A Revolução dos Cravos e o Mito revolucionário da Esquerda Francesa (original) (raw)

Todas as Eras têm os seus mitos. Estes estão, por norma, nos estudos académicos, associados ao foro do religioso, por serem os rituais espirituais e as superstições uma prática societária generalizada e transversal à cronologia das comunidades humanas. A História Contemporânea assiste, particularmente no século XX, à constituição de um tipo de mito, favorecido pela massificação da política: o mito político. Nele encontramos, dentro do grupo alargado que é a "esquerda", um mito revolucionário, dado o carácter de ruptura anunciado por todos os quadrantes deste colectivo. O conceito de "mito" permite-nos abordar a História numa perspectiva cultural, mais abrangente do que uma análise puramente política. Para o explorar, escolhemos como foco a visão francesa de uma geração específica, a do Maio de '68, por ser de um tempo de movimentos sociais particularmente intensos, da entrada de novos grupos sociais na política, das vivências singulares daquela juventude, bem como da projecção internacional e influência socio-política que esse acontecimento teve. A partir das referências essenciais dessa geração, isto é, da sua herança política, este trabalho centra-se na recepção e reflexão da geração francesa sobre a Revolução portuguesa de 1974. O seu claro envolvimento permite-nos tentar compreender um mundo, depois derrubado pela chegada do neo-liberalismo, em que o 25 de Abril foi a derradeira esperança. Os acontecimentos em si, os sujeitos e os próprios micro-processos revolucionários portugueses-Reforma Agrária, Auto-gestão, Movimentos de Trabalhadores e Moradores, Nacionalizações, Descolonização-, tudo é objecto de estudo e comentário pela voz da esquerda francesa, na sua diversidade. Palavras-chave: revolução portuguesa, mito revolucionário, esquerda francesa, imprensa francesa, maio de 68.