O Púlpito de Camões e a ilha de Padre António Vieira (original) (raw)
O intercâmbio das experiências de contacto com territórios e culturas até então desconhecidas serve de plataforma de arranque para a análise da identidade nacional em contextos sociais, económicos, religiosos e culturais, cujos marcos históricos distam cerca de cem anos entre si. É ao som do ondulante deslizar da pena de Luís Vaz de Camões que, qual travessia em “mar nunca antes navegado” , rasgamos os ideais renascentistas para enveredar pelos caminhos do Humanismo. O alvo principal deste trabalho é o de proceder a uma breve análise comparativa entre o estado de espírito do povo lusitano, espelhado no poema épico de Luís Vaz de Camões , e a depressão nacional generalizada, e corajosamente pregada pelo Padre António Vieira no Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal , em 1640 na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, cidade da Baía, no Brasil. A questão da identidade vai sendo detectada ao longo da narrativa épica, assim como nos argumentos e passagens bíblicas usadas por Vieira, não só expressos no supra mencionado, mas também trinta e dois anos depois, no Sermão de Quarta-Feira de Cinza , uma verdadeira ode à essência da Humanidade. Perante tamanho auditório, e servindo-se de argumentos bíblicos que, como sabemos, eram universalmente aceites, Vieira tenta seduzir Deus a não retirar a Sua mão da “seara” portuguesa que Ele mesmo ajudara a plantar. Demonstrando uma excelência discursiva e enorme poder de persuasão, insiste em aludir aos factos bíblicos para persuadir Deus a não abandonar os portugueses. Como tal, e sendo o declínio de um povo, que se auto-intitula heróico e conquistador, uma jornada identitária que tem atravessado os últimos séculos de existência, um parecer crítico afigura-se legitimado.