Arthur Almeida | University of Sao Paulo (original) (raw)
Papers by Arthur Almeida
EBOOK: Doma Saberes Negros e Enfrentamento ao Racismo, 2023
Este livro reúne os trabalhos desenvolvidos pelas/os pesquisadoras/es participantes do curso “Tóp... more Este livro reúne os trabalhos desenvolvidos pelas/os pesquisadoras/es participantes do curso “Tópicos de Antropologia das Populações
Afro-brasileiras: Discussões sobre identidades raciais, educação e povos
tradicionais de matriz africana”, ministrado por Cleyde Rodrigues Amorim,
professora da Universidade Federal do Espírito Santo, como parte de suas
atividades de pós-doutoramento junto ao Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social da Universidade de São Paulo, realizado entre 2020 e
2021, sob supervisão de Vagner Gonçalves da Silva, intitulado: “Povo de Axé
na pós-graduação”
Seu objetivo é mostrar a produção recente de jovens pesquisadores
em diferentes estágios da carreira acadêmica evidenciando tendências e
preocupações que fazem dessa produção representativa não apenas de uma
contribuição ao debate teórico, como também da necessidade sentida pelos/
as autores/as de interferir no próprio processo de formulação das epistemologias acadêmicas como sistemas de poder nem sempre eficazes no sentido
de transformar a realidade social sobre a qual se debruçam. Nesse sentido
e sob o olhar dessa nova geração, teorização e transformação das condições
de iniquidade social (aqui vistas em termos dos diversos marcadores sociais
da diferença: sexo, gênero, raça etc.) não se deslindam do fazer etnográfico,
nem da militância em prol dos grupos com os quais se pesquisa de forma
dialógica.
A comissão editorial responsável pela edição da coletânea foi dirigida pelos dois organizadores e composta por um grupo de participantes
do curso que leram os trabalhos e retornaram a seus autores com críticas e
sugestões. Compõem esta comissão: Andréa Silva D’Amato, João Mouzart de
Oliveira Junior e José Batista Franco Junior.
Os 21 artigos que compõem a coletânea foram agrupados em núcleos
temáticos apenas para facilitar o fluxo de leitura. E para evitar um prefácio
longo e cansativo, optamos por indicar aqui apenas a temática geral de cada
um deles, já que o leitor poderá encontrar no início de cada artigo um resumo do conteúdo. Constatará, inclusive, que muitos temas se cruzam entre os
núcleos, possibilitando uma leitura transversal e complementar dos artigos
entre si.
Em “Comunidades tradicionais de matriz africana, cosmopolíticas e
resistências”, os artigos procuram focar as experiências culturais e religiosas geradas nos terreiros como orientadoras de políticas públicas para a reivindicação de respeito e cumprimento dos direitos das populações negras.
Entre eles, o de existir sem ataques derivados da intolerância religiosa e do
racismo estrutural. Nesse sentido, desempenham um grande papel as leis
educacionais antirracistas, que focam na diversidade étnico-racial brasileira,
e a produção acadêmica feita em diálogo com os grupos etnografados, que
se tornam partícipes da representação que sobre eles é construída por meio
de textos e imagens.
Em “Territorialidades e instituições de ancestralidades negras”, os
textos destacam a existência e a importância das comunidades negras, como
as irmandades católicas, os quilombos e os terreiros, entre outros, na produção de lugares de sociabilidade e resistência, nos quais se verificam formas
culturais alternativas de organização espacial, manifestações religiosas, reconstrução dos laços de pertença para além da exclusão da população negra
da paisagem urbana e rural, típica da sociedade brasileira.
Em “Estéticas, saberes e fazeres (re)construídos nas comunidades
negras”, os artigos abordam as expressividades e performances produzidas
sobretudo no âmbito de campos artísticos, no sentido mais amplo, como no
teatro, literatura, carnaval e outras expressões, nas quais as trajetórias de
homens e mulheres negras acionam os seus repertórios de saberes entrelaçados com as formas subjetivas e sensíveis de se colocar no mundo, segundo
mapas de afetos particulares e coletivos. Esses corpos negros, na qualidade
de produtores de narrativas, pensamentos, ações, gestos, arte, enfim, formas
de ação e resistências, questionam e desfiam o efeito perverso da invisibilidade com que costumeiramente a sociedade mais ampla lhes imputa.
Em “Por uma educação antirracista”, os artigos retomam o tema do
combate ao racismo no contexto educacional por meio de transformações
curriculares, como a Lei 10.639/2003, a renovação teórica e a desconstrução da epistemologia dominante pela utilização de teorias decoloniais, entre
outras, e o uso de insumos pedagógicos antirracistas. Nesse sentido, educar
é também um fator importante na luta contra o epistemicídio científico e cultural, que não considera a relevância dos saberes e fazeres das comunidades
negras.
E, finalmente, em “Racismo e seus enfrentamentos”, os artigos apresentam um debate sobre os racismos institucionalizados e seus meandros,
os quais produzem entraves, dificultando e inibindo a ascensão de pessoas
não brancas a lugares de poder em ambientes diversos, tais como as Forças
Armadas e as universidades, entre outros. Apresentam, ainda, a produção de
conhecimento científico de jovens pesquisadores acerca da questão étnico-
-racial e os meios pelos quais o debate vem ocupando espaços no enfrentamento do racismo nas instituições.
Como se vê, o espectro de temas e discussões é amplo e complexo,
mas a exemplo dos Doma ou Soma, os conhecedores ou produtores africanos de conhecimentos indicados no prefácio deste livro, um saber pode ser
específico ou amplo, mas nunca será visto como parcial ou genérico porque
nas filosofias tradicionais não existe a parte sem o todo e se aprende a olhar
longe quando se sabe olhar perto.
Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movi... more Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movimento Hare Krishna chega ao mundo ocidental e como uma tradicao milenar dialoga com a socie- dade contemporânea. Focamos no contexto cultural belo-horizontino visando o esclarecimento de como ele transformou a expressao do movimento, uma vez que o meio no qual ele esta inserido rearticula sua propria manifestacao. A partir de quando esta tradicao oriental se modi ca adquirindo tracos externos? Como ela se mantem coesa diante das transformacoes e dos costumes provenientes da dinâmica social ur- bana? Experiencias pontuais junto a comunidade estudada, entrevistas e telefonemas resumem o trabalho de campo. Os devotos se mostraram abertos e dispostos a dar-nos informacoes sobre o movimento como um todo.
O Centro Espirita Sao Sebastiao e uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade d... more O Centro Espirita Sao Sebastiao e uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade de Belo Horizonte, e que possui na trajetoria de Cecilia Felix dos Santos, a Vo Cecilia, fundamental contribuicao. A luz de uma pesquisa etnografica, buscamos neste trabalho falar sobre os caminhos de Vo Cecilia, uma lideranca afro-religiosa, matriarca fundadora do CESS. Nosso objetivo e o de propor novas discussoes em torno dessas comunidades afro-religiosas, apontando para seus agenciamentos, suas estrategias de resistencia e seus movimentos criativos, os quais tem de lidar, historicamente, com as investidas e violencias empregadas pelo projeto universalista que se pretende hegemonico: cristao, branco e patriarcal. Buscamos nos apoiar nas discussoes e reflexoes que versam sobre a questao do negro afro-brasileiro bem como da mulher negra, que como protagonistas neste contexto religioso bantu, situam-se as margens alvos de diversas formas de discriminacao e violencia, mas de onde buscam r...
Revista Calundu, Dec 14, 2018
(localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG) congrega cul... more (localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG) congrega cultos de matriz bantu como a Umbanda, o Candomblé de Angola e o Reinado. As trajetórias dos agentes que integram este terreiro, em especial a de Mam'etu Tabaladê Ria N'Kosi (Mãe Cecília), matriarca fundadora da casa, tornam-se significativas para revelar a dinâmica que move a vida em uma comunidade afro-religiosa, pautada sobre princípios de acolhimento, cura e aceitação das diferenças. Em um contexto religioso marcado pelo sincretismo, atributo esse muitas vezes utilizado como forma de rechaçar esses cultos como 'impuros' ou inautênticos quanto a uma suposta ancestralidade africana, as trajetórias em questão revelam, por outro lado, habilidades que são próprias a essa matriz religiosa e cultural. Neste sentido, partindo de um novo olhar que atente para a dinâmica da vida em comunidade, podemos ver como a multiplicidade e a abertura ao diverso, ao 'outro', são atributos singulares a esses cultos, ora como estratégia de resistência, ora como interesse próprio em prol da continuidade de sua tradição. Desta maneira, os terreiros dispõem de formas de sociabilidade diversas daquelas que predominam no meio social urbano. Neste artigo, busca-se apresentar uma visão positiva da multiplicidade no contexto das comunidades de terreiro, pautada nos ideais e princípios próprios a essa matriz religiosa, que incluem o acolhimento da diversidade e o vínculo com a ancestralidade. Palavras-chave: Bantu; Confluências; Multiplicidade; Religiões Afro-brasileiras. 1 Guaraci Maximiano dos Santos: mestre e doutorando em Ciências da Religião pela PUC-Minas/MG. Tat'etu Yalêmi Ria Kissimbi N'dandalunda, iniciado no começo da década anos de 1970 no Candomblé de Angola de Raiz Gomeia, rei de congado e umbandista, ex-secretário da Federação Espírita Umbandista de Minas Gerais e vice-presidente da Associação de Umbanda e Candomblé de MG, psicólogo, especialista em Psicanálise, e Direito Público, membro da Comissão de Espiritualidade, Laicidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais-CLEROT do Conselho Regional de Psicologia (CRP/04), e do Fórum Inter-religioso contra a Violência e a Discriminação da Pastoral PUC-Minas, estudioso das religiões afro-brasileiras de matriz bantu, é filho adotivo e de santo de Cecília Felix dos Santos (Mam'etu Tabaladê Ria N'Kosi), e atual dirigente do CESS.
Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movi... more Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movimento Hare Krishna chega ao mundo ocidental e como uma tradicao milenar dialoga com a socie- dade contemporânea. Focamos no contexto cultural belo-horizontino visando o esclarecimento de como ele transformou a expressao do movimento, uma vez que o meio no qual ele esta inserido rearticula sua propria manifestacao. A partir de quando esta tradicao oriental se modi ca adquirindo tracos externos? Como ela se mantem coesa diante das transformacoes e dos costumes provenientes da dinâmica social ur- bana? Experiencias pontuais junto a comunidade estudada, entrevistas e telefonemas resumem o trabalho de campo. Os devotos se mostraram abertos e dispostos a dar-nos informacoes sobre o movimento como um todo.
