Continuar Inovando. Novos paradigmas contemporâneos de renovação urbana (original) (raw)

"Excessos" de modernidade: mobilidades mundanas, políticas e o refazer do urbano

Revista do núcleo de antropologia urbana da USP | Ponto Urbe 30 v.2, , 2022

Aclamados como o epítome técnico e simbólico da modernidade, os automóveis também estão profundamente implicados na produção da mudança climática, imbricados no interior de um sistema global capitalista aparentemente todo-poderoso. O que uma análise antropológica do trânsito em áreas urbanas pode nos dizer sobre a duradoura força desse sistema? Enquanto em Beirute os carros são ao mesmo tempo desejados quanto necessários para se deslocar, fortes sentimentos de frustração estão tomando corpo entre moradores e itinerantes que encaram diariamente as sempre congestionadas estradas da cidade-capital. Essa frustração indica uma emergente "estrutura de sentimento" para/com a automobilidade do dia a dia, que tem criado desejos explícitos e concretos por alternativas de mobilidade, particularmente pelo transporte público, cujos estudiosos do setor consideravam estar morto. Nessa visão, ainda que os carros permaneçam sendo objetos cobiçados, em Beirute como em qualquer outro lugar, um "excesso" de automobilidade - de modernidade, poderíamos dizer - está na verdade enfraquecendo o domínio deles, e expondo uma potencial precariedade antes despercebida. O reconhecimento desse processo nos força a reconsiderar os pressupostos modernistas que temos sobre a inevitável predominância dos carros, e oferece esperança para futuros alternativos quanto à mobilidade.

" O Urbanismo que exige a vida moderna "

Resumo Neste texto, abordamos a década de 1930 como um momento em que as mudanças profundas no âmbito da economia, da política, da organização social, da administração pública, do desenvolvimento urbano, no Brasil, forçam a reconstrução de saberes e práticas urbanísticas. Configura-se uma década de mutação na trajetória do ideário do urbanismo, em que o confronto dos urbanistas com mudanças estruturais da realidade urbana dá início à construção e à difusão da pauta urbanística que, pelas quatro décadas seguintes, será perseguida, atualizada e não necessariamente consumada no âmbito da administração pública Três questões que ganham visibilidade ao longo da década permitem compor o diálogo no campo do urbanismo com os processos em curso nas cidades-o alargamento da concepção de urbanismo, o controle do crescimento urbano e o lugar do urbanista na administração pública. Estes três aspectos têm como pressuposto o urbanismo como uma função a ser exercida pelo poder público e dão suporte às demandas dos profissionais para atuar sobre esta realidade. Nesse processo, destaca-se o I Congresso Brasileiro de Urbanismo realizado em 1941,no Rio de Janeiro, como expressão do momento em que, questionamentos que apenas se esboçavam na segunda metade dos anos de 1920, ganham consistência e atingem um grau de articulação favorecido pelas condições de institucionalização colocadas pelo governo autoritário. O Congresso é entendido como manifesto pela legitimação do profissional urbanista portador de uma nova concepção do urbanismo-o urbanismo que a nova realidade urbano-industrial exige.