiente, faltosa. Que não consegue ser viva como a experiência, mas a revive, recria, interpreta, representa e reapresenta, toma-a para si e formaliza, desenha contornos, acumula camadas, esquematiza estrategicamente conforme seus próprios jogos de poder.

Adriana Varejão
Arte contemporânea
Estética
História da arte
Pintura
Teoria e crítica de arte