Revista NUPEM, 2019
Resumo: Este artigo trata dos agenciamentos de cura de um terreiro de matriz bantu, o Centro Espí... more Resumo: Este artigo trata dos agenciamentos de cura de um terreiro de matriz bantu, o Centro Espírita São Sebastião. Realizamos este trabalho no objetivo de apreender um pouco da dinâmica dessa tradição religiosa, enfocando a agência dos guias espirituais chamados de pretos velhos, considerados no contexto umbandista como os mentores e principais agentes de cura dos terreiros. As comunidades de terreiro são centros religiosos que prestam o acolhimento e cuidados aos que necessitam, sendo os pretos velhos agentes que ensejam essas habilidades, próprias à matriz religiosa bantu. Lançando mão de um sincrético conhecimento terapêutico e religioso, esses guias orientam, sabem ouvir e compreender as dores humanas, tratando o outro em sua condição, buscando a cura de maneira conjunta. Palavras-chave: Religiões afro-brasileiras, Bantu, cura, Pretos velhos. Redes de cura bantu: agenciamientos terapeuticos en el Centro Espírita São Sebastião Resumen: Este artículo se centra en las agencias de curación dentro del contexto de una comunidad religiosa de tradición bantu, el Centro Espiritista São Sebastião. A lo largo de este trabajo, buscamos tratar de la dinámica de esta tradición religiosa, con enfoque a la agencia de los guías espirituales conocidos como pretos velhos, los mentores y principales agentes de curación de los terreros en umbanda. Los terreros son centros religiosos comunitarios que proporcionan cuidados espirituales y terapéuticos a las personas necesitadas, y los pretos velhos son los agentes responsables que reúnen a estas características, conocidas como los principios de esta matriz religiosa bantu. Haciendo uso de un conocimiento terapéutico y religioso sincrético, estas guías espirituales orientan, saben escuchar y comprender las aflicciones humanas, tratando al otro en su condición, buscando curarse juntos. Palabras clave: Religiones afro-brasileñas, Bantu, agencias de curación, Pretos velhos. Abstract: This article focuses on the healing agencies within the context of a Bantu matrix religious centre-called "terreiro"-the Centro Espírita São Sebastião. In this text, we describe the dynamics of this religious tradition by focusing on the agency of its primary healing agents, the spiritual guides called pretos velhos, who are the mentors and the main healing agents of the terreiros in Umbanda. The terreiros are communitarian religious centers that provide shelter and health care for those in need. In this context, the pretos velhos are the agents who detain abilities that are characteristic of this religious matrix. Employing a diverse religious and therapeutic knowledge, they act as guides, listening, comprehending and accepting the human afflictions, treating others in his condition, seeking healing together. Introdução Partindo de uma pesquisa etnográfica realizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), este trabalho enfoca as religiões afro-brasileiras 1 , especialmente as de matriz bantu 2 ; e as 1 Dentro do conjunto das religiões afro-brasileiras existe uma multiplicidade de nações e linhas, que possuem suas formas de se afirmar, ou seja, de afirmar a sua tradição religiosa, ao mesmo tempo em que se integram em movimentos identitários mais amplos, que buscam o reconhecimento das religiões de matriz africana, em suas várias manifestações rituais e sociocosmológicas. 2 As religiões afro-brasileiras de matriz bantu são aquelas pertencentes à matriz étnico-linguística bantu, que se configura de diversas formas a partir das nações e linhas religiosas a que cada terreiro se diz pertencente (BARBOSA NETO, 2012b). Muitos representantes desse grupo etno-linguístico foram trazidos, escravizados para o Brasil, vindos de países como Angola, Guiné, Congo, Moçambique, entre outros, e aqui protagonizaram uma
O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na traje... more O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, sua matriarca fundadora, fundamental contribuição. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na convivência com a comunidade de terreiro do CESS, busco neste trabalho trazer algumas reflexões sobre como essa se sustenta em seu dia a dia e ao longo de sua história, à luz da trajetória de Cecília, relatada a mim por Pai Guaraci e outros integrantes da família do CESS. Busco também apontar para as estratégias e parcerias da comunidade de terreiro do CESS, atentando para seus movimentos criativos e a multiplicidade de seus agenciamentos, os quais têm de lidar continuamente, tanto no tempos de Cecília quanto nos dias mais atuais (mas sob distintas formas), com as investidas e violências agenciadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Neste sentido, busco me voltar às transformações da malha urbana em que o CESS se encontra inserido, junto aos marcadores sociais de gênero, raça, classe e pertença religiosa, que incidem sobre seus agentes e sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras de matriz bantu de uma maneira geral, situadas que estão às margens, e tendo como lideranças religiosas mulheres negras, que são as rainhas, madrinhas e mães de santo dentro de sua genealogia espiritual.
O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade d... more O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade de Belo Horizonte, e que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, a Vó Cecília, fundamental contribuição. À luz de uma pesquisa etnográfica, buscamos neste trabalho falar sobre os caminhos de Vó Cecília, uma liderança afroreligiosa, matriarca fundadora do CESS. Nosso objetivo é o de propor novas discussões em torno dessas comunidades afro-religiosas, apontando para seus agenciamentos, suas estratégias de resistência e seus movimentos criativos, os quais têm de lidar, historicamente, com as investidas e violências empregadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Buscamos nos apoiar nas discussões e reflexões que versam sobre a questão do negro afro-brasileiro bem como da mulher negra, que como protagonistas neste contexto religioso bantu, situam-se às margens alvos de diversas formas de discriminação e violência, mas de onde buscam reexistir, através de agenciamentos criativos e expandir a sua ancestralidade.
