A Utopia nos romances filosóficos dos Iluministas franceses: O Suplemento à viagem de Bougainville de Diderot como exemplo paradigmático (original) (raw)
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Philia & Filia, 2012
Resumo: O presente artigo apresenta L'isle des hermaphrodites, libelo publicado anonimamente em Paris, em 1605, e discute os gêneros aos quais essa obra pertence: utopia, relato de viagem (imaginária) e sátira. A predominância da sátira sobre os outros gêneros é o ponto de partida para o exame das referências a Petrônio em L'isle des hermaphrodites, especialmente ao episódio do banquete de Trimalquião, do Satíricon, percebendo a reutilização do tema da dissimulação associado à figura do hermafrodita como alegoria.
Cadernos de Letras 29, 2013
O paraíso é um tema literário universal. Não há época nem lugar que não tenha formulado narrativas sobre jardins de delícias, eternamente primaveris, isentos de sofrimento, e épocas de abundância, paz e justiça, quando os homens viviam numa organização social que prescindia da propriedade privada e de suas consequências, em simbiose harmônica com uma natureza pródiga. 1 Na literatura ocidental do mundo cristão, as descrições do paraíso, a partir do século VI, representam um amálgama das antigas representações da felicidade das origens legadas pela tradição greco-romana (pense-se na idade do ouro, nas ilhas afortunadas, na ilha dos bem-aventurados ou nos Campos Elíseos) com a descrição bíblica do jardim do Éden. 2 É sabido que as representações paradisíacas alimentaram o imaginário utópico e são uma das fontes da utopia literária. No século XVI, Thomas Morus contraporá a imagem de um paraíso originalmente perfeito, criado por uma divindade, à utopia, gênero que ele formaliza em seu libelus aureus, restabelecendo o conceito clássico de república ideal e criando, assim, um modelo de sociedade governada pela razão e pela * Este artigo é uma versão revista e ampliada de um trabalho originalmente apresentado nas VII Jornadas sobre el pensamiento utópico: La religión en utopía, em Madri, na Universidad Carlos III de Madrid, em 18-19 de novembro de 2010, sob o título "Paraíso e utopia na Terra austral conhecida (1676), de Gabriel de Foigny". 1 O mito do paraíso encontra-se nos mais antigos textos literários escritos, como o mito sumério de Enki, a epopeia de Gilgamesh e as sagas iranianas. Para uma história das representações do paraíso, ver Scafi (2007) e Delumeau (1994). 2 No século VI, a fusão entre o paraíso terrestre bíblico e a tradição greco-romana da idade do ouro, dos Campos Elíseos e das Ilhas Afortunadas é tamanha que levará Isidoro de Sevilha ( † 636), na Etimologyae (verdadeira enciclopédia do saber profano e religioso de seu tempo), a esclarecer ao leitor que as ilhas afortunadas não se devem confundir com o jardim do Éden. tema do paraíso pelo gênero utópico, analisando, particularmente, a relação entre paraíso e utopia na Terra austral conhecida.
Utopia e mundos imaginários em François Rabelais
Das utopias modernas às distopias contemporâneas: Conceito, prática e representação, 2021
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora. 85 CAPÍTULO 4 Utopia e mundos imaginários em François Rabelais Silvia Liebel Entrai, nobres damas de alta linhagem, Aqui vos esperam virtudes e ventura. Entrai, belas damas de grande coragem, Entrai, e encontrareis nessa viagem Um porto amigo, abrigo à vossa altura, Uma angra tranquila e bem segura. Nobres damas entrai, aqui tereis O que bem desejais e mereceis. A vida é suave Qual canto de ave, Nem pranto nem dor, Mas hinos de amor Quais cantos de ave. A vida é suave.
Quando Os Poetas Se Despediram Da Felicidade: Baudelaire e Dostoievski Criticam as Utopias
História Questões & Debates, 2007
Neste artigo se faz uma discussão sobre o estatuto da literatura como fonte histórica. Sua meta principal é questionar um modo deinterpretação hoje predominante, que lê os textos literários comorepresentações de uma realidade dada. Para tanto, são discutidos dois textos, de Baudelaire e Dostoievski, nos quais os autores inscreveram a liberdade do querer no cerne do ato da leitura. A proposta, extraída das poéticas dos autores discutidos, é se perceber a literatura como tentativa de intervenção ética e política nos conflitos de um certo tempo, mediante a via oblíqua do ato ficcional.
