Gabriel M Poli de Figueiredo | Universidade de São Paulo (original) (raw)
Uploads
Papers by Gabriel M Poli de Figueiredo
A Reinvenção das Cidades. Revista Política Democrática, Ano XX, edição 55, 2020
Atas do 3º Colóquio Internacional ICHT, 16 a 18 de abril, 2019, 2019
As cidades brasileiras e latino-americanas enfrentam graves questões sociais e urbanas: favelizaç... more As cidades brasileiras e latino-americanas enfrentam graves questões sociais e urbanas: favelização sistêmica, segregação territorial, desigualdade, pobreza, (i)mobilidade, violência urbana, etc. Em um contexto como esse, modelos urbanos como a Smart City acabam produzindo especulações de cenários urbanos futuros que pouco reconhecem ou pretendem abordar das questões urbanas e sociais anteriormente mencionadas. Essa pouca aderência de modelos urbanos ditos tecnológicos às questões sociais e urbanas tem suas raízes para além de discursos ou paradigmas específicos: parece se tratar de um problema mais profundo, pertencente ao âmbito da própria imaginação de cenários urbanos futuros. O presente trabalho busca, a partir da pesquisa de mestrado do autor e das reflexões proporcionadas pelos encontros do grupo de estudos em Cenários Urbanos Futuros da FAU-USP, questionar como se dá a imaginação contemporânea de cenários urbanos futuros, e como estes procedimentos podem ser repensados criticamente de modo a amparar novas práticas projetuais transformadoras e contra-hegemônicas.
World Sustainability Series - Towards Green Campus Operations, 2018
Sustainable Campus projects usually focus on the campus itself and do not consider the social and... more Sustainable Campus projects usually focus on the campus itself and do not consider the social and urban characteristics of the surrounding area. This paper intends to study the case of the University of São Paulo (USP) and show that, in Brazil—as well as in the rest of the Global South—this can be especially problematic. One of the top Latin-American higher education institutions, USP lies adjacent to a favela, and the ever more frequent cases of sexual assault, theft, carjacking and robbery created an environment where the public perceive the favela-dwellers and other so-called outsiders as those responsible for making the campus a violent and unsafe place. The demand for security policies skyrocketed and the answer to these demands has been limited to surveillance, increasingly controlled access, reinforcing walls and other means to " keep the perpetrators out " —a segregative approach that this paper expects to expose as socially and ethically unsustainable. This paper provides new insights, based on USP's experience and context, to the importance of considering social and territorial dimensions of sustainability when working with campuses in the Global South. The study hopes to provide assistance to those interested in developing Sustainable Campus projects that consider their social and territorial context, valuing the role of higher education institutions in promoting community well-being and social change.
Em 2016, constituiu-se um grupo de estudos dedicado ao tema das Cidades ditas “Inteligentes” (ou ... more Em 2016, constituiu-se um grupo de estudos dedicado ao tema das Cidades ditas “Inteligentes” (ou “Smart Cities”) sediado na FAU-USP, integrado ao Núcleo NaWEB e ao Grupo de Pesquisa CNPq “Representações: Imaginário e Tecnologia” (RITe). O grupo reúne pesquisadores de diversas áreas e níveis acadêmicos com a proposta de abordar de modo crítico e consequente o fenômeno das Smart Cities considerando seus aspectos tanto tecnológicos como também antropológicos e sociopolíticos. Dentre as propostas deste Grupo de Estudos está a construção de indicadores quanto à dita “inteligência” das cidades. Por princípio, os indicadores propostos têm por meta a inserção da complexidade inerente à vida política das cidades contemporâneas nas considerações oficiais e legitimadas, que são tanto uma referência jurídica como certificado homologativo para a sanção pública e privada de linhas de investimento para o desenvolvimento urbano.
Até agora, observa-se a tendência a uma interpretação tecnocêntrica quanto à integração da tecnologia digital no ambiente urbano, sendo as dimensões sociopolíticas preteridas tanto temporal como prioritariamente: aparecem como adendo a posteriori, em um segundo plano de prioridades – sendo que, para muitas referências urbanísticas (Jacobs, por exemplo) a cidade é eminentemente um fenômeno sociopolítico. Além disso, a dimensão poético-estética da urbanidade ainda é um aspecto apenas debilmente considerado, quando presente, neste contexto – sendo que, para muitos urbanistas (Argan, por exemplo), a cidade é uma entidade fundamentalmente poético-estética.
Quais as implicações da atribuição da inteligência, característica tipicamente humana à cidade? O que torna uma cidade Smart? A medida que existem Smart Cities, existiriam “Stupid” Cities? Em cidades voltadas para a previsibilidade e o controle, o que de City resta à Smart City? Quais vivências seriam possíveis em uma versão brasileira da Smart City? Quando utiliza-se o termo “Smart City”, ao que se refere? Há um conceito guarda-chuva mais preciso e rigoroso para denominar a presença disruptiva da tecnologia digital no meio urbano?