O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na traje... more O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, sua matriarca fundadora, fundamental contribuição. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na convivência com a comunidade de terreiro do CESS, busco neste trabalho trazer algumas reflexões sobre como essa se sustenta em seu dia a dia e ao longo de sua história, à luz da trajetória de Cecília, relatada a mim por Pai Guaraci e outros integrantes da família do CESS. Busco também apontar para as estratégias e parcerias da comunidade de terreiro do CESS, atentando para seus movimentos criativos e a multiplicidade de seus agenciamentos, os quais têm de lidar continuamente, tanto no tempos de Cecília quanto nos dias mais atuais (mas sob distintas formas), com as investidas e violências agenciadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Neste sentido, busco me voltar às transformações da malha urbana em que o CESS se encontra inserido, junto aos marcadores sociais de gênero, raça, classe e pertença religiosa, que incidem sobre seus agentes e sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras de matriz bantu de uma maneira geral, situadas que estão às margens, e tendo como lideranças religiosas mulheres negras, que são as rainhas, madrinhas e mães de santo dentro de sua genealogia espiritual.
Confluências Bantu, 2019
Resumo: O Centro Espírita São Sebastião (localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropol... more Resumo: O Centro Espírita São Sebastião (localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG) congrega cultos de matriz bantu como a Umbanda, o Candomblé de Angola e o Reinado. As trajetórias dos agentes que integram este terreiro, em especial a de Mam'etu Tabaladê Ria N'Kosi (Mãe Cecília), matriarca fundadora da casa, tornam-se significativas para revelar a dinâmica que move a vida em uma comunidade afro-religiosa, pautada sobre princípios de acolhimento, cura e aceitação das diferenças. Em um contexto religioso marcado pelo sincretismo, atributo esse muitas vezes utilizado como forma de rechaçar esses cultos como 'impuros' ou inautênticos quanto a uma suposta ancestralidade africana, as trajetórias em questão revelam, por outro lado, habilidades que são próprias a essa matriz religiosa e cultural. Neste sentido, partindo de um novo olhar que atente para a dinâmica da vida em comunidade, podemos ver como a multiplicidade e a abertura ao diverso, ao 'outro', são atributos singulares a esses cultos, ora como estratégia de resistência, ora como interesse próprio em prol da continuidade de sua tradição. Desta maneira, os terreiros dispõem de formas de sociabilidade diversas daquelas que predominam no meio social urbano. Neste artigo, busca-se apresentar uma visão positiva da multiplicidade no contexto das comunidades de terreiro, pautada nos ideais e princípios próprios a essa matriz religiosa, que incluem o acolhimento da diversidade e o vínculo com a ancestralidade.
Thesis Chapters by Arthur Almeida
This research deals with the healing agencies within the context of the bantu-matrix afrobrazilia... more This research deals with the healing agencies within the context of the bantu-matrix afrobrazilian religions, based on an ethnography work mainly developed into an ‘Umbanda’ temple, the ‘Centro Espírita São Sebastião’ (C.E.S.S., located in the metropolitan region of Belo Horizonte city, at Sagrada Família neighborhood), but it has been also developed among other spaces and subjects linked to these religions. The central focus is on the healing agencies of the ‘pretos velhos’, who are forefathers, spiritual guides and the main mentors at Umbanda temples. Through an ethnographic research it was possible to perceive that the ‘pretos velhos’ reveal themselves as very active among the therapeutic itineraries of the people who seek these temples to achieve the healing of them diseases, evils and sufferings. In addition to this, the ethnographic results have indicated that the ‘pretos velhos’ can be considered as important agents of a religious and cultural matrix that reveals itself as syncretic and diverse, gathering distinct religious and therapeutic traditions in its practices, at the same time as strongly connected to an African ancestry.
Books by Arthur Almeida
Somos Bantu: Multiplicidades, Agência e Ancestralidade no Centro Espírita São Sebastião, 2019
RESUMO: O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui ... more RESUMO: O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, sua matriarca fundadora, fundamental contribuição. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na convivência com a comunidade de terreiro do CESS, busco neste trabalho trazer algumas reflexões sobre como essa se sustenta em seu dia a dia e ao longo de sua história, à luz da trajetória de Cecília, relatada a mim por Pai Guaraci e outros integrantes da família do CESS. Busco também apontar para as estratégias e parcerias da comunidade de terreiro do CESS, atentando para seus movimentos criativos e a multiplicidade de seus agenciamentos, os quais têm de lidar continuamente, tanto no tempos de Cecília quanto nos dias mais atuais (mas sob distintas formas), com as investidas e violências agenciadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Neste sentido, busco me voltar às transformações da malha urbana em que o CESS se encontra inserido, junto aos marcadores sociais de gênero, raça, classe e pertença religiosa, que incidem sobre seus agentes e sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras de matriz bantu de uma maneira geral, situadas que estão às margens, e tendo como lideranças religiosas mulheres negras, que são as rainhas, madrinhas e mães de santo dentro de sua genealogia espiritual.
ABSTRACT: The “Centro Espírita São Sebastião” is a bantu religious community (terreiro), that has as its main reference Vó Cecília, founder and matriarchy of the CESS. Parting from an ethnographic research, built on the daily coexistence within this terreiro community, I seek in this work to explore and to produce reflections about how is it sustained, through the time and everyday life, parting from the trajectory of Vó Cecília, reported by Guaraci and other CESS’s “sons”. We also seek to point out to the strategies and partnerships engaged by this afro-religious community, which has to deal continuously with the universalist project: christian, white and patriarchal, and its associated forms of violence, played whether in Cecília’s trajectory, but also nowadays, but from distinct ways. We seek to turn our attention on to the urban context in which CESS and its agents are embedded, talking about social marginalization, provoked by the race, gender, class and religious belonging’s references, that affect the reality of bantu religious communities, as well as the trajectory and lives of them religious leaders, majority represented by black women, held and worshipped as queens, “mães de santo” e “madrinhas”, of this religious matrix.