Publicado pela primeira vez em França em 1995, A Ilha da Mão Esquerda inscreve-se claramente no género literário utópico, descrevendo a viagem de um herói (Lorde Jeremy Cigogne) até um arquipélago ignorado pelos geógrafos, no Pacífico Sul, e a sua inserção, juntamente com a sua família, na sociedade utópica fundada pelo Capitão Renard em 1885. Mas apesar do título, que poderá parecer apontar para uma utopia ideológica, A Ilha da Mão Esquerda tem como tema central e quase obsessivo o Amor e a necessidade de ele ser continuamente cultivado e reinventado numa relação a dois. Na verdade, a pergunta central que motivou o mentor da colónia esquerdina a abandonar o "mundo dos dextros" não foi "como conviver em sociedade?" mas "como é que fazemos para amar?". A pergunta, note-se, não deixa de exprimir preocupações sociais; a proposta utópica (se é que de uma proposta se trata) parte da ideia de que o homem e a mulher, unidos por uma relação (e, a partir deles, a sua família próxima), se cultivarem o Amor, saberão apreciar os valores que na vida são realmente importantes.
Graphos, 2017
Para os homens e mulheres da Idade Média, a ida ao Paraíso depois da morte era o principal propósito, motivo pelo qual este lugar pode ser considerado uma utopia por excelência, espaço ao mesmo tempo, físico e espiritual de felicidade e bem-estar. De acordo com Le Goff (2002, p. 21), depois da ressurreição, que ocorre no fim do mundo, os " bons " vivem eternamente num lugar de delícias, o Paraíso. Porém para atingir este local, os humanos devem abster-se de pecar no mundo terreno. Assim, o lugar de plenitude se opõe diretamente ao Inferno, local das punições eternas. No intuito de afastar os indivíduos dali, foram compostas muitas narrativas, dentre as quais as viagens ao Além-túmulo. A Visio Tnugdali (Visão de Túndalo) é a mais conhecida dos relatos visionários e que teve maior difusão dos séculos XII a XVI. Neste artigo é feita uma reflexão sobre a utopia no Paraíso na obra Les Visions du Chevalier Tondal, produzida no século XV, com iluminuras de Simon Marmion, em contraponto com algumas distopias, em especial o filme Metrópolis, de Fritz Lang (1927). Mesmo na cidade futurista daquela película são mostrados elementos do Paraíso e Inferno, com analogias à representação cristã. A Visio Tnugdali através do Paraíso como espaço utópico, bem como as distopias da atualidade, nos auxiliam a refletir sobre a sociedade melhor e mais justa que desejamos. Palavras-chave: Utopia. Visions of the Knight Tondal. Distopias. Metrópolis. Abstract: For men and women of the Middle Ages, going to Paradise after death was the main purpose, which is why this place can be considered a utopia par excellence, space at the same time, physical and spiritual of happiness and well-being. According to Le Goff (2002, p. 21), after the resurrection, which occurs at the end of the world, the "good ones" live eternally in a place of delights, Paradise. But to reach this place, humans must refrain from sinning in the earthly world. Thus, the place of plenitude is directly opposed to Hell, the site of eternal punishments. In order to keep out the individuals from there, many narratives were composed, among which the voyages to the Beyond-grave. Visio Tnugdali (Vision of Tnugdal) is the best known of the visionary narratives and it had greater diffusion from the centuries XII to XVI. In this article a reflection on the utopia in Paradise is made in the Visions du Chevalier Tondal, produced in the 15th century, with illuminations by Simon Marmion, in counterpoint with some dystopias, especially Fritz Lang's 1924 film Metropolis. Even in the futuristic city of that film are shown elements of Paradise and Hell, with analogies to the Christian representation. Visio Tnugdali through the idea of Paradise as utopian space, as well as current dystopias, help us to reflect on the better and more just society we want.