As repercussões do movimento estudantil de 1968 no México (original) (raw)
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O ano de 1968 na América Latina e o massacre estudantil de Tlatelolco (México)
Há muitas questões para se falar sobre as revoltas do ano de 1968. Inúmeras abordagens já buscaram caracterizar esse momento pela sua suposta originalidade, que teria sido caracterizada principalmente por uma explosão revolucionária e cultural original da juventude. Essas abordagens buscam invariavelmente esvaziar o conteúdo político profundo da época. No entanto tratava-se de uma crise econômica aguda do capitalismo que se alastrava. Essa situação dava um peso histórico maior aos movimentos revolucionários que se condensavam. O ano de 1968 foi marcado por uma vaga revolucionária nos quatro cantos do planeta: das greves operárias e estudantis do Maio francês, da passeata dos Cem Mil no Brasil contra a ditadura ao massacre dos estudantes mexicanos em Tlatelolco no México em 2 de outubro foi uma síntese sangrenta de muitas contradições. A luta de classes que mobilizava as massas contra a opressão imperialista nos EUA (Guerra do Vietnã) também levantava os operários e jovens do Leste europeu. Nesse contexto, a América latina foi em geral abordada apenas marginalmente. Nosso objetivo aqui não é, porém, localizar a singularidade da história do continente latino-americano no conjunto geral do processo, visão que apenas reforçaria uma visão estereotipada e carregada de estigmas sobre a região. Entre os inúmeros disparates escritos e falados sobre 1968 alguns tentaram transformar essas heróicas jornadas em idílios da juventude pequeno-burguesa. Para Olgária Matos, por exemplo, em 1968 "houve uma contestação do poder, mas totalmente inédita como experiência política do imaginário coletivo (...)." Teria desaparecido desse movimento o horizonte revolucionário da política: "Acho que não haverá mais revolução porque desapareceram as utopias também (...) na França a primavera de maio tomou cores inéditas invertendo a prática do marxismo, como sua teoria." (...) "Em 1968, o próprio movimento de jovens operários e estudantes praticou a espontaneidade consciente e criadora (...) O movimento de 1968 colocou por terra o bolchevismo imaginário do Palácio de Inverno. Essa não foi uma luta pelo poder ou contra ele. Afirmou-se, ao contrário, os direitos da subjetividade e da espontaneidade consciente." ·. Na mesma perspectiva, em Nicolau Sevcenko 1968 teria negado o sujeito político, o processo e a própria História: "Não era uma revolução pelo poder, nem contra ele, mas uma revolução para instaurar um espaço diferencial que não era nenhum poder, nenhum contra-poder, que era esse cotidiano eufórico (..."...) "Acho que 1968 não é um evento histórico e nem deve ser transformado em um, porque não é um fato fechado, não é uma efeméride justamente no sentido de que não conquistou absolutamente nada porque não quis, e por isso mesmo que ele libertou e criou a possibilidade de libertar, já que não desejava absolutamente nada a não ser a si mesmo, no sentido em que não fez circular esperanças". 1
Maio De 1968: Movimento Estudantil e Luta De Classes
Perspectivas em Diálogo: Revista de Educação e Sociedade, 2016
O presente texto discute o enfrentamento radical proporcionado por setores do movimento estudantil, em alianca com setores revolucionarios do proletariado, a burocracia estatal, partidaria e sindical que, auxiliando a burguesia, buscavam tornar regular uma nova ofensiva capitalista, na Franca em fins da decada de 1960. Para isso buscaremos compreender a dinâmica da luta de classes, naquele episodio que ficou conhecido como o Maio de 1968 , a luz de uma teoria marxista das classes sociais, quer dizer, levando em consideracao o modo de vida das classes envolvidas nas lutas, os interesses derivados desse modo de vida e as aliancas e oposicoes que as classes e grupos sociais estabeleceram com outras classes sociais. Dessa forma, pretendemos demonstrar que a burocracia (estatal, sindical e partidaria) e uma classe social que auxiliou a dominacao burguesa e, portanto, nao contribuiu com a revolucao proletaria, estimulada pela luta cultural de setores radicais do movimento estudantil franc...