EBOOK: Doma Saberes Negros e Enfrentamento ao Racismo, 2023
Este livro reúne os trabalhos desenvolvidos pelas/os pesquisadoras/es participantes do curso “Tóp... more Este livro reúne os trabalhos desenvolvidos pelas/os pesquisadoras/es participantes do curso “Tópicos de Antropologia das Populações
Afro-brasileiras: Discussões sobre identidades raciais, educação e povos
tradicionais de matriz africana”, ministrado por Cleyde Rodrigues Amorim,
professora da Universidade Federal do Espírito Santo, como parte de suas
atividades de pós-doutoramento junto ao Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social da Universidade de São Paulo, realizado entre 2020 e
2021, sob supervisão de Vagner Gonçalves da Silva, intitulado: “Povo de Axé
na pós-graduação”
Seu objetivo é mostrar a produção recente de jovens pesquisadores
em diferentes estágios da carreira acadêmica evidenciando tendências e
preocupações que fazem dessa produção representativa não apenas de uma
contribuição ao debate teórico, como também da necessidade sentida pelos/
as autores/as de interferir no próprio processo de formulação das epistemologias acadêmicas como sistemas de poder nem sempre eficazes no sentido
de transformar a realidade social sobre a qual se debruçam. Nesse sentido
e sob o olhar dessa nova geração, teorização e transformação das condições
de iniquidade social (aqui vistas em termos dos diversos marcadores sociais
da diferença: sexo, gênero, raça etc.) não se deslindam do fazer etnográfico,
nem da militância em prol dos grupos com os quais se pesquisa de forma
dialógica.
A comissão editorial responsável pela edição da coletânea foi dirigida pelos dois organizadores e composta por um grupo de participantes
do curso que leram os trabalhos e retornaram a seus autores com críticas e
sugestões. Compõem esta comissão: Andréa Silva D’Amato, João Mouzart de
Oliveira Junior e José Batista Franco Junior.
Os 21 artigos que compõem a coletânea foram agrupados em núcleos
temáticos apenas para facilitar o fluxo de leitura. E para evitar um prefácio
longo e cansativo, optamos por indicar aqui apenas a temática geral de cada
um deles, já que o leitor poderá encontrar no início de cada artigo um resumo do conteúdo. Constatará, inclusive, que muitos temas se cruzam entre os
núcleos, possibilitando uma leitura transversal e complementar dos artigos
entre si.
Em “Comunidades tradicionais de matriz africana, cosmopolíticas e
resistências”, os artigos procuram focar as experiências culturais e religiosas geradas nos terreiros como orientadoras de políticas públicas para a reivindicação de respeito e cumprimento dos direitos das populações negras.
Entre eles, o de existir sem ataques derivados da intolerância religiosa e do
racismo estrutural. Nesse sentido, desempenham um grande papel as leis
educacionais antirracistas, que focam na diversidade étnico-racial brasileira,
e a produção acadêmica feita em diálogo com os grupos etnografados, que
se tornam partícipes da representação que sobre eles é construída por meio
de textos e imagens.
Em “Territorialidades e instituições de ancestralidades negras”, os
textos destacam a existência e a importância das comunidades negras, como
as irmandades católicas, os quilombos e os terreiros, entre outros, na produção de lugares de sociabilidade e resistência, nos quais se verificam formas
culturais alternativas de organização espacial, manifestações religiosas, reconstrução dos laços de pertença para além da exclusão da população negra
da paisagem urbana e rural, típica da sociedade brasileira.
Em “Estéticas, saberes e fazeres (re)construídos nas comunidades
negras”, os artigos abordam as expressividades e performances produzidas
sobretudo no âmbito de campos artísticos, no sentido mais amplo, como no
teatro, literatura, carnaval e outras expressões, nas quais as trajetórias de
homens e mulheres negras acionam os seus repertórios de saberes entrelaçados com as formas subjetivas e sensíveis de se colocar no mundo, segundo
mapas de afetos particulares e coletivos. Esses corpos negros, na qualidade
de produtores de narrativas, pensamentos, ações, gestos, arte, enfim, formas
de ação e resistências, questionam e desfiam o efeito perverso da invisibilidade com que costumeiramente a sociedade mais ampla lhes imputa.
Em “Por uma educação antirracista”, os artigos retomam o tema do
combate ao racismo no contexto educacional por meio de transformações
curriculares, como a Lei 10.639/2003, a renovação teórica e a desconstrução da epistemologia dominante pela utilização de teorias decoloniais, entre
outras, e o uso de insumos pedagógicos antirracistas. Nesse sentido, educar
é também um fator importante na luta contra o epistemicídio científico e cultural, que não considera a relevância dos saberes e fazeres das comunidades
negras.
E, finalmente, em “Racismo e seus enfrentamentos”, os artigos apresentam um debate sobre os racismos institucionalizados e seus meandros,
os quais produzem entraves, dificultando e inibindo a ascensão de pessoas
não brancas a lugares de poder em ambientes diversos, tais como as Forças
Armadas e as universidades, entre outros. Apresentam, ainda, a produção de
conhecimento científico de jovens pesquisadores acerca da questão étnico-
-racial e os meios pelos quais o debate vem ocupando espaços no enfrentamento do racismo nas instituições.
Como se vê, o espectro de temas e discussões é amplo e complexo,
mas a exemplo dos Doma ou Soma, os conhecedores ou produtores africanos de conhecimentos indicados no prefácio deste livro, um saber pode ser
específico ou amplo, mas nunca será visto como parcial ou genérico porque
nas filosofias tradicionais não existe a parte sem o todo e se aprende a olhar
longe quando se sabe olhar perto.
Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movi... more Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movimento Hare Krishna chega ao mundo ocidental e como uma tradicao milenar dialoga com a socie- dade contemporânea. Focamos no contexto cultural belo-horizontino visando o esclarecimento de como ele transformou a expressao do movimento, uma vez que o meio no qual ele esta inserido rearticula sua propria manifestacao. A partir de quando esta tradicao oriental se modi ca adquirindo tracos externos? Como ela se mantem coesa diante das transformacoes e dos costumes provenientes da dinâmica social ur- bana? Experiencias pontuais junto a comunidade estudada, entrevistas e telefonemas resumem o trabalho de campo. Os devotos se mostraram abertos e dispostos a dar-nos informacoes sobre o movimento como um todo.
O Centro Espirita Sao Sebastiao e uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade d... more O Centro Espirita Sao Sebastiao e uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade de Belo Horizonte, e que possui na trajetoria de Cecilia Felix dos Santos, a Vo Cecilia, fundamental contribuicao. A luz de uma pesquisa etnografica, buscamos neste trabalho falar sobre os caminhos de Vo Cecilia, uma lideranca afro-religiosa, matriarca fundadora do CESS. Nosso objetivo e o de propor novas discussoes em torno dessas comunidades afro-religiosas, apontando para seus agenciamentos, suas estrategias de resistencia e seus movimentos criativos, os quais tem de lidar, historicamente, com as investidas e violencias empregadas pelo projeto universalista que se pretende hegemonico: cristao, branco e patriarcal. Buscamos nos apoiar nas discussoes e reflexoes que versam sobre a questao do negro afro-brasileiro bem como da mulher negra, que como protagonistas neste contexto religioso bantu, situam-se as margens alvos de diversas formas de discriminacao e violencia, mas de onde buscam r...
Revista Calundu, Dec 14, 2018
(localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG) congrega cul... more (localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG) congrega cultos de matriz bantu como a Umbanda, o Candomblé de Angola e o Reinado. As trajetórias dos agentes que integram este terreiro, em especial a de Mam'etu Tabaladê Ria N'Kosi (Mãe Cecília), matriarca fundadora da casa, tornam-se significativas para revelar a dinâmica que move a vida em uma comunidade afro-religiosa, pautada sobre princípios de acolhimento, cura e aceitação das diferenças. Em um contexto religioso marcado pelo sincretismo, atributo esse muitas vezes utilizado como forma de rechaçar esses cultos como 'impuros' ou inautênticos quanto a uma suposta ancestralidade africana, as trajetórias em questão revelam, por outro lado, habilidades que são próprias a essa matriz religiosa e cultural. Neste sentido, partindo de um novo olhar que atente para a dinâmica da vida em comunidade, podemos ver como a multiplicidade e a abertura ao diverso, ao 'outro', são atributos singulares a esses cultos, ora como estratégia de resistência, ora como interesse próprio em prol da continuidade de sua tradição. Desta maneira, os terreiros dispõem de formas de sociabilidade diversas daquelas que predominam no meio social urbano. Neste artigo, busca-se apresentar uma visão positiva da multiplicidade no contexto das comunidades de terreiro, pautada nos ideais e princípios próprios a essa matriz religiosa, que incluem o acolhimento da diversidade e o vínculo com a ancestralidade. Palavras-chave: Bantu; Confluências; Multiplicidade; Religiões Afro-brasileiras. 1 Guaraci Maximiano dos Santos: mestre e doutorando em Ciências da Religião pela PUC-Minas/MG. Tat'etu Yalêmi Ria Kissimbi N'dandalunda, iniciado no começo da década anos de 1970 no Candomblé de Angola de Raiz Gomeia, rei de congado e umbandista, ex-secretário da Federação Espírita Umbandista de Minas Gerais e vice-presidente da Associação de Umbanda e Candomblé de MG, psicólogo, especialista em Psicanálise, e Direito Público, membro da Comissão de Espiritualidade, Laicidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais-CLEROT do Conselho Regional de Psicologia (CRP/04), e do Fórum Inter-religioso contra a Violência e a Discriminação da Pastoral PUC-Minas, estudioso das religiões afro-brasileiras de matriz bantu, é filho adotivo e de santo de Cecília Felix dos Santos (Mam'etu Tabaladê Ria N'Kosi), e atual dirigente do CESS.
Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movi... more Pesquisa etnogra ca realizada no primeiro semestre de 2012 com o objetivo de analisar como o movimento Hare Krishna chega ao mundo ocidental e como uma tradicao milenar dialoga com a socie- dade contemporânea. Focamos no contexto cultural belo-horizontino visando o esclarecimento de como ele transformou a expressao do movimento, uma vez que o meio no qual ele esta inserido rearticula sua propria manifestacao. A partir de quando esta tradicao oriental se modi ca adquirindo tracos externos? Como ela se mantem coesa diante das transformacoes e dos costumes provenientes da dinâmica social ur- bana? Experiencias pontuais junto a comunidade estudada, entrevistas e telefonemas resumem o trabalho de campo. Os devotos se mostraram abertos e dispostos a dar-nos informacoes sobre o movimento como um todo.