A proposta dessa mesa foi a de expor e debater critérios com os quais se possa constituir a ideia de uma urbanidade que dialogue de modo frutífero – mesmo que também de modo problemático e complexo – com a tecnologia de ponta: suas questões antropológicas, a renovação conflituosa dos embates das forças sociais, a alteração das modalidades perceptuais da ambiência urbana e a própria reconfiguração da ideia de “cidade”. Propõe-se, inclusive, questionar a própria denominação “inteligente” ou “smart”, procurando por elucidar outros planos e aproximações quanto a esse campo de entendimento da urbanidade que possa promover um entendimento mais rigoroso, crítico e fecundo.
Pretende-se, nesse artigo, expor de maneira sintética o conteúdo apresentado na mesa e no subsequente debate.
Palavras-chave: Imaginário; Tecnologia; Smart City; Cidade Inteligente.
O artigo levanta algumas questões acerca do modelo urbanístico "smart city" e de sua implementaçã... more O artigo levanta algumas questões acerca do modelo urbanístico "smart city" e de sua implementação no contexto brasileiro. Inicialmente propõe-se que a imprecisão conceitual sobre o que constitui uma cidade 'inteligente' deriva de uma série de inexatidões que a concepção de inteligência apresenta na linguagem comum, seu locus original. O artigo discute, a partir dessa imprecisão descritiva e do modelo de gestão empresarial da cidade brasileira, que o uso de estudos de caso e a adoção de soluções padronizadas nas prateleiras das grandes empresas criam um contexto em que se pretende um funcionamento mais eficiente da cidade - um dos poucos consensos no imaginário da "smart city" - sem considerar os processos e conflitos sociais reproduzidos em seu território. Posto que muitos dos casos estudados na literatura foram pensados para cidades europeias, asiáticas e norte-americanas, que apresentam dinâmica social e uma gama de problemas significativamente diferentes das cidades brasileiras, o artigo propõe a importância de uma reflexão crítica que permita compreender como as diversas formas transitórias de cidade “inteligente” podem afetar a população mais vulnerabilizada das cidades brasileiras e sugere que é no campo do imaginário que se trava a disputa referente a o que, onde, de que maneira e para quem será a “smart city”, uma vez que é neste mesmo campo que habitam as representações que sugerem os sonhos e delírios a respeito dessa elusiva cidade. Para concluir, o artigo relembra o papel da realização da crítica pela tecnologia no planejamento urbano e sugere que é a partir dela que poderá se ressignificar o imaginário em torno de novas possibilidades de cidade inteligente que rompam com a racionalidade vigente e promovam a redução da desigualdade social no Brasil.
Books by Gabriel M Poli de Figueiredo
A ausência de consenso a nível mundial sobre o que é uma Smart City abre margem para a apropriaçã... more A ausência de consenso a nível mundial sobre o que é uma Smart City abre margem para a apropriação do termo por uma retórica de consumo tecnológico que pode não ter compromisso algum com melhorias sociais e urbanas. Em um cenário em que estudos de caso e soluçõespadrão são amplamente utilizados, torna-se problemático o fato de que muitos dos casos estudados na literatura foram pensados para cidades
europeias, asiáticas e norte-americanas, que apresentam uma dinâmica social signifi cativamente diferente das brasileiras e latino-americanas. A presente pesquisa visa, portanto, contribuir com uma abordagem crítica e sistemática para o entendimento do discurso Smart City e seus desdobramentos práticos no contexto de metrópoles latino-americanas. Por meio de um panorama geral sobre o fenômeno Smart City, é feita uma revisão da literatura científi ca, documentos, notícias e projetos para
compreender o discurso em torno da Smart City e sua evolução nos últimos vinte anos. Esse discurso é então confrontado com as práticas e fenômenos tipicamente encontrados nas metrópoles latino-americanas, tendo como referência a Região Metropolitana de São Paulo. Em seguida, são levantadas diversas fragilidades conceituais e fantasias em torno da Smart City e da atribuição da inteligência à cidade e outros objetos da técnica. Parte-se para um questionamento à própria validade do termo Smart City e coloca-se a importância de qualifi car a discussão em torno
dos cenários urbanos futuros. Dada a própria natureza plural e complexa do ambiente urbano, defende-se a necessidade de uma refl exão capaz de abrir margem para novas possibilidades de discurso e prática projetual. São elencados os pilares essenciais ao sustento de tal reflexão, assim como algumas diretrizes e considerações visando a incorporação desta ao projetar do urbano. Porfim, são sugeridas novas dimensões de análise que permitam reconhecer os aspectos problemáticos levantados ao longo
deste trabalho.