O Movimento Estudantil Libertário (MEL) e o Maio de 1968 brasileiro
Revista Espaço Acadêmico, 2018
Este artigo pretende analisar a gênese, presença e atuação do Movimento Estudantil Libertário (MEL), organização estudantil criada com protagonismo do anarquismo brasileiro. O artigo objetiva analisar a formação e relação do MEL com as lutas estudantis do período, suas propostas políticas e sua inserção no fenômeno do Maio de 1968 no Brasil. Também deseja elucidar o processo de desmantelamento da organização, ocorrido após a repressão sofrida em 1969. Palavras-chave: Maio de 1968; anarquismo; esquerdas. This article intends to analyze the genesis, presence and action of Movement Student Libertarian (MEL), student organization created with the protagonism of brazilian anarchism. The objective article to analyze the formation and relation of the MEL with the student period, its political proposals and its insertion in the phenomenon of May of 1968 in Brazil. It also wishes to elucidate the dismantling of the organization, which occurred after the repression in 1969.
2011
Tlatelolco em 1968: a construção da memória do movimento estudantil e da luta pela democratização no México contemporâneo. Larissa Jacheta Riberti 1 O ano de 1968 é considerado emblemático e mágico, pois foi palco de várias lutas populares em todo o mundo. Em Paris, Praga, Tókio, Estados Unidos, Brasil e México eclodiram revoltas e organizações estudantis e de trabalhadores que pretendiam questionar o sistema político vigente e propor mudanças ideológicas. Foi o momento da contestação por parte de alguns grupos específicos, do movimento hippie, da liberação sexual, do questionamento da Guerra do Vietnã, da Primavera de Praga, da radicalização da esquerda e da direita no Brasil e do massacre de inocentes na Plaza de las Tres Culturas 2 , no México. O trabalho apresentado pretende justamente analisar o Massacre de 1968 no México, bem como a luta estudantil pela democratização do Estado. Para isso, serão usadas obras relacionadas ao assunto e como fonte principal o livro La Noche de Tlatelolco: Testemonios de historia oral, da autora Elena Poniatowska. O livro é uma fonte historiográfica rica em relatos variados sobre a noite de 02 de Outubro, episódio que marcou a história recente do país. Além de fazer uma reconstrução do episódio, a obra, publicada em 1971, foi elaborada em um momento político específico, no qual havia a necessidade de entender e significar o Massacre, principalmente em virtude da forte atuação dos estudantes junto à sociedade civil. A utilização dessa obra tem como objetivo analisar como as diversas vozes contribuíram para a denúncia da violência empregada pelo Estado e para a interpretação de temas como a luta pela democracia, a organização e atuação movimento estudantil e a conjuntura específica tanto da sociedade mexicana, quanto do ano de 1968. Introdução: O México teve em seu governo, na década de 1960, a administração de López Mateos (1958-1964) e de Gustavo Díaz Ordáz (1964-1970. Este período marca o início do fim de
O Movimento Estudantil de 1968 e as Ciências Sociais
Mediações - Revista de Ciências Sociais, 2008
Este artigo analisa o Movimento Estudantil entre os anos de 1964 e 1968, período em que os estudantes se constituíram em reduto de resistência à ditadura militar. Examina também o impacto e os desdobramentos que tais manifestações ocorridas dentro e fora das universidades provocaram especificamente na área de ciências sociais. Trata-se de uma análise na qual o autor presta um depoimento, uma vez que, à época, militou duplamente, na condição de estudante e presidente de entidade estudantil e de professor de sociologia em início de carreira. Palavras-chave: Movimento Estudantil. Ciências Sociais. Ditadura.