Revista NUPEM, 2019
Resumo: Este artigo trata dos agenciamentos de cura de um terreiro de matriz bantu, o Centro Espí... more Resumo: Este artigo trata dos agenciamentos de cura de um terreiro de matriz bantu, o Centro Espírita São Sebastião. Realizamos este trabalho no objetivo de apreender um pouco da dinâmica dessa tradição religiosa, enfocando a agência dos guias espirituais chamados de pretos velhos, considerados no contexto umbandista como os mentores e principais agentes de cura dos terreiros. As comunidades de terreiro são centros religiosos que prestam o acolhimento e cuidados aos que necessitam, sendo os pretos velhos agentes que ensejam essas habilidades, próprias à matriz religiosa bantu. Lançando mão de um sincrético conhecimento terapêutico e religioso, esses guias orientam, sabem ouvir e compreender as dores humanas, tratando o outro em sua condição, buscando a cura de maneira conjunta. Palavras-chave: Religiões afro-brasileiras, Bantu, cura, Pretos velhos. Redes de cura bantu: agenciamientos terapeuticos en el Centro Espírita São Sebastião Resumen: Este artículo se centra en las agencias de curación dentro del contexto de una comunidad religiosa de tradición bantu, el Centro Espiritista São Sebastião. A lo largo de este trabajo, buscamos tratar de la dinámica de esta tradición religiosa, con enfoque a la agencia de los guías espirituales conocidos como pretos velhos, los mentores y principales agentes de curación de los terreros en umbanda. Los terreros son centros religiosos comunitarios que proporcionan cuidados espirituales y terapéuticos a las personas necesitadas, y los pretos velhos son los agentes responsables que reúnen a estas características, conocidas como los principios de esta matriz religiosa bantu. Haciendo uso de un conocimiento terapéutico y religioso sincrético, estas guías espirituales orientan, saben escuchar y comprender las aflicciones humanas, tratando al otro en su condición, buscando curarse juntos. Palabras clave: Religiones afro-brasileñas, Bantu, agencias de curación, Pretos velhos. Abstract: This article focuses on the healing agencies within the context of a Bantu matrix religious centre-called "terreiro"-the Centro Espírita São Sebastião. In this text, we describe the dynamics of this religious tradition by focusing on the agency of its primary healing agents, the spiritual guides called pretos velhos, who are the mentors and the main healing agents of the terreiros in Umbanda. The terreiros are communitarian religious centers that provide shelter and health care for those in need. In this context, the pretos velhos are the agents who detain abilities that are characteristic of this religious matrix. Employing a diverse religious and therapeutic knowledge, they act as guides, listening, comprehending and accepting the human afflictions, treating others in his condition, seeking healing together. Introdução Partindo de uma pesquisa etnográfica realizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), este trabalho enfoca as religiões afro-brasileiras 1 , especialmente as de matriz bantu 2 ; e as 1 Dentro do conjunto das religiões afro-brasileiras existe uma multiplicidade de nações e linhas, que possuem suas formas de se afirmar, ou seja, de afirmar a sua tradição religiosa, ao mesmo tempo em que se integram em movimentos identitários mais amplos, que buscam o reconhecimento das religiões de matriz africana, em suas várias manifestações rituais e sociocosmológicas. 2 As religiões afro-brasileiras de matriz bantu são aquelas pertencentes à matriz étnico-linguística bantu, que se configura de diversas formas a partir das nações e linhas religiosas a que cada terreiro se diz pertencente (BARBOSA NETO, 2012b). Muitos representantes desse grupo etno-linguístico foram trazidos, escravizados para o Brasil, vindos de países como Angola, Guiné, Congo, Moçambique, entre outros, e aqui protagonizaram uma
O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na traje... more O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, sua matriarca fundadora, fundamental contribuição. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na convivência com a comunidade de terreiro do CESS, busco neste trabalho trazer algumas reflexões sobre como essa se sustenta em seu dia a dia e ao longo de sua história, à luz da trajetória de Cecília, relatada a mim por Pai Guaraci e outros integrantes da família do CESS. Busco também apontar para as estratégias e parcerias da comunidade de terreiro do CESS, atentando para seus movimentos criativos e a multiplicidade de seus agenciamentos, os quais têm de lidar continuamente, tanto no tempos de Cecília quanto nos dias mais atuais (mas sob distintas formas), com as investidas e violências agenciadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Neste sentido, busco me voltar às transformações da malha urbana em que o CESS se encontra inserido, junto aos marcadores sociais de gênero, raça, classe e pertença religiosa, que incidem sobre seus agentes e sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras de matriz bantu de uma maneira geral, situadas que estão às margens, e tendo como lideranças religiosas mulheres negras, que são as rainhas, madrinhas e mães de santo dentro de sua genealogia espiritual.
O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade d... more O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, situada na cidade de Belo Horizonte, e que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, a Vó Cecília, fundamental contribuição. À luz de uma pesquisa etnográfica, buscamos neste trabalho falar sobre os caminhos de Vó Cecília, uma liderança afroreligiosa, matriarca fundadora do CESS. Nosso objetivo é o de propor novas discussões em torno dessas comunidades afro-religiosas, apontando para seus agenciamentos, suas estratégias de resistência e seus movimentos criativos, os quais têm de lidar, historicamente, com as investidas e violências empregadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Buscamos nos apoiar nas discussões e reflexões que versam sobre a questão do negro afro-brasileiro bem como da mulher negra, que como protagonistas neste contexto religioso bantu, situam-se às margens alvos de diversas formas de discriminação e violência, mas de onde buscam reexistir, através de agenciamentos criativos e expandir a sua ancestralidade.
O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na traje... more O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, sua matriarca fundadora, fundamental contribuição. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na convivência com a comunidade de terreiro do CESS, busco neste trabalho trazer algumas reflexões sobre como essa se sustenta em seu dia a dia e ao longo de sua história, à luz da trajetória de Cecília, relatada a mim por Pai Guaraci e outros integrantes da família do CESS. Busco também apontar para as estratégias e parcerias da comunidade de terreiro do CESS, atentando para seus movimentos criativos e a multiplicidade de seus agenciamentos, os quais têm de lidar continuamente, tanto no tempos de Cecília quanto nos dias mais atuais (mas sob distintas formas), com as investidas e violências agenciadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Neste sentido, busco me voltar às transformações da malha urbana em que o CESS se encontra inserido, junto aos marcadores sociais de gênero, raça, classe e pertença religiosa, que incidem sobre seus agentes e sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras de matriz bantu de uma maneira geral, situadas que estão às margens, e tendo como lideranças religiosas mulheres negras, que são as rainhas, madrinhas e mães de santo dentro de sua genealogia espiritual.
