Descobrir o Invisível. À procura da essência do Espaço Sagrado, no edifício de Culto Católico Contemporâneo (original) (raw)

Cada edifício pode ser visto como uma obra construtiva, uma estrutura física, objecto e imagem, forma de expressão de ideias e conceitos objectivos. Neste sentido, o edifício possui valor funcional e valor estético, percepcionados por todos, de forma semelhante. Mas o edifício também pode ter um conteúdo, um significado secundário, um valor simbólico. Este prende-se com a relação que se estabelece entre os intervenientes, refere-se àquilo que se pode acrescentar ao significado objectivo, tais como impressões pessoais, e que depende da experiência do espaço. Deste modo, um edifício pode ser visto como um sistema semiótico, em que as unidades de significado são os elementos construtivos, por vezes, signos ou símbolos, que atribuem ao espaço um significado mais profundo, que evoca realidades menos concretas. Através deste processo, um edifício pode criar espaços e ambientes que sugerem conceitos abstractos, e mesmo realidades mais espirituais. É o que acontece nos edifícios religiosos. Neste caso particular, no espaço devem-se inscrever os valores da religião em causa, numa tentativa de transmitir diversas mensagens aos seus utentes. O edifício de culto católico é normalmente um espaço rico, tanto ao nível formal, como significativo. Antes de mais, deve ser uma verdadeira "domus ecclesiae", casa para a assembleia reunida, que fornece todas as condições físicas para o seu encontro e celebração dos sacramentos, mas também evoca a presença do Outro, do diferente, do transcendente, proporcionando ainda espaços de recolhimento, de reflexão e oração pessoal. A religião e a fé, enquanto realidades imateriais e metafísicas, necessitam de elementos concretos para se aproximarem das pessoas, para se manifestarem no mundo. O edifício de culto é mais um dos seus símbolos, que por vezes estabelece comparações mais figurativas, ou mais abstractas, mas que pretende sempre ser uma manifestação da verdadeira Igreja, nos seus aspectos humanos e divinos, visíveis e invisíveis, activos e contemplativos. Ao longo do tempo, a arquitectura usou os meios próprios da disciplina para dar forma a estes edifícios, sendo sempre reflexo da sociedade, da cultura, das técnicas construtivas e da teologia de cada época. O percurso, ao longo da História, mostra as diferentes expressões e diferentes mensagens: primeiro as simples e humildes "domus ecclesiae", depois as fortalezas que eram as igrejas românicas, seguidas do esplendor das catedrais góticas que evocavam o ambiente bucólico e obscuro dos bosques e das cidades da idade média, passando pela força e ordem que transmitiam as igrejas renascentistas, até à riqueza dos palácios de Deus que eram as igrejas barrocas. A crescente complexidade de formas e simbolismos terminou no séc.XX, quando se deram grandes reformas a nível arquitectónico e litúrgico. As primeiras obras do século foram como ensaios de renovação, divididos ainda entre a inspiração no passado e a introdução de novas técnicas. Entretanto, os acontecimentos políticos e sociais levaram a uma mudança de mentalidade generalizada e à necessidade de construção, ou reconstrução, de inúmeros edifícios. Estes já utilizavam os novos materiais, mais económicos, símbolo dos novos tempos e configurações espaciais que derivavam de uma vontade de renovação litúrgica. Na Europa foram construídas inúmeras igrejas, especialmente na Europa central, a zona que tinha sido mais afectada pelas guerras.