A Reinvenção das Cidades. Revista Política Democrática, Ano XX, edição 55, 2020
Atas do 3º Colóquio Internacional ICHT, 16 a 18 de abril, 2019, 2019
As cidades brasileiras e latino-americanas enfrentam graves questões sociais e urbanas: favelizaç... more As cidades brasileiras e latino-americanas enfrentam graves questões sociais e urbanas: favelização sistêmica, segregação territorial, desigualdade, pobreza, (i)mobilidade, violência urbana, etc. Em um contexto como esse, modelos urbanos como a Smart City acabam produzindo especulações de cenários urbanos futuros que pouco reconhecem ou pretendem abordar das questões urbanas e sociais anteriormente mencionadas. Essa pouca aderência de modelos urbanos ditos tecnológicos às questões sociais e urbanas tem suas raízes para além de discursos ou paradigmas específicos: parece se tratar de um problema mais profundo, pertencente ao âmbito da própria imaginação de cenários urbanos futuros. O presente trabalho busca, a partir da pesquisa de mestrado do autor e das reflexões proporcionadas pelos encontros do grupo de estudos em Cenários Urbanos Futuros da FAU-USP, questionar como se dá a imaginação contemporânea de cenários urbanos futuros, e como estes procedimentos podem ser repensados criticamente de modo a amparar novas práticas projetuais transformadoras e contra-hegemônicas.
World Sustainability Series - Towards Green Campus Operations, 2018
Sustainable Campus projects usually focus on the campus itself and do not consider the social and... more Sustainable Campus projects usually focus on the campus itself and do not consider the social and urban characteristics of the surrounding area. This paper intends to study the case of the University of São Paulo (USP) and show that, in Brazil—as well as in the rest of the Global South—this can be especially problematic. One of the top Latin-American higher education institutions, USP lies adjacent to a favela, and the ever more frequent cases of sexual assault, theft, carjacking and robbery created an environment where the public perceive the favela-dwellers and other so-called outsiders as those responsible for making the campus a violent and unsafe place. The demand for security policies skyrocketed and the answer to these demands has been limited to surveillance, increasingly controlled access, reinforcing walls and other means to " keep the perpetrators out " —a segregative approach that this paper expects to expose as socially and ethically unsustainable. This paper provides new insights, based on USP's experience and context, to the importance of considering social and territorial dimensions of sustainability when working with campuses in the Global South. The study hopes to provide assistance to those interested in developing Sustainable Campus projects that consider their social and territorial context, valuing the role of higher education institutions in promoting community well-being and social change.
Em 2016, constituiu-se um grupo de estudos dedicado ao tema das Cidades ditas “Inteligentes” (ou ... more Em 2016, constituiu-se um grupo de estudos dedicado ao tema das Cidades ditas “Inteligentes” (ou “Smart Cities”) sediado na FAU-USP, integrado ao Núcleo NaWEB e ao Grupo de Pesquisa CNPq “Representações: Imaginário e Tecnologia” (RITe). O grupo reúne pesquisadores de diversas áreas e níveis acadêmicos com a proposta de abordar de modo crítico e consequente o fenômeno das Smart Cities considerando seus aspectos tanto tecnológicos como também antropológicos e sociopolíticos. Dentre as propostas deste Grupo de Estudos está a construção de indicadores quanto à dita “inteligência” das cidades. Por princípio, os indicadores propostos têm por meta a inserção da complexidade inerente à vida política das cidades contemporâneas nas considerações oficiais e legitimadas, que são tanto uma referência jurídica como certificado homologativo para a sanção pública e privada de linhas de investimento para o desenvolvimento urbano.
Até agora, observa-se a tendência a uma interpretação tecnocêntrica quanto à integração da tecnologia digital no ambiente urbano, sendo as dimensões sociopolíticas preteridas tanto temporal como prioritariamente: aparecem como adendo a posteriori, em um segundo plano de prioridades – sendo que, para muitas referências urbanísticas (Jacobs, por exemplo) a cidade é eminentemente um fenômeno sociopolítico. Além disso, a dimensão poético-estética da urbanidade ainda é um aspecto apenas debilmente considerado, quando presente, neste contexto – sendo que, para muitos urbanistas (Argan, por exemplo), a cidade é uma entidade fundamentalmente poético-estética.
Quais as implicações da atribuição da inteligência, característica tipicamente humana à cidade? O que torna uma cidade Smart? A medida que existem Smart Cities, existiriam “Stupid” Cities? Em cidades voltadas para a previsibilidade e o controle, o que de City resta à Smart City? Quais vivências seriam possíveis em uma versão brasileira da Smart City? Quando utiliza-se o termo “Smart City”, ao que se refere? Há um conceito guarda-chuva mais preciso e rigoroso para denominar a presença disruptiva da tecnologia digital no meio urbano?
A proposta dessa mesa foi a de expor e debater critérios com os quais se possa constituir a ideia de uma urbanidade que dialogue de modo frutífero – mesmo que também de modo problemático e complexo – com a tecnologia de ponta: suas questões antropológicas, a renovação conflituosa dos embates das forças sociais, a alteração das modalidades perceptuais da ambiência urbana e a própria reconfiguração da ideia de “cidade”. Propõe-se, inclusive, questionar a própria denominação “inteligente” ou “smart”, procurando por elucidar outros planos e aproximações quanto a esse campo de entendimento da urbanidade que possa promover um entendimento mais rigoroso, crítico e fecundo.
Pretende-se, nesse artigo, expor de maneira sintética o conteúdo apresentado na mesa e no subsequente debate.
Palavras-chave: Imaginário; Tecnologia; Smart City; Cidade Inteligente.
O artigo levanta algumas questões acerca do modelo urbanístico "smart city" e de sua implementaçã... more O artigo levanta algumas questões acerca do modelo urbanístico "smart city" e de sua implementação no contexto brasileiro. Inicialmente propõe-se que a imprecisão conceitual sobre o que constitui uma cidade 'inteligente' deriva de uma série de inexatidões que a concepção de inteligência apresenta na linguagem comum, seu locus original. O artigo discute, a partir dessa imprecisão descritiva e do modelo de gestão empresarial da cidade brasileira, que o uso de estudos de caso e a adoção de soluções padronizadas nas prateleiras das grandes empresas criam um contexto em que se pretende um funcionamento mais eficiente da cidade - um dos poucos consensos no imaginário da "smart city" - sem considerar os processos e conflitos sociais reproduzidos em seu território. Posto que muitos dos casos estudados na literatura foram pensados para cidades europeias, asiáticas e norte-americanas, que apresentam dinâmica social e uma gama de problemas significativamente diferentes das cidades brasileiras, o artigo propõe a importância de uma reflexão crítica que permita compreender como as diversas formas transitórias de cidade “inteligente” podem afetar a população mais vulnerabilizada das cidades brasileiras e sugere que é no campo do imaginário que se trava a disputa referente a o que, onde, de que maneira e para quem será a “smart city”, uma vez que é neste mesmo campo que habitam as representações que sugerem os sonhos e delírios a respeito dessa elusiva cidade. Para concluir, o artigo relembra o papel da realização da crítica pela tecnologia no planejamento urbano e sugere que é a partir dela que poderá se ressignificar o imaginário em torno de novas possibilidades de cidade inteligente que rompam com a racionalidade vigente e promovam a redução da desigualdade social no Brasil.
A ausência de consenso a nível mundial sobre o que é uma Smart City abre margem para a apropriaçã... more A ausência de consenso a nível mundial sobre o que é uma Smart City abre margem para a apropriação do termo por uma retórica de consumo tecnológico que pode não ter compromisso algum com melhorias sociais e urbanas. Em um cenário em que estudos de caso e soluçõespadrão são amplamente utilizados, torna-se problemático o fato de que muitos dos casos estudados na literatura foram pensados para cidades
europeias, asiáticas e norte-americanas, que apresentam uma dinâmica social signifi cativamente diferente das brasileiras e latino-americanas. A presente pesquisa visa, portanto, contribuir com uma abordagem crítica e sistemática para o entendimento do discurso Smart City e seus desdobramentos práticos no contexto de metrópoles latino-americanas. Por meio de um panorama geral sobre o fenômeno Smart City, é feita uma revisão da literatura científi ca, documentos, notícias e projetos para
compreender o discurso em torno da Smart City e sua evolução nos últimos vinte anos. Esse discurso é então confrontado com as práticas e fenômenos tipicamente encontrados nas metrópoles latino-americanas, tendo como referência a Região Metropolitana de São Paulo. Em seguida, são levantadas diversas fragilidades conceituais e fantasias em torno da Smart City e da atribuição da inteligência à cidade e outros objetos da técnica. Parte-se para um questionamento à própria validade do termo Smart City e coloca-se a importância de qualifi car a discussão em torno
dos cenários urbanos futuros. Dada a própria natureza plural e complexa do ambiente urbano, defende-se a necessidade de uma refl exão capaz de abrir margem para novas possibilidades de discurso e prática projetual. São elencados os pilares essenciais ao sustento de tal reflexão, assim como algumas diretrizes e considerações visando a incorporação desta ao projetar do urbano. Porfim, são sugeridas novas dimensões de análise que permitam reconhecer os aspectos problemáticos levantados ao longo
deste trabalho.