Confluências Bantu, 2019
Resumo: O Centro Espírita São Sebastião (localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropol... more Resumo: O Centro Espírita São Sebastião (localizado no bairro Sagrada Família, na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG) congrega cultos de matriz bantu como a Umbanda, o Candomblé de Angola e o Reinado. As trajetórias dos agentes que integram este terreiro, em especial a de Mam'etu Tabaladê Ria N'Kosi (Mãe Cecília), matriarca fundadora da casa, tornam-se significativas para revelar a dinâmica que move a vida em uma comunidade afro-religiosa, pautada sobre princípios de acolhimento, cura e aceitação das diferenças. Em um contexto religioso marcado pelo sincretismo, atributo esse muitas vezes utilizado como forma de rechaçar esses cultos como 'impuros' ou inautênticos quanto a uma suposta ancestralidade africana, as trajetórias em questão revelam, por outro lado, habilidades que são próprias a essa matriz religiosa e cultural. Neste sentido, partindo de um novo olhar que atente para a dinâmica da vida em comunidade, podemos ver como a multiplicidade e a abertura ao diverso, ao 'outro', são atributos singulares a esses cultos, ora como estratégia de resistência, ora como interesse próprio em prol da continuidade de sua tradição. Desta maneira, os terreiros dispõem de formas de sociabilidade diversas daquelas que predominam no meio social urbano. Neste artigo, busca-se apresentar uma visão positiva da multiplicidade no contexto das comunidades de terreiro, pautada nos ideais e princípios próprios a essa matriz religiosa, que incluem o acolhimento da diversidade e o vínculo com a ancestralidade.
This research deals with the healing agencies within the context of the bantu-matrix afrobrazilia... more This research deals with the healing agencies within the context of the bantu-matrix afrobrazilian religions, based on an ethnography work mainly developed into an ‘Umbanda’ temple, the ‘Centro Espírita São Sebastião’ (C.E.S.S., located in the metropolitan region of Belo Horizonte city, at Sagrada Família neighborhood), but it has been also developed among other spaces and subjects linked to these religions. The central focus is on the healing agencies of the ‘pretos velhos’, who are forefathers, spiritual guides and the main mentors at Umbanda temples. Through an ethnographic research it was possible to perceive that the ‘pretos velhos’ reveal themselves as very active among the therapeutic itineraries of the people who seek these temples to achieve the healing of them diseases, evils and sufferings. In addition to this, the ethnographic results have indicated that the ‘pretos velhos’ can be considered as important agents of a religious and cultural matrix that reveals itself as syncretic and diverse, gathering distinct religious and therapeutic traditions in its practices, at the same time as strongly connected to an African ancestry.
Somos Bantu: Multiplicidades, Agência e Ancestralidade no Centro Espírita São Sebastião, 2019
RESUMO: O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui ... more RESUMO: O Centro Espírita São Sebastião é uma comunidade de terreiro de matriz bantu, que possui na trajetória de Cecília Félix dos Santos, sua matriarca fundadora, fundamental contribuição. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada na convivência com a comunidade de terreiro do CESS, busco neste trabalho trazer algumas reflexões sobre como essa se sustenta em seu dia a dia e ao longo de sua história, à luz da trajetória de Cecília, relatada a mim por Pai Guaraci e outros integrantes da família do CESS. Busco também apontar para as estratégias e parcerias da comunidade de terreiro do CESS, atentando para seus movimentos criativos e a multiplicidade de seus agenciamentos, os quais têm de lidar continuamente, tanto no tempos de Cecília quanto nos dias mais atuais (mas sob distintas formas), com as investidas e violências agenciadas pelo projeto universalista que se pretende hegemônico: cristão, branco e patriarcal. Neste sentido, busco me voltar às transformações da malha urbana em que o CESS se encontra inserido, junto aos marcadores sociais de gênero, raça, classe e pertença religiosa, que incidem sobre seus agentes e sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras de matriz bantu de uma maneira geral, situadas que estão às margens, e tendo como lideranças religiosas mulheres negras, que são as rainhas, madrinhas e mães de santo dentro de sua genealogia espiritual.
ABSTRACT: The “Centro Espírita São Sebastião” is a bantu religious community (terreiro), that has as its main reference Vó Cecília, founder and matriarchy of the CESS. Parting from an ethnographic research, built on the daily coexistence within this terreiro community, I seek in this work to explore and to produce reflections about how is it sustained, through the time and everyday life, parting from the trajectory of Vó Cecília, reported by Guaraci and other CESS’s “sons”. We also seek to point out to the strategies and partnerships engaged by this afro-religious community, which has to deal continuously with the universalist project: christian, white and patriarchal, and its associated forms of violence, played whether in Cecília’s trajectory, but also nowadays, but from distinct ways. We seek to turn our attention on to the urban context in which CESS and its agents are embedded, talking about social marginalization, provoked by the race, gender, class and religious belonging’s references, that affect the reality of bantu religious communities, as well as the trajectory and lives of them religious leaders, majority represented by black women, held and worshipped as queens, “mães de santo” e “madrinhas”, of this religious matrix.