2018
The global phenomenon of the student movements carried out during the long year of ’68 had very particular characteristics in Brazil. Amongst other things, this sector of the university population – which had been embroiled in an intensifying process of politicisation since the beginning of the decade, especially since the beginning of the military dictatorship (1964) – emerged as a social, cultural and political group at the very forefront of the resistance to the dictatorship, capable of ample mobilisation, and of influencing the country’s general policies. This article investigates the social ideologies and the imagined communities painted by the daily press in Brazil about the student mobilisations carried out during the first trimester of 1968, focusing on the events in the Calabouço restaurant, the shockwave caused by them and the Seventh Day Mass. The objective is to analyse the discourse produced about these events in the public sphere, the students’ motivations and demands, the spaces, times and intensities of their actions, and the streams of public opinion generated by the press’s publication choices. * * * O fenómeno global dos movimentos estudantis desenvolvidos durante o longo ano de 1968 assumiu contornos particulares no Brasil. Entre outros, este setor da comunidade universitária, em crescente processo de politização desde princípios da década, especialmente a partir da ditadura militar (1964), revelou-se um grupo social, cultural e político na vanguarda da resistência à mesma, capaz de amplas motivações e de incidir na política geral do país. Neste artigo aprofundam-se os imaginários sociais e as comunidades imaginadas construídos pela imprensa diária brasileira em torno das mobilizações estudantis desenvolvidas durante o primeiro trimestre de 1968, centrando a atenção nos sucessos de Calabouço, a sua onda expansiva e a Missa do Sétimo Dia. O objetivo é analisar os discursos construídos à volta destes eventos na esfera pública, as motivações e as reivindicações dos estudantes, os espaços, tempos e as intensidades das suas ações, assim como as correntes de opinião pública geradas pelas linhas editoriais da imprensa.
Revista de História
Ao longo das décadas de 1960 e 1970 pôde ser vista em escala mundial a eclosão de movimentos de contestação, oriundos de uma juventude engajada, cuja circulação de referências, atores e repertórios foi reinterpretada de acordo com as diferentes conjunturas nacionais, abrindo, dessa maneira, diferentes possibilidades de atuação para os movimentos estudantis, a saber, dentre outras: as guerras revolucionárias de libertação nacional; a rejeição da política tradicional; a defesa das universidades; a inclusão dos valores da contracultura e a emergência de novos movimentos sociais. A partir da produção historiográfica sobre o tema e utilizando documentos de naturezas diversas, o artigo reflete sobre a periodização da “época 68” do movimento estudantil brasileiro, analisando-a a partir de seu acontecimento, que possibilitou a ampliação do repertório de contestação contra a ditadura militar, mostrando como essas diferentes influências aparecem no caso brasileiro através das suas rupturas e ...
Os bastidores da reforma universitária de 1968
Educação & Sociedade, 2008
Com o presente estudo busca-se contribuir para a compreensão do processo de elaboração da Reforma Universitária de 1968 e da ação de um dos grupos, formado por parte dos conselheiros do Conselho Federal de Educação, que teve significativa participação na elaboração da Reforma Universitária e que tradicionalmente não é considerado nas pesquisas realizadas sobre o período. Visando mostrar que no seio do governo militar havia um embate sobre os caminhos que deveriam ser dados a Reforma Universitária, faz-se uma comparação entre o relatório produzido pela Comissão Meira Mattos e o produzido pelo Grupo de Trabalho da Reforma Universitária. Conclui-se que o Conselho, ou pelo menos parte dele, utilizou a habilidade política para aproveitar das oportunidades do contexto para participar, nos bastidores da Reforma, da elaboração do modelo de universidade implantado no Brasil na década de 1960.
Estudantes e Trabalhadores no Maio de 68
2008
May of 68 is generally presented as a student movement, forgetting that at that moment there also occurred the largest general strike in French history. This article attempts to demonstrate that the theme of the working class and capitalist exploitation was decisive even within the student component of